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Você já ouviu falar em CripFace? Essa prática tem gerado controvérsias na representação de pessoas com deficiência ou pessoas atípicas na mídia, como filmes e séries.
Além de ser algo bastante ofensivo, está também diretamente relacionado ao capacitismo, por não promover representatividade e inclusão de PCDs em produções audiovisuais.
Isso porque, a representação de pessoas com deficiência em diversas esferas da sociedade, é um tema importante para a conscientização sobre as diversas questões relacionadas à deficiência, além de quebrar estereótipos de que essas pessoas não são capazes de se tornarem atores.
Exatamente por isso, a prática do CripFace muitas vezes gera representações estereotipadas e pouco precisas, o que pode perpetuar preconceitos e discriminação.
Para ajudar você, neste texto falaremos mais sobre essa prática controversa que tem gerado debates na indústria do entretenimento. Acompanhe na leitura!
O que é CripFace?
O termo “CripFace” se refere a uma técnica de elenco que consiste em contratar atores sem deficiência ou transtornos para interpretar personagens com deficiência ou neurodivergentes em filmes, séries e peças de teatro.
Quando pensamos em deficiência ocultas ou transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, o CripFace é algo que potencializa o mimetismo interpretado por artistas típicos, retratando vivências que não correspondem com a realidade das pessoas no espectro.
Exatamente por isso, essa prática tem sido criticada por muitas pessoas, que argumentam que ela reforça estereótipos e impede a representação autêntica das experiências e histórias de vida das singularidades de pessoas neurodivergentes e PCDs.
O CripFace está intimamente ligado ao capacitismo, que é a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência, e seu combate é fundamental para promover uma cultura de respeito e inclusão.
Qual a origem do termo “Cripface”?
Ele surgiu nos Estados Unidos como forma derivada de duas palavras em inglês: crippled (sinônimo de disable que significa deficiência) e face (que significa rosto).
Essa terminologia referir-se a outra prática antiga, chamada de BlackFace — quando artistas brancos pintavam seus corpos para representar pessoas negras, de forma exagerada e sempre associada a piadas.
Assim, o termo Cripface surgiu nas redes sociais e na cultura online como uma derivação do BlackFace, como uma forma de simular ou imitar uma deficiência, seja física ou mental, muitas vezes de forma caricatural e ofensiva, com o objetivo de entretenimento ou zombaria.
Você sabe o que significa o termo #CripFace? Segue a thread que vamos explicar! 🧶 pic.twitter.com/XNAGKrJCoc
— Genial Care (@genialcare) June 14, 2023
Por que o CripFace é inadequado?
Primeiramente, ao usar atores sem deficiência para interpretar papéis de pessoas com deficiência, perpetua-se a ideia de que as próprias pessoas com deficiência não são capazes de representar a si mesmas. Isso desvaloriza suas experiências e exclui oportunidades para atores PCDs.
Além disso, o CripFace pode levar à perpetuação de estereótipos prejudiciais. A representação inadequada pode reforçar visões simplistas e distorcidas sobre as deficiências, criando uma imagem limitada e pouco realista das vidas e habilidades dessas pessoas.
Precisamos lembrar que: a representatividade autêntica é fundamental para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa!
É essencial que as vozes e experiências de todas as pessoas, sejam elas PCDs ou neurodivergentes, sejam ouvidas e representadas de maneira correta e precisa.
Ao dar espaço para atores com deficiência e garantir que suas histórias sejam contadas, estamos promovendo a valorização da diversidade e combatendo estereótipos prejudiciais que foram construídos ao longo da história.
Como o Cripface se relaciona com o capacitismo?
O capacitismo refere-se à discriminação e ao preconceito contra pessoas com deficiência. Assim, o CripFace está intrinsecamente ligado ao capacitismo, pois utiliza a deficiência como objeto de diminuição e desrespeito.
Essa prática perpetua a ideia de que as pessoas com deficiência são inferiores ou merecem ser alvo de risadas, ou até que não podem fazer papéis de si mesmas.
Com isso, acreditamos que elas precisem ser substituídas por alguém que não tenha deficiência, o que apenas reforça as barreiras sociais que enfrentam.
Dessa forma, ao participar do CripFace, a sociedade contribui para a normalização do capacitismo, tornando mais difícil para as pessoas com deficiência serem aceitas e respeitadas em todos os aspectos da vida cotidiana.
Exemplos de CripFace com personagens autistas
Um dos primeiros e principais marcos de representações de pessoas autistas na indústria cultural é com o personagem Raymond Babbit, no filme Rain Man de 1988 e interpretado pelo ator Dustin Hoffman.
O longa chegou a ganhar oito estatuetas no Oscar de 1989, e acabou ajudando a consolidar um estereótipo de pessoa autista ligado ao do personagem, com muitas dificuldades de interação social, inteligência de “gênio” em matemática e pouco sentimental.
Mas, com o passar do tempo e o aumento das discussões sobre o TEA, além do entendimento de que o autismo é um espectro e as pessoas são únicas, muitas pessoas entendem que essa é uma representação falha e que não condiz com a realidade.
Além desse exemplo, uma produção mais recente que chamou a atenção da comunidade autista e gerou bastante críticas, foi o filme Music, escrito e dirigido pela cantora Sia, que recentemente compartilhou abertamente seu diagnóstico de autismo.
O filme de 2021 conta a história de uma adolescente autista — representada por uma atriz fora do espectro (Maddie Ziegler) — que perde a família e precisa de cuidados da sua meia-irmã.
As críticas apontam que a personagem exibe vários comportamentos estereotipados, como alguém que vê o mundo de forma completamente diferente, tem traços exagerados que não correspondem aos níveis de necessidade e suporte conhecidos e se comporta de maneira extremamente infantilizada, mesmo sendo uma adolescente.
Conclusão
Como falamos, o CripFace é uma forma de discriminação contra pessoas autistas, PCDs e neurodivergentes no geral, potencializando crenças capacitistas e esteriótipos criados pelo imaginário social.
Essa é uma discussão que precisa ser ampliada para gerar mais representatividade e inclusão de atores atípicos e PCDs em toda a indústria cultural, sejam em filmes, séries, televisão ou teatro.
É fundamental que toda a sociedade entenda essa questão da sub-representação e incluam cada vez mais pessoas, de todos os tipos, como personagens com as mesmas características.
Um ótimo exemplo de produção audiovisual feita com sobre e com pessoas autistas é a série Amor no Espectro, vencedora do Emmy Internacional. Já temos um conteúdo completo sobre ela, vale a pena ler: