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Você já viu uma criança autista tapando os ouvidos em um ambiente com muito barulho? Esse comportamento pode estar ligado a sensibilidade auditiva, uma característica comum em algumas pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA), que causa desconforto e prejudica o bem-estar.
Essa sensibilidade auditiva acontece quando o indivíduo possui um Transtorno do Processamento Sensorial, condição na qual o sistema nervoso apresenta dificuldades para processar estímulos do ambiente e dos sentidos quando recebe pouco (hipossensibilidade) ou muito (hipersensibilidade) estímulo.
O que preocupa as pessoas cuidadoras de crianças com sensibilidade auditiva, é justamente o bem-estar, principalmente em caso de receber muitos estímulos em ambientes, que frequentam na rotina, por exemplo, na escola, ou até mesmo em um playground que fica mais cheio no período de férias ou nos finais de semana.
Por isso, nossa Terapeuta Ocupacional, Mariana Asseituno, reuniu dicas para a família que possuem dificuldades em controlar a hipersensibilidade sensorial (principalmente a auditiva) de pessoas que estão no espectro autista.
🔎 Mariana Victória Asseituno | Terapeuta Ocupacional | CREFITO -3 20409-TO
Transtorno do Processamento Sensorial no autismo
O Transtorno do Processamento Sensorial é uma condição que pode ou não estar presente em pessoas autistas, apesar de ser muito comum em pessoas com TEA, também está presente em outros transtornos, como, por exemplo, pessoas com TDAH que podem apresentar mais sensibilidades à luz.
Por ser uma condição ligada ao sistema nervoso, esse distúrbio é considerado como uma comorbidade, justamente por comprometer a qualidade de vida e o desenvolvimento da pessoa que possui transtorno sensorial.
Quando o indivíduo é caracterizado por essa condição sensorial, ele pode apresentar estímulos demais ou precisa de reforços para sentir qualquer tipo de estimulação. Dessa forma, o transtorno é classificado como hipersensibilidade ou hipossensibilidade.
- Hipersensibilidade: quando há estímulos em excesso, sendo auditivos (muito barulho), visuais (sensibilidade a luz), ao sentido tátil, onde há incômodos por textura (fio de cabelo, blusa de lã), ao olfato (cheiros de fragrâncias que incomodam e ao paladar (caracterizando também a seletividade alimentar, etc.
- Hipossensibilidade: quando há um esforço para oferecer qualquer tipo de estimulação. Em casos assim, é muito comum que pessoas com esse perfil sensorial estejam sempre em movimento, se balançando, movimentando os dedos e as mãos, ou seja, apresentando movimentos repetitivos com frequência, e até mesmo procurando objetos para tocar e estimular os sentidos.
Além disso, há casos em que a pessoa pode conviver com a hipersensibilidade e a hipossensibilidade, respondendo melhor a um sentido do que outro, isto é, busca contato com diferentes textura (massinha, areia, etc) como estímulo, mas é hipersensível a sons muito altos.
Ainda dentro do transtorno sensorial, existem outras classificações que determinam o quadro sensorial do indivíduo, sendo dividida em:
- Transtorno de modulação sensorial: dificuldade para regular grau, intensidade e natureza das respostas dos estímulos sofridos;
- Transtorno de discriminação sensorial: gasta mais energia para identificar diferenças e semelhanças dos estímulos;
- Transtornos motores com base sensorial: dificuldade para absorver informações do próprio corpo e reagir de forma coerente com o ambiente.
Sensibilidade auditiva e autismo
Estudos evidenciaram que mais de 40% das crianças com TEA possuem algum transtorno do processamento sensorial, e quando falamos especificamente de sensibilidade auditiva, estudos prévios apresentaram ampla variabilidade de prevalência, com resultados de 15% a 100%.
Mas, assim como citamos ao longo do texto, nem toda pessoa no espectro autista possui sensibilidade auditiva.
Se você, pessoa cuidadora, quer entender qual o perfil sensorial de sua criança autista, busque profissionais especializados em TEA e tire todas as suas dúvidas. Um acompanhamento a longo prazo é essencial e indicado para perceber o desenvolvimento e possíveis mudanças.
“Cada pessoa, seja adulto ou criança, tem um perfil de funcionamento sensorial singular, portanto, apesar de comum, seria um equívoco afirmar que todas as crianças com TEA são impactadas por sensibilidade auditiva.”
Quando impactadas pela hipersensibilidade, é possível que pessoas cuidadoras se deparam com uma crise sensorial, que decorre após uma exposição aos fortes estímulos.
No caso de sensibilidade auditiva, os estímulos maiores podem ocorrer com sons de sirenes na rua/escola, por barulho de fogos de artifício, barulhos que se intensificam, ou até uma música muito alta em um local público.
Entretanto, a família pode observar sinais de alerta quando a criança entra em crise, Mariana ressalta: “aumento de estereotipias e agitação motora, a crescente de comportamentos desafiadores, são alguns sinais de alerta para crises que a família pode se atentar.”
Além disso, é possível identificar aspectos ambientais e de rotina, que podem ser desorganizadores sensoriais e com maiores chances de aparecimento de crises como mudança de escola, período de férias, algo incomum na rotina diária da família.
Como ajudar em caso de sobrecarga sensorial?
Em caso de sobrecarga sensorial, que pode refletir seguidamente de um comportamento desafiador, ainda é possível intervir e acolher a criança nesse momento desafiador e estressante para ela.
Mariana afirma que é possível fazer adaptações ambientais que proporcionem um espaço com maior oportunidades de regulação para esta criança. Isso consiste em fazer um equilíbrio entre diversos estímulos.
Dois exemplos para acolher nesse momento são:
- Diminuir ruídos e luminosidade – Ficando em silêncio, ou falando em um tom mais baixo e apagando as luzes do ambiente.
- Possibilitar maior contorno corporal – Fazendo o uso de almofadas, travesseiros e bichos de pelúcia próximos à criança.
“Mas lembre-se, assim como cada criança é única e apresenta um perfil sensorial específico, cada comportamento vai exigir um tipo de intervenção diferente que deve ser alinhado com sua equipe terapêutica”, reforça a Terapeuta Ocupacional.
Como os abafadores de ruído podem ajudar pessoas autistas?
Um objeto muito recomendado pelos profissionais é o fone abafador de ruídos, que possui uma quantidade generosa de esponja e dissipa o som de ambientes repletos de sons altos.
Abafadores de ruído, também conhecidos como protetores auriculares ou fones de ouvido com cancelamento de ruído, são dispositivos projetados para reduzir a quantidade de som que chega aos ouvidos.
Eles funcionam bloqueando ou absorvendo os sons indesejados do ambiente, ajudando a criar uma experiência auditiva mais tranquila e confortável.
Eles podem ser encontrados na internet em sites de marketplace com valores a partir de R$59.
Para pessoas autistas, que muitas vezes enfrentam desafios relacionados à sensibilidade sensorial, os abafadores de ruído podem ser uma ferramenta essencial, pelos seguintes motivos:
- Redução da sobrecarga sensorial: abafadores de ruído ajudam a reduzir a quantidade de estímulos sonoros que alcançam os ouvidos, diminuindo assim a sobrecarga sensorial e proporcionando um ambiente mais calmo e controlado.
- Melhoria do foco e concentração: eles oferecem a oportunidade de se concentrar em atividades importantes sem distrações desnecessárias.
- Aumento do conforto em situações sociais: o uso desses abafadores para quem tem sensibilidade auditiva pode ajudar a tornar as situações mais gerenciáveis sem tanta sobrecarga por estímulos sonoros excessivos.
- Auxílio na autorregulação emocional: esse item proporciona uma forma de autorregulação emocional, permitindo que as pessoas controlem seu ambiente sensorial e reduzam os níveis de estresse.
Quais as dicas para oferecer uma qualidade de vida para quem tem hipersensibilidade auditiva?
Entretanto, apesar do uso dos abafadores ser uma boa solução para locais de muitos estímulos auditivos, ele pode atrapalhar as pessoas no espectro por conta dos diferentes perfis sensoriais. “Assim como estratégias para previsibilidade precisam ser avaliadas de forma singular, o abafador também precisa”, reforça Mariana.
“É preciso considerar aspectos sensoriais de outros sistemas para além do auditivo, como o sistema tátil. Há muitas crianças que se incomodam com um simples toque na cabeça, visto que esse recurso necessita de um suporte que passa pela cabeça, este sistema também passa a ser relevante durante a avaliação da aceitabilidade e benefício do recurso.”
Também é possível adaptar os momentos de lazer para que a pessoa com autismo consiga aproveitar os diferentes espaços e criar um vínculo com as pessoas à sua volta.
Por conta da sensibilidade auditiva, uma indicação são os espaços ou parques ao ar livre, ou até praças pequenas encontradas em bairros, onde a incidência de barulho é menor, comparada a grandes parques e brinquedotecas.
Mas a terapeuta explica: “também há crianças que podem se sentir melhor em locais fechados e com controle de entrada de pessoas. Portanto, eu sugiro sempre partir do desejo da criança, suas preferências e motivação.”
Lembrando que em caso de passeios e novas brincadeiras é sempre importante atuar com a previsibilidade, e explicar para a criança sobre o local que estão indo e qual ação vão fazer; fazer o uso de desenhos, fotos e/ou contar histórias pode auxiliar nesse processo.
Mariana acredita que todas as crianças têm direito de estar em todos os espaços que são desejáveis e podemos pensar em estratégias facilitadoras para isso. “Gosto muito de atuar com previsibilidade, acredito ser um bom caminho para experiências novas (as desejáveis como um passeio no parque e as menos atrativas, como fazer exames, por exemplo)”.
Conclusão
Lidar com a sensibilidade auditiva pode ser desafiador, mas com o apoio certo e as estratégias adequadas, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida de pessoas autistas e encontrar maneiras de estar mais confortável na rotina.
Para que os pais usem as estratégias adequadas, selecionadas de maneira individualizada, é importante aqui o apoio da equipe terapêutica que os acompanha.
Aqui na Genial Care contamos com uma equipe profissional ampla de diversas especialidades que oferece intervenção de qualidade para crianças com TEA, além de orientação parental para as pessoas cuidadoras.
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