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Quando falamos sobre saúde, existem alguns manuais e documentos da área que contam com regras e normatizações, ajudando profissionais e criando uma linguagem padronizada para diagnósticos e estratégias, por exemplo.
No caso do autismo, temos a CID-11 — Classificação Internacional de Doenças — e o DSM-5 — Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — documentos são atualizados conforme o ano, e por isso ganham essa numeração ao lado do nome, conforme a última edição lançada.
Dessa forma, várias versões da CID já foram lançadas e, a cada nova atualização, a OMS costuma acrescentar informações e classificações novas, que antes não constavam na lista, aumentando as possibilidades de diagnósticos.
Nesse texto abordamos quais mudanças que a CID-11 apresenta para o TEA e como essas alterações impactam a vida de quem está no espectro ou daqueles que cuidam de alguém com desenvolvimento atípico. Leia para aprender tudo sobre!
O que significa CID?
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) a CID é a Classificação Internacional de Doenças, lesões e causas de mortalidade, utilizada como linguagem comum entre profissionais da saúde de diversas áreas.
Essa tabela é publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para padronizar classificações, tanto físicas quanto mentais, de doenças, condições ou questões de saúde.
A CID é a base para identificar estatísticas e tendências de saúde em todo mundo, contendo cerca de 55 mil códigos únicos.
Dessa forma, a CID é usada como um recurso da saúde muito importante, que permite que a incidência ou prevalência de condições sejam monitoradas e classificadas.
É a partir dessa linguagem comum que se torna possível a comunicação efetiva entre profissionais de diferentes especialidades sobre uma condição de saúde.
Além disso, graças a documentos como este que países diferentes podem estudar, reportar e monitorar condições de saúde e assim se preparar para situações como a pandemia da COVID-19, por exemplo.
O que é a CID-11?
A CID-11 é a décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças, que teve sua atualização feita em 25 de maio de 2019. Esse é um documento organizado pela Organização Mundial da Saúde e o número 11 se refere à sua última revisão publicada, que substituiu a CID-10 como padrão global para registro de informações de saúde e causas de morte.
Essa tabela visa oferecer uma linguagem comum para que profissionais da saúde de especialidades e países diferentes possam se comunicar sobre transtornos, doenças, lesões e causas de mortalidade.
Nele constam informações diagnósticas do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). A partir dessa versão, foram reunidos todos os transtornos que antes faziam parte do espectro do autismo, como autismo infantil e Síndrome de Asperger, em um único diagnóstico e nomenclatura: o TEA.
Outro manual de classificação de doenças muito conhecido é o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), utilizado especialmente para a descrição de quadros diagnósticos de saúde mental.
A seguir são apresentadas algumas das diferenças fundamentais entre esses dois documentos.
Qual a diferença do CID para o DSM?
Apesar das diferenças apresentadas acima, uma característica comum entre esses dois instrumentos é que ambos permitem a comunicação entre áreas diferentes da saúde, que têm vocabulários distintos, porém podem se utilizar de documentos como esses para se comunicarem efetivamente entre si.
Além disso, essas duas ferramentas podem auxiliar no processo de diagnosticar condições de saúde e assim possibilitar o acesso a intervenções e tratamentos de qualidade.
Geralmente, planos de saúde utilizam essas classificações para reembolsar despesas com o tratamento, por isso é importante que pessoas autistas, profissionais que atuam na área e familiares saibam a respeito desses manuais.
CID-10: como o autismo era inserido
Na CID-10 a classificação do autismo se encontrava nos Transtornos Globais do Desenvolvimento (F84).
Dessa forma, era possível que uma pessoa fosse diagnosticada com:
- F84.0 – Autismo infantil
- F84.1 – Autismo atípico
- F84.2 – Síndrome de Rett
- F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância
- F84.4 – Transtorno de hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados
- F84.5 – Síndrome de Asperger
- F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento
- F84.9 – Transtornos globais não especificados do desenvolvimento
Quais as mudanças no diagnóstico de autismo na CID-11?
Na CID 11, os diagnósticos de autismo passam a fazer parte dos Transtornos do Espectro do Autismo (6A02), que podem ser identificados da seguinte forma:
- 6A02.0 – Transtorno do espectro do autismo sem deficiência intelectual e com comprometimento leve ou ausente na linguagem funcional
- 6A02.1 – Transtorno do espectro do autismo com deficiência intelectual e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional
- 6A02.2- Transtorno do espectro do autismo sem deficiência intelectual e com linguagem funcional prejudicada
- 6A02.3 – Transtornos do espectro do autismo com deficiência intelectual e com linguagem funcional prejudicada
- 6A02.4 – Transtorno do espectro do autismo sem deficiência intelectual e com ausência de linguagem funcional
- 6A02.5 – Transtorno do espectro do autismo com deficiência intelectual e com ausência de linguagem funcional
- 6A02.Y – Outro transtorno do espectro do autismo especificado
- 6A02.Z – Transtornos do espectro do autismo não especificado
Assim, algumas classificações e quadros diagnósticos que antes eram usados, passam a não mais fazer parte da CID-11. Vamos entender melhor sobre algumas delas.
Síndrome de Asperger não existe mais?
Ao observarmos a nova classificação, é possível perceber que, assim como no DSM-5, o termo Síndrome de Asperger passa a não mais ser utilizado.
Em seu lugar, surgem outras classificações mais descritivas quanto à presença ou não de deficiência intelectual, ou presença, ou não, de prejuízo na linguagem.
Aqueles que receberam anteriormente esse diagnóstico, são identificados como autistas com nível de necessidade de suporte 1, também conhecido como autismo leve.
Todos os comportamentos que antes faziam parte do que se nomeava como Síndrome de Asperger, ainda fazem parte de padrões a serem observados ao diagnosticar alguém no espectro.
O que muda é a separação entre autismo e asperger, que agora passam a fazer parte de um mesmo espectro que varia em relação à frequência e intensidade de algumas características.
E autismo infantil?
Outro diagnóstico bastante comum era o de autismo infantil. Anteriormente determinado pelo código F84.0, essa nomenclatura também foi desconsiderada na nova versão do CID 11, seguindo o mesmo modelo do DSM-5.
Sendo assim, a partir do CID 11, o autismo infantil deixa de ser uma possibilidade de diagnóstico. E ao invés disso, a equipe que avalia a criança precisa determinar qual o nível de necessidade de suporte dela.
Com a alteração da CID-11, preciso mudar o laudo diagnóstico da pessoa autista?
Assim como os laudos diagnósticos auxiliam na comunicação entre os diversos profissionais que podem atuar com a pessoa no espectro, é necessário que esse documento esteja atualizado também para que despesas médicas e de outras intervenções sejam reembolsadas.
Dessa forma, é necessário manter essa documentação atualizada, apesar de, na prática, não haver alterações nas intervenções necessárias.
Para ter ajuda em como conseguir atualizar o laudo diagnóstico, procure os profissionais que atuam com a pessoa com TEA.
Será necessário que um médico dê a documentação para que o plano de saúde faça o reembolso das despesas. Apesar disso, outros profissionais também podem oferecer relatórios com essas atualizações, como os psicólogos.
Cuidados necessários ao falarmos de diagnósticos
Manuais diagnósticos e classificatórios, como a CID-11 e o DSM-5, são utilizados por profissionais para se comunicarem entre si e para direcionar algumas práticas, intervenções e cuidados necessários.
Diagnósticos não devem ser usados para reduzir uma pessoa a uma caixinha ou para generalizar experiências.
É comum que ativistas autistas descrevam incômodo com profissionais ou familiares que reduzem sua experiência a uma lista de sintomas. Essa é uma crítica válida e que pode ser estendida para qualquer outro diagnóstico.
Diagnósticos precisos são importantes para direcionar os cuidados necessários, mas não descrevem quem é aquela pessoa. Cada pessoa é única, independente de ser ou não diagnosticada com algum transtorno.
Conclusão
Com a atualização para a CID-11, a OMS faz ajustes importantes em como entendemos e falamos sobre autismo, além de criar ainda mais singularidade nas possibilidades do espectro.
Ao abraçar as neurodivergências, promover diagnósticos precisos e individualizados, e destacar estratégias baseadas em evidências, a CID-11 permite unificar a linguagem sobre TEA e capacitar profissionais que buscam cada vez mais informações.
É importante que pais e pessoas cuidadoras também entendam sobre as mudanças e estejam atentos para possíveis atualizações de diagnósticos. Se você tem interesse em entender mais sobre TEA e deseja se manter atualizado leia nosso blog: