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Depois do diagnóstico de autismo, muitas famílias ficam em dúvida sobre como garantir qualidade de vida da criança, e nesse processo buscam aprender sobre remédios ou medicação para autismo que possa ajudar.
É nesse momento que muitas se perguntam se existe uma relação entre risperidona e autismo e se de fato é indicado para pessoas com TEA.
De fato, a risperidona é um dos medicamentos mais indicados por profissionais da neuropediatria ou psiquiatria infantil para pacientes com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo, o que costuma causar muitas dúvidas nas famílias sobre sua prescrição e efeitos.
Além dele, é comum que as pessoas cuidadoras recebam receita para outros remédios com objetivo de melhorar crises de agressividade e outros comportamentos da criança, adolescente ou adulto com autismo.
Mas será que existe uma medicação criada para pessoas com TEA? Conversamos com o Dr. José Salomão Schwartzman, neuropediatra especialista em autismo e transtornos do neurodesenvolvimento sobre risperidona para autismo, abordando as indicações do medicamento, seus efeitos colaterais e também outras formas de medicação hoje recomendadas. Confira!
O que é Risperidona?
A risperidona é um antipsicótico atípico, ou seja, um medicamento que atua sobre o sistema nervoso central para tratar sintomas de diversas condições psiquiátricas. Sua principal função é manter o equilíbrio da serotonina e dopamina no cérebro.
Originalmente, ela foi desenvolvida para tratar esquizofrenia e transtornos bipolares, mas seu uso foi ampliado para outras condições devido ao seu perfil de ação.
Atualmente ele pode ser prescrito para adultos e adolescentes acima de 13 anos, e por isso, não pode ser usado por crianças. Ele também é usado para conter episódios de mania com humor frenético, excitado ou irritado.
Para quê serve a Risperidona?
Esse medicamento é um antipsicótico atípico ou de segunda geração (SGA) aprovado pela Indústria Federal de Medicamentos na década de 1990 com o objetivo de tratar sintomas de psicose e transtorno bipolar em pacientes.
Com o passar do tempo, o uso da Risperidona se tornou mais amplo e ela passou a ser indicada por profissionais da medicina para tratar também sintomas de agressão e irritabilidade em pacientes diagnosticados com demência.
Além disso, sua recomendação também ocorre para crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) ou Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor.
No caso do autismo, ainda hoje é comum encontrar profissionais que indicam Risperidona como forma de reduzir a ocorrência de comportamentos desafiadores, especialmente a agressão e a autoagressão. Assim, é muito comum que as famílias encarem o antipsicótico como um remédio próprio para tratar o TEA.
“A utilização do medicamento [Risperidona] em crianças com autismo não é obrigatório. Nem todos vão precisar, mas quando precisam, acho que tem que ter esse benefício”, pontua Dr. Salomão.
Qual o efeito da risperidona nas pessoas?
A risperidona pode ter um efeito calmante, ajudando a controlar comportamentos desafiadores.
Estudos indicam que, além de reduzir a agressividade, a risperidona também pode melhorar a capacidade de socialização e comunicação em alguns casos.
No entanto, a resposta ao medicamento pode variar de criança para outra, e é fundamental que os pais observem atentamente qualquer mudança no comportamento.
Risperidona e autismo: quem decide usar ou não a medicação?
É importante ressaltar que a decisão de usar a risperidona em pessoas com autismo é sempre feita pelo profissional da medicina que acompanha a criança em conjunto com a família.
Em geral, a recomendação surge quando a comorbidade pode colocar em risco a vida da pessoa ou daqueles que estão próximos a ela e até auxiliar no comportamento e em outras características.
De acordo com o Dr. Salomão, é papel do profissional da medicina informar a família sobre tudo que for possível sobre o medicamento. “Meu papel é de dar a eles todas as informações conhecidas para que a decisão seja deles, mas baseada em conhecimento”, pontua.
O neuropediatra ainda faz uma importante reflexão sobre a decisão de optar ou não pelo uso do medicamento. Segundo ele, muitas famílias tendem a negar o uso por preconceito.
“Eu acho muito melhor uma criança que não esteja medicada, evidentemente, mas quando ela precisa de medicamento e o quadro é severo, privá-la disso não é adequado apenas por um preconceito. Ninguém é a favor ou contra remédio, você tem que ser a favor ou contra do uso de remédio, na dose certa, quando indicado”, reforça.
Quais são os efeitos colaterais da Risperidona?
Outro ponto importante é que é preciso também que a família se informe e conheça os efeitos colaterais do uso da Risperidona para interromper o tratamento em casos graves. Entre os efeitos colaterais mais comuns deste medicamento estão:
- Ganho de peso substancial;
- Alterações metabólicas;
- Alterações neurológicas;
- Alterações hormonais.
Além disso, é essencial realizar exames frequentes, cujo tempo de retorno depende do medicamento.
O que a risperidona faz no cérebro?
Como falamos, a risperidona atua bloqueando os receptores de dopamina e serotonina no cérebro. Esses neurotransmissores estão envolvidos na regulação do humor, comportamento e percepção.
Ao bloquear esses receptores, a risperidona ajuda a regular os desequilíbrios químicos que podem contribuir para os sinais no TEA, como a agressividade e a irritabilidade.
Esses ajustes de neurotransmissores não só diminuem os comportamentos disruptivos, mas também podem melhorar a capacidade de resposta a outras terapias comportamentais e educacionais.
Isso porque o cérebro, estando menos focado em respostas de medo ou agressão, pode se engajar mais facilmente em atividades que promovem o desenvolvimento social e comunicativo.
Como a dosagem de Risperidona é determinada e ajustada?
De acordo com o Dr. Salomão, a indicação da dose de Risperidona é feita de acordo com a resposta buscada e também a possibilidade de surgirem efeitos colaterais.
“Dependendo da dose que você usa, o efeito colateral é sedação. Tem também o aumento de peso, porque aumenta muito o apetite da criança em geral”.
O neuropediatra ainda traz sua visão sobre a dosagem adequada e como defini-la de acordo com cada caso.
“Toda vez que você usa um remédio, seja esse ou qualquer outro, minha visão é: você sempre começa com uma dose mínima e observa o comportamento, eventuais efeitos colaterais e vai ajustando a dose até o momento em que você tenha o efeito clínico bom, sem efeitos colaterais indesejáveis”, reforça.
Por quanto tempo a Risperidona deve ser usada em pessoas com autismo?
Segundo o Dr. Salomão, não existe um tempo padrão para uso da Risperidona em casos de autismo.
“Por quanto tempo vai ser usado? Pelo tempo que for necessário, quer dizer, existem pessoas que têm que tomar medicamentos a vida inteira, e existem crianças que têm que usar por alguns meses, até que a terapia faça efeito e ele por si só possa melhorar os distúrbios comportamentais presentais”, explica.
Existe medicamento para autismo?
Como já falamos anteriormente, o autismo não é uma doença. Logo, não existem medicamentos próprios para ele. Assim, a única forma de tratar o autismo é por meio de intervenções que vão auxiliar o indivíduo a desenvolver habilidades e ter uma qualidade de vida melhor.
Assim, embora exista uma dúvida das famílias, os medicamentos receitados por médicos servem, muitas vezes, para agir nas comorbidades do autismo, ou seja, em condições associadas ao TEA.
Em nosso blog temos um conteúdo completo sobre medicamentos e autismo, você pode ler e continuar aprendendo sobre o assunto.
Conclusão
A risperidona é um dos medicamentos indicados para pessoas com TEA, especialmente em casos onde a agressividade, irritabilidade e comportamentos repetitivos são significativos.
No entanto, seu uso deve ser cuidadosamente avaliado pelos profissionais de saúde, considerando os possíveis benefícios e riscos. Nunca se deve começar uma medicação para autismo sem avaliação é indicação médica, ok?
Cada pessoa autista é única, e o que funciona para uma pessoa pode não ser adequado para outra. Por isso, é fundamental que o tratamento seja individualizado, com uma abordagem multidisciplinar que inclua não apenas medicação, mas também terapias comportamentais, ocupacionais e educativas.
A risperidona pode ser parte da busca pela qualidade de vida de pessoas autistas, mas não deve ser vista como a única solução. Com um plano de cuidado bem estruturado e acompanhamento adequado, as pessoas no espectro podem alcançar independência e autonomia.