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Bissexualidade no autismo: conheça Luca Nolasco, do Introvertendo

A bissexualidade é uma orientação sexual que faz parte da diversidade da comunidade LGBTQIA+. No mês de junho, celebramos o Orgulho LGBTQIA+ em vários países, incluindo o Brasil.

Você pode estar se perguntando qual a relação entre isso e o autismo. Bem, pessoas no espectro do autismo também passam pela puberdade e desenvolvem sua sexualidade. Muitas delas se identificam como parte da comunidade LGBTQIA+.

Para discutir a importância de abordar esse tema dentro da comunidade autista, conversamos com Luca Nolasco, um estudante de biomedicina que fez parte do podcast Introvertendo, o primeiro podcast no Brasil feito exclusivamente por autistas.

Mas afinal, o que significa bissexualidade?

A bissexualidade é a atração emocional, romântica e/ou sexual por pessoas de mais de um gênero. Isso significa que uma pessoa bissexual pode se sentir atraída por pessoas de gênero masculino e feminino, ou por pessoas de qualquer outro gênero.

É importante entender que a bissexualidade não significa que a pessoa é necessariamente atraída igualmente por todos os gêneros, mas sim que ela é capaz de sentir atração por pessoas independentemente do gênero delas.

Cada pessoa é única em sua atração e a bissexualidade é apenas uma das muitas maneiras de experimentar o amor e a atração por outras pessoas. O respeito pela orientação sexual de cada pessoa é fundamental para construir uma sociedade inclusiva e acolhedora.

A sexualidade no autismo

A sexualidade no autismo é um tema muito importante, porém ainda pouco explorado. Mas pessoas autistas também passam pelo período da puberdade e desenvolvem a própria sexualidade, assim como as neurotípicas.

De acordo com o guia técnico internacional de educação sexual da UNESCO, publicado em 2018, a educação sexual é fundamental para a segurança e desenvolvimento saudável dos jovens. Mas apesar de evidências científicas demonstrarem o efeito benéfico desses programas, poucas crianças e jovens têm acesso a essas informações.

Quando falamos especificamente de crianças e adolescentes autistas, a criação de práticas direcionadas à sexualidade e à puberdade é ainda mais rara. Isso impacta diretamente no aumento da vulnerabilidade dessas pessoas, tornando importante abordar essa questão e fornecer orientação adequada para garantir que todos os jovens, incluindo aqueles no espectro do autismo, tenham acesso a informações e apoio para lidar com seu desenvolvimento sexual de forma segura e saudável.

Autistas na comunidade LGBTQIA+

Descobrir o diagnóstico tardio de autismo é parte importante do processo de autoconhecimento de muitas pessoas no TEA. E algumas delas também se identificam como membros da comunidade LGBTQIAP+.

Para pôr fim aos mitos de que pessoas autistas não têm interesse em relacionamentos e na própria sexualidade, a orientação sexual dentro do espectro do autismo é um tema que vem sendo objeto de estudo há algum tempo. Em um estudo dos pesquisadores George e Stokes, publicado em 2018 e intitulado Sexual Orientation in Autism Spectrum Disorder, foram analisados diversos dados de pessoas com o diagnóstico de TEA e suas orientações sexuais.

Ao fim do estudo, os pesquisadores apontaram que 69,7% das pessoas autistas que estavam no grupo se definiam como homossexuais, bissexuais, assexuais ou outros, enquanto as taxas para pessoas neurotípicas eram de 30.3%.

Mesmo com essa alta porcentagem, pessoas autistas e LGBTQIAP+ sofrem constante preconceito dentro e fora da comunidade. Assim, criar discussões sobre o tema é cada vez mais importante para ajudar a desconstruir esse tipo de discriminação.

Luca Nolasco – autista e bissexual

O estudante de bioquímica Luca Nolasco, que integrava a equipe do “Introvertendo” – primeiro podcast feito apenas por pessoas autistas no Brasil – define a descoberta da sua própria sexualidade como surpreendentemente tranquila. “Houve muito questionamento interno se, de fato, eu era. Mas em grande parte girava em torno da aceitação da descoberta”, conta.

Assumido para a mãe, ele diz que a informação não teve grande impacto, uma vez que ela própria admitiu desconfiar da orientação sexual do filho e teve uma boa aceitação quando ele a procurou para contar. Ainda assim, Luca confessa: “Infelizmente até hoje não tive coragem de falar com meu pai sobre o assunto”.

Bissexualidade – preconceito e aceitação na comunidade autista e fora dela

Diferente do que aconteceu com a jornalista Sophia Mendonça, Luca afirma nunca ter sofrido preconceito por causa da sua bissexualidade dentro da comunidade autista – formada por pessoas no espectro.

“A comunidade do autismo nunca me expôs a preconceitos, então só consigo ser agradecido. Infelizmente fora da comunidade, comentários alheios ainda ocorrem, mas jamais algo tão difícil e preocupante quanto o que o restante da comunidade LGBTQIAP+ sofre todos os dias”, reforça.

Além disso, ele conta que o fato de estar no espectro do autismo faz com que parte das pessoas de fora da comunidade façam julgamentos quanto à sua orientação sexual.

“Diversas foram às vezes que as pessoas ficaram supondo imaturidade sexual e afetiva simplesmente por eu ser autista. Isso nunca foi problema com as pessoas com quem me relacionei, mesmo com um breve convívio. Mas raras foram às vezes onde este convívio não se iniciou com preconceito”.

Um recado a todas as pessoas LGBTQIAP+

Luca vivenciou suas próprias descobertas e já falou abertamente sobre a bissexualidade em episódios do podcast Introvertendo. Hoje, ele deseja boa sorte a todos que passam pelo mesmo processo de descoberta e, principalmente, reconhecimento.

“É um período que parece intangível para quem nunca passou, mas extremamente importante e necessário. Boa sorte, pois eu sei que é imprevisível o julgamento e sofrimento que pode se passar. É necessária coragem para enfrentar o mundo”, conclui.

Conclusão

A discussão sobre bissexualidade e orientação sexual no autismo é fundamental para promover uma compreensão mais ampla da diversidade e das experiências de pessoas no espectro.

A sexualidade é uma parte natural do desenvolvimento de todos os jovens, incluindo aqueles com autismo, e a falta de educação e apoio específicos pode deixá-los vulneráveis.

É importante lembrar que a orientação sexual é uma parte fundamental da identidade de cada pessoa, e respeitar essa diversidade é crucial para construir uma sociedade inclusiva e acolhedora.

A realidade é que muitas pessoas autistas se identificam como membros da comunidade LGBTQIAP+ e enfrentam desafios únicos em sua jornada de autodescoberta e aceitação.

No entanto, histórias como a de Luca Nolasco mostram que o caminho para o autodescobrimento e aceitação pode ser uma experiência pessoal e gratificante.

É essencial promover discussões abertas e informadas sobre a sexualidade no autismo para desafiar estigmas, preconceitos e garantir que todos, independentemente de sua orientação sexual ou condição, possam se sentir aceitos e respeitados.

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