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Muitas pessoas cuidadoras ainda se preocupam quando o assunto é viajar e aproveitar com crianças autistas. Ainda mais no período de férias, onde é costume se reunir com pessoas queridas para fazer uma viagem a lugares novos que, muitas vezes, estão mais cheios do que o costume.
Quando falamos de viagem e autismo, é importante que as pessoas cuidadoras tenham alguns cuidados a mais para garantir que esse momento de passeio seja ainda mais divertido, prazeroso e saudável.
Para viajar com a criança é importante oferecer previsibilidade a respeito desse evento, além de fazer combinados com todos que estarão na viagem, o que vai tornar a experiência ainda mais agradável para ela e a própria família.
Incluir essas ações faz parte do preparo da viagem, por isso, elas precisam estar presentes no planejamento de qualquer viagem da família, ao lado de itens rotineiros como procurar hospedagem, transporte, alimentação, etc.
Pensando nisso, nossa a profissional de psicologia da Genial Care, Caroline Rorato, separou algumas dicas para viajar e aproveitar com tranquilidade para a criança com TEA.
🔎 Caroline Batina Rorato | Psicóloga | CRP 06/130807
Viagem e autismo: a importância da rotina para pessoas autistas
Muitas pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se apegam a hábitos rotineiros, os quais já estão acostumados a seguir no dia a dia, por isso a rotina acaba sendo um importante instrumento para auxiliar na jornada corriqueira.
Não existe uma explicação única do porquê algumas pessoas autistas se apegam tanto à rotina, mas geralmente é pela previsibilidade que ela oferece.
Isto é: quando a rotina está totalmente descrita e acordada entre a pessoa com TEA e seu núcleo de familiares e cuidadores, ela não apresenta surpresas ou situações extras das quais o autista não consegue assimilar.
Além disso, o apego da rotina está ligado a um dos sinais do TEA: apresentar comportamentos restritivos e repetitivos, pois dessa forma a pessoa autista encontra conforto e aprende a conviver com o mundo ao seu redor.
Ah, e a alteração na rotina pode estar ligada tanto em uma grande mudança, por exemplo, da casa, quanto em uma alteração nas atividades diárias, como combinar um horário diferente para tomar o café da manhã.
7 Dicas para uma viajar e aproveitar as férias com autistas
Com planejamento adequado, é possível tornar a experiência prazerosa para toda a família. Este guia apresenta 7 dicas essenciais para organizar uma viagem tranquila, com base em estratégias comprovadas e dados de estudos científicos.
1. Ofereça previsibilidade e planeje com antecedência
Viajar e aproveitar pode não ser algo tão comum para essa família, então é fundamental antecipar e discutir com a criança sobre essa atividade. Caroline destaca a necessidade de fornecer antecipadamente todas as informações relevantes para a criança, mantendo contato com a equipe multidisciplinar que a acompanha.
Para otimizar essa experiência, crie um roteiro para facilitar a compreensão da criança autista nesse momento:
- Comunique-se claramente: quando falamos em viagem e autismo, é fundamental explicar para onde vão, como irão, o tempo dos passeios, mostrando fotos e vídeos do local. Use esse momento para planejar o calendário das idas e vindas;
- Estabeleça acordos: explique de maneira nítida o que é permitido e o que não é;
- Informe aos profissionais envolvidos com a criança: eles podem oferecer apoio visual, como histórias sociais, para preparar a criança para o evento;
- Torne a experiência mais envolvente: conte histórias sobre o destino, como memórias divertidas relacionadas aos avós, por exemplo.
Carol Rorato ainda salienta para que a família “leve brinquedos que são favoritos da criança, ou até mesmo os itens regulatórios dela, isso pode ajudar durante a viagem”.
Além disso, reforça a importância de uma comunicação assertiva entre pessoas cuidadoras e a criança: “sempre descreva o que está acontecendo, principalmente se forem coisas novas. Não force coisas que ela não queira fazer para não ficar aversivo”.
2. Use recursos visuais ao viajar com crianças autistas
Os recursos visuais são valiosos na comunicação alternativa para pessoas no espectro autista. Um calendário marcado, por exemplo, é uma ferramenta eficaz para transmitir informações sem depender da fala.
Antes da viagem, é viável criar uma rotina visual especial com ilustrações representando as atividades durante o passeio:
- Mostrar o ambiente da viagem com fotos do local (paisagens, onde irão ficar hospedados, áreas de interesse);
- Ilustrações de atividades planejadas (picnic, brincadeiras na areia, piscina);
- Horários e acordos adaptados para as atividades planejadas;
- Ilustrações detalhadas do passo a passo da viagem.
Caroline reforça que é preciso estar atento aossinais da criança enquanto interagem com o ambiente: “atitudes como tentar fugir do local, colocar a mão no ouvido, buscar locais para se apoiar, apresentar muitas estereotipias, chorar, etc”. Quando isso acontece, é preciso: “respeitar esses sinais e buscar locais mais tranquilos nesses momentos”.
3. Monte um kit conforto que pode ajudar a viajar e aproveitar
Viajar pode ser uma experiência sensorialmente intensa quando falamos de crianças com TEA. Por isso, na hora de se preparar para viajar e aproveitar com a família, ter um kit de conforto com itens familiares pode ajudar a criar um “porto seguro” para a criança.
Você pode incluir no seu kit:
- Fones de ouvido com cancelamento de ruído;
- Brinquedos sensoriais como pop it fidget;
- Brinquedos ou objetos de apego emocional, ou reguladores;
- Alimentos favoritos;
- Tablet ou livros de atividades conhecidas.
- Playlists ou vídeos de interesse que possam ajudar na hora de se regular em uma crise.
É importante lembrar que cada criança é única e tem suas particularidades e repertório, por isso não existe um kit padronizado para todas as crianças autistas.
Alguns objetos podem ser mais ou menos reconfortantes para seu filho, por isso, lembre-se de adaptar sempre que necessário.
4. Faça passeios antes de viajar e aproveitar
Antes de uma viagem longa, comece com um treinamento divertido! Durante as férias, busque passeios próximos, como uma ida a uma praça pública. Ofereça momentos mais tranquilos para a criança se regular e esteja atento aos sinais de desconforto ou sobrecarga sensorial.
Utilize os recursos visuais e o quadro de rotina para familiarizar a criança com o que vão experienciar. Observar como a criança reage a novos estímulos durante esses passeios pode ser esclarecedor.
A psicóloga ainda enfatiza a importância de respeitar os sinais da criança, buscando locais mais calmos quando necessário.
5. Comunique as pessoas envolvidas nos passeios e viagens
Além de fornecer previsibilidade para a criança autista, é fundamental comunicar-se com outros participantes da viagem.
Quando visitarem familiares ou amigos, explique as limitações, estabeleça acordos e compartilhe informações sobre as rotinas e preferências únicas da criança com TEA.
Informe também os prestadores de serviços, como hotéis e meios de transporte, sobre as necessidades especiais, aproveitando os direitos garantidos para facilitar o acesso e evitar situações estressantes.
Se a criança não se sentir confortável com a viagem, permita que ela sugira alternativas para ficar em casa ou com outro cuidador responsável.
6. Seja paciente e respeite as diferenças
Embora a viagem possa ser enriquecedora para a interação social, é crucial respeitar os limites da criança. Esteja preparado para adaptar as atividades das férias conforme necessário.
Marcos Mion, por exemplo, opta por não incluir seu filho adolescente, Romeo Mion, em viagens de longa distância ou atividades que o deixe desconfortável. Lugares menores podem oferecer um controle mais confortável para a criança. Ele gravou alguns vídeos explicando a situação.
Respeitar o tempo da criança é fundamental. Passeios menores e aumentos graduais de tempo podem ajudar a reduzir comportamentos desafiadores.
7. Viagem e autismo: conheça os direitos e benefícios
Além da identificação e comunicação aos meios de transporte em geral, como ônibus, vans, carros, entre outros, quando uma pessoa com autismo viaja de avião, a lei garante um benefício para o acompanhante.
De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), pessoas com autismo são consideradas pessoas com deficiência (PCD) e podem ter acesso a:
- Atendimento prioritário em aeroportos, rodoviárias e embarcações.
- Assentos reservados em transporte coletivo.
- Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), que facilita o acesso a direitos.
Quem tem autismo paga passagem de avião?
Quando uma pessoa com autismo viaja de avião, a lei garante um benefício para o acompanhante. Isso significa que a pessoa com autismo paga o valor completo da passagem, sem desconto, enquanto o acompanhante paga apenas 20% do valor original mais a taxa de embarque, ou seja, tem desconto de 80% no valor da passagem.
Essa regra é estabelecida pela Resolução n.º 280, de 11 de julho de 2013, da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Essa resolução garante esse desconto para acompanhantes de passageiros com deficiência que não podem viajar e aproveitar sozinhos.
E como o autismo é considerado, legalmente, uma forma de deficiência, os direitos garantidos para Pessoas com Deficiência (PCDs) se estendem também às pessoas autistas.
Os critérios para ter direito ao desconto incluem situações em que o passageiro precisa de assistência para viajar, seja por questões médicas, dificuldades de entendimento das instruções de segurança durante o voo devido à deficiência mental e intelectual, ou incapacidade de realizar suas necessidades fisiológicas sem assistência.
Como garantir o direito de passagem para pessoa autista?
Para usufruir deste desconto, é necessário comprovar a necessidade de acompanhante, sendo esse maior de 18 anos e apto a prestar auxílio para as assistências necessárias. O acompanhante deve viajar na mesma classe e no mesmo voo do passageiro com TEA.
A solicitação desse benefício deve ser feita junto à companhia aérea com antecedência, apresentando documentos como laudo diagnóstico, Formulário de Informações Médicas (MEDIF) assinado pelo médico da pessoa ou o Cartão Médico do Viajante Frequente (FREMEC).
A resolução da ANAC obriga as companhias aéreas que operam no Brasil a cumprir essas diretrizes, e apesar de não ser uma lei, as empresas que descumprirem podem sofrer penalidades como multas e sanções administrativas.
Portanto, esse desconto de 80% em passagens aéreas para acompanhantes de pessoas autistas é um édireito estabelecido pela ANAC para proporcionar maior suporte emocional durante a viagem, tornando-a mais confortável e tranquila para todos os envolvidos.
Conclusão
Em resumo, viajar e aproveitar com uma criança autista pode exigir preparação e consideração extra, especialmente durante as férias, quando os ambientes tendem a ser mais movimentados.
Oferecer previsibilidade, fazer acordos e usar recursos visuais são estratégias-chave para tornar a viagem mais agradável para a criança e para a família.
A rotina desempenha um papel vital para muitas pessoas autistas, proporcionando um senso de segurança e previsibilidade. Respeitar e manter essa rotina, mesmo durante viagens, é essencial para o bem-estar da criança.
Além disso, a legislação prevê descontos em passagens aéreas para acompanhantes de pessoas com autismo, garantindo assistência e conforto durante o voo.
Dicas práticas, como oferecer previsibilidade, usar recursos visuais, realizar passeios antes da viagem, comunicar-se com as pessoas envolvidas e ser paciente, podem ajudar a tornar a experiência de viajar e aproveitar com uma criança autista mais tranquila e agradável para todos.
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