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Criança está sentada com colher na boca, um bolo está a sua frente. Está desempenhando uma habilidade da vida diária no autismo

Atividades da vida diária no autismo: ABA e terapia ocupacional no ensino de habilidades básicas

Sabemos que as atividades da vida diária são aquelas tarefas ou habilidades básicas do cotidiano que englobam todas as nossas ações diárias, como ir ao banheiro, se alimentar, escovar os dentes, cuidar de outras pessoas e se comunicar.

Mas, quando falamos das atividades da vida diária no autismo é importante entendermos de que forma o ensino e apoio dessas habilidades de autonomia são feitos nas intervenções de pessoas com TEA.

Todo esse ensino de habilidades básicas precisa ser feito com base nas práticas baseadas em evidências e estratégias terapêuticas especializadas para crianças no espectro.

Por isso, neste artigo, exploraremos como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e a Terapia Ocupacional (TO) podem ser utilizadas para desenvolver habilidades básicas de AVDs em pessoas autistas. Leia e aprenda.

Atividades da vida diária no autismo: A ligação das AVDs na primeira infância

O desenvolvimento das Atividades da Vida Diária (AVDs) na primeira infância é um processo fundamental para o crescimento e a independência da criança.

Desde o nascimento, os bebês dependem dos cuidados de seus pais ou responsáveis para realizar tarefas, já que estes são apoiadores essenciais para o desenvolvimento de diversas habilidades na primeira infância.

Adultos responsivos fornecem os alicerces nos quais as crianças podem se envolver em comportamentos e interações que promovam a aprendizagem à medida que crescem, favorecendo a aquisição gradual de competências para realizar atividades e tarefas por conta própria (Serrano, 2018).

As AVDs aumentam a capacidade de uma criança viver de forma independente, diminuindo a necessidade de apoio individual à medida que se desenvolve.

Para entender como a independência e a autonomia se desenvolvem, vamos trazer alguns exemplos práticos:

  • Até os três meses de idade, a alimentação da criança é condicionada pela regulação do próprio corpo, através de reflexos (como a sucção) e sensações internas. Conforme a criança começa a desenvolver maior controle do corpo e de seus membros, sua capacidade de se alimentar também se desenvolve. Por exemplo, a criança começa a movimentar a boca de forma a tirar a comida da colher, sem precisar de um estímulo externo para realizar a movimentação intraoral. Aos seis meses, ela começa a desenvolver a habilidade de levar alimentos à boca, à medida que desenvolve o controle de seus braços e mãos.
  • As habilidades de vestuário surgem quando o bebe passa a puxar e empurrar os braços e as pernas para tirar ou pôr as mangas das camisetas, ou das pernas das calças. Esses comportamentos indicam se a criança está começando a fazer o planejamento motor para colocar ou tirar as roupas e também se está motivado para atingir este objetivo.
  • A partir dos doze meses, a criança é capaz de utilizar uma colher para levar a comida à boca e, em seguida, outros tipos de utensílios para comer e beber.

Embora a criança possa levar tempo para alcançar a independência em certas áreas, ela pode exercer sua autonomia fazendo escolhas ao longo do percurso, conforme já exemplificado anteriormente.

Essa aquisição gradual das AVDs ao longo da vida, com respeito à faixa etária e amadurecimento neurológico, precisa ser considerada dentro de um planejamento terapêutico.

Como a ABA ajuda a ensinar habilidades básicas para crianças com autismo?

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência comprometida em desenvolver conhecimento e estratégias para lidar com questões socialmente relevantes de qualquer natureza.

Aqui entram demandas relacionadas ao desenvolvimento atípico ou quaisquer outras (como educacionais, sociais, políticas públicas, gestão de pessoas, saúde mental etc).

Quando aplicada ao TEA, existem algumas estratégias da ABA que podem auxiliar nesse aprendizado dessas habilidades básicas. Algumas delas são:

Ensino por tentativas discretas

O ensino por tentativas discretas pode ser usado para ensinar uma nova habilidade. Ele acontece dentro de um ambiente programado para limitar o acesso a estímulos que possam distrair a criança. Assim, é definido o comportamento que se deseja ensinar, assim como os critérios de aprendizagem que indicarão se a criança está realizando essa habilidade da maneira desejada.

A partir disso, são realizadas várias tentativas com o objetivo de fortalecer a resposta-alvo. Nesse momento, podem ser usados diversos tipos de ajuda para facilitar o processo de aprendizagem. Depois que a criança atinge o critério de aprendizagem determinado, e realiza o comportamento de maneira autônoma, se inicia o processo de generalização.

Quando queremos ensinar a criança a escovar os dentes, podemos quebrar essa atividade em várias etapas.

E definir para cada etapa, qual será a estratégia de ensino que será utilizada, qual tipo de suporte que a criança se beneficia, quando e como essa criança será reforçada, bem como qual será o procedimento de correção do comportamento que é esperado.

Por exemplo, se queremos ensinar essa criança a pegar a escova de dentes, podemos entender que o melhor forma de ensinar isso a ela é guiando a sua mão ou apontando para esse objeto.

Se a criança realiza a ação, podemos entender se é o momento de reforçar ou se continuamos na cadeia de etapas que contempla a atividade de escovar os dentes.

Modelação

A modelação é uma estratégia usada para o ensino de novas habilidades e funciona da seguinte forma: o terapeuta ou pessoa cuidadora realiza o comportamento alvo da intervenção, seguido da instrução para que a criança o imite. Ou seja, demonstra-se visualmente a habilidade para a criança e assim que ela a realiza reforça-se a resposta desejada.

Um tipo de modelagem é a videomodelação, que é uma técnica que utiliza vídeos para demonstrar comportamentos ou habilidades sejam sociais, comunicativas e funcionais, servindo como um exemplo prático de como realizar essas ações. Este recurso oferece uma representação visual clara que facilita a aprendizagem.

Por exemplo, podemos utilizar um vídeo mostrando como escovar os dentes, apresentando quais são as etapas dessa atividade.

Suportes visuais

Aqui são trabalhadas exibições de estímulos 2D (figuras, imagens, etc.) que ajudam a criança a se envolver em um comportamento ou sequência de comportamentos independentes de ajudas adicionais.

Estes suportes podem ser simples, como a imagem de um banheiro, ou complexas, como script com etapas de uso do banheiro. Para esvanecimento dessas dicas, é possível remover gradualmente os componentes.

Como a terapia ocupacional pode ajudar nas atividades de vida diária?

Profissionais especialistas em terapia ocupacional também são responsáveis por trabalhar o ensino de AVDs para crianças com autismo. Isso porque esta área tem como objetivo promover o desenvolvimento de habilidades de desempenho.

Ou seja, o terapeuta ocupacional é o responsável por analisar a tarefa e correlacionar aspectos do contexto, do ambiente, da exigência da tarefa e das habilidades da criança para definir a melhor estratégia de ensino.

Algumas das principais atividades que a terapia ocupacional se encarrega de ensinar a criança são:

  • Ir ao banheiro;
  • Arrumar o cabelo;
  • Colocar os sapatos;
  • Escovar os dentes.

Além disso, também é possível trabalhar no desenvolvimento da coordenação motora em atividades como:

  • Subir e descer escadas com equilíbrio;
  • Pular com os dois pés;
  • Jogar e segurar a bola com as duas mãos;
  • Segurar o lápis com a mão para escrever.

Para trabalhar as escalas de atividades diárias, as brincadeiras se tornam um recurso terapêutico para alcançar os principais objetivos identificados a partir da avaliação e da conversa com a família e a escola.

Além disso, profissionais da terapia ocupacional, assim como profissionais ABA, têm como objetivo auxiliar a família e as pessoas cuidadoras para que as estratégias de ensino possam ser utilizadas na casa da criança.

Sempre com o objetivo de minimizar as dificuldades que ela enfrenta no dia-a-dia, melhorando a qualidade de vida de todo núcleo familiar.

Integração de ABA e Terapia Ocupacional no ensino de atividades da vida diário no autismo

Integrar ABA e Terapia Ocupacional pode oferecer uma abordagem abrangente e eficaz para ensinar habilidades de atividades de vida diária no autismo. Isso garante um plano de intervenção abrangente e colaborativo entre as diversas especialidades.

Aqui estão algumas maneiras de combinar essas duas abordagens:

  • Plano de intervenção combinado: criar um plano de intervenção que utilize os princípios de ABA para a estruturar o programa de ensino, incorporando as atividades significativas no plano terapêutico, incluindo as estratégias adaptativas da TO;
  • Sessões conjuntas: terapeutas ABA e ocupacionais podem colaborar em sessões conjuntas, onde ambos os profissionais trabalham com o indivíduo para ensinar habilidades de AVD, utilizando suas técnicas especializadas.
  • Comunicação e feedback: manter uma comunicação aberta entre os terapeutas ABA e ocupacionais para ajustar as estratégias com base no progresso do indivíduo e nas respostas observadas.

Conclusão

O desenvolvimento de habilidades básicas de Atividades da Vida Diária (AVD) é essencial para promover a independência e qualidade de vida de indivíduos com autismo.

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e a Terapia Ocupacional (TO) são duas abordagens comprovadamente eficazes que, quando integradas, podem oferecer um suporte abrangente e personalizado para ensinar essas habilidades.

Utilizando técnicas de reforço positivo, fragmentação da atividade, analise de tarefas e atividades significativas, pais, cuidadores e profissionais de saúde podem criar um ambiente de aprendizado estruturado e motivador.

A colaboração da ABA e com a expertise da TO maximiza os benefícios de ambas as abordagens, proporcionando uma trajetória de desenvolvimento mais eficaz e sustentável para indivíduos com autismo.

Investir no ensino de AVDs através dessas terapias não só promove a independência, mas também fortalece a autoestima, a inclusão social e a qualidade de vida, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e compreensiva.

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