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O processo do diagnóstico de autismo ainda é um assunto que deixa as famílias com muitas dúvidas, principalmente as que estão no início da jornada e desejam buscar acolhimento o quanto antes.
Ele é conduzido por uma equipe de profissionais – de diversas áreas – que avaliam aspectos do comportamento da pessoa, para assim aplicar instrumentos de medida/avaliação validados cientificamente para conseguir chegar a um laudo.
Normalmente, o primeiro passo para o diagnóstico de autismo é a identificação dos sinais de atraso no desenvolvimento da criança.
É a partir daí que as famílias decidem optar por ajuda profissional, especialmente quando notam que a criança não só tem atraso, como não atingiu os marcos do desenvolvimento esperados para a idade dela.
Neste artigo, trouxemos ricas considerações da neuropsicóloga Dra. Joana Portolese e o do médico psiquiatra Dr. Elder Lanzani Freitas, especializado em psiquiatra da infância e adolescência em 2017 e em terapia comportamental.
Eles comentam sobre o processo para o diagnóstico e laudo de autismo, profissionais envolvidos e como procurar ajuda. Vem ler!
Como saber se preciso buscar diagnóstico de autismo na criança?
Quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor para iniciar as intervenções, pois ajuda a estimular o desenvolvimento da criança, devido à neuroplasticidade.
Portanto, o ideal é que a família esteja sempre observando os marcos do desenvolvimento esperados para cada idade e, ao observar um ou mais sinais que indiquem atraso no desenvolvimento, buscar ajuda do profissional de pediatria responsável por acompanhar a criança.
Embora não possam ser usados como fins diagnósticos, existem alguns testes de screening (rastreamento) que podem ajudar a família nesta decisão.
Um deles é o M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) – instrumento de rastreamento precoce de autismo, com objetivo de identificar indícios do TEA em crianças entre 18 e 24 meses.
E a suspeita de autismo em adultos?
Já no caso da suspeita de autismo em adultos, a indicação é procurar um profissional da psicologia e apresentar a suspeita para que ele avalie as possibilidades e encaminhe a pessoa para uma avaliação neuropsicológica.
Além disso, um teste que pode ajudar na decisão de buscar o diagnóstico é o Quoficiente Autista (QA).
Também conhecido como teste do autismo leve ou teste da Síndrome de Asperger, mede a extensão de traços autistas em pessoas adultas.
Quem faz o diagnóstico de autismo?
De acordo com o Dr. Elder Lanzani Freitas, o diagnóstico é feito com uma abordagem multiprofissional. “Geralmente são vários profissionais atuando em conjunto, para poder oferecer a melhor proposta e a melhor intervenção terapêutica”, explica.
Dessa forma, existem vários profissionais que podem participar do laudo, que vão desde uma equipe multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar que vão trabalhar no processo de investigação comportamental e entender se aquela pessoa está ou não no espectro do autismo.
Algumas das especialidades que podem compor essa equipe são:
- Psiquiatria da infância e da juventude;
- Neuropediatria;
- Neuropsicologia;
- Fonoaudiologia;
- Psicologia;
- Neurologia;
- Terapia ocupacional.
De acordo com a neuropsicóloga Joana Portolese, cada profissional tem uma parte importante nesse processo diagnóstico.
“Um médico fecha o diagnóstico. Mas também tem, por exemplo, o psicólogo que vai diferenciar esse nível e a questão intelectual. A fonoaudióloga, que consegue fazer um diferencial em casos de apraxia da fala ou um transtorno da comunicação social, ou para ver as funções e preservá-las para o desenvolvimento da fala”
Ela continua falando de outros profissionais que podem auxiliar.
“Tem também a terapeuta ocupacional, que vai fazer essa avaliação de integração sensorial para pensar na intervenção. As psicólogas que fazem avaliação comportamental para ver pré-requisitos para o programa de intervenção ABA”.
Manuais diagnósticos
Assim como as diferentes especialidades, outro fator importante para o diagnóstico de autismo são os manuais diagnósticos, como:
- DSM (Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria;
- CID (Classificação Internacional das Doenças e Transtornos Mentais), da Organização Mundial da Saúde.
Esses documentos determinam as características que compõem o espectro autista como “díade do autismo”:
- Dificuldades na comunicação e interação social;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento.
São esses manuais que ajudam a determinar qual será o laudo da pessoa, entender o nível de necessidade de suporte, e apoiar os profissionais clínicos na indicação de terapias e intervenções.
Existe idade para fechar o diagnóstico de autismo?
Essa dúvida é comum para muitas famílias, especialmente porque algumas são orientadas a esperar até que a criança complete determinada idade para ser possível diagnosticar.
O Dr. Elder Lanzani Freitas pontua que existe, sim, o formato de intervenção precoce e muitas vezes o médico que fornece o diagnóstico, se apoia em escalas específicas que auxiliam, com a história do paciente e com o exame clínico, para entender esse laudo.
No entanto, não é preciso esperar para fazer o diagnóstico de autismo!
Os primeiros sinais de TEA podem aparecer antes do bebê completar 18 meses – exceto em casos do que chamamos de autismo regressivo – e o diagnóstico pode ser fechado antes da criança completar dois anos.
Além disso, ele afirma que existe uma “valorização da opinião da palavra do médico”, por ser um diagnóstico clínico. E as propostas de intervenção que têm que ser colocadas, tem que explicar o que implica dar esse nome sobre o laudo e o que implica para a família esses tratamentos propostos ou esses direcionamentos do que precisa ser feito”, explica.
“Noto sinais de autismo na criança, mas profissionais não acreditam em mim”
Ainda hoje, muitas famílias relatam dificuldades em conseguir o diagnóstico de autismo ou mesmo identificar atrasos no desenvolvimento da criança quando procuram ajuda profissional.
Segundo Joana, isso acontece porque existem muitos transtornos que podem surgir ao longo do desenvolvimento infantil.
“Como tem as questões dos transtornos do neurodesenvolvimento, algumas coisas vão ficando mais claras, como o autismo. Aos dois anos o TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade], aos seis ou sete anos a dislexia, e os transtornos de aprendizagem, como dislexia, discalculia, mesmo a deficiência intelectual, enfim, transtornos que já ficam mais claros para a gente no período de alfabetização”, afirma.
No entanto, existem alguns profissionais que se limitam a desconsiderar o diagnóstico mesmo sem avaliar a criança ou entender de onde surgiram as suspeitas da família.
Nesses casos, as pessoas cuidadoras podem procurar por uma segunda opinião e continuar a observar os marcos do desenvolvimento.
Iniciando as intervenções
É importante lembrar que as intervenções podem – e devem – começar mesmo sem um diagnóstico fechado.
De fato, elas muitas vezes podem ajudar no processo diagnóstico, uma vez que muitos profissionais preferem que a criança comece a ser estimulada para entender se ela preenche os critérios para o transtorno.
Além disso, o estímulo é essencial para que a criança se desenvolva e atinja os marcos do desenvolvimento e a presença das pessoas cuidadoras nesse processo de tratamento é considerado um fator que aumenta a probabilidade de resultados positivos para a criança.
Entre as intervenções para o autismo, uma das indicações para o desenvolvimento são aquelas que se baseiam nas estratégias da ABA (Análise do Comportamento Aplicada).
Em nosso YouTube já falamos sobre duas intervenções ABA: ABA estruturada e a ABA naturalista, você pode conhecer mais clicando nos botões a seguir: