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É muito comum ouvir das famílias e pessoas cuidadoras sobre crises no autismo. Essas crises em crianças com autismo acontecem especialmente quando alguma situação ou pessoa faz com que elas se desregulam emocionalmente.
Dessa forma, essas crises no autismo são situações desafiadoras tanto para as crianças autistas quanto para seus cuidadores e profissionais de saúde.
É muito importante entender que esses momentos não são birras, já que a criança está desregulada e precisa de apoio para controlar suas emoções.
O primeiro passo nesse processo é aprender a identificar uma crise na criança com autismo e saber quais são as melhores estratégias para poder lidar com isso na rotina. É disso que falamos agora.
Neste guia, abordaremos as diferentes formas de crise, como reconhecê-las, o que causa esses momentos de sobrecarga, estratégias para reduzir sua frequência e maneiras eficazes de intervir para ajudar a criança a lidar com esses episódios. Continue lendo para aprender!
O que são crises no autismo?
Primeiro, é importante entender o que é uma crise ligada ao TEA. A crise é caracterizada por uma série de comportamentos que também geram estresse e sentimentos de ansiedade nos cuidadores, que muitas vezes não sabem como lidar com elas.
O termo em inglês para definir crises no autismo é meltdown, que do ponto de vista literal significa “derretimento”.
E é justamente o que acontece nesse momento, ocorre uma espécie de colapso na capacidade que a pessoa tem de gerenciar as próprias emoções e sentimentos. Assim, ela acaba agindo impulsivamente e apresentando comportamentos difíceis para a família compreender.
Já temos um conteúdo completo sobre meltdown e shutdown no autismo, clique aqui para ler na sequência!
De acordo com resultados do estudo Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil, da Genial Care, 57% dos cuidadores de crianças com autismo sentem dificuldade em saber o que fazer ou como lidar com comportamentos desafiadores.
Autismo: birra ou crise?
É comum que o comportamento de crise seja confundido com a birra, especialmente nas primeiras vezes em que ocorre. Mas entender a diferença entre ambos é essencial para criar estratégias e aprender a gerenciar as crises.
De uma forma resumida, a birra é um comportamento que se origina quando há descontentamento com alguma situação. Ela pode ser composta por gritos, choros e outras atitudes.
As crises no autismo, por outro lado, costumam ocorrer com frequência, especialmente quando a criança no TEA está exposta a vários estímulos sensoriais e não consegue lidar com tanta informação ao mesmo tempo.
A principal diferença entre elas é que a birra é proposital e estratégica, normalmente quando a criança tem o objetivo de conseguir alguma coisa, sendo interrompida imediatamente a partir do momento que ela a conquista.
Já a crise é a resposta a um limite que foi extrapolado, muitas vezes devido aos distúrbios do processamento sensorial.
Para entender melhor como os estímulos podem afetar uma pessoa no espectro do autismo, veja o vídeo abaixo, no qual a autista Carly Fleischmann traz uma visão de dentro sobre uma situação cotidiana: a ida à cafeteria.
Outro detalhe importante é que a birra costuma ter um direcionamento: normalmente voltada a adultos, com objetivo de chamar atenção, enquanto a crise pode ocorrer quando a pessoa está sozinha ou não e, independente do local.
Diferente da birra, que tende a acabar conforme a criança cresce, a crise pode persistir até a vida adulta.
Como identificar crises no autismo?
Para identificar uma crise no autismo, é necessário estar sempre atento aos sinais e comportamentos da criança.
Justamente por essa dificuldade em lidar com as crises, cuidadores muitas vezes sofrem com a possibilidade delas ocorrerem quando não estão por perto.
Um meio de se livrar dessa sensação é entender quais comportamentos compõem uma crise e aprender a identificá-las.
Normalmente, essas crises de desregulação emocional são caracterizadas por comportamentos como:
- Gritos
- Choros
- Enjoos
- Mal-estar
- Tremores
- Xingamentos
- Atirar objetos
- Apresentar comportamentos que podem ferir a si ou outra pessoa
Esses comportamentos muitas vezes são confundidos com birra. Mas o que os difere é justamente o fato de que pessoas no espectro do autismo têm crises pela dificuldade em lidar com muitas informações e sensações de uma só vez.
Como saber que meu filho autista está em crise?
Os sinais de uma crise iminente podem incluir:
- Aumente a intensidade de movimentos repetitivos, como balançar ou tocar os ouvidos.
- Mudanças na expressão facial ou corporal, como tristeza ou olhar fixo.
- Tensão corporal e respiração rápida.
Esses sinais de alerta permitem que os cuidadores atuem preventivamente, minimizando o desconforto e a intensidade da crise.
O que provoca as crises no autismo?
As crises de agressividade no autismo podem ser desencadeadas por uma série de fatores, tais como:
- Sobrecarga sensorial: sensibilidades sensoriais podem levar a uma sobrecarga de estímulos, como barulhos altos, luzes fortes ou texturas desconfortáveis, que podem desencadear uma resposta agressiva.
- Dificuldades na comunicação: as pessoas com autismo podem ter dificuldades em se comunicar efetivamente e expressar suas necessidades e frustrações. Isso pode levar à frustração e ao comportamento agressivo como uma forma de tentar comunicar suas necessidades não atendidas.
- Mudanças na rotina: alterações na rotina diária ou em ambientes familiares podem causar estresse e ansiedade, resultando em crises comportamentais e agressividade.
- Dificuldades na regulação emocional: algumas pessoas com autismo podem ter dificuldades em regular suas emoções, o que pode levar a reações intensas e explosivas.
- Falta de compreensão e apoio adequado: se a pessoa com autismo não recebe o suporte necessário para lidar com suas necessidades e dificuldades, isso pode aumentar o risco de crises comportamentais.
É fundamental que os cuidadores e profissionais que trabalham com pessoas com autismo procurem compreender as causas antecedentes das crises de agressividade, para entender a melhor intervenção a se fazer no momento das crises.
O envolvimento de profissionais especializados em autismo pode ser de grande ajuda para desenvolver estratégias personalizadas conforme as singularidades da pessoa autista.
O que são crises de agressividade no autismo?
As crises de agressividade no autismo, também conhecidas como crises comportamentais ou comportamentos desafiadores, referem-se a episódios em que uma pessoa com autismo apresenta comportamentos agressivos, como agredir fisicamente outras pessoas, atacar objetos ou ferir a si mesma.
Essas crises podem ocorrer devido a diferentes fatores e podem variar em intensidade e duração.
É importante ressaltar que nem todas as pessoas com autismo experimentam crises de agressividade, e cada indivíduo é único em suas características e comportamentos.
No entanto, algumas pessoas com autismo podem ter dificuldade em expressar suas necessidades, emoções ou frustrações de maneira verbal, ou socialmente aceita, o que pode levar ao surgimento dessas crises.
Os prejuízos das crises de agressividade em pessoas autistas
As crises de agressividade em pessoas autistas podem ter vários prejuízos, tanto para própria pessoa, como para as pessoas ao seu redor.
Alguns dos prejuízos comuns são:
- Risco de lesões;
- Isolamento social;
- Dificuldades no ambiente escolar;
- Estresse e desgaste para cuidadores;
- Dificuldades no acesso a serviços e suporte;
- Limitações nas oportunidades de participação.
O isolamento do núcleo familiar durante as crises no autismo
É importante reconhecer que as crises de agressividade não são uma escolha consciente ou um traço inerente ao autismo.
Elas são um sinal de que a pessoa está enfrentando desafios significativos em sua capacidade de se comunicar, regular emoções e lidar com o ambiente.
É essencial buscar apoio profissional para entender as causas subjacentes das crises de agressividade e desenvolver estratégias eficazes de manejo e suporte. Um deles é justamente o isolamento de todo núcleo familiar.
Esse tema já foi abordado em alguns estudos como o “Home Sweet Home? Families experiences with aggression in children with Autism Spectrum Disorders” (Lar, doce lar. As experiências das famílias com agressividade de crianças com TEA, em tradução livre).
De acordo com a publicação, os principais motivos para esse isolamento são a segurança da pessoa e de outras pessoas que podem estar por perto no momento da crise.
Além disso, muitas dessas famílias contam com apoio profissional limitado, e se sentem inseguras em lidar com os comportamentos agressivos.
Como identificar as crises de agressividade no autismo?
Um comportamento só pode ser modificado e substituído por um novo comportamento mais adequado e funcional quando o observamos e entendemos todos os detalhes sobre ele.
Por isso, quando uma crise de agressividade acontecer, o primeiro passo é analisar cada comportamento que a compõe. Além da observação, é interessante anotar e descrever esses comportamentos.
Veja aqui um exemplo de como fazer isso:
O que você consegue observar na imagem acima?
A criança está chorando. Mas é importante detalhar cada comportamento:
- Ela chora;
- Está deitada ao chão;
- Segura um dos braços;
- Tem a boca aberta, provavelmente porque está gritando.
Ao observar a imagem da primeira vez, superficialmente, a primeira percepção é de que uma criança está chorando.
Mas quando olhamos os detalhes e os anotamos, parece claro que essa criança pode ter caído e se machucado, certo?
Da mesma forma que fizemos com essa imagem, é possível fazer com as crises de agressividade. A criança chora? Grita? Se joga no chão? Atira objetos? Entender qual o padrão dos comportamentos que compõem a crise é o passo inicial para conseguir criar estratégias que vão auxiliar a reduzi-las e, mais tarde, evitar que elas aconteçam.
Isso faz parte de uma estratégia conhecida como ABC, que são as siglas em inglês para Antecedent (Antecedente) -> Behavior (Comportamento) -> Consequence (Consequência). Agora que você já sabe identificar os comportamentos, vamos falar sobre as outras duas esferas.
O que fazer durante uma crise no autismo?
As crises nada mais são do que comportamentos que, muitas vezes, têm o sentido de comunicar a outra pessoa como a criança se sente. Como ela não consegue externalizar esse sentimento verbalmente, as reações acabam se transformando em uma crise.
Para lidar com uma crise da melhor maneira, é preciso que a família entenda o comportamento em etapas para ser possível criar estratégias preventivas para evitá-las e lidar melhor com elas quando surgirem, inclusive instruindo outras pessoas que fazem parte da convivência diária com a criança.
Outro passo importante é aprender a lidar com os próprios sentimentos durante os momentos de crise. Cuidar bem de você é cuidar bem da criança!
Lidar com as crises de agressividade em pessoas com TEA pode ser desafiador, mas existem estratégias eficazes que podem ajudar a minimizar essas crises e apoiar a pessoa autista.
1. Mantenha a calma
É essencial manter a calma e evitar reações negativas ou agressivas em resposta ao comportamento da pessoa autista. Responder com calma e serenidade pode ajudar a diminuir a intensidade da crise.
2. Procure um ambiente seguro
Priorize a segurança da pessoa autista e de outras pessoas presentes no ambiente. Se necessário, remova objetos perigosos ou afaste-se de situações que possam ser prejudiciais.
3. Identifique os gatilhos
Procure identificar os gatilhos que desencadeiam as crises de agressividade. Isso pode envolver observar padrões de comportamento, mudanças na rotina ou situações sensoriais aversivas. Ao identificar os gatilhos, será possível adotar medidas preventivas para evitar ou minimizar as crises.
4. Comunique-se de forma clara e simples
Utilize uma linguagem clara e simples ao se comunicar com a pessoa autista durante e após a crise. Evite instruções complexas e dê tempo suficiente para que a pessoa se acalme e compreenda as informações.
5. Ofereça apoio e compreensão
Mostre empatia e compreensão em relação às dificuldades da pessoa autista. Reconheça que as crises de agressividade são uma expressão de frustração ou desafios de comunicação. Esteja presente e ofereça apoio, evitando julgamentos ou críticas.
É importante lembrar que cada pessoa com autismo é única, portanto, as estratégias de manejo podem variar de acordo com as necessidades individuais. O envolvimento de profissionais especializados é fundamental para desenvolver um plano de suporte personalizado e eficaz.
Tem como evitar as crises em crianças com autismo?
Depois de entender mais sobre os comportamentos que compõem as crises no autismo e entender como lidar com eles, chegou a hora de pensar em como evitar as crises. Apesar de parecer difícil, existem algumas estratégias preventivas que podem ajudar nesse processo, como:
- Dar previsibilidade à criança sobre as tarefas e atividades que são esperadas dela
- Invés de negar, começar a oferecer sugestões à criança que sejam coerentes com a atividade esperada dela.
Conhecendo e identificando os antecedentes
Como o próprio nome já diz, antecedente é tudo aquilo que acontece antes do comportamento. Para conseguir identificar qual ou quais são os antecedentes de uma crise de agressividade também é preciso prestar atenção ao que ocorre antes dela.
Muitas crises no autismo podem ser ocasionadas porque a pessoa autista não quer fazer algo ou tem um desejo negado, por exemplo. Mas podem existir outros motivos, como estar em um local muito barulhento ou com muitos estímulos visuais.
Por isso, preste atenção ao que pode estar acontecendo e, assim como no comportamento, quando identificar um padrão, você terá um antecedente.
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Conclusão
As crises no autismo podem ter um impacto significativo tanto na vida da pessoa autista quanto naqueles ao seu redor.
Esses episódios podem resultar em lesões físicas, isolamento social, dificuldades na escola, estresse para os cuidadores e limitações nas oportunidades de participação.
É muito importante compreender que essas crises não são uma escolha consciente, mas sim um sinal de que a pessoa está enfrentando desafios em sua comunicação, regulação emocional e interação com o ambiente.
Além disso, a sociedade precisa ter cada vez mais consciência das dificuldades vivenciadas pelas pessoas autistas e trabalhar para fornecer um ambiente inclusivo, compreensivo e acolhedor.
Com o suporte apropriado, as pessoas autistas podem desenvolver estratégias de enfrentamento, habilidades sociais e emocionais, possibilitando uma vida mais plena e participativa.
A Genial Care presta apoio aos pais de autistas para ajudá-los a entender e lidar com as crises por meio de práticas baseadas em evidências.
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