Índice de Conteúdos
A modelagem em vídeo (MV), também conhecida por vídeo modelagem, é uma prática baseada em evidências (PBE) para pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que utiliza a tecnologia como grande aliada.
Essa prática está ligada ao ensino por meio de suportes visuais, para potencializar o desenvolvimento habilidades comunicativas através de imagens.
A vídeo modelagem vem sendo estudada e divulgada por conta do contato das crianças e a imersão tecnológica acontece desde cedo, influenciada, principalmente, nos diversos contextos sociais.
Neste texto vamos falar mais sobre a modelagem em vídeo e sua função no desenvolvimento de pessoas autistas.
Práticas baseadas em evidências científicas
Como já falamos aqui no blog, o termo Práticas Baseadas em Evidências (PBEs) é usado para determinar um conjunto de procedimentos para os quais os pesquisadores forneceram um nível aceitável de pesquisa que mostra que a prática produz resultados positivos para pessoas com TEA, sejam crianças, jovens e/ou adultos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática baseada em evidências é recomendada para pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente autistas. Você pode conhecer a lista de intervenções indicadas neste texto.
O que é modelagem em vídeo?
A modelagem em vídeo são atividades de outra PBEs, a modelação, que ficam gravadas no formato de vídeo, ou seja, são as atividades e exercícios que seriam feitas presencialmente, ao lado de uma criança, mas que com o auxílio da tecnologia podem ser filmadas e transmitidas por meio de um aparelho, como celular, tablet ou computador.
O benefício dessa prática é fortalecer o aprendizado e integrá-lo dentro do cenário tecnológico, potencializando os aprendizados de forma facilitada com ajuda da tecnologia, com a qual muitas crianças estão acostumadas.
Um detalhe importante é que o conteúdo da modelagem em vídeo podem ser direcionados diretamente para a criança, porém muitas jornadas de aprendizado investem em uma modelagem em vídeo na qual a pessoa cuidadora também pode aprender com essa forma de comunicação. Isso ajuda ainda mais a reconhecer as individualidades da criança.
A Modelagem pode ser aplicada por diversos profissionais, como:
- Terapeuta ocupacional;
- Fonoaudiólogo;
- Pedagogo;
- Educador Físico.
Que utilizam o recurso de comunicação alternativa enquanto conversam com a pessoa autista que possui dificuldade na comunicação. Alguns objetos que podem auxiliar na prática de modelagem em vídeo são:
- Quadros;
- Brinquedo;
- Objetos do dia a dia;
- Material escolar;
- Etc.
Durante a apresentação desses objetos, a atividade é: oralizar e apontar o símbolo correspondente à palavra falada, como por exemplo: apontar para a figura de uma menina com as mãos em direção aos olhos, como se estivesse esfregando em um choro, enquanto usa a palavra “chorar”, “chorando” e etc.
Associar a imagem a palavra auxiliar as crianças com autismo que estão aprendendo mais sobre as emoções e até em processo de alfabetização. Por isso, a modelagem em vídeo tem sido bastante utilizada pelos profissionais especialistas em autismo.
CAA e Modelagem
As estratégias de modelação e modelagem em vídeo são extremamente importantes para que o desenvolvimento da criança autista ocorra de maneira saudável. Muitas vezes essas ações se tornam cruciais para auxiliar na inclusão escolar, além de estabelecer relações sociais e aprendizado de novas habilidades.
A modelagem em vídeo, ou a modelação em si, é uma atividade que está inserida na Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), outra prática baseada em evidências. A CAA pode ser entendida como um conjunto de intervenções que visa tornar mais efetiva a comunicação de um indivíduo.
Para esse fim são utilizados sistemas de comunicação que não são essencialmente verbais vocais (como a fala), e que podem – ou não – ter algum tipo de recurso como auxílio. Um exemplo de CAA que não utiliza nenhum suporte é a linguagem de sinais.
Quando se fala de CAA com auxílio, alguns exemplos de suporte são:
- Quadros/placas com imagens;
- Desenhos;
- Fotografias;
- Celulares, tablets ou computadores.
Aprendizagem com modelagem em vídeo
Segundo abordado no artigo científico: Modelagem em Vídeo para o Ensino de Habilidades de Comunicação a Indivíduos com Autismo: Revisão de Estudos, elaborado por duas docentes pós-graduadas em educação especial, existem três tipos básicos de intervenções em modelagem em vídeo:
Modelagem em Vídeo com outros como modelo (MVO)
Que utiliza um adulto ou pares como modelo que podem ser conhecidos ou não por quem aprende.
Automodelagem em Vídeo (AV)
Que utiliza o aprendiz como o modelo para oferecer oportunidades de aprendizagem, visto que ele visualiza a si próprio desempenhando uma tarefa. Deste modo, a gravação é editada de forma a retirar todo o estímulo, ao final, o vídeo editado é apresentado ao aprendiz. Nesta versão final, o aprendiz aparece desempenhando sozinho a ação proposta.
Modelagem em vídeo a partir do ponto de vista (MVPV)
O POVM (Point of View) ou MVPV é filmado na perspectiva da primeira pessoa, e na modelagem em vídeo é elaborado com a filmadora na altura do ombro de uma pessoa, sendo que as lentes da filmadora representam os olhos do aprendiz e somente as suas mãos estão visíveis no vídeo, realizando o comportamento alvo.
Os três tipos de vídeos são explorados e utilizados como intervenções na literatura internacional para desenvolverem e melhorarem diversas habilidades de pessoas com TEA e outras deficiências das mais diferentes faixas etárias.
Tecnologia como aliada
A prática de modelagem em vídeo também reforça como é ter a tecnologia como uma ferramenta de aprendizagem, e gerar estimulação de maneira assertiva.
Além de ser um ótimo aliado no desenvolvimento de aprendizagem, a tecnologia auxilia até mesmo cientistas e pesquisadores que se dedicam a estudar o Transtorno do Espectro Autista.
Quando o uso da modelagem em vídeo é feito de forma adequada, onde a estratégia se torna inovadora para o complemento dos tratamentos e terapias, acaba sendo um diferencial para as crianças aprenderem de forma lúdica em um ambiente projetado para o desenvolvimento de habilidades e competências importantes na vida do ser humano.
O tema tecnologia e autismo foi abordado pela psiquiatra Mirian Revers Biasão, em estudo recente. Na pesquisa, Miran abordou que o diagnóstico de autismo aconteceu com a ajuda do rastreamento dos movimentos oculares do paciente por computadores, baseado em modelos de atenção visual. Esse estudo pode representar um grande passo para a psiquiatria.
Em entrevista para a Revista Veja, a psiquiatra também falou sobre os benefícios da tecnologia para pessoas autistas. Ela defende o uso de objetos tecnológicos, quando aliados à comunicação alternativa, principalmente por meios de aplicativos, que fornecem figuras e escritas que ajudam o paciente a se comunicar.
Mirian também conta que: “alguns apps também produzem sons ligados às palavras escolhidas, o que estimula a fala do autista. Há algum tempo, as pessoas com autismo andavam com pastinhas cheias de figuras de velcro para ajudá-las a se comunicar. Agora, basta ter um celular”.
Conclusão
A modelagem em vídeo é um exemplo de como a tecnologia pode ser uma aliada valiosa na promoção do desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para pessoas autistas, representando um passo significativo em direção a uma abordagem mais inclusiva.
Ao combinar a eficácia comprovada da modelagem com o poder da tecnologia, essa abordagem oferece benefícios significativos para quem está no espectro e também para suas cuidadoras e profissionais de saúde.
A utilização da modelagem em vídeo e da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) mostra como a tecnologia pode desempenhar um papel crucial na promoção da aprendizagem e na melhoria da qualidade de vida das pessoas com TEA.
Além disso, a crescente integração da tecnologia no campo do autismo destaca o potencial inovador que a tecnologia pode ter no diagnóstico, tratamento e comunicação para pessoas com TEA.
Para conhecer mais conteúdos relacionados à intervenção do autismo, acesse o blog da Genial Care.