Suspeita de autismo Menina loira montando um quebra-cabeça

Comorbidades no autismo: entenda como outras condições podem afetar a vida de pessoas com TEA

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Gabriela Bandeira

Publicado em 11 de janeiro de 2021 Atualizado em 13 de julho de 2023

5 min.

Muitas vezes, o diagnóstico de autismo pode vir acompanhado de comorbidades, que são outras condições associadas ao TEA e que, quando identificadas, mudam a forma de tratamento e intervenção propostas para garantir melhor qualidade de vida e desenvolvimento do indivíduo.

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e a presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.

As comorbidades no autismo podem variar de pessoa para pessoa, sendo que as mais comuns são: transtornos de ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), epilepsia e distúrbios do sono.

Entender qual – ou quais – comorbidades estão associadas ao autismo é essencial para garantir o melhor programa de intervenção para a pessoa e atender todas as suas necessidades.

Por isso, conversamos mais sobre o assunto com o neuropediatra Dr. José Salomão Schwartzman, especialista em autismo e transtornos do neurodesenvolvimento. Confira!

O que são comorbidades?

As comorbidades são condições médicas ou psiquiátricas que podem coexistir com uma determinada doença ou transtorno, ou seja, é quando uma mesma pessoa recebe diagnósticos de duas ou mais condições ao mesmo tempo.

É importante entender que essas condições podem ocorrer em qualquer momento da vida da pessoa, podendo influenciar a apresentação, gravidade e até o curso da doença ou transtorno principal.

Além disso, também são consideradas comorbidades toda doença, condição ou estado físico e mental que possa potencializar os riscos à saúde de uma pessoa caso ela venha a se infectar com algum agente patogênico.

Por esse motivo, uma série de condições foram consideradas como prioridade para a vacinação contra Covid-19, por exemplo. Nesse sentido, comorbidades consideradas para receber a vacina foram:

  • Arritmias cardíacas;
  • Cardiopatias hipertensivas e congênitas no adulto;
  • Cirrose hepática;
  • Diabetes mellitus;
  • Entre outras.

Vale lembrar que alguns estados, como o de São Paulo, entendia como comorbidade pessoas que usavam óculos, devido à miopia ou astigmatismo.

Qual a diferença de comorbidades e patologias?

Como vimos, uma comorbidade é a presença de uma condição de saúde que existe ao mesmo tempo que outra dentro do organismo de uma pessoa. Já a patologia é um ramo da medicina que se dedica ao estudo das doenças de uma forma ampla, além de nomear processos de causas desconhecidas.

Existe uma série de condições de saúde que podem ser consideradas como comorbidades, como no caso de alguém que apresenta hérnia de disco em investigação e tem também quadros de obesidade ou diabetes, por exemplo.

Dessa forma, entendemos que as comorbidades não estão diretamente relacionadas com a investigação inicial, mas são doenças crônicas que interferem na saúde dessa pessoa e, por isso, podem impactar diretamente no diagnóstico, tratamento e cuidado.

Assim, uma das características das comorbidades é que exista a possibilidade de as patologias se potencializarem mutuamente, ou seja, uma irá provocar o agravamento da outra ou vice-versa.

Quais são as principais comorbidades no autismo?

Quando falamos em autismo, as comorbidades podem ter um impacto significativo na qualidade de vida e no núcleo familiar.

Por exemplo, pessoas autistas com transtorno de ansiedade podem ter maior dificuldade em lidar com situações sociais desafiadoras ou estressantes, enquanto pessoas autistas com epilepsia precisam receber tratamento médico adequado.

Entre as principais comorbidades relacionadas ao autismo, temos:

  • Epilepsia;
  • Deficiência intelectual;
  • Distúrbios gastrointestinais;
  • Distúrbios alimentares;
  • Distúrbios do sono;
  • Comorbidades psiquiátricas como TDAH, ansiedade e TOC, por exemplo.

De acordo com o estudo “Cuidando de quem cuida”, realizado pela Genial Care em 2020, 35% das pessoas respondentes afirmou que o diagnóstico de autismo vinha com alguma comorbidade, sendo que as principais citadas na pesquisa foram: TDAH (46%), transtornos de ansiedade (29%) e deficiência intelectual (21%).

Esses dados partem de uma amostra com pouco mais de 500 respondentes. Outros dados levantados em estudos científicos, como:

Segundo o Dr. Salomão: “Grande parte dos quadros de TEA têm comorbidades. Nem sempre são identificadas, porque prevalece o quadro maior de autismo”, aponta.

Qual o impacto das comorbidades no diagnóstico de TEA?

Quando falamos de outras condições associadas ao TEA, é extremamente importante que profissionais clínicos, pais, pessoas cuidadoras e professores da criança tenham conhecimento sobre elas.

Isso porque, elas podem se agravar ou até mesmo diminuir em diferentes estágios durante o desenvolvimento da criança no espectro, e devem ser diagnosticadas e tratadas de forma individualizada e sem prejuízo para qualidade de vida.

Além disso, o diagnóstico de comorbidades no TEA pode ser mais difícil, já que muitas vezes os sintomas e sinais são mascarados ou semelhantes aos do autismo. Dessa forma, é essencial conversar com a equipe multidisciplinar e entender os próximos passos.

A presença de comorbidades pode exigir uma avaliação e diagnóstico mais abrangentes, com uma equipe multidisciplinar que inclua médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde.

Dessa forma, o tratamento e a intervenção para o TEA podem precisar ser adaptados para abordar as comorbidades específicas. Por exemplo, se uma pessoa com TEA também tiver TDAH, pode ser necessário incluir estratégias de gerenciamento do TDAH no plano de ação das intervenções.

Autismo e deficiência intelectual

Presente em pelo menos 30% dos casos de autismo, a deficiência intelectual é uma comorbidade tão importante que faz parte dos critérios diagnósticos do DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) e CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial da Saúde).

Assim, a variação do diagnóstico pode ser de:

  • TEA sem deficiência intelectual;
  • TEA com deficiência intelectual;

Em todos os casos, a variação também ocorre de acordo com o prejuízo identificado na linguagem funcional, podendo ser:

  • Comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;
  • Linguagem funcional prejudicada;
  • Ausência de linguagem funcional.

“A maior comorbidade no autismo é deficiência intelectual. De 30% a 40% das crianças com TEA têm graus variados de DI e aí, evidentemente, o prognóstico é muito pior, porque você tem uma conjunção nefasta dos quadros de autismo, mais o que decorre da deficiência intelectual dessa criança. Então, fazer um diagnóstico de autismo é o primeiro passo. Depois disso, eu tenho que avaliar o grau de comprometimento e procurar possíveis comorbidades”, afirma Schwartzmann.

TEA com comorbidade TDAH

Já o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) também é uma comorbidade comum em pessoas com autismo. Sendo que estudos afirmam que pode ocorrer em cerca de 40% dos casos, como citado anteriormente.

Um ponto importante ressaltado pelo Dr. Salomão é justamente a possibilidade da comorbidade ser confundida com o quadro total, fazendo com que muitos especialistas emitam um diagnóstico errado:

“É muito frequente, por exemplo, a comorbidade com TDAH. É tão comum, que um monte de crianças pequenas têm o diagnóstico de TDAH anos antes de receber o diagnóstico de autismo. É um TDAH que não responde tão bem quanto as outras crianças, em que o uso de estimulante cerebral dá um resultado mais ou menos porque ela [criança], na verdade tem TDAH num quadro maior que é o autismo. Essas crianças, normalmente, têm um retardo no diagnóstico de mais de dois anos”.

Nestes casos, além do programa de intervenções, pode haver a indicação de medicamentos que ajudem a controlar a agitação do indivíduo, como a Risperidona.

Quando a comorbidade esconde o autismo

Ainda conforme o neuropediatra explica, existem casos em que o autismo não é descoberto, porque a comorbidade é apontada como o diagnóstico principal e todo foco de intervenção de volta para essa condição. Alguns exemplos disso são as Síndromes de Angelman, Williams e do X-frágil.

Como exemplificação do prejuízo da não descoberta do autismo, o Dr. Salomão usa casos de crianças com Síndrome de Down:

“Como o indivíduo com Síndrome de Down com graus variáveis de severidade e deficiência intelectual pode ter um grau importante de DI, é comum você não perceber o quadro de autismo. Isso faz com que essa criança seja aquela que não evolua, que por mais terapia que faça, não ganhe tanto quanto se espera que ganhe, porque não está se tratando do problema maior. Nesses casos, você tem que tratar o autismo, além daquilo que se faz habitualmente com a Síndrome de Down”, explica.

Comorbidades no autismo atrapalham a vida da pessoa?

Por último, é importante reforçar que a presença de comorbidades no autismo não significa que a pessoa terá uma vida limitada. Por esse motivo, é importante que a equipe responsável pelo diagnóstico e a família estejam sempre atentos a sinais que podem indicar a presença de condições para além do autismo.

As comorbidades também precisam ser levadas em consideração no momento de implementar um programa de intervenção e pensar no tratamento do indivíduo, que pode ou não envolver medicamentos e/ou rotinas médicas em alguns casos.

Se você ainda tem dúvidas sobre essas condições coexistentes ao TEA, não deixe de conversar com a equipe multidisciplinar que acompanha o desenvolvimento da criança. Caso queira saber mais sobre nossos serviços e ver como podemos potencializar essa jornada, clique no banner abaixo:

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