Para profissionais clínicos Sexualidade no autismo: casal se beija

Sexualidade e puberdade no autismo

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Natália Calegare

Publicado em 26 de outubro de 2021 Atualizado em 10 de outubro de 2023

5 minutos

A sexualidade e puberdade no autismo são temas desafiadores para familiares e profissionais. Essa dificuldade se encontra em todas as áreas de atuação com jovens, sejam eles neurotípicos e atípicos.

Porém, quando falamos do TEA isso se agrava ainda mais, devido à ausência de diretrizes específicas para essa população. Em 2002, Blancett e Wolfe conduziram uma revisão de 12 currículos de educação sexual para pessoas com deficiências. Nenhum deles focou diretamente em pessoas autistas.

Neste artigo, vamos discutir temas e intervenções que devem ser inseridas no programa de ensino de habilidades e terapia voltada para o autismo.

Por que falar sobre sexualidade com jovens?

Segundo o guia técnico internacional de educação sexual da UNESCO, publicado em 2018,a educação sexual é fundamental para a segurança e desenvolvimento saudável dos jovens. Apesar de evidências científicas demonstrarem o efeito benéfico desses programas, poucas crianças e jovens têm acesso a essas informações.

Para crianças e adolescentes autistas é ainda menos frequente que existam práticas direcionadas à sexualidade e puberdade. Isso impacta diretamente no aumento da vulnerabilidade dessa população.

No entanto, independente de serem típicos ou não, jovens passam pelo processo da puberdade e precisam ser orientados sobre a sexualidade. A ciência pode ajudar nesse sentido.

Como a ciência pode ajudar na educação sexual de jovens?

Participar de programas de educação sexual podem trazer uma série de benefícios para crianças e adolescentes. Entre eles:

– Início da vida sexual mais tardio;

– Diminuição do número de parceiros;

– Diminuição de comportamentos de riscos;

– Aumento do uso de camisinhas e métodos contraceptivos.

Essas confirmações foram descobertas em duas revisões conduzidas pela UNESCO, nos anos de 2008 e 2016.

Outros estudos demonstraram evidências de que as intervenções de educação sexual também diminuíram a violência de gênero entre pares e aumentaram a autoestimados jovens. Vale ressaltar que todas essas pesquisas foram realizadas levando em consideração apenas a população neurotípica.

Em 2009, as pesquisadoras Pamela Wolfe, Bethany Condo e Emily Hardaway publicaram um guia de educação sexual voltado especialmente para pessoas autistas.A seguir falamos sobre algumas orientações retiradas deste trabalho.

Iniciando intervenções sobre sexualidade e puberdade no TEA

No guia de Wolfe, Condo e Hardaway são descritas algumas áreas que devem fazer parte das intervenções desenhadas para trabalhar sexualidade e puberdade com jovens no espectro do autismo. Veja a seguir:

  • Biologia e reprodução: ensino da anatomia e fisiologia do corpo, considerando mudanças características da puberdade, gravidez e formas de contracepção.
  • Saúde e higiene: prevenção de DSTs, aspectos que contemplam saúde e bem-estar; e prevenção do uso abusivo de álcool e outras substâncias.
  • Relacionamentos: desenvolvimento de habilidades sociais necessárias para a construção e manutenção de relações familiares, românticas, sexuais e de amizade com qualidade. Esclarecimento sobre os tipos de famílias e papéis a serem desempenhados, parentalidade e orientação sexual.
  • Autoproteção: proteção contra abusos, como, por exemplo, ensino da distinção de contato físico apropriado ou inapropriado. Desenvolvimento de habilidades de assertividade, como colocar limites pessoais; dizer não; uso de preservativos. Conhecimento dos seus direitos pessoais e legais

Todos esses tópicos devem compor intervenções para jovens com autismo. Para isso, é preciso usar práticas baseadas em evidências científicas.

Como trabalhar a sexualidade com adolescentes autistas?

Intervenções baseadas nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) já demonstram diversas evidências de serem efetivas para pessoas com autismo.

Dessa forma, Wolfe, Condo e Hardaway, levantaram 5 estratégias que podem ser usadas para o ensino do conteúdo levantado acima. São elas:

  • Modelação por vídeo: consiste na utilização de vídeos de pessoas realizando o comportamento alvo visando que a criança ou adolescente o imite. Para que a mudança de comportamento ocorra, é importante serem dadas dicas durante o procedimento, além de feedback. Alguns exemplos de comportamentos que podem ser ensinados utilizando essa estratégia são: escovar os dentes, lavar as mãos ou tomar medicações.
  • Estratégias visuais: dicas visuais utilizadas para lembrar o jovem de realizar um determinado comportamento. Essa estratégia pode ser utilizada para ajudar o jovem a interagir em um situação social específica,
  • Histórias sociais: histórias especialmente desenvolvidas com foco em alguma habilidade social específica ou na resolução de algum conflito social.
  • Passo a passo: descrição do passo a passo que oriente o jovem como reagir a uma situação específica. Essa estratégia é utilizada principalmente com autistas verbais. Esse passo a passo pode ser usado, por exemplo, para chamar alguém para um encontro. É importante ressaltar que é programada a retirada gradual desse passo a passo, para que a criança ou adolescente passe e emitir tal comportamento sem o suporte
  • Análise de tarefas: quebra de uma tarefa em pequenas etapas. Geralmente usado para comportamentos com várias etapas e que devem ser realizados em uma sequência específica, como, por exemplo, para troca do absorvente.

Todas essas intervenções estão presente no relatório mais recente do EBM (Evidence based-Medicine), publicado em 2020).

Como profissionais podem melhorar sua atuação

Dylan Kapit é um pesquisador autista da Universidade Pittsburgh que tem se dedicado a criar materiais de educação sexual para pessoas no espectro.

Em um texto publicado a respeito desse tema, o pesquisador levanta que profissionais que atuam com educação sexual devem ser treinados a falar sobre a sexualidade de pessoas com deficiência, independente de não trabalharem especificamente com essa população.

Segundo ele, isso é necessário por dois motivos:

  1. Ainda que o profissional não saiba, com alguma frequência haverá pessoas com deficiência presentes e que precisam ter acesso a essas informações e estratégias específicas.
  2. É possível que todos se beneficiem de uma educação sexual inclusiva, já que isso significaria uma atuação com estratégias de ensino mais acessíveis e explícitas, com menos explicações focadas em conceitos abstratos. Facilitando assim, que todos entendam melhor as informações e como se comunicar em interações sexuais.

Para Kapit, a seguinte frase resume no que familiares e profissionais devem focar quando se fala de sexualidade e puberdade no autismo:

“Educação sexual inclusiva é, essencialmente, sobre anatomia física, conversas explícitas sobre sexo, várias discussões sobre consentimento, enfatizando a ideia de que o sexo é diferente para cada um de nós (…)”.

De modo geral, famílias e profissionais precisam estar preparados para lidar com a puberdade e ensinar sobre sexualidade no autismo. A ciência e a ABA devem ser aliadas nessa fase, assim como em outros momentos do desenvolvimento.

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Escrito por:

Natália Calegare

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