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Mesmo sendo um direito da criança autista garantido por lei, a inclusão do aluno na escola nova pode ser um desafio para famílias e professores, que precisam encontrar maneiras de superar obstáculos e garantir a socialização no ambiente escolar.
Esse é um espaço que a pessoa no espectro precisa frequentar, já que ela proporciona o desenvolvimento cognitivo e da comunicação, além de contribuir para o convívio social. Por isso, é importante que a família busque uma escola com profissionais capacitados e tenha uma troca constante com todos que estão envolvidos na educação da criança.
Embora a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que considera pessoas autistas como PCDs para todos os efeitos legais, garanta a matrícula na rede pública ou privada, isso não é o mesmo que incluir esse aluno no dia a dia acadêmico.
Exatamente por isso, a legislação assegura um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, além da participação dos estudantes e de suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar.
Para ajudar nesse processo, conversamos com Maria Bispo, psicopedagoga, orientadora educacional, mestranda em Neurociências, capacitada em mediação escolar, TEA e Síndrome de Down e mãe da Maria Clara, que tem Síndrome de Down.
Ela deu dicas aos pais de como ajudar na adaptação do filho autista à escola nova. Confira!
O que a lei garante para autistas em uma escola nova?
Como falamos, as legislações atuais consideram, para todos os efeitos legais, pessoas autistas como pessoas com deficiência. Quando pensamos em autismo e educação, existem 3 principais direitos assegurados para as pessoas no espectro:
- Matrícula na escola nova em rede pública ou privada: nenhuma instituição pode negar a matrícula de pessoas autistas e também não existe nenhum número máximo de vagas nesse sentido;
- Profissional de acompanhamento: o aluno autista tem direito a um profissional de acompanhamento junto em sala de aula, que a lei garante a formação para atendimento educacional especializado;
- Plano Educacional Individualizado (PEI): a elaboração do PEI é focada na orientação e adaptação de materiais e avaliações para que eles se adequem ao aprendizado do aluno.
Maria reforça o ponto da matrícula ser direito de pessoas com deficiência e a escola nova não poder se negar nesse sentido. “Fiz a matrícula da minha filha e no dia seguinte a coordenadora me chamou para avisar que iria suspender a matrícula dela, pois não havia vaga.”
Ela conta que precisou avisar a escola que iria procurar o Ministério Público e a secretária de educação pela negação da matrícula da filha. “Os pais precisam estar cientes dos direitos de seus filhos e colocá-los em prática.”
Adaptação escolar
O primeiro passo para garantir uma experiência escolar proveitosa é a adaptação em uma escola nova. Esse processo pode ser dividido em algumas etapas, respeitando sempre o tempo e as necessidades da criança.
Dar previsibilidade da mudança é algo importante, explicando o que a criança no espectro pode esperar e conversando sobre pontos específicos. Além disso, a família pode consultar a possibilidade de visitar a escola com antecedência, levando o pequeno para conhecer o ambiente, a sala de aula e até mesmo o professor, antes das aulas começarem, assim ela ficará mais tranquila e familiarizada com o espaço.
Outro ponto importante é deixar clara e previsível a rotina acadêmica. Aqui é possível usar suportes visuais como imagens, fotos ou quadros de planejamento, para deixar detalhado cada momento. Seja em casa ou na sala de aula, essas referências de horários e atividades precisam estar em um local visível.
O professor também precisa se comunicar com a pessoa autista de uma maneira que faça sentido para ela, já que alguns autistas não vocais e usam Comunicação Aumentativa e Alternativa para se comunicar.
Como a família pode ajudar na adaptação da escola nova?
Sabemos que a inclusão do aluno autista em uma escola nova promove diversos desafios, considerando o repertório da criança e o nível de necessidade e suporte que ela precisa.
Um medo de pessoas cuidadoras pode ser uma crise do filho quando estiverem longe, no ambiente escolar. Maria deu uma dica nesse sentido, contando que ofereceu capacitação para escola da sua filha por escrito, relatando suas preferências.
“Fiz por escrito um relato sobre minha filha explicando suas preferências, o que poderia desencadear nela comportamentos inadequados e escrevi um pouco sobre a deficiência dela, mas também sobre suas habilidades.”
Por isso, é muito importante que a família conheça e compartilhe com a escola nova o perfil específico da criança, já alinhado com a equipe que acompanha o seu desenvolvimento.
Assim, essas dicas abaixo podem ajudar a trabalhar a adaptação da criança no espectro em sala de aula, mas precisam estar alinhadas a esse perfil, respeitando individualidades, barreiras e necessidades.
- Crie e mantenha uma rotina: falamos sobre a importância da previsibilidade para crianças com autismo, pois, isso ajuda a construir uma segurança com a rotina e as ações do dia a dia. Além disso, quando existirem mudanças, é possível avisar com antecedência e diminuir frustrações;
- Use dos interesses da criança nas atividades: muitos interesses específicos e objetos de hiperfoco podem ser aproveitados para garantir a motivação e o engajamento da criança nas atividades acadêmicas. Os pais podem inserir esses temas, além de compartilhar com os professores para que eles possam ser usados em sala de aula;
- Pense em materiais adaptados: além do PEI, que a escola precisa garantir para o aprendizado do aluno, os pais podem transferir para a sala de aula materiais de apoio da criança, considerando aquilo que ela já usa, conhece e a partir das dificuldades que ela tem;
- Estabeleça um ponto de referência: muitas crianças atípicas tendem a sofrer com angústia de separação e nesse ponto, o distanciamento da família na escola pode ser um desafio. Se conseguir, tente construir um ponto de referência emocional para o autista, criando suporte nessa transição. Esse adulto será um grande auxílio para sinalizar quando algo sair do controle e facilitar a comunicação;
- Dê orientações precisam ser claras e diretas: seja em casa ou na sala de aula, a criança com TEA precisa ter um entendimento claro e objetivo do que é esperado em cada situação, facilitando a compreensão do que precisa ser feito. Aqui também é super válido usar recursos visuais como imagens, símbolos e fotos para mostrar o caminho para determinada ação;
- Estimule as atividades coletivas: atividades coletivas são muito importantes para aumentar a interação e socialização, por isso, sempre que possível, realize tarefas, atividades, brincadeiras e jogos em grupo. Mas lembre-se de respeitar o tempo da criança e ficar atento a reação dela nesses momentos.
Entendemos que existem diversos desafios e até mesmo novas perspectivas educacionais quando o assunto é inclusão do aluno autista em uma escola nova, mas esse é um ambiente muito importante para o aprendizado, diversidade, desenvolvimento e promoção de bem-estar para quem está no espectro.
Esse momento precisa de comunicação entre a família, a escola nova e a equipe multidisciplinar que acompanha o desenvolvimento da criança. Todos devem caminhar juntos para garantir acolhimento e carinho durante esse processo.
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