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Uma advogada extraordinária, série coreana que retrata o espectro autista.

Uma Advogada Extraordinária: conheça o drama coreano da Netflix sobre autismo

Esse conteúdo passou por revisão clínica de Alice Tufolo, Psicóloga e Conselheira clínica da Genial Care | CRP 06124238


 

O mundo das séries coreanas têm dominado cada vez mais as plataformas de streaming, como a Netflix. E quando o drama Uma Advogada Extraordinária chegou no catálogo, trazendo como protagonista uma advogada com autismo, apaixonada por direito, leis, kimbap e baleias, todo mundo se derreteu pelo carisma dela.

Em 2024, a série foi uma das mais assistidas no Brasil, ocupando a primeira posição no ranking semanal da plataforma durante meses consecutivos. Com produção já finalizada na Coreia, a série conta com 16 episódios no catálogo da Netflix.

Neste artigo, vamos falar sobre o drama Uma Advogada Extraordinária e como a representação do autismo na obra influenciou a comunidade autista. Continue lendo para aprender!

Conhecendo a série “Uma Advogada Extraordinária”

Uma advogada extraordinária é uma série sul-coreana produzida pela empresa ENA, no Brasil ela é licenciada e distribuída pela Netflix.

Ao todo são 16 episódios que narram o desenvolvimento profissional da advogada Woo Young-Woo, além de demonstrar a jornada de amadurecimento pessoal envolvendo a relação das pessoas à sua volta.

A advogada Woo é contratada por um dos escritórios mais conceituados da Coreia, a Hanbada. Junto a uma equipe de outros advogados recém-contratados, Woo demonstra ter memória fotográfica de todas as leis, e isso acaba sendo uma grande vantagem para o time em que atua.

Em cada episódio o espectador acompanha o desenrolar de um processo jurídico, com personagens que variam conforme o caso e o tema.

São raras as exceções onde o episódio é muito longo e acaba se dividindo, pois a dinâmica do drama é abordar rapidamente os casos e focar nas habilidades de Woo, enfatizando principalmente o seu desenvolvimento na parte de comunicação.

De início, os colegas de trabalho não têm paciência para a maneira de trabalho de Woo, que utiliza de suportes visuais para prosseguir com os casos, além de ter um profundo conhecimento por leis citadas a cada momento da conversa.

Entretanto, essas duas características se tornam fundamentais para casos futuros, oferecendo oportunidades para Woo participar de novos (e desafiadores) processos jurídicos.

A cada episódio conhecemos os casos que são acompanhados e defendidos pela advogada Woo, com os colegas de trabalho. Enquanto isso vemos o desenrolar do envolvimento dos personagens, surgindo até mesmo um interesse romântico entre Lee Jooh-Ho Lee (interpretado pelo ator Kang Tae-Oh), que também trabalha na mesma empresa, porém no setor administrativo.


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Dramas, séries ou doramas?

Você já deve ter visto muito desses termos por aí, uma vez que as séries coreanas vêm se popularizando aqui no ocidente.

Apesar das produções coreanas fazerem parte de adaptações ao longo dos anos, e serem inspirações para séries muito populares (The Good Doctor , por exemplo, é baseado em uma série coreana do mesmo nome, foi em 2019 com os Oscars de Parasite(filme sul-coreano de 2019), que muitas pessoas decidiram conhecer esse universo.

Aqui no Brasil temos o costume de classificar as séries coreanas como “doramas”. Essa palavra deriva de “drama”, que é como os coreanos se referem às produções audiovisuais.

O alfabeto coreano (o hangul) é bem diferente do nosso, por isso as consoantes “D”, “E” e “R” não podem ser proclamadas sozinhas, elas precisam de uma vogal no meio, então ao falar drama, para nós do ocidente soa como “Do” – “rama”. Foi aí que esse termo se popularizou no Brasil.

Uma Advogada Extraordinária e o autismo

Como falamos, o drama acompanha a personagem Woo Young Woo, uma advogada que acabou de se formar na faculdade de direito. Ela foi considerada uma das melhores alunas da universidade, tornando-se referência no país por ser a primeira advogada autista.

Entretanto, apesar de sua excelente classificação no exame da ordem, as empresas de advocacia recusaram oportunidades a Woo por ela ter a Autismo Leve, uma condição do neurodesenvolvimento que muda como as pessoas veem e compreendem o mundo.

O transtorno também faz é caracterizado por dificuldades na interação e comunicação social, além de padrões de comportamentos restritos e repetitivos, representados na personagem:

  • Woo se comunicava apenas com seu pai;
  • Não estabelece contato visual com desconhecidos;
  • Prefere comer kimbap, que consiste em arroz com legumes enrolado em algas (próximo ao sushi que conhecemos);
  • Possui amplo conhecimento sobre baleias, e os repete sempre que pode;
  • Ao se apresentar usa a frase de ação, remetendo-se ao seu nome engraçadamente.

“Meu nome é Woo Young Woo, mesmo que você leia de trás para frente, como: catraca, caneca, casaca, cômico e careca.”

Na série, a advogada é interpretada pela atriz Park Eun-Bin, que já é veterana no mundo dos dramas coreanos – estreando em 2003 na televisão.

Ela quase recusou o papel, pois estava envolvida em outra produção de sucesso (O Rei de Porcelana), mas a produção de Uma Advogada Extraordinária adaptou a agenda de gravações para que Eun-Bin participasse do drama.

Woo Young Woo existe na realidade?

Não, mas a personagem foi inspirada em uma pessoa real, a norte-americana Temple Grandin, uma cientista, zootecnista, designer industrial americana e escritora. Apesar do dorama não focar na parte científica, os produtores afirmaram que se inspiraram em Temple para desenvolver a protagonista. Outro motivo, é que os sul-coreanos adoram séries voltadas para o meio jurídico.

A principal inspiração veio através da forma que Temple e a personagem Woo aprendem: utilizando a imagem. Woo sabe diversos fatos sobre as baleias, que aprendeu com livros, jogos e filmes, além de saber localizar todas as leis.

Essa relação vai de encontro ao que Temple Grandin já citou, pois segundo ela, quando alguém diz a palavra “igreja”, sua mente não associa a palavra a uma imagem “genérica” do local, mas, sim, uma série de imagens de todas as igrejas que ela já conheceu e registrou em sua mente anteriormente.

Assim, ela só consegue compreender a palavra se já tiver visualizado uma imagem dela antes.

Mas afinal, a atriz Park Eun-Bin é autista?

Muito questionada após o sucesso da série, Park Eun-Bin respondeu essa questão em uma entrevista, a qual divulgava a série. E a resposta é: não, Park Eun-Bin não está no espectro autista, somente interpreta uma personagem com TEA.

Em entrevista à produtora sul-coreana ENA, Eun-bin falou sobre sua apreensão em assumir um papel tão desafiador:

“Eu era muito cautelosa, e tinha medo de criar um ‘pré-conceito’. Fiquei me perguntando ‘Está tudo bem para eu agir isso e aquilo?’. Então encontrei a resposta de que, em vez de pensar em atuar, preciso primeiro entender como me sinto sobre isso. Acrescentei a sinceridade de Park Eun-bin à sinceridade de Young-woo”.

Além disso, Eun-bin também descreveu como ela se preparou para o papel antes da produção do programa: “Encontrei um professor para pedir conselhos para interpretar um personagem com TEA, aprendi algumas características mais comuns presentes em algumas pessoas com autismo. O resultado dos meus estudos é Woo Young-woo que o público viu no dorama”.

Outros atores, que interpretam personagens autistas, também são muito questionados pelos fãs se estão ou não no espectro, é o caso do de Freddie Highmore, da série “The Good Doctor”, que interpreta o médico Shaun Murphy, que tem autismo e síndrome de Savant.

O que pessoas autistas acham de uma Advogada Extraordinária?

Apesar da série Uma Advogada Extraordinária ter sido um sucesso e trazer o universo do autismo para os telespectadores, é importante entendermos o que a comunidade do autismo e as pessoas autistas pensam sobre a representação de TEA.

Desde o lançamento da série sul-coreana Uma Advogada Extraordinária, muitos autistas ao redor do mundo compartilharam suas opiniões sobre a forma como a protagonista, Woo Young-woo, representa o espectro do autismo.

Muitas pessoas comentaram que a forma como a temática do hiperfoco é abordada é positiva. Em entrevista para o podcast Introvertendo, Alpin Montenegro e Wallace D’Lira, dois criadores de conteúdo sobre autismo, comentaram sobre o dorama.

“Eu acho que eles fazem uma pesquisa muito forte, que eles fazem muito bem. Já assisti três doramas com personagens autistas e todas as atuações foram impecáveis”, argumentou Alpin.

Já para Wallace “a produção da série, ela tentou pegar ali um pouquinho do Sam de Atypical e do doutor Shaun Murphy de The Good Doctor. Na questão do hiperfoco, por exemplo, há uma semelhança muito visível com o hiperfoco do Sam de Atypical, que é completamente diferente, mas há semelhanças entre as abordagens, né? Porém, eu achei que eles abordaram de uma forma muito realística”.

Por outro lado, muitos autistas criticaram o fato de que a personagem Woo Young-woo reforça estereótipos comuns, como:

  • Ser um gênio com habilidades extraordinárias (no caso dela, memória fotográfica e QI alto).
  • Apresentar dificuldades sociais muito exageradas e caricatas.
  • Ter hipersensibilidade sensorial retratada de forma dramática.

Essas representações podem passar a ideia de que todos os autistas são assim, invisibilizando a grande diversidade no espectro, especialmente aqueles que necessitam de mais suporte ou não possuem “super-habilidades”.

Em entrevista para a TAG Revista, Emilly Karolyne, mãe de uma criança autista, comenta que “exitem detalhes bem parecidos, mas não é completamente representativa porque, mais uma vez, aborda autista como um gênio, e isso não é uma regra”.

Nessa mesma entrevista, outra mãe atípica comenta sobre como a série tende a apresentar características específicas da protagonista como se isso fosse uma “padronização de todos os autistas”, o que pode levar a generalizações e falta de informação sobre a diversidade no espectro.

Alice Tufolo, conselheira clínica da Genial Care, destaca o quanto a representação na séria pode reforçar uma visão limitada do autismo:

“É relevante que a comunidade autista se sinta representada em séries e filmes, nesse sentido é de grande relevância ter um personagem principal autista em uma série. Ao mesmo tempo, a forma que ela foi representada destaca o perfil de “gênio solitário”, o que obscurece a diversidade dentro do espectro. Representar o autismo de forma plural seria essencial para promover uma real representatividade e compreensão, e não apenas a visibilidade”.

Outro ponto levantado pela conselheira é em relação a como apesar de haver uma representação, ela ocorreu a partir mais da ótica de outras pessoas do que da própria personagem.

“O fato do enredo girar mais em torno de como as pessoas veem a personagem, do que como ela percebe o mundo e os outros, reforça uma estigmatização de quem e o que é ‘normal’.”

Quanto como a personagem é representada no trabalho, Karly Brito, mãe atípica, fala que a série

mostra as dificuldades, a vivência em relações de trabalho, a dificuldade em se permitir questionar amadurecimento, e a baixa valorização de forma explícita de mérito que é da pessoa autista.”

Uma advogada extraordinária vai ter segunda temporada?

Uma notícia de que uma Advogada Extraordinária foi renovada para a 2ª temporada foi lançada alguns anos atrás. Com um comentário de Lee Sang-baek, da ASTORY, estúdio de produção responsável pela série, foi possível confirmar a próxima temporada.

“Graças ao apoio de muitos espectadores, Uma Advogada Extraordinária vai retornar para a segunda temporada. Esperamos lançar os novos episódios em algum momento de 2024. O processo de ajustar as agendas do elenco e equipe será um grande desafio. Porém, planejamos seguir com a segunda temporada sem nenhuma mudança no elenco e equipe.”

Infelizmente, até o momento não tivemos mais nenhuma novidade sobre as próximas temporadas de Uma advogada extraordinária.

Enquanto isso, você pode maratonar outras séries onde os protagonistas são autistas, é só clicar no botão abaixo para conferir:

6 filmes e séries que abordam o autismo

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