Índice de Conteúdos
Muitas pessoas cuidadoras ainda se preocupam quando o assunto é viajar com a criança que está no espectro autista. Ainda mais no período de férias, onde é costume se reunir com pessoas queridas para fazer uma viagem a lugares novos que, muitas vezes, estão mais cheios do que o costume.
Para viajar com a criança é importante oferecer previsibilidade a respeito desse evento, além de fazer combinados com todos que estarão na viagem, o que vai tornar a experiência ainda mais agradável para ela e a própria família.
Incluir essas ações faz parte do preparado da viagem, por isso, elas precisam estar presentes no planejamento de qualquer viagem da família, ao longo de itens como: buscar hospedagem, fazer as malas, realizar check up no veículo, ou seja, deve acontecer de forma natural para que a viagem seja positivamente memorável.
Pensando nisso, nossa Coordenadora de ABA, Caroline Rorato, separou algumas dicas para oferecer uma viagem mais tranquila e proveitosa para a criança com TEA.
A importância da rotina para pessoas autistas
Muitas pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se apegam a hábitos rotineiros, os quais já estão acostumados a seguir no dia a dia, por isso a rotina acaba sendo um importante instrumento para auxiliar na jornada corriqueira.
Não existe uma explicação única do porquê algumas pessoas autistas se apegam tanto a rotina, mas geralmente é pela previsibilidade que ela oferece, isto é: quando a rotina está totalmente descrita e acordada entre a pessoa com TEA e seu núcleo de familiares e cuidadores, ela não apresenta surpresas ou situações extras das quais o autista não consegue assimilar.
Além disso, o apego da rotina está ligado a um dos sinais do TEA: apresentar comportamentos restritivos e repetitivos, pois dessa forma a pessoa autista encontra conforto e aprende a conviver com o mundo ao seu redor.
Ah, e a alteração na rotina pode estar ligada tanto em uma grande mudança, por exemplo, da casa, quanto em uma alteração nas atividades diárias, como combinar um horário diferente para tomar o café da manhã.
1. Viajar com a criança autista: ofereça previsibilidade
Viajar pode não ser um hábito tão frequente para a família, portanto desde o início converse com a criança a respeito dessa atividade. Caroline ressalta a importância de apresentar com antecedência todas as informações necessárias para a criança, além de estar sempre em contato com a equipe multidisciplinar que a acompanha.
A coordenadora de ABA separou um importante checklist para ser feito antes da viagem:
- Conversem entre si – conte para ela onde estão indo, com quem, como (avião, carro..) quanto tempo ficarão, mostre fotos e vídeos do local. Aproveite para trabalhar o calendário de quando vão e voltam;
- Faça combinados – descreva de forma clara o que pode ou não ser feito;
- Avise aos profissionais que trabalham com a criança – Eles podem ajudar oferecendo suportes visuais, como o uso da história social para antecipar o evento.
- Torne a experiência mais lúdica – conte uma história sobre o lugar, se a criança for conhecer os avós, por exemplo, conte um divertido momento do passado;
A informação da viagem pode ajudar o acolhimento em caso de comportamentos desafiadores, que podem (ou não) resultar após ouvir uma informação surpresa.
Ainda pensando em previsibilidade, uma dica da psicóloga é visitar antes (quando possível) o local com a criança: “as pessoas cuidadoras podem reservar um fim de semana antes para os pais e as crianças conhecerem o espaço e se sentirem mais seguros para passar mais dias”.
2. Use recursos visuais
O uso de recursos visuais é um ótimo aliado quando falamos de comunicação alternativa para pessoas no espectro autista. O calendário com as datas marcadas, por exemplo, é um recurso de comunicação alternativa que cumpre com a proposta: trazer uma informação mesmo que sem o uso da fala.
Antes mesmo da viagem, é possível criar uma rotina especial da viagem, com ilustrações que representem o que vão encontrar durante o período de passeio. Alguns exemplos de recursos visuais que podem ser oferecidos para preparar antes de uma viagem:
- Introduzir o cenário da viagem com fotografias do local (paisagens, quintal da casa onde vão ficar, espaço do hotel, etc);
- Ilustrações de atividades diferenciadas que vão fazer (um piquenique, castelinho na areia, piscina);
- Quadro de horários e combinados de acordo com as atividades da viagem;
- Ilustrações de acordo com cada passo a passo da viagem, exemplo:
- 1. aonde vamos: para a casa da vovó!
- 2. vamos colocar nas malas no carro e nos ajeitar para seguir;
- 3. vamos dirigir por alguns minutos até um determinado local;
- 4. por lá vamos beber água e usar o banheiro;
- 5. depois seguimos até a casa da vovó;
- 6. ao chegar lá vamos sair do carro e tirar todas as malas;
- E segue até o quanto achar necessário!
Carol Rorato ainda salienta para que a família “leve brinquedos que são favoritos da criança, ou até mesmo os itens regulatórios dela, isso pode ajudar durante a viagem”.
Além disso, reforça a importância de uma comunicação assertiva entre pessoas cuidadoras e a criança: “sempre descreva o que está acontecendo, principalmente se forem coisas novas. Não force coisas que ela não queira fazer para não ficar aversivo”.
3. Faça passeios antes da viagem
Antes de embarcar para uma viagem mais longa, comece um treinamento especial (e divertido!). Como é tempo de férias, busque por um passeio mais próximo da residência, como uma praça pública, por exemplo.
“Oferecer lugares mais calmos de tempos em tempos e verificar se a criança quer ficar alguns minutos nele para se regular. Locais com pouco barulho, pouca gente e com espaço para descanso.”
Ainda utilize o quadro de rotina e os recursos visuais da mesma forma: com ilustrações e passo a passo do dia que vão experienciar, pois lembre-se: oferecer previsibilidade é muito importante!
Durante esse passeio você vai entender o limite da criança acerca do novo ambiente, e principalmente entender como ela se comporta quando está em contato com esses novos estímulos.
Caroline reforça que é preciso estar atento aos sinais da criança enquanto interagem com o ambiente: “atitudes como tentar fugir do local, colocar a mão no ouvido, buscar locais para se apoiar, apresentar muitas estereotipias, chorar, etc”. Quando isso acontece, é preciso: “respeitar esses sinais e buscar locais mais tranquilos nesses momentos”, reforça.
4. Comunique as pessoas envolvidas nos passeios e viagens
Além de oferecer previsibilidade para a pessoa com autismo, que tal conversar com quem fará parte do passeio também?
Caso a visita seja para a casa de uma pessoa da família, ou até mesmo um colega, procure conversar sobre as limitações, fazer combinados e compartilhar sobre as rotinas e gostos únicos da pessoa com TEA.
Avise também os colaboradores dos espaços como hotéis, aviões e outros transportes públicos, muitas atitudes de terceiros são impossíveis de evitar, mas concentre-se em criar um ambiente saudável. Além disso, existem direitos para pessoas autistas que garantem acesso a atendimentos prioritários, que evita as longas filas de embarque, por exemplo.
Caso você ainda tenha a oportunidade, é um bom momento para compartilhar mais informações sobre o TEA!
5. Seja paciente e respeite as diferenças
Apesar da viagem ser uma das maneiras de auxiliar no desenvolvimento da interação social para a pessoa com TEA, é preciso respeitar os limites! Muitas vezes o desconforto pode atrapalhar o bem-estar, então esteja preparado para adaptar as atividades das férias.
Um exemplo disso é o relato do apresentador Marcos Mion, que opta por não incluir seu filho adolescente no espectro, Romeo Mion, em viagens de longa distância, ou com atividades que o filho não se identifica e não se sente bem.
Durante uma viagem para Londres, Mion gravou uma sequência de vídeos para seu story no Instagram, contando sobre os planos de esquiar com os outros dois filhos, e salientando que Romeo não gostava desse tipo de viagem, por isso ficou com os avós para curtir o momento de férias, onde se sentia mais confortável com a rotina.
“Lugares menores facilitam esse controle”, explica Caroline Rorato e ela dá a dica: “parques de diversões e praias são muito grandes e cheias. Optar por ambientes menores e mais fechados ajudam a minimizar os riscos, principalmente com crianças pequenas.”
Por isso, se você e sua família gostam de viajar com a criança, mas por enquanto não é uma opção, adapte os passeios e as atividades, acostume-os aos poucos e entenda quais são os gostos que atraem.
Além disso, quando a pessoa está no espectro e não se sente confortável com a viagem, ela pode trazer sugestões para a família para que possa ficar em casa ou com outra pessoa cuidadora responsável.
Dessa forma, ela se diverte e entende que o momento da viagem é uma experiência divertida, abrindo as portas para novas aventuras.
“Lembre-se de respeitar o tempo da criança também. Ele é diferente do nosso. Talvez não consiga ficar uma hora no shopping. Por isso, passeios menores e aumentos graduais do tempo do passeio, ajudam a diminuir os comportamentos desafiadores também.”
Se você é pai, mãe ou cuidador de uma pessoa no espectro autista, e quer aprender e conhecer as intervenções que podem ajudar no desenvolvimento, no bem-estar e na saúde da pessoa com TEA, nós podemos ajudar. Clique no banner abaixo para conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido pela Genial Care.