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Tanto a paternidade quanto a maternidade são tarefas desafiadoras por si só, mas quando você tem uma criança com autismo, os desafios podem ser ainda maiores.
O estresse parental é uma realidade com a qual muitos pais de crianças autistas lidam diariamente. Ele tem sido estudado há anos pela ciência e foi definido, em 1998, por Kirby Deater-Deckard, como qualquer experiência de desconforto ou sofrimento que resulta das demandas características da parentalidade.
Essa definição foi publicada no artigo do autor “Parenting stress and child adjustment: somes old hypotheses and new questions” onde ele aborda as dificuldades e desafios dessa jornada, e detalhes do estresse parental.
Neste artigo, falamos sobre alguns dos motivos, quais os impactos dos níveis de estresse parental no desenvolvimento de crianças autistas e compartilharemos dicas valiosas para ajudar os pais a enfrentar essa jornada de forma mais saudável. Acompanhe!
O que é Estresse Parental?
O estresse parental é uma reação natural ao enfrentar as demandas e as incertezas de criar uma criança, seja ela típica ou atípica.
Essa experiência é presente na vida de todos os pais, independentemente das suas características pessoais, das habilidades da criança, de fatores sociais ou demográficos.
É claro que esses fatores modulam a intensidade da experiência, porém independentemente deles, haverá algum nível de estresse atribuído ao papel de ser pai ou mãe.
Quando falamos de famílias atípicas, as preocupações com o desenvolvimento da criança, as terapias necessárias, as mudanças na rotina familiar e as dificuldades diárias podem contribuir para o estresse parental.
Como o estresse afeta nosso dia a dia
O estresse cotidiano impacta a qualidade de vida de todos nós. Seus efeitos característicos são diversos, mas podem incluir:
- Cansaço
- Fadiga
- Depressão
- Alterações neurais e hormonais, que podem aumentar o risco de algumas patologias, como doenças cardíacas.
Existem muitas causas para o acúmulo de estresse. Dentre elas, ele pode ser o resultado de alguma situação de emergência, como um acidente traumático ou situações da vida cotidiana, como ambiente de trabalho insalubre, trânsito, responsabilidades financeiras ou familiares.
Quando relacionamos estresse com a parentalidade, especialmente de crianças com diagnóstico de autismo, estamos nos referindo ao estresse crônico. Esse tipo de estresse é presente de maneira contínua e com magnitude média.
Estresse parental de pais de crianças com autismo
Há alguns anos a ciência tem estudado o estresse parental. Desde a década de 1990, pesquisadores têm levantado dados que apontam que o nível de estresse de pais de crianças com deficiência é mais elevado do que pais de crianças sem deficiência.
Quando falamos de pais de pessoas autistas, as pesquisas demonstram que os níveis de estresse são ainda maiores e podem impactar nos resultados da intervenção com a criança.
Um estudo realizado em 2008, intitulado Parenting Stress Reduces the Effectiveness of Early Teaching Interventions for Autistic Spectrum Disorders, indica que o estresse parental pode ser um dos fatores que interferem na efetividade da intervenção precoce.
Como o estudo foi feito
Ao todo, o estudo contou com 65 participantes, pais de crianças autistas que tinham entre 2 e 4 anos. Todas elas estavam no processo de início das intervenções precoces para o TEA.
Para avaliar as hipóteses, os pesquisadores aplicaram escalas para qualificar:
- O repertório comportamental das crianças
- Os níveis de estresse dos pais
Estas escalas foram aplicadas durante dois momentos: no início e, após 10 meses, no final da pesquisa. Isso foi feito para que os pesquisadores pudessem avaliar e comparar as pontuações obtidas em cada momento e assim investigar se houve relação entre o nível de estresse dos pais e o repertório da criança.
A seguir, abordamos os principais resultados divulgados pelos pesquisadores sobre o estresse parental.
Resultados
Os resultados obtidos no estudo demonstraram que as intervenções feitas com crianças filhas de pais com níveis elevados de estresse foram menos efetivas. Especialmente quando a criança foi submetida a intervenções consideradas intensivas (mais de 15h semanais).
Esses dados são compatíveis com os encontrados em outros estudos. Além disso, outros pesquisadores descreveram resultados que relacionam a melhora de comportamentos da criança como consequência da redução dos níveis de estresse dos pais.
Tudo isso demonstra a importância do bem-estar dos cuidadores das pessoas autistas quando falamos sobre o estresse parental. De fato, os pesquisadores do estudo citado concluíram que é importante medir e acompanhar os níveis de estresse dos pais, como parte da intervenção com a criança.
Motivos para o estresse parental em pais de autistas
Ao longo do tempo, a ciência tem demonstrado que o estresse parental impacta diretamente no desenvolvimento da criança.
Porém, ainda é necessário entender quais os motivos que levam pais de pessoas autistas a apresentarem níveis de estresse tão superiores quando comparados a pais de crianças com desenvolvimento típico e de crianças com outras deficiências.
Dentre os motivos que justificam esses níveis elevados estão:
- A sobrecarga de tarefas e responsabilidades. Vale lembrar que, em geral, as mães se tornam as principais cuidadoras dos filhos com autismo.
- Cuidadores de pessoas autistas reportam passar ao menos duas horas a mais por dia em atividades de cuidado dos filhos, se comparados com cuidadores de crianças sem deficiência.
- Cuidadores de crianças autistas têm duas vezes mais chances de relatarem cansaço e três vezes mais chances de passarem por um evento estressante.
- Alguns estudos apontam que o estresse parental de pais de crianças autistas está relacionado com as dificuldades sociais, comportamentos repetitivos e restritivos, característicos do TEA.
Além disso, outros estudos abordam o cansaço e a sobrecarga de familiares, especialmente as mães, de crianças no TEA.
Um deles foi publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders e afirma que os níveis de cansaço e exaustão de mães de crianças autistas são semelhantes aos apresentados por soldados.
Tendo isso em vista, é preciso encontrar maneiras de ajudar esses cuidadores a lidar e diminuir o nível de estresse parental em suas rotinas.
O impacto do estresse parental no desenvolvimento da criança autista
O estresse parental pode afetar o desenvolvimento da criança autista de várias maneiras:
- Modelagem de comportamento: Pais sob estresse podem não ter a capacidade de modelar comportamentos sociais e emocionais saudáveis para seus filhos. Isso pode dificultar o aprendizado de habilidades importantes de comunicação e interação social;
- Disponibilidade emocional: Quando os pais estão sobrecarregados pelo estresse, podem ter dificuldade em estar emocionalmente disponíveis para seus filhos. O apoio emocional é crucial para o desenvolvimento das crianças autistas;
- Efeitos na saúde mental: O estresse constante pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, o que pode impactar ainda mais a capacidade dos pais de cuidar de seus filhos de maneira eficaz.
Dicas para lidar com o estresse parental no dia a dia
Antes de mais nada, é importante lembrar que ainda que os níveis de estresse parental sejam mais altos em cuidadores de crianças no espectro, pais de crianças sem deficiência também apresentam níveis de estresse relacionados à parentalidade.
Além disso, as chances de pais de crianças autistas terem experiências positivas com seus filhos é semelhante a de pais de crianças com desenvolvimento típico.
Dessa forma, vamos destacar a seguir algumas estratégias para manejo do estresse parental que podem ajudar na manutenção da saúde de todas as famílias:
Busque apoio
Não hesite em buscar apoio de amigos, familiares ou grupos de apoio. Compartilhar suas preocupações com outras pessoas que entendam o que você está passando pode aliviar o fardo emocional.
Relações sociais próximas e íntimas são importantes para que você receba ajuda quando precisar e para descontrair, se divertir e relaxar.
Pratique o autocuidado
Reserve um tempo para si mesmo(a). O autocuidado é essencial para lidar com o estresse parental. Isso pode incluir meditação, exercícios, hobbies ou simplesmente tirar um tempo para relaxar.
Existem dados científicos que apontam que a compaixão consigo mesmo pode ser uma habilidade importante para manutenção da qualidade de vida de pais de crianças no espectro.
Estabeleça uma rotina
Tente manter uma rotina estável para você e seu filho. Previsibilidade pode reduzir o estresse para ambos.
Procure ajuda profissional
Se o estresse parental estiver se tornando avassalador, não hesite em procurar ajuda de um profissional de saúde mental. Terapia pode ser uma ferramenta valiosa para aprender a lidar com o estresse.
Mantenha hábitos saudáveis
Manter hábitos de higiene do sono, como diminuir uso de telas próximo da hora de dormir, para garantir que o sono seja restaurador.
Além disso, ter uma alimentação equilibrada, variada, pouco industrializada e sem restrição de nenhum grupo alimentar para garantir que todos os nutrientes necessários estão sendo consumidos.
Foque no presente
Pratique a respiração diafragmática. Essa técnica pode ajudar no manejo da ansiedade de preocupação. Além disso, use o relaxamento muscular progressivo como forma de relaxar seus pensamentos e corpo durante possíveis crises de estresse parental.
Mantenha como hábito o treino da habilidade de manter-se no momento presente, para diminuir ruminação de preocupações e pensamento agitado. A prática pode ser realizada utilizando aplicativos com exercícios guiados, praticando yoga ou outras atividades que ensinem o foco intencional da atenção no momento (e não nos pensamentos/preocupações).
Nas palavras de Stephanie Hayes e Shelley Watson:
“É importante lembrar que há muito mais na história das famílias de crianças autistas do que o estresse parental e é nossa responsabilidade como pesquisadores identificar fatores que facilitam o funcionamento familiar e fomente esperança para o futuro”.
Conclusão
O estresse parental é uma parte desafiadora da jornada de criar uma criança autista, mas é importante lembrar que você não está sozinho nisso.
Encontrar maneiras de gerenciar o estresse é fundamental para o bem-estar da família e o desenvolvimento da criança.
Lembre-se de que o autocuidado não é egoísta, é uma maneira de garantir que você esteja no seu melhor para apoiar seu filho com autismo em sua jornada única de crescimento e aprendizado.
Lidar com o estresse parental pode ser um processo difícil, mas com apoio e cuidado, você pode proporcionar um ambiente amoroso e saudável para o seu filho autista prosperar.
Por esses motivos, cuidar da saúde mental e qualidade de vida de todo núcleo familiar é essencial para o bem-estar tanto dos pais e familiares, como para o desenvolvimento da criança no espectro.
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