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Síndrome de Savant: o que ela tem a ver com autismo?

A Síndrome de Savant é uma condição rara em pessoas com deficiência intelectual que apresentam habilidades excepcionais em uma áreas específicas, como música, matemática ou artes visuais, por exemplo. É comum que ela seja associada ao autismo, mas nem todas as pessoas com TEA também apresentam o transtorno. 

Apesar de terem características semelhantes, TEA e Síndrome de Savant não são a mesma coisa. Isso se confunde bastante principalmente porque muitas pessoas associam as condições em personagens apresentados apenas como “autistas”, como é o caso de Raymond Babbitt (Dustin Hoffman), em Rain Man (1980). 

Para explicar mais detalhes sobre a Síndrome de Savant e sua relação com o autismo, conversamos com o Dr. José Salomão Schwartzmann, especialista em autismo e outros transtornos do neurodesenvolvimento. 

O que é síndrome de Savant?

Traduzido do francês, o termo “savant” significa “sábio”, por isso, outro jeito de chamar essa condição é “síndrome do Sábio”. E esse adjetivo se tornou muito comum, porque algumas das pessoas diagnosticadas com esse distúrbio podem apresentar inúmeras habilidades consideradas atípicas, especialmente relacionadas a uma memória extraordinária.

Ainda assim, os savants – nome dado a quem tem essa síndrome – também apresentam graves déficits intelectuais e dificuldades em se comunicar, compreender o que é transmitido e estabelecer relações emocionais e interpessoais.

Algumas das principais características dos savants são:

  • Memorização: as mais comuns são memorização de listas telefônicas, horários e até dicionários completos;
  • Cálculo: fazem cálculos matemáticos complexos em alguns minutos, sem auxílio de papel e caneta e até calculadora;
  • Habilidade musical: podem reproduzir uma peça musical inteira após ouvi-la somente uma vez;
  • Habilidade artística: excelente habilidade de pintar, desenhar ou fazer esculturas complexas;
  • Linguagem: compreender e falar diferentes línguas.

“É muito comum você ter Síndrome de Savant em crianças com deficiência intelectual severa. É muito comum ter Síndrome de Savant em crianças com autismo. Mas podem haver, crianças muito bem dotadas do ponto de vista intelectual, que chamam atenção porque são excepcionalmente competentes em algumas coisas e que só são só isso, não tem outra patologia por baixo’, explica o neuropediatra.

História do Savantismo

Benjamin Rush, conhecido como o “pai da psiquiatria americana”, foi o primeiro médico a identificar e iniciar o estudo da  Síndrome de Savant. Ele descreveu o caso de Thomas Fuller, em que considerava atípica a grande habilidade e inteligência do rapaz, pois possuía muita facilidade em fazer cálculos, mesmo que não tivesse conhecimento profundo sobre as fórmulas matemáticas. 

Anos mais tarde, o cientista J. Langdon Down, que também estudava o savantismo, passou a usar o termo “idiot savant”, que em tradução do francês significa “idiota prodígio”, para identificar pessoas com síndrome de “idiot savant”.

Felizmente, esse termo foi muito criticado, e na década de 80 passou-se a usar definitivamente a Síndrome de Savant. Com o passar dos anos, foi possível transmitir a mensagem de que essa síndrome  é uma crise neurológica, que atinge habilidades de um indivíduo, mas não o impede de aprender, se desenvolver e se socializar assim como qualquer outra pessoa típica. 

Síndrome de Savant e hiperfoco no autismo

Agora que você já entende mais sobre as características de uma pessoa com Savant, a pergunta é: mas, afinal, o que isso tem a ver com autismo? 

Estima-se que cerca de 10% das pessoas diagnosticadas com TEA tenham, também, a síndrome de Savant. Vale lembrar que esse distúrbio é considerado raro, mesmo em pessoas sem autismo.

O que acontece, também, é que muitos autistas têm hiperfoco, que é o interesse restrito e absoluto por um ou mais temas, o que os leva a estudar incansavelmente o assunto e se tornarem uma espécie de especialista neles. 

De acordo com o Dr. Salomão, uma situação complicada para muitas famílias é quando acreditam que a criança é superdotada e se deparam com outra condição. “Uma situação ruim do ponto de vista de como você tem que lidar com isso é aquela situação em que você leva um filho superdotado para o neuropediatra e sai com o diagnóstico de autismo”.

“Chega no consultório uma criança de 2 anos e meio que sabe as letras, os números, as formas geométricas e que fala inglês e aprendeu sozinha vendo vídeos no YouTube. Os pais falam ‘Doutor, ele é muito inteligente, ele é super dotado’. Eventualmente ela é super dotada, eventualmente ela é uma criança com hiperfoco em determinadas coisas que é uma das características possíveis do autismo”

“Então, a questão é como está o resto: como está a comunicação, como está a interação social, os jogos simbólicos, o compartilhamento de atenção. E é aí que você tenta diferenciar uma coisa da outra”, explica. 

Assim, é muito comum que as famílias confundam hiperfoco com Savant ou superdotação. O personagem Sam, da série Atypical, da Netflix, por exemplo, tem um hiperfoco em pinguins. Apaixonado pela ave, ele estudou tão profundamente que pode citar um monte de curiosidades e informações sobre elas sem piscar o olho.

No entanto, ele também apresenta dificuldades na comunicação e interação social e padrões de comportamentos restritos e repetitivos, que configuram e possibilitam seu diagnóstico de autismo. 

Assim como o autismo, a síndrome de Savant também não tem cura, já que ambas não são doenças. Existem, porém, terapias que podem ajudar o indivíduo a desenvolver suas habilidades sociais e intelectuais, com a ajuda de profissionais da fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, pedagogia, entre outros.

Temple Grandin

Temple Grandin é, talvez, uma das figuras mais famosas quando se trata do savantismo, nos dias de hoje. Ela é uma cientista, zootecnista, designer industrial americana e escritora, que, além de ter a síndrome de savant, também está no espectro autista. 

Diagnosticada com autismo desde a infância, Grandin afirma que o transtorno ajudou-a compreender melhor os animais. Em seu doutorado ela revolucionou a forma como o manuseio de gado é feito na indústria pecuária dos Estados Unidos. Além disso, ela sempre ressalta que tem uma forma diferente de aprender: utilizando imagens

Em seus livros: Thinking in pictures (“Uma menina estranha” – no título em português), e “O cérebro autista pensando através do espectro”, Grandin aborda que relaciona a imagem ao significado de uma palavra, por exemplo, quando alguém diz a palavra ”igreja”, sua mente não associa a palavra a uma imagem “genérica” do local, mas, sim, uma série de imagens de todas as igrejas que ela já conheceu e registrou em sua mente anteriormente. Assim, ela só consegue compreender a palavra se já tiver visualizado uma imagem dela antes.

Séries e filmes com personagens com Síndrome de Savant

Se você está pensando que já viu autismo e síndrome de Savant juntos em algum lugar, isso provavelmente é verdade e eu te digo onde: no filme Rain Man, um dos mais famosos sobre autismo ainda hoje, o personagem principal, Raymond, tem as duas condições, o que explica suas habilidades com números e memória. Ele foi inspirado no americano Kim Peek, que faleceu em 2009 e era savant. 

Também inspirado em um caso real, o filme Uma Mente Brilhante retrata a vida de John Nash, conhecido como “O Rei da Matemática”. Além do savantismo, John era esquizofrênico, mas isso não impediu de seguir carreira com o que mais gostava e se identificava: a matemática. Ele foi professor em Princeton, e ao longo de sua vida estudou teoria dos jogos, geometria diferencial e equações diferenciais parciais.  

Outra famosa produção que também traz os dois transtornos juntos é The Good Doctor. Em ambas as versões da série, tanto a sul-coreana com o ator Joo Woon, e a estadunidense, com Freddie Highmore, o médico protagonista também é autista e savant. 

Quer conhecer mais fatos e curiosidades sobre o autismo? Acesse nosso blog para conferir os conteúdos.

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4 respostas para “Síndrome de Savant: o que ela tem a ver com autismo?”

  1. Excelente o conteúdo, desconhecia essa síndrome e após a leitura já consigo entender alguns comportamentos das crianças na escola. Muito obrigada!

    • Olá, Fabiana. Como vai? Esperamos que muito bem.

      Nós que agradecemos. É ótimo saber que conseguimos transmitir essa informação e é ainda mais legal saber que ela poderá te ajudar.

      Abraços.

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