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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
Assim, é muito frequente que pessoas no espectro tenham dificuldades com linguagem e comunicação, fazendo parte do que chamamos de autismo não verbal ou autismo não vocal.
Enquanto algumas pessoas podem se comunicar verbalmente, outras enfrentam desafios significativos na expressão linguística.
Este artigo explica sobre o que é o autismo não verbal e como pais, pessoas cuidadoras ou profissionais da saúde podem criar estratégias para apoiar e promover o desenvolvimento dessas crianças no seu dia a dia. Confira!
O que é autismo não verbal?
O autismo não verbal é quando pessoas diagnosticadas com TEA não conseguem se expressar verbalmente, ou seja, por meio da fala. Muitas vezes, elas podem ter dificuldades para expressar o que sentem ou desejam por outras formas de comunicação.
Isso porque 25% a 30% das crianças autistas não conseguem utilizar a linguagem verbal para se comunicar ou tem um número restrito de palavras em seu vocabulário. Com isso, elas têm barreiras de aprendizado no processo de aquisição da linguagem oral.
É muito importante ressaltar que a ausência de fala ou linguagem oral em uma pessoa, não representa a ausência de compreensão. O que acontece é que no autismo não verbal a pessoa não consegue se expressar verbalmente, mas consegue, sim, compreender o que os outros estão falando.
Não verbal e não falante são a mesma coisa?
Já falamos sobre isso aqui em nosso blog de existir uma diferença entre comunicação, fala e linguagem. Assim, é importante entendermos que a comunicação verbal vai muito além da fala e a dificuldade ou ausência de fala, não significa incapacidade de comunicação.
Quando falamos que alguém é não verbal, estamos nos referindo a uma pessoa que se comunica por meio de expressões faciais, gestos, movimentos corporais ou ferramentas suplementares, como a CAA.
Com isso, essa pessoa não utiliza verbos para se comunicar, nem por meio da fala ou da escrita, por isso é não verbal.
Já alguém não falante é alguém que não se comunica por meio de fala, mas consegue empregar outras formas de linguagem verbal para se expressar, como, por exemplo, digitação e escrita.
Por isso, não devemos dizer ou presumir que toda pessoa que não desenvolveu a fala é “não verbal”, pois uma pessoa não falante pode sim ser verbal, apenas usar outros meios de comunicação distintos.
Assim, apesar do termo autismo não verbal ser o mais conhecido e procurado por famílias que receberam o diagnóstico ou querem encontrar informações, o termo autismo não vocal, é mais amplo e abrange essa diferença entre verbalização e vocalização oral.
Qual a diferença do autismo verbal e não verbal?
O autismo verbal e autismo não verbal referem-se às diferentes formas como as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) se expressam e compreendem a linguagem.
Assim, existe uma diferença na forma em que a pessoa se comunica, seja verbalmente, oralmente ou por outros meios.
Crianças com autismo verbal são capazes de se comunicar verbalmente, usando palavras para expressar suas necessidades, desejos e pensamentos.
Essas crianças podem desenvolver habilidades de linguagem semelhantes às de seus pares, mas podem enfrentar desafios específicos, como a pragmática (uso adequado da linguagem em diferentes contextos sociais).
Além disso, ela tem a capacidade de compreender a linguagem falada, embora possam ter dificuldades em interpretar nuances sociais e inferir significados figurados.
Já crianças com autismo não verbal têm dificuldades significativas em expressar-se verbalmente ou oralmente e podem não desenvolver a linguagem falada ou ter uma fala limitada.
A compreensão da linguagem pode variar, com algumas crianças compreendendo a linguagem falada mesmo que não a expressam verbalmente. Crianças com autismo não verbal muitas vezes recorrem a formas alternativas de comunicação, como gestos, linguagem de sinais, comunicação visual ou outros sistemas não vocais.
É importante notar que o espectro autista é extremamente diversificado, e muitas crianças podem apresentar características de ambos os grupos.
Além disso, a evolução das habilidades de linguagem ao longo do tempo pode variar amplamente, e algumas crianças inicialmente com autismo não verbal podem desenvolver a linguagem ao longo do tempo com a intervenção adequada.
Fonoaudiologia: qual o papel do profissional na vida de crianças não verbais
O suporte personalizado, baseado nas necessidades individuais, é essencial para promover o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas com TEA. O fonoaudiólogo é um profissional especializado em comunicação, linguagem, fala, voz e processos relacionados.
Assim, profissionais da Fonoaudiologia são fundamentais para garantir que pessoas com autismo não verbal consigam se comunicar da melhor forma possível, de acordo com os meios que utilizam.
Eles conseguem ajudar com:
- Avaliação e diagnósticos precisos: realização de avaliações abrangentes para determinar o nível atual de habilidades de comunicação da criança, identificando possíveis desafios, como atrasos na linguagem, dificuldades na articulação, pragmática (uso social da linguagem) e outras questões relacionadas à comunicação.
- Desenvolvimento de intervenções personalizadas: criação de planos de tratamento personalizados, adaptados às necessidades específicas da criança e implementação de estratégias para melhorar a comunicação, utilizando abordagens como a comunicação visual, linguagem de sinais ou sistemas alternativos e aumentativos de comunicação.
- Estímulo à comunicação não verbal: fomento de formas alternativas de comunicação, como gestos, linguagem de sinais e uso de símbolos visuais, bem como a introdução de técnicas que visam fortalecer a expressão e compreensão de comunicação não verbal.
- Orientação aos pais e pessoas cuidadoras: oferecimento de suporte e orientação aos pais para implementar estratégias de comunicação em casa, ampliando a educação sobre práticas que favoreçam o desenvolvimento da linguagem e da comunicação no ambiente familiar.
- Treinamento de habilidades sociais e pragmáticas: trabalho no desenvolvimento de habilidades sociais, promovendo interações mais eficazes e significativas com os outros, garantindo o foco na pragmática da linguagem, abordando questões como turno de fala, tom de voz e compreensão de pistas sociais.
Estratégias de comunicação para estimular uma criança autista a falar
Primeiramente, a intervenção precoce é um dos melhores caminhos para estimular e desenvolver as habilidades de comunicação infantil. Isso porque, quanto antes uma criança começar a aprender, maiores serão as chances dela desenvolver a linguagem e comunicação verbal.
Além disso, mesmo quando falamos de pessoas com autismo não verbal, é importante entender que cada criança tem seu perfil específico, com necessidades e tempo de aprendizagens diferentes. Isso tudo precisa ser respeitado, para não haver expectativas irreais e também pressão para que a criança fale a qualquer custo.
Tenha sempre uma troca constante com a equipe profissional que acompanha seu desenvolvimento, para que cada intervenção e estratégia seja pensada de acordo com o objetivo específico do pequeno.
Tendo tudo isso em mente, aqui estão algumas estratégias de comunicação que podem ser aplicadas no dia a dia, sendo úteis para estimular uma criança autista a falar:
Estímulos diários
Integre momentos de comunicação nas rotinas diárias de pessoas com autismo não verbal, como narrar as atividades que estão sendo realizadas ou descrever objetos ao redor, como tomar banho ou fazer refeições, proporciona oportunidades naturais para desenvolver a linguagem.
Além disso, criar um ambiente rico em estímulos visuais, com cartazes, imagens e objetos interessantes, podem motivar a criança a se expressar.
A rotina também é uma ótima oportunidade de pensar em novas possibilidades de comunicação. Por exemplo, se sua criança tem um hábito específico e ela sempre faz gestos para isso, você pode narrar o que está acontecendo e incentivar que ela utilize aquela palavra ou frase.
Olha só como aumentar a intenção de se comunicar:
CAA – Comunicação Alternativa Ampliada
A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) é um conjunto abrangente de estratégias e recursos que auxiliam indivíduos com dificuldades na comunicação verbal a expressarem pensamentos, necessidades e emoções de forma eficaz.
Para isso, são utilizados sistemas de comunicação que não são essencialmente verbais vocais (como a fala), e que podem ou não ter algum tipo de recurso como auxílio.
Quadros de comunicação permitem que a criança com autismo não verbal se comunique visualmente, expressando suas necessidades e emoções. Aplicativos específicos de CAA, adaptados às preferências individuais, oferecem uma abordagem interativa para fortalecer a comunicação autônoma.
Jogos eletrônicos
Jogos eletrônicos podem ser integrados de maneira educativa. Jogos interativos com instruções verbais ou interações com outros jogadores podem ser aproveitados para promover a comunicação. Além disso, aplicativos lúdicos e educativos no ambiente digital podem se tornar ferramentas atrativas para o desenvolvimento da fala de pessoas com autismo não verbal.
Esses jogos são exemplos de tecnologia assistiva que além dos benefícios citados, fazer uso das tecnologias assistivas com alunos no espectro do autismo pode ajudar no processo de generalização para que a criança replique o que foi aprendido no ambiente escolar em outros locais e contextos.
Sistema PECS
O Sistema PECS (Picture Exchange Communication System) é uma abordagem gradual. Inicia-se com a troca de imagens simples para expressar necessidades básicas. Conforme a criança se familiariza, a expansão para conceitos mais complexos e frases promove uma comunicação abrangente.
Com ele existe um sistema de comunicação baseado na troca de figuras. Estas figuras são selecionadas conforme os interesses do indivíduo e organizadas numa pasta e equivalem à voz de uma pessoa, sendo completamente individual.
Conclusão
Auxiliar crianças com autismo não verbal é algo que precisa de paciência, apoio contínuo e intervenção baseada em ciência.
Incorporar estratégias como comunicação visual, linguagem gestual simplificada e estabelecimento de rotinas no dia-a-dia pode fazer uma diferença significativa.
A educação contínua e a colaboração com profissionais da saúde são pilares essenciais para proporcionar o melhor suporte possível a essas crianças únicas. Ao adotar uma abordagem personalizada e informada, podemos criar um ambiente propício para o aprendizado de cada criança com TEA não verbal.
Que tal continuar aprendendo sobre o desenvolvimento da fala em crianças? Já temos um conteúdo completo em nosso blog que traz muitas informações verdadeiras: