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A avaliação neuropsicológica é uma importante ferramenta para ajudar na avaliação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso porque a realização dela auxilia na identificação de áreas cognitivas e emocionais que podem ser diferentes em uma pessoa no espectro. Além disso, é possível analisar qual o grau de severidade da condição.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamento restritos e repetitivos, como a ecolalia e as estereotipias, por exemplo. Devido a esses traços, pessoas autistas vivenciam e compreendem o mundo de maneiras diferentes das pessoas neurotípicas – sem nenhum transtorno ou condição.
Sendo assim, a avaliação neuropsicológica pode fornecer uma análise mais completa e precisa das habilidades da pessoa no TEA. Isso ajuda a identificar quais áreas precisam de intervenção e quais estratégias podem ser úteis para ajudar a pessoa a lidar com suas dificuldades.
Para abordar mais detalhes acerca deste tipo de avaliação, conversamos com a neuropsicóloga, pesquisadora do Programa de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Coordenadora do Ambulatório de autismo e especialista em autismo, Joana Portolese.
O que é uma avaliação neuropsicológica?
A avaliação neuropsicológica trata-se de um processo sistemático para avaliar funções cognitivas e emocionais de uma pessoa.
“Quando a gente fala da avaliação neuropsicológica, estamos avaliando as funções do cérebro e comportamento. Aqui, vamos avaliar o Quociente Intelectual Global, o famoso QI, e também as funções executivas, como memória, aprendizagem, habilidades visoespaciais, viso perceptivas, habilidades motoras etc”, explica Joana.
Além disso, a neuropsicóloga cita outros aspectos abordados na avaliação do paciente. São eles:
- Capacidade de resolução de problemas de compreensão verbal: “A capacidade da criança, do adolescente ou do adulto em resolver problemas via verbal, utilizando não só a compreensão, mas também a abstração do repertório de vocabulário, capacidade de fazer inferências.
- Capacidade de planejar: aqui, segundo Joana, entra a capacidade de organizar e integrar essas informações.
- Habilidades atencionais: “como atenção sustentada, atenção dividida, atenção visual seletiva, capacidade de manter mentalmente essas informações e memória operacional”.
Como é feita a avaliação neuropsicológica?
A realização da avaliação neuropsicológica ocorre por meio de testes e questionários padronizados com o objetivo de identificar habilidades e limitações de uma pessoa. Assim, esta ferramenta apoia o diagnóstico desde transtorno, como o autismo, até doenças, como o Alzheimer.
O primeiro passo desta avaliação é uma entrevista de anamnese com o paciente e as pessoas cuidadoras, a fim de entender melhor a história médica e psicológica daquele indivíduo.
Durante essa entrevista inicial, a pessoa examinadora questiona sobre aspectos do desenvolvimento do paciente, como e quando atingiu os marcos do desenvolvimento infantil, se apresentou ou não atraso na fala, ou a linguagem e como se desenvolveu em diferentes áreas.
Depois da entrevista, o profissional de neuropsicologia inicia uma série de testes neuropsicológicos padronizados. Aqui, estão inclusos:
- Testes de atenção;
- Testes de memória;
- Testes de linguagem;
- Testes de funções executivas;
- Testes de habilidades sociais e emocionais.
De acordo com Joana, ainda é comum que profissionais da neuropsicologia entrem em contato com a escola e peçam relatórios e a resposta em escalas determinadas para garantir que conhecem ao máximo a pessoa avaliada.
Todos esses testes são projetados com o objetivo de medir habilidades específicas e trazer uma visão abrangente daquele indivíduo, comparando-o com a população da mesma idade. Por isso, com base nos resultados da avaliação neuropsicológica, profissionais vão conseguir desenvolver planos de intervenção personalizados que ajudem a pessoa a lidar com as dificuldades e melhorar sua qualidade de vida.
“A partir disso [dos resultados da avaliação neuropsicológica], a gente vai poder pensar, não só na equipe, mas também no prognóstico e direcionamentos para a intervenção”, reforça Joana.
Qual o papel da avaliação neuropsicológica no diagnóstico de autismo?
O diagnóstico de TEA é um momento delicado para muitas pessoas e famílias e também um tanto quanto desafiador para a comunidade médica. Isso porque os sinais de autismo podem variar de pessoa para pessoa.
Assim, a avaliação neuropsicológica tem a função de ajudar a identificar o transtorno e fornecer informações importantes sobre as habilidades e limitações da pessoa.
Outro ponto importante é que esta ferramenta auxilia na distinção entre autismo e outras condições como TDAH e deficiência intelectual.
Além disso, ela também ajuda a identificar pontos de destaque no desenvolvimento do indivíduo, que muitas vezes podem passar despercebidos em um processo de diagnóstico convencional.
Por meio desses pontos fortes, que podem incluir habilidades excepcionais em áreas como matemática, música ou até arte, é possível criar estratégias de intervenção que usem esses elementos nas intervenções daquele indivíduo.
“Ela nos ajuda a traçar rotas das forças e fraquezas cognitivas, pensando em potencializar o que essa criança tem desenvolvido e o que a gente precisa desenvolver mesmo nas intervenções, o que é mais difícil para ela”, pontua Joana.
Só a avaliação pode diagnosticar o autismo?
Mesmo sendo importante no processo diagnóstico de TEA, somente a avaliação neuropsicológica não é o suficiente para avaliar o autismo. Isso porque o diagnóstico de autismo é uma tarefa complexa que requer a avaliação de múltiplas áreas, incluindo comportamento, habilidades de comunicação e interações sociais.
Além disso, o autismo é uma condição altamente heterogênea, o que significa que sinais e necessidades de cada pessoa no espectro podem ser muito diferentes. Por isso, é importante que a avaliação neuropsicológica seja integrada a uma avaliação global do indivíduo.
“É super importante essa questão da avaliação neuropsicológica e da equipe multidisciplinar, da troca entre profissionais. Porque uma anamnese bem feita faz toda diferença, as escalas são complementares, elas são ferramentas para orientar o raciocínio, mas não conseguem dizer ‘esse paciente tem depressão’ ou ‘esse paciente tem autismo’. Mas sempre devemos pensar que esse diagnóstico é clínico”, conclui.
Quer saber mais sobre o processo de diagnóstico de autismo? Leia nosso texto sobre o tema:
Entenda o processo de diagnóstico no autismo