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A intervenção precoce é um dos pilares para o aprendizado de crianças com sinais de atraso no desenvolvimento.
Por meio dela, profissionais capacitados e a família podem estimular a criança de modo a trabalhar habilidades ainda não adquiridas e evitar que esse atraso se transforme em mais dificuldades ainda no futuro.
Isso sempre aproveitando a neuroplasticidade do cérebro infantil para criar esses momentos de aprendizagem contínuo e garantir estímulos corretos e direcionados durante o crescimento.
Para este texto, conversamos com Celine Saulnier, psicóloga clínica com mais de 20 anos de experiência em diagnóstico de TEA e distúrbios do neurodesenvolvimento.
Aqui, você entenderá quando uma intervenção pode ser considerada precoce, qual a importância das práticas baseadas em evidências no autismo e como escolher a melhor equipe para iniciar as intervenções em crianças com suspeita ou diagnóstico recente de autismo. Leia até o final!
O que é uma intervenção precoce?
A intervenção precoce refere-se a estratégias e terapias implementadas em crianças com autismo desde os primeiros sinais de desenvolvimento atípico, antes mesmo de existir um diagnóstico fechado.
Por meio dessa abordagem proativa, os profissionais conseguem melhorar habilidades sociais, emocionais, comunicativas e cognitivas.
Quando falamos em autismo, a intervenção precoce por meio das práticas baseadas em evidências é indicada mesmo se ainda há apenas uma suspeita de que aquela criança possa estar no espectro.
Isso porque, estudos mostram que, quanto mais cedo for iniciada, maiores as chances de reduzir comportamentos desafiadores e ajudar no desenvolvimento de curto e longo prazo da criança.
Dessa forma, a intervenção precoce entende que pela neuroplasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar, é possível criar oportunidades de aprendizagem desde cedo, especialmente durante os primeiros anos de vida, contribuindo para o desenvolvimento infantil.
“As crianças certamente podem progredir em idades maiores, mas a taxa de ganho pode ser mais lenta. Quanto mais os atrasos ficam sem solução, maior o risco da criança de desenvolver comportamentos desafiadores para compensar as habilidades de comunicação mais funcionais limitadas (por exemplo, agressão, autolesão, colapsos comportamentais), resultando em um aumento da necessidade de intervenções adicionais”, explica Celine.
Quando uma intervenção é considerada precoce?
A idade para uma intervenção ser considerada precoce varia em alguns países. Nos Estados Unidos, por exemplo, país onde Celine atua, ela é precoce quando a criança tem entre 0 e três anos de idade, mas em alguns estados esta faixa etária pode aumentar até cinco anos.
Já no Brasil, esta intervenção é definida como precoce quando acontece na primeira infância, o que segundo o Ministério da Saúde é de 0 a 6 anos.
No entanto, conforme a especialista em análise do comportamento aplicada ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e profissional da Genial Care, Lívia Bomfim, os profissionais clínicos consideram, também, o que chamam de primeiríssima infância.
“Na definição do que é primeira infância, existe esse primeiro momento, de que vai dos 0 aos 3 anos, em que a neuroplasticidade está no ápice e a estimulação precoce pode trazer resultados mais rápidos”, explica ela.
Intervenção precoce no autismo
Seja com diagnóstico ou apenas com a suspeita, a intervenção precoce também é essencial no caso de autismo.
“Numerosos estudos demonstraram que a intervenção precoce está fortemente associada ao resultado ideal. Quando os atrasos de linguagem e/ou desenvolvimento são identificados precocemente, a intervenção para ensinar e promover essas habilidades ajuda a fechar a lacuna nos atrasos”.
“O resultado ideal é diferente para cada criança, mas o objetivo deve ser aumentar a capacidade da criança de ser o mais independente e autossuficiente possível na vida. Fechar lacunas nos atrasos cognitivos, de linguagem e de comportamento adaptativo está associado a uma maior independência na idade adulta”, pontua Celine.
Ela ainda reforça que não é necessário ter um diagnóstico de autismo para iniciar a intervenção.
“Em muitos casos, infelizmente, pode haver longos tempos de espera para obter uma avaliação diagnóstica abrangente. Se um diagnóstico for necessário para serviços de reembolso de seguro, obter qualquer diagnóstico pode ajudar a iniciar pelo menos alguns dos serviços”, reforça a psicóloga.
“Por exemplo, às vezes é mais fácil obter uma avaliação de fala para documentar um atraso de linguagem para iniciar serviços de fala (semelhante para avaliações ocupacionais e/ou fisioterapia para atrasos motores finos e grossos, respectivamente). Isso pelo menos permite que alguma intervenção comece antes que uma intervenção mais abrangente possa ser implementada após o diagnóstico de TEA”, explica.
Apesar disso, ela alerta para o fato de que a intervenção precoce não significa uma “cura” para o autismo!
Uma vez que o TEA não é considerado uma doença, as terapias visam abordar comportamentos desafiadores (aqui entram desregulação comportamental, agressão, automutilação, deficiências do funcionamento executivo, atrasos de comportamento adaptativo etc.) e atrasos no desenvolvimento.
Como escolher a melhor equipe para intervenção precoce no autismo
Por apresentar déficits em várias áreas, pessoas no espectro do autismo precisam de uma equipe multidisciplinar especialista em práticas baseadas em evidências, conjunto de procedimentos para os quais os pesquisadores forneceram um nível aceitável de pesquisa que mostra que a prática produz resultados positivos para crianças, jovens e ou adultos com TEA.
Nesse caso, podemos dizer que a utilização desses resultados de pesquisas, por exemplo, serve como ferramenta para atingir a evolução com as necessidades do indivíduo. Ou seja, não é um “achismo” – funciona mesmo tendo sido comprovado!
Além disso, é essencial que essa equipe também seja especialista em autismo. Mas a principal característica da intervenção precoce, segundo Celice Saulnier, é a individualidade.
“A intervenção também precisa ser individualizada com base nas necessidades específicas da criança para ser mais eficaz, e essas necessidades podem mudar com o tempo”.
“Tende a haver um equívoco de que mais horas de intervenção direta resultam em melhores resultados. No entanto, a qualidade dos serviços é mais importante do que a quantidade. Um estudo mostrou que a intervenção precoce intensiva consiste em ‘até 25 horas/semana’ de serviços, mas isso inclui serviços diretos, serviços educacionais e estratégias implementadas pelos pais”.
Presença parental: ponto-chave no desenvolvimento da criança com autismo
“Os pais são as figuras mais importantes na vida de uma criança e, como tal, são fundamentais para ajudar a promover o desenvolvimento de seu filho. Por esse motivo, é imperativo incluí-los no programa de intervenção de seus filhos”, afirma Celine.
“Todos os programas de intervenção devem incluir educação dos pais, coaching e treinamento sobre as estratégias, apoios, acomodações e modificações necessárias para promover o desenvolvimento de seus filhos”.
“Os pais não devem sentir que precisam ser um ‘terapeuta’ adicional para seus filhos, mas sim aprender os apoios necessários para aumentar o envolvimento social de seus filhos em contextos diários naturalistas”, conclui.
Estratégias de Intervenção Precoce
A intervenção precoce foca em estimular o desenvolvimento em várias áreas, incluindo cognição, linguagem, habilidades motoras e comportamento social. Dessa forma, ela consegue promover a independência e a autonomia da criança.
Para isso, é preciso que a equipe multidisciplinar responsável pelo desenvolvimento da criança, crie estratégias de intervenção precoce individualizadas e de acordo com o perfil específico dela.
Essas estratégias podem ser feitas a partir de abordagens científicas de intervenção como: ABA, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, por exemplo.
Análise Comportamental Aplicada (ABA)
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência da aprendizagem que quando utilizada como embasamento para o atendimento de pessoas com transtornos do desenvolvimento como, por exemplo, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Ela foca em promover o ensino de novas habilidades e a ajudar a lidar com comportamentos desafiadores. Por meio dela os terapeutas conseguem fazer uma análise dos comportamentos, saber quais as influências ambientais disso e traçar estratégias que permitam ensinar novas habilidades.
Fonoaudiologia
Muitas crianças autistas enfrentam desafios na comunicação e interação social. Assim, a intervenção precoce focaliza na fonoaudiologia olha para essas habilidades, ajudando a criança a se comunicar de maneira mais eficaz e a se envolver em interações sociais significativas.
Existem algumas estratégias e abordagens que podem ser utilizadas pelos profissionais de fonoaudiologia, como a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e as pranchas de comunicação, como a PECS.
Terapia Ocupacional
Intervenções sensoriais feitas pela Terapia Ocupacional são uma excelente forma de diminuir a hiper ou hipossensibilidade das pessoas no espectro, e permitir menor desconforto com as sensações do mundo ao redor.
Através da T.O. é possível ajudar as pessoas a desenvolverem as habilidades necessárias para desempenhar as atividades diárias de forma independente e significativa.
Isso quer dizer que ela ajuda na promoção, desenvolvimento e manutenção das atividades funcionais da rotina. Para pessoas com TEA, isso pode incluir tarefas como vestir-se, comer, comunicar-se e participar de atividades sociais, por exemplo.
Conclusão
A intervenção precoce é uma estratégia fundamental no desenvolvimento de crianças atípicas, assim como o autismo. Ela consegue proporcionar melhores chances de autonomia e integração social.
Ao procurar ajuda de profissionais especializados, os pais e pessoas cuidadoras estão dando o primeiro passo em direção a um futuro mais independente e inclusivo para suas crianças.
Importante lembrar que ao falarmos sobre a intervenção precoce no autismo, é fundamental entendermos que cada criança é única, e a abordagem terapêutica deve ser personalizada para atender às suas necessidades específicas.
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