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Alguns médicos mudaram a história do autismo criando marcos fundamentais e contribuindo para a forma como as informações e pesquisas são compartilhadas e até mesmo o diagnóstico de autismo é feito atualmente.
O termo “autismo” foi usado pela primeira vez em 1908 e os estudos sobre o tema vem se desenvolvendo e permitindo que famílias e pessoas com autismo possam ter mais clareza e segurança sobre o transtorno.
Neste artigo, explicamos mais sobre alguns nomes na história do autismo e suas contribuições para a ciência.
A história do termo autismo
Como falamos, o termo autismo surgiu pela primeira vez em 1908. Na época, ele foi usado para descrever um grupo de sintomas relacionados à esquizofrenia em pacientes observados por um psiquiatra.
Foi somente 35 anos depois, em 1943, que o autismo foi desassociado da esquizofrenia e passou a ser tratado como uma síndrome comportamental. Isso aconteceu após a publicação da famosa obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”.
A partir desse momento, vários estudos começaram a ser feitos para se conhecer melhor o que estavam chamando de autismo, como a primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais DSM-1 em 1952, documento referência para estabelecer padrões.
Ao mesmo tempo que os estudos aumentam, diversos mitos são criados nesse período, como o da mãe geladeira — que afirma que a falta de amor e carinho maternal é a causa do transtorno — e que algum tipo de vacina causa autismo em crianças, mesmo não existindo nenhum tipo de comprovação científica sobre isso.
Apesar de hoje em dia o conhecermos como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), essa nomenclatura é razoavelmente recente, já que foi apenas em 2013 que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), da Associação Americana de Psiquiatria, publicou sua 5ª e mais recente edição, definindo tal conceito.
A partir daí, o autismo ganha uma classificação própria dentro dos Transtornos do Espectro Autista e não integra mais os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Isso significa que distúrbios que antes eram classificados como Autismo Infantil Precoce, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico e Síndrome de Asperger, estão agora dentro do TEA e são diagnosticados de acordo com diferentes níveis de necessidade de suporte de cada indivíduo.
5 médicos que mudaram a história do autismo
Mesmo o autismo sendo um transtorno estudado há cerca de 100 anos, existem várias alterações e mudanças em sua história. Dentro disso, existem também nomes muito significativos e pessoas que contribuíram para a forma como podemos olhar para o TEA hoje em dia. Conheça agora 5 médicos que mudaram a história do autismo:
Eugene Bleuler
O psiquiatra suíço Eugene Bleuler foi quem usou pela primeira vez o termo autismo em pacientes com esquizofrenia para descrever uma fuga da realidade para um mundo interior. Ele foi o responsável por nomear a esquizofrenia, que antes era conhecida como dementia praecox, e entender que a condição não era algo exclusivo de jovens.
Em seus estudos, ele chegou à conclusão de que todas as pessoas afetadas por essa doença sofriam de um tipo de divisão em seus processo de pensamento, e por isso, fez uso das palavras “esquizo” (divisão) e “frenia” (mente). Bleuler continuou sua pesquisa e concluiu que havia diferentes subtipos de esquizofrenia: paranoide, catatônica e emocional ou hebefrênica.
Leo Kanner
Já o psiquiatra Leo Kanner foi quem dissociou o autismo da esquizofrenia. Isso aconteceu com sua obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, publicada em 1943. Nela, ele descreve 11 casos de crianças nas quais identificou “um isolamento extremo desde o começo da vida e com desejo obsessivo de preservação de mesmices.”
O profissional usou o termo “autismo infantil precoce” e foi o responsável por diagnosticar a primeira criança autista da história — Donald Triplett. Conhecido como o “caso 1”, o menino de 5 anos foi descrito com comportamentos “fora do padrão” para uma criança da mesma idade.
Filho de um advogado e uma professora, ele era uma criança muito isolada e que nunca correspondia a um sorriso ou reagia à voz da mãe, sempre em uma realidade própria e uma lógica particular. Alguns anos depois, o menino foi colocado em uma instituição por ordens médicas que também pediam para que os pais apagassem seu filho da memória e seguissem com a vida.
Depois de algumas visitas, os pais decidiram então levar o filho para uma consulta com Kanner, que ficou muito frustrado a princípio e não sabia ao certo em qual “padrão” psiquiátrico Donald poderia se encaixar, surgindo aí o autismo como uma condição que definiria seus comportamentos.
Porém, mesmo com sua contribuição, Kanner é tido como um dos responsáveis pela teoria da mãe-geladeira, que diz que a falta de amor materna seria o motivo da criança desenvolver autismo, um grande mito quando pensamos nas informações sobre TEA.
Mesmo negando ter sido o precursor desta informação que se provou falsa, Kanner chamou a atenção ao dizer que pessoas autistas teriam sido filhas de mães emocionalmente distantes, teoria que foi disseminada pelo psicanalista Bruno Bettelheim mais tarde. Posteriormente, Kanner disse ter sido mal compreendido e tentou se retratar em seu livro Em Defesa das Mães.
Hans Asperger
Em 1944 o médico austriáco Hans Asperger foi o primeiro a apontar uma maior prevalência de diagnósticos de autismo em meninos. O psiquiatra costumava falar de seus pacientes como “pequenos professores”, por conta da habilidade de comunicar sobre um determinado tema detalhadamente.
Esse foi um marco para a história do autismo, já que o médico publicou suas observações de mais de duzentas crianças tratadas por ele, com características comuns como:
- baixa capacidade de criar laços sociais;
- conversação unilateral;
- falta de empatia;
- foco intenso em um assunto de interesse;
- movimentos descoordenados.
Lorna Wing
37 anos mais tarde, o trabalho de Asperger ganha reconhecimento quando a inglesa Lorna Wing adiciona 31 novos casos ao estudo e então nomeia a condição como ‘Síndrome de Asperger’. Apesar disso, a nomenclatura foi descontinuada nos manuais diagnósticos, como a CID 11 e o DSM 5 e hoje é conhecida popularmente como “Autismo leve”.
Ainda sobre Asperger, estudos publicados em 2018, no livro “Crianças de Aspergers (Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna) pela historiadora norte-americana Edith Sheffer, mostraram que ele foi membro de várias organizações nazistas da Segunda Guerra Mundial.
De acordo com a publicação, o médico examinou mais de 200 pacientes, dos quais 35 foram considerados “ineducáveis” e mortos por injeção letal e em câmaras de gás. Já Lorna Wing se tornou pioneira da visão do autismo como espectro, afirmando que o transtorno afeta as pessoas em diferentes níveis. Assim, ela também estabelece uma nova base para o diagnóstico com 6 pontos básicos:
- ausência de manifestações convencionais de empatia;
- comunicação não-verbal inadequada;
- coordenação motora prejudicada;
- dificuldade e/ou repetição nas mudanças;
- interesses limitados e boa memória;
- verbalização correta, mas estereotipada.
B.F. Skinner
Não poderíamos deixar de mencionar o psicólogo Burrhus Frederic Skinner, que apesar de nunca ter trabalhado diretamente com autismo, é considerado o pai do behaviorismo radical e um grande nome dentro da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que hoje é uma das principais terapias para pessoas com autismo.
Essa teoria tem como foco estudar a psicologia através da observação do comportamento das pessoas ao invés de conceitos subjetivos e teóricos da mente. Entre os principais conceitos temos os estímulos, reforço e contingência.
Apesar de vários trabalhos desses médicos que mudaram a história do autismo terem teorias falhas e informações controversas, essas pesquisas ajudam a criar um caminho de descobertas para que hoje possamos garantir muito mais qualidade de vida e autonomia para pessoas autistas e suas famílias.
Em nosso blog você consegue encontrar vários outros assuntos relacionados com a história do autismo e pode continuar aprendendo cada vez mais.