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Ao explorarmos essa abordagem, mergulharemos no mundo da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e compreenderemos a importância de práticas embasadas na pesquisa para um desenvolvimento saudável e positivo.
Nesse momento, as pessoas cuidadoras começam a procurar por ajuda e técnicas de ensino e aprendizagem que vão auxiliar no desenvolvimento dos pequenos, garantindo oportunidades de aprendizagem eficientes.
Mas afinal, o que significa dizer que uma intervenção é feita com uma Prática Baseada em Evidências? Como entender se as estratégias são realmente pautadas nas PBEs e como identificar o progresso da pessoa com autismo enquanto passa por esse tipo de terapia?
Sabemos que o assunto pode trazer inúmeras dúvidas, especialmente para famílias de primeira viagem que ainda não sabem muito sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Por isso, criamos esse texto para te explicar os detalhes mais importantes sobre intervenções que têm base em evidências científicas e como elas funcionam, na prática. Confira!
O que é Prática Baseada em Evidências Científicas?
A importância da Prática Baseada em Evidências (PBEs) faz parte da trajetória de muitas famílias ao receber o diagnóstico de autismo. Com elas, é possível proporcionar uma intervenção estruturada e eficaz para crianças com autismo, garantindo resultados baseados em ciência.
Mas primeiro, vamos começar pelo básico. Afinal de contas, o que é uma prática baseada em evidências científicas?
De acordo com Herbert et al. (2011), a Prática Baseada em Evidência é a tomada de decisão consciente baseada em evidências clínicas de alta qualidade. Alguns autores consideram que a prática baseada em evidência (PBE) é a tomada de decisão que, além de terem evidência científica, também são apoiadas pelas características e preferências do paciente.
Esse termo é usado para determinar um conjunto de procedimentos para os quais os pesquisadores forneceram um nível aceitável de pesquisa que mostra que a prática produz resultados positivos para crianças, jovens e ou adultos com TEA.
Nesse caso, podemos dizer que a utilização desses resultados de pesquisas, por exemplo, serve como ferramenta para atingir a evolução com as necessidades do indivíduo. Ou seja, não é um “achismo” – funciona mesmo e é comprovado!
Em 2020, o Centro Nacional de Autimos nos Estados Unidos publicou um guia, o Evidence-Based Practices for Children, Youth, and Young Adults with Autism, que descreveu todas as práticas baseada em evidência sobre intervenções com autismo.
E com isso identificou a existência de 28 práticas baseadas em evidências para o TEA que atingiram todos os critérios propostos pela revisão. Destas, 23 eram baseadas nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).
O que é ABA e como ela funciona?
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA do inglês Applied Behavior Analysis) é a parte prática (ou aplicação) das técnicas da Análise do Comportamento (AC).
A ABA se concentra na compreensão e modificação do comportamento, utilizando técnicas específicas para promover habilidades sociais, de comunicação e funcionais.
Essa ciência é individualizada, considerando as necessidades únicas de cada criança, estruturada com estratégias para incentivar o aprendizado e a generalização das habilidades adquiridas.
Isso quer dizer que profissionais que atuam com ela devem seguir alguns passos para implementar a intervenção:
- Desenvolver um estudo individual de cada pessoa: conhecer seu contexto, as habilidades que já adquiriu e aquelas que precisa aprender e também entender mais sobre seu núcleo familiar e rotina;
- Elaborar estratégias: a partir da análise inicial, desenvolver um plano de intervenção que possa ajudar no desenvolvimento de habilidades e na redução de comportamentos desafiadores, quando necessário. E com comportamentos desafiadores, nos referimos às crises no autismo e não às estereotipias;
- Medir o progresso e promover a generalização: é também dever da equipe que atua com a pessoa avaliar seus aprendizados e compartilhar tudo com a família. Além de ensinar estratégias que as pessoas cuidadoras devem aplicar no dia a dia para promover a generalização, ou seja, o ensino de habilidades em todos os contextos no qual a pessoa está inserida.
Isso porque, para uma terapia ser de fato baseada em ABA, ela precisa ter algumas características:
- Ser focada no ensino de habilidades relevantes;
- Garantir que elas sejam usadas na rotina, fora da sessão.
Apesar de ser indicada para o autismo, a ciência ABA não é indicada apenas para pessoas com TEA, já que suas estratégias podem beneficiar pessoas em diferentes contextos e situações. Um bom exemplo do seu uso é em escolas e na psicologia organizacional em empresas.
Prática Baseada em Evidências recomendadas para o autismo
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática baseada em evidências é recomendada para pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente autistas.
Essas abordagens são orientadas por pesquisas sólidas e resultados mensuráveis, o que garante uma intervenção embasada e confiável. Dentro desta categoria, encontram-se ferramentas como:
Intervenção baseada em antecedentes
As intervenções baseadas em antecedentes são uma organização de eventos ou circunstâncias que precedem uma atividade ou demanda a fim de aumentar a ocorrência de um comportamento ou levar à redução dos comportamentos desafiadores.
Comunicação alternativa e aumentativa
A CAA ou comunicação alternativa e aumentativa são um conjunto de intervenções usando e /ou ensinando o uso de um sistema de comunicação que não é verbal/vocal que pode ser auxiliada (por exemplo, dispositivo, livro de comunicação) ou sem ajuda (por exemplo, linguagem de sinais).
Intervenção de Momentum Comportamental
A Intervenção de Momentum Comportamental é uma série de solicitações que começam levando a pessoa a realizar coisas simples e/ou mais desejadas, criando um momentum que favorece o engajamento. Assim, a solicitação tem mais possibilidades de ser cumprida.
Estratégias instrucionais Cognitivas-comportamentais
As estratégias instrucionais cognitivas-comportamentais são instruções sobre gestão ou controle de processos cognitivos que conduzem a mudanças de comportamento social ou acadêmico.
Reforçamento Diferencial de Comportamento (DRA, DRI, DRO)
Os reforçamentos diferenciais de comportamento são um processo sistemático que aumenta o comportamento desejável e, ao mesmo tempo, a ausência de um comportamento indesejável, fornecendo consequências positivas para o resultado comportamental desejado.
Estas consequências podem ser fornecidas quando o aluno está: a) engajado em um comportamento desejado específico, alternativo ao comportamento indesejável, b) envolvido em um comportamento que é fisicamente impossível de fazer enquanto exibe o comportamento indesejável, ou c) engajado em qualquer outro comportamento que não o comportamento indesejável.
DRA – Reforço Diferencial de Comportamento Alternativo
No DRA temos a liberação do reforço depois de uma ou mais ocorrências de um comportamento particular, que seja treinado ou ensinado, e não necessariamente seja incompatível com a conduta comportamental indesejada, mas que é alternativo a ela, ou seja, que acessa as mesmas funções comportamentais.
DRI – Reforço Diferencial de Comportamento Incompatível
Este tipo de reforçamento diferencial representa a liberação do reforço depois de uma ou mais ocorrências de um comportamento que seja incompatível com o comportamento inadequado.
DRO – Reforço Diferencial de Outros Comportamentos
O DRO constitui a liberação do reforço após um determinado intervalo de tempo, no qual o comportamento inadequado não é emitido, sendo reforçada qualquer outra conduta que não seja aquela que se pretende diminuir a frequência ou extinguir.
Ou seja, durante essa estratégia fortalecemos qualquer outro comportamento diferente do que é considerado inapropriado, utilizando um critério temporal para a liberação do reforçamento.
Instrução direta (DI)
A Instrução Direta é uma abordagem sistemática de ensino usando uma sequência instrucional com um pacote com protocolos ou lições em script. Enfatiza o diálogo do professor e do aluno por meio de respostas independentes dos alunos, e emprega correções de erro sistemáticas e explícitas para promover o domínio das habilidades e sua generalização.
Ensino por tentativas discretas
A ABA estruturad a ou ensino por tentativas discretas pode ser usado para ensinar uma nova habilidade ou comportamento por meio de uma abordagem instrucional com tentativas em massa ou repetidas com cada tentativa consistindo na instrução/apresentação do professor, a resposta da criança, uma consequência cuidadosamente planejada e uma pausa antes de apresentar a próxima instrução.
Exercício e movimento
O Exercício e Movimento (EXM) pode ser entendido como um conjunto de intervenções que usam o esforço físico e as habilidades motoras específicas/técnicas de movimento consciente para direcionar várias habilidades comportamentais de uma pessoa.
Com ele, é possível melhorar a aptidão física e aumentar os comportamentos direcionados. Ou seja, usamos a coordenação específica de um indivíduo, ações que fazem com que ele realize determinada atividade consciente, como chutar uma bola ou levantar o braço, para direcionar suas habilidades comportamentais, aquelas que permitem a interação interpessoal.
Extinção
A Extinção é um princípio comportamental que pode ser usado para diminuir ou eliminar um comportamento interferente, eliminando ou retendo as consequências que o reforçam. Com ele, focamos na diminuição de comportamentos desafiadores das crianças, como fazer birras, gritar, chorar, se jogar no chão, se arranhar, entre outros.
Avaliação funcional
A Avaliação funcional é uma forma sistemática de determinar a função ou motivo de um comportamento para que um plano de intervenção eficaz possa ser desenvolvido. Nessa prática baseada em evidências a pessoa é exposta a diferentes condições ambientais para determinar em qual delas continuará se comportando da mesma forma.
Treinamento de comunicação funcional
Esse treinamento pode ser usado para substituir comportamentos desafiadores por comportamentos comunicativos mais apropriados e eficazes.
Modelação
A Modelação é usada para demonstrar visualmente uma habilidade ou comportamento para um aluno. Nela, é feita a demonstração de um comportamento alvo desejado, como um modelo para o comportamento do aluno, com objetivo de auxiliar na aquisição do comportamento desejado.
Musicoterapia
A Musicoterapia é uma intervenção que incorpora canções, entonação melódica e/ou ritmo para apoiar a aprendizagem ou desempenho de habilidades/ comportamentos. Isso inclui musicoterapia, assim como outras intervenções que incorporam música para abordar habilidades específicas.
Intervenção naturalística
A Intervenção naturalística ou ABA naturalista, como também é conhecida, consiste na aplicação de princípios de análise comportamental aplicada durante as rotinas e atividades diárias de um aluno para promover, apoiar e encorajar naturalmente habilidades / comportamentos alvo.
Intervenções implementadas pelos pais
A implementação pelos pais de uma intervenção que promova a comunicação social ou outras habilidades, ou diminua a frequência ou ocorrência de comportamento desafiador para seu filho. Fazem parte dessa categoria tanto intervenções para aquisição de habilidades quanto intervenções para comportamentos desafiadores.
Instrução e intervenção mediada por pares
A Instrução e intervenção mediada por pares apoia interações sociais positivas e significativas entre pares e alunos com autismo. Com ela, os pares promovem diretamente as relações sociais das crianças com autismo, entre outras habilidades e objetivos individuais de aprendizagem.
O adulto organiza o contexto social (grupos de brincadeiras, e contatos sociais) e quando necessário fornece suporte (fornece sugestões e reforço) às crianças para que elas possam interagir com seus pares.
Reforço
O Reforço é usado para aumentar as chances de um aluno de usar uma habilidade ou comportamento alvo. Chamamos de reforçadores todas as consequências de um comportamento que aumentam as chances dele voltar a ocorrer no futuro. Eles podem ser itens, objetos, interações ou atividades que acontecem como consequência de uma resposta, e variam de pessoa para pessoa.
Dica
As dicas são uma forma de assistência verbal, gestual ou física dada aos alunos para apoiar a aquisição ou envolvimento em um comportamento ou habilidade direcionado.
Bloqueio de respostas e redirecionamento
O Bloqueio de respostas e redirecionamento funciona como uma introdução de um comentário ou outras distrações quando um comportamento interferente está ocorrendo. É projetado para desviar a atenção do aluno para longe do comportamento interferente, resultando em sua redução.
Autogestão
A Autogestão funciona como uma instrução com foco na discriminação de comportamentos apropriados e inadequados, bem como em seu monitoramento, recompensando o comportamento adequado.
Integração sensorial
As estratégias de Integração sensorial são intervenções que visam a capacidade de uma pessoa de integrar informações sensoriais (visual, auditiva, tátil, proprioceptiva e vestibular) de seu corpo e ambiente, a fim de responder usando um comportamento organizado e adaptativo.
Narrativas sociais
As Narrativas sociais ajudam os alunos com autismo a compreender as situações sociais, oferecendo exemplos de como responder nesses contextos.
Treinamento de habilidades sociais
O Treinamento de habilidades sociais se refere à instrução dirigida por adultos para ensinar aos alunos maneiras de participar de forma adequada e com sucesso em suas interações com outras pessoas.
Análise de tarefas
A Análise de tarefas divide habilidades ou comportamentos-alvo complexos em etapas menores. Os membros da equipe então trabalham com o aluno para ensinar sistematicamente as etapas individuais.
Instrução e intervenção auxiliada por tecnologia
A Instrução e intervenção auxiliadas por tecnologia referem-se à instrução ou intervenção em que a tecnologia é o recurso central de apoio à aquisição de um objetivo para o aluno.
Atraso
O Atraso é uma prática usada para diminuir sistematicamente o uso de dicas durante as atividades de instrução, usando um breve atraso entre o instrução e a dica.
Videomodelagem
A Videomodelagem consiste na demonstração do comportamento/habilidade gravada em vídeo para auxiliar o aluno na aprendizagem dessa habilidade
Suportes visuais
Os Suportes visuais são uma estratégia de exibição visual que ajudam o aluno a se envolver em um comportamento ou habilidades com maior independência e fornecem previsibilidade, diminuindo a frequência das barreiras comportamentais.
Conclusão
A aplicação de práticas baseadas em evidências no contexto do autismo é fundamental para garantir resultados clínicos e pautar o avanço no desenvolvimento infantil ao longo da vida.
Essas abordagens são orientadas por pesquisas sólidas e resultados mensuráveis, o que garante uma intervenção embasada e confiável.
Além disso, ao optar por intervenções baseadas em evidências, pais e cuidadores podem estar seguros de que estão investindo tempo e esforço em estratégias que realmente fazem a diferença na vida de seus filhos.
Através de abordagens como a ABA, as crianças com autismo encontram um espaço para crescer, aprender e florescer. A importância de práticas baseadas em evidências vai além das barreiras da incerteza, criando oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento saudável e positivo.
Existem ainda outros modelos de intervenção como TEACCH, Denver e Floortime que já foram estudados para pessoas no TEA. Aqui em nosso blog, você consegue ler mais sobre cada um deles no detalhe, e continuar aprendendo!