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Recentemente, o livro infantil “Um Monstro em Minha Escola” virou pauta da comunidade de influenciadores digitais que lutam por um mundo mais inclusivo e menos capacitista.
Isso porque a obra faz alusão a um personagem com comportamentos parecidos aos dos sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA), relacionando o personagem principal a um monstro.
O material que vem sendo divulgado nas redes sociais, é um vídeo do canal “Varal de Histórias”, onde a contadora de histórias Juçara Batichoti interpreta o livro infantil de autoria de Iara Medeiros.
Nesse texto, vamos falar mais sobre o impacto que essa obra trouxe para a comunidade autista, e a importância de lutar por um mundo mais inclusivo e apoiar a neurodiversidade.
A figura do autista em “Um monstro em minha escola”
Na contação da história, somos apresentados a um monstrinho que queria ser aluno, mas segundo a obra, atrapalha os colegas de classe por fazer muito barulho e não conseguir ficar quieto.
Em outros momentos é descrito que o monstrinho escala bancos e repete o que a professora e colegas falam, deixando todos da sala de aula, segundo a história, “muito irritados”.
Apesar de não citar abertamente o autismo, muitas pessoas acreditam que as características apresentadas pela autora Iara Medeiros retratam um aluno neurodivergente, com sinais típicos do TEA, que estão presentes na obra:
- Ecolalia – Distúrbio de linguagem, definida como a repetição em eco da fala do outro. Normalmente, a pessoa com autismo tende a repetir palavras ou frases que ouviu na televisão ou em conversas, sem intenção de se comunicar;
- Estereotipias – Os comportamentos repetitivos também são muito comuns no TEA. Muitos deles podem ter a função de regulação emocional.
- Dificuldades de comunicação e habilidades sociais.
O livro vem sendo muito criticado pela retratação do aluno como uma figura monstruosa, que faz a relação com um ser que causa espanto, e também pela falta de empatia na abordagem da inclusão escolar, já que a professora do livro fica irritada com as atitudes do aluno, e os colegas de sala estão sempre pedindo para que o monstrinho fique quieto.
Influenciadores se posicionaram
No twitter, o influenciador anti-capacitista, Ivan Baron, fez uma thread de repúdio a obra:
#REPÚDIO: Era pra ser apenas mais uma música infantil, mas a letra da história narrada “TEM MONSTRO NA ESCOLA” faz uma comparação extremamente capacitista entre um aluno neuroatípico a um monstro.
Ele fala de sua indignação pela pessoa no espectro autista ter sido comparada a um monstro, e reforça quão traumática a narrativa dessa história pode ser não só para pessoas autistas, mas para famílias atípicas que lutam diariamente pela inclusão.
#REPÚDIO: Era pra ser apenas mais uma música infantil, mas a letra da história narrada “TEM MONSTRO NA ESCOLA” faz uma comparação extremamente capacitista entre um aluno neuroatípico a um monstro. pic.twitter.com/CVc4nNG541
— Ivan Baron 🦯 (@ivanbaron) May 6, 2023
No instagram, a professora e influenciadora Amanda Soares, uma pessoa com deficiência e voz ativa no movimento anti-capacitista, trouxe sua vivência dentro do ambiente universitário, onde presenciou uma atitude capacitista de um próprio docente.
Se a gente não consegue considerar que uma pessoa com deficiência tem intelectualidade suficiente para estar no mesmo espaço que a gente, se a gente não consegue considerar que uma pessoa com deficiência produz, a gente não vai considerar que ela tem que pertencer ao espaço, reforçou no vídeo:
Livros que respeitam a neurodiversidade
A diversidade é uma parte essencial da sociedade, e isso inclui a diversidade neurológica. Valorizar e celebrar as diferenças neurodivergentes, como o autismo e o TDAH, desde a infância é fundamental para construir uma sociedade inclusiva.
Na jornada do desenvolvimento infantil, os livros desempenham um papel fundamental. Eles não apenas fornecem entretenimento e estimulam a imaginação, mas também podem ser poderosas ferramentas para a construção de empatia, compreensão e aceitação.
Ver representações de pessoas neurodivergentes nos livros permite que essas crianças se identifiquem e sintam-se validadas, percebendo que não estão sozinhas e que suas perspectivas são valiosas.
Felizmente, existem obras que falam sobre a importância de incluir pessoas com deficiência e neurodivergentes, e foi a mãe atípica e autista, Kat (@divesca) que indicou em seu twitter duas obras que retratam a neurodiversidade abrem portas para o diálogo, a compreensão e a aceitação, contribuindo para a construção de um mundo mais diverso e inclusivo.
1. Meu amigo faz iiiii – Andréa Wener com ilustrações de Kelly Vaneli
O livro retrata a história de dois colegas de escola, onde a personagem Bia desempenha o papel de narradora. Bia, ao receber orientação de sua professora, começa a notar que seu colega Nil apresenta comportamentos distintos dos demais. Movida pela curiosidade e com o intuito de compreendê-lo melhor, ela decide observá-lo atentamente.
Disponível no site Lagarta Vira Pupa
2. Um Sonho de Escola – Taicy Ávila com ilustrações de Vanessa Alexandre
A história narra o dia a dia da Bia, uma garotinha com paralisia cerebral, na escola. No contexto desse sonho escolar, a inclusão é alcançada através da introdução de novos materiais e pequenas adaptações na rotina, para que todos possam aprender e crescer em um ambiente cheio de diversão, histórias e amizade.
No desfecho da história, o melhor amigo de Bia, Rodrigo, compartilha com a professora uma descoberta incrível e cheia de poesia sobre a variedade e beleza da diversidade humana.
Disponível no site da editora Mais Ativos
Aqui em nosso blog também falamos sobre o livro “Malu e Cadu: Aventura no Dentista”, que relata a consulta de dois amigos pela primeira vez no dentista. Cadu é autista e Malu tem Síndrome de Down e são atendidos pelo “Doutor Dentão”, que procura atender todos os pacientes de forma singular e inclusiva.
Leia mais sobre a obra em nosso blog:
“Malu e Cadu em: Aventura no Dentista”: obra mostra a importância do atendimento inclusivo