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Você já ouviu falar que algumas crianças têm seletividade alimentar? Apesar de ser algo mais comum na infância, quando falamos de pessoas autistas, essa é uma barreira de alimentação presente na rotina ao longo da vida.
Diferente de “gostar” ou “não gostar” de algum alimento por preferências, a seletividade alimentar inclui a
recusa alimentar, um repertório restrito de alimentos e até mesmo a ingestão frequente de um único tipo de alimento.
Como a alimentação é um assunto bastante delicado e que impacta diretamente a rotina das famílias, sejam elas típicas ou atípicas, é muito importante entender o que é a essa seletividade alimentar no autismo e como ajudar a tirar a angústia e barreiras na hora de comer.
Para ajudar você a entender melhor sobre o assunto, neste artigo vamos falar sobre o que é a seletividade alimentar, qual seu impacto na vida de pessoas com TEA e como o fonoaudiólogo pode ajudar com esse comportamento desafiador. Continue lendo para aprender!
O que é seletividade alimentar?
Seletividade alimentar é o ato que a criança (ou o adulto) tem de rejeitar alguns alimentos ou grupos alimentares, gerando, muitas vezes, desinteresse pela comida, falta de apetite ou até náuseas e vômitos.
As principais características da chamada seletividade alimentar são:
- Comer uma pequena variedade de alimentos,
- Apenas comer alimentos com os mesmos padrões sensoriais (cor, textura etc),
- Recusa em experimentar novos alimentos.
Aproximadamente um quarto de todas as crianças têm problemas alimentares nos primeiros anos de vida, porém a taxa é de 80% em crianças com algum atraso de desenvolvimento.
A seletividade alimentar reduz a dieta da criança e/ou adulto, empobrecendo a variedade de nutrientes e frustrando a família, por gerar estresse e complicar o dia a dia na escolha e no preparo das refeições.
Devido a esse padrão alimentar rígido, é comum que pessoas com um comer seletivo não atinjam as necessidades nutricionais para um desenvolvimento saudável, já que a variedade de alimentos consumidos é bastante limitada.
Isso faz com que haja déficits de nutrientes necessários para o funcionamento adequado do organismo.
O que causa a seletividade alimentar?
A principal causa da seletividade alimentar no autismo é por conta das texturas dos alimentos. Como esse é um processo sensorial, que envolve muitos sentidos do corpo humano, a pessoa com TEA pode ter barreiras com aquilo.
A seletividade alimentar pode rejeição acontecer por diversos fatores, como:
- Cheiro;
- Cor;
- Temperatura;
- Sabor;
- Forma;
- Textura, por exemplo, quando o alimento é pastoso, crocante ou seco;
- Aspecto visual e tamanho.
Além desses fatores, também é comum observar seletividade alimentar gerada por uma dificuldade sensoriomotora que causa falta de habilidade para morder, mastigar ou engolir.
Com que idade a seletividade alimentar aparece?
Geralmente, a seletividade alimentar surge antes dos 6 anos, no início da infância, sendo um padrão comportamental bastante comum de ser visto por pais e profissionais.
Apesar de alguns estudos apontarem que esses padrões alimentares rígidos melhoram com o passar do tempo, adolescentes e adultos no espectro apresentam maiores taxas de seletividade alimentar, do que seus pares neurotípicos.
Em uma pesquisa realizada na Holanda em 2015, foram descritos dados de que 46% da população geral de crianças apresenta algum tipo de seletividade alimentar. Enquanto, uma a cada dez crianças apresenta padrões de restrição severos.
Devido a essa relação entre seletividade e autismo, veremos a seguir quais são os impactos na saúde que a seletividade alimentar causa e como lidar com eles.
Como é a seletividade alimentar no autismo?
Você já parou para pensar que comer é uma das experiências mais sensoriais que temos? Exatamente por isso, a seletividade alimentar é algo muito presente na vida de pessoas autistas.
Cada situação é única, mas em muitos casos há a dificuldade e/ou recusa da criança de experimentar alimentos novos, pelo fato de que, ao comer, as crianças no espectro autista recebem interferência de estímulos sensoriais.
A rigidez é caracterizada como a relutância em:
- Experimentar novos alimentos;
- Ter um pequeno repertório de alimentos aceitos;
- Não realizar as refeições em horários e locais diferentes;
- Resistir à apresentação de pratos e tipos de utensílios novos;
- Comer alimentos específicos em lugares específicos;
- Comer alimentos da mesma cor ou marca.
Em outros casos, estar preso a rotina também não é nada motivador para uma criança em processo de crescimento e descobrimento.
Apesar desse padrão alimentar também ser visto em pessoas com desenvolvimento típico, a seletividade alimentar é frequentemente associada ao diagnóstico de Transtorno do Espectro Autismo (TEA), já crianças autistas têm 5 vezes mais chances de apresentarem dificuldades alimentares, do que crianças neurotípicas.
Em 2010, a University of Massachusetts Medical School realizou uma pesquisa comprovando que cerca de 67% das crianças no espectro autista apresentam transtorno ou seletividade alimentar.
Além disso, a seletividade alimentar também pode aparecer por dificuldades de modulação sensorial da audição, visão, olfato, paladar e toque, rejeitam o alimento.
Por outro lado, quando não há fatores orgânicos identificáveis, a questão alimentar pode ser considerada manifestação de interesses restritos e comportamento de rigidez, que também são características do autismo.
A seletividade alimentar é um transtorno alimentar?
Quando pensamos em Transtornos Alimentares (TA) é comum associarmos a preocupações com peso e imagem corporal, que são aspectos característicos dos TAs mais conhecidos como: Anorexia (AN), Bulimia (BN) e Compulsão Alimentar (CA).
Apesar dessas preocupações serem realmente frequentes nos quadros mencionados acima, existem transtornos que não giram em torno desses aspectos. É o caso do Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), incluído em 2013 na quinta edição do DSM.
Os critérios diagnósticos do TARE são bastante parecidos com os descritos acima relacionados à seletividade alimentar.
O que os diferencia é a intensidade do sofrimento emocional e o risco à saúde causado pelos comportamentos restritivos. Inclusive, muitas vezes o grau de sofrimento associado a essa condição pode ser semelhante ao vivido em quadros graves de transtornos alimentares, como na anorexia.
Os efeitos do TARE podem ser muito graves, tanto que em um artigo do The Guardian, de 2019, é relatada a história de um menino, na época com 12 anos, que perdeu permanentemente a visão, em decorrência da má nutrição, já que por sua dieta altamente restritiva não eram consumidos os nutrientes necessários.
Por isso, é preciso que pais e profissionais conheçam mais sobre esse quadro e sobre quais formas de atuação podem ajudar crianças e adultos com TEA que também apresentam TARE.
Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE) e autismo
É comum que crianças neurotípicas e atípicas apresentam fases de recusa ou seletividade alimentar. Porém, aqueles diagnosticados com TARE têm um padrão alimentar rígido, pervasivo e consistente, causando problemas para:
- O desenvolvimento saudável e manutenção das funções corporais: já que não são consumidos os nutrientes e calorias necessárias;
- Socialização: já que há evitação de diferentes alimentos, diferentes preparações e diferentes apresentações das comidas.
Esse quadro diagnóstico é frequentemente visto em crianças e adolescentes autistas. Alguns estudos apontam que 20% daqueles diagnosticados com TARE também têm TEA.
Dentre os principais sinais do TARE estão:
- Pouco interesse em alimentos e em comer;
- Evitação de alimentos baseada em suas características físicas: cor, textura, cheiro;
- Medo de engasgar, vomitar ou se contaminar ao experimentar alimentos diferentes;
- Queixas de dores de estômago ou sensação de estufamento perto das refeições;
- Perda de peso;
- Fadiga;
- Problemas de sono;
- Comprometimento social.
5 dicas para ajudar crianças com seletividade alimentar
Além de acompanhar a criança autista em frequentes consultas com o fonoaudiólogo, é preciso colocar as estratégias em prática, para que o momento da refeição deixe de ser complexo e desafiador.
Já que é no círculo familiar que acontecem a maior parte das refeições, pais e cuidadores podem ficar atentos aos comportamentos alimentares da criança.
A ação de comer corresponde a uma cadeia de comportamentos complexos, que possuem diversas etapas. A organização do ambiente, a maneira de ofertar o alimento e o treino alimentar tornam a experiência mais agradável para a criança.
Afinal, o que fazer para ajudar a criança na aceitação do alimento? Para facilitar a alimentação da criança, alguns passos podem ser seguidos:
1. Estruture a rotina
Quando falamos em alimentação, criar um passo a passo para familiarizar a criança com a hora de comer ajuda muito na seletividade alimentar do autismo! Influencie ela a ajudar no preparo para a refeição, como: organizar a mesa, lavar as mãos e sentar à mesa com os familiares.
2. Incentive o processo de descoberta
Deixe que a criança sinta os alimentos, tocando-os mesmo que seja um “momento de bagunça”. É muito importante para que ela se familiarize com o que vai levar à boca. Comer junto a outras pessoas da família também as motiva para experimentarem algo desconhecido, pois se todo mundo está comendo, a criança pode ficar curiosa e experimentar.
3. Ofereça alimentos variados
Converse com a sua equipe multidisciplinar que acompanha esse processo, e descubra quais alimentos podem ser oferecidos para a criança. O fonoaudiólogo poderá indicar um bom caminho a seguir para potencializar e estimular o que é feito nos atendimentos, juntamente com um nutricionista que indicará a melhor fonte de nutrientes.
4. Estimule-a
Celebre cada alimento novo que a criança comer. Convide-a para cozinhar junto com você, lavar legumes e verduras, e deixe que ela participe da seleção dos alimentos, assim a relação com a alimentação se torna cada vez melhor.
5. Conheça onde está a dificuldade da criança e estabeleça as etapas de aproximação
Por exemplo: se a criança tem dificuldade com o cheiro do alimento no prato, você pode fazer uma brincadeira na cozinha enquanto o almoço está sendo preparado. Assim, a criança estará exposta ao cheiro, mas fazendo algo que não seja relacionado a ingerir o alimento.
Toda família quer que a criança se alimente da melhor forma possível, para ter um desenvolvimento saudável. Mesmo que a seletividade alimentar no autismo tire a paz de muitos pais, é preciso lembrar de que a criança precisa de um estímulo certo, com uma equipe multidisciplinar que potencialize o desenvolvimento dela.
Nunca force a criança a comer e nem faça combinados que a fará comer por ser uma troca. O prazer da alimentação deve ser o grande motivador e não algo externo, como, por exemplo, comer para poder assistir televisão.
Como trabalhar a seletividade alimentar com a fonoaudiologia?
Este trabalho é muito amplo e específico, a fonoaudiologia é uma parte importante do tratamento, mas é necessário um trabalho conjunto com a equipe multidisciplinar, com Terapeutas Ocupacionais, Nutricionistas, Psicólogos, entre outros.
Cada caso deverá ser analisado cuidadosamente para definir quais os estímulos corretos para cada criança.
No geral, a fonoaudiologia pode auxiliar no diagnóstico e no processo terapêutico, diretamente.
O fonoaudiólogo pode fazer a terapia alimentar com o objetivo de aumentar o número de alimentos que a criança consome, além de ser um profissional com expertise nas funções que estão relacionadas com a alimentação (respiração, sucção, mastigação e deglutição).
Porém, vale lembrar que, por se tratar de um problema multifatorial, o ideal é ter um acompanhamento multidisciplinar.
Quando os estímulos são trabalhados em conjunto a um terapeuta ocupacional, os profissionais oferecem:
- Estímulos táteis;
- Contato com as diversas texturas;
- Treino motor e
- Apresentação de novos alimentos.
O que é um momento comumente reportado pelos pais como grande estresse e muita recusa.
Durante a estimulação são trabalhados todos os sistemas: olfato, visão, audição, paladar, vestibular e proprioceptivo, e a família participa, reproduzindo essa interação em casa.
Como a Genial Care pode auxiliar as crianças com autismo?
Para evitar que haja complicações sérias decorrentes da seletividade alimentar em crianças com TEA, é importante que pais e profissionais fiquem de olho nos seguintes aspectos:
- A criança tem apresentado ganho de peso e altura adequados?
- A criança consome alimentos de todos os grupos alimentares?
- Há restrição de algum tipo de textura, cor, cheiro?
- Há restrição de algum tipo de preparo ou apresentação do alimento?
- Há restrição quanto ao contexto no qual há consumo alimentar?
- Há medo excessivo de engasgar, vomitar ou se contaminar com alimentos evitados?
Caso seja avaliado haver comprometimento nesses aspectos, é necessária a busca por ajuda especializada quanto antes, para assim evitar complicações decorrentes da má nutrição, como, por exemplo, dificuldades de sono, fadiga e comprometimento social.
Aqui na Genial Care cuidamos para que as crianças com TEA e suas famílias alcancem seu máximo potencial, unindo a tecnologia a uma equipe multidisciplinar de desenvolvimento, com profissionais especializados em TEA — inclusive fonoaudiólogos.
Por isso, estamos disponíveis para entender mais sobre a seletividade alimentar da sua criança e encontrar estratégias efetivas para um futuro com mais qualidade de vida e autonomia.
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Conclusão
A seletividade alimentar no autismo é um desafio complexo, mas com a intervenção adequada de um fonoaudiólogo especializado, muitas crianças podem expandir suas dietas e melhorar sua qualidade de vida.
Lembramos que cada criança é única, e as estratégias de tratamento podem variar. Portanto, é essencial buscar orientação profissional para determinar a melhor abordagem para seu filho.
Com a intervenção adequada, é possível superar esse desafio e promover uma alimentação saudável e equilibrada. Já temos um conteúdo sobre Escalada do Comer que pode ajudar na sua busca por informações, leia agora: