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habilidades sociais autismo: crianças brincando

Habilidades sociais no autismo: entenda o que são e conheça métodos para treiná-las

Habilidades sociais é um termo muito ouvido quando falamos em autismo, isso porque, esse conjunto de comportamentos é um dos maiores alvos trabalhados nas intervenções para TEA.

Porém, muitas vezes pais e pessoas cuidadoras, têm dificuldade de entender quais, de fato, são os comportamentos que englobam as habilidades sociais e quais as possíveis formas de desenvolvê-los e treiná-los para o dia a dia a da criança.

Vale lembrar que o treino das HS (como são conhecidas) pode ser benéfico para pessoas autistas de todas as idades, até mesmo aquelas que receberam o diagnóstico tardiamente, na vida adulta.

Nesse texto iremos explorar esse assunto e te ajudar a entender o que são habilidades sociais, qual a importância desses comportamentos e quais formas de atuação existem para o ensino dessas competências. Vamos lá?

O que são habilidades sociais?

As habilidades sociais são todas as competências que uma pessoa tem ao interagir de maneira saudável, produtiva e eficiente com aqueles que estão à sua volta. Assim, de forma prática, elas representam o conjunto de habilidades que podemos desenvolver para nos conectarmos e interagirmos com o mundo e outras pessoas.

Mas é importante entendermos, que não existe nas pesquisas científicas um consenso fechado de quais comportamentos fazem parte das chamadas habilidades sociais.

Inicialmente, os estudiosos desse campo descreviam habilidades sociais como “comportamentos assertivos (expressão de sentimentos negativos e defesa de direitos pessoais)”.

Porém, mais recentemente houve esforços para incluir outros comportamentos no conjunto de habilidades consideradas sociais, como a de comunicar sentimentos positivos.

Apesar disso, muitos pesquisadores continuam buscando novas descobertas e definições para descrever e definir este campo.

Esse é o objetivo do artigo “Habilidades sociais e análise do comportamento: compatibilidades e dissensões conceitual-metodológicas”, no qual os autores apresentam diversas propostas de organização da área.

Uma das propostas descritas é a de Del Prette (2001), que propõem a seguinte categorização das habilidades sociais:

  • Comunicação,
  • Civilidade,
  • Assertivas de enfrentamento,
  • Empáticas,
  • De trabalho,
  • De expressão de sentimentos positivos.

Habilidades sociais e autismo

Todas as crianças, sejam elas com desenvolvimento típico ou atípico, precisam aprender como emitir esses comportamentos para que se desenvolvam de maneira saudável.

Porém, em alguns casos é necessário que haja um contexto especial para o treino dessas habilidades, este é o caso de algumas pessoas autistas.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.

Dessa forma, um dos aspectos mais comuns apresentados por pessoas no espectro é um déficit, em maior ou menor grau, nesse conjunto de comportamentos sociais.

Esses déficits, se não aprimorados, podem causar dificuldades em muitas áreas da vida, como, por exemplo: nas relações sociais, nas habilidades acadêmicas e na inclusão do mercado de trabalho.

Alguns pesquisadores indicam que, se essas dificuldades não forem alvo de intervenções, com a chegada da adolescência, podem piorar.

Pois nesse período as relações sociais se tornam mais complexas, deixando mais evidente essa lacuna, aumentando o isolamento e o sofrimento relacionado a isso.

Inclusive, há evidências de que déficits sociais predizem alterações de humor e problemas de ansiedade.

Dessa forma, entender como trabalhar e treinar as habilidades sociais no autismo é importante tanto para profissionais quanto para o núcleo familiar que atua em conjunto no desenvolvimento da criança no espectro, potencializando oportunidades de aprendizado.

Como trabalhar habilidades sociais com autismo?

Assim como para outros déficits e barreiras de aprendizado, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é indicada para intervir nas dificuldades sociais de pessoas com TEA.

Isso porque as terapias ABA focam em promover o ensino de novas habilidades e ajudam a lidar com comportamentos desafiadores da rotina, criando generalizações para diversos ambientes, como casa e escola, por exemplo.

Existem diversas formas de treinar esse conjunto de comportamentos. A seguir seguem estratégias possíveis para o ensino de habilidades sociais:

Abordagem Personalizada

Primeiro, não importa qual a estratégia usada para treinar ou desenvolver as habilidades sociais, é fundamental que exista uma abordagem personalizada para crianças ou adultos no espectro do autismo.

Isso porque cada pessoa é única, e suas necessidades específicas devem ser consideradas no desenvolvimento de métodos e ações.

Intervenção Precoce

A intervenção precoce desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de habilidades sociais. Quanto mais cedo as estratégias forem implementadas, maiores são as chances de progresso significativo da criança.

E vale ressaltar que não é necessário um diagnóstico de autismo fechado para iniciar as intervenções precoces!

Histórias sociais

Histórias especialmente desenvolvidas para o ensino de alguma habilidade social específica, são excelentes para desenvolver habilidades sociais, como interação, comunicação e trocas.

Por exemplo: é possível criar uma história na qual há um conflito solucionado pelo personagem utilizando algum tipo de competência social, como a troca com outros.

Intervenções mediadas por pares

O ensino de alguma habilidade por meio da interação da criança com TEA com seus pares é uma estratégia que faz parte do conjunto de práticas baseadas em evidências.

Com ela os pares promovem diretamente as relações sociais das crianças com autismo, entre outras habilidades e objetivos individuais de aprendizagem.

O adulto organiza o contexto social (grupos de brincadeiras, e contatos sociais) e quando necessário fornece suporte (fornece sugestões e reforço) às crianças com autismo para que elas possam interagir com seus pares.

Modelação por vídeo

A modelação é outra PBE, focada na aquisição de comportamentos por meio da observação e duplicação de comportamentos feitos por outra pessoa (ou organismo no termo mais técnico).

Aqui, vídeos de pessoas realizando algum dos comportamentos alvo da intervenção, com o objetivo da criança imitar o comportamento em contexto semelhante, são passados para garantir que a criança consiga reproduzir aquele comportamento.

Ela é uma forma prática de aumentar o repertório de uma criança no espectro, utilizando as interações sociais como forma de aprendizagem. Além de ensinar algo novo, também é possível modificar um comportamento através da observação.

Como o ambiente escolar pode ajudar?

O ambiente escolar desempenha um papel fundamental no desenvolvimento global de crianças no espectro do autismo. A inclusão efetiva e a compreensão das necessidades individuais são essenciais para promover o sucesso acadêmico e social.

Escolas inclusivas, que adotam práticas que atendem às necessidades variadas dos alunos, proporcionam um ambiente propício para o desenvolvimento de habilidades sociais. Isso inclui salas de aula adaptadas, professores capacitados e colegas informados.

Três pesquisadores publicaram em um estudo de 2001 recomendações para o aumento da efetividade de intervenções de treino de habilidades sociais para crianças com múltiplas deficiências.

Seis anos mais tarde, outros pesquisadores, revisaram e analisaram diversos estudos sobre treino de habilidades sociais e salientaram dentre essas recomendações, as quatro mais importantes:

  • Aumento da frequência da intervenção: aumentar o número de horas de intervenções focadas em habilidades sociais,
  • Setting: treino no ambiente natural,
  • Estratégia focada no déficit específico: escolha da estratégia de ensino a partir da habilidade que se quer treinar, por exemplo: diferenciar se é necessário que a criança adquira uma habilidade x ela tem essa habilidade, mas precisa aumentar a performance da mesma,
  • Fidelidade da intervenção: monitorar se a intervenção está sendo realizada da maneira planejada.

De acordo com esses pesquisadores, profissionais que atuam em escolas devem:

  1. Criar oportunidades para ensinar e reforçar habilidades sociais da maneira mais frequente possível. Especialmente as crianças com TEA precisam de treinos intensos e frequentes;
  2. Implementar intervenções em ambientes naturais. Essa preocupação se dá devido a algumas crianças no espectro poderem ter dificuldade em generalizar habilidades de um contexto para o outro;
  3. Fazer o esforço sistemático e intensivo de combinar as estratégias de ensino ao tipo de déficit de habilidade da criança;
  4. Manter canais de comunicação abertos entre professores, pais e profissionais de apoio, permitindo ajustes contínuos nas abordagens, garantindo que as necessidades do aluno sejam atendidas de maneira eficaz;
  5. Coletar e registrar dados que atestem a fidelidade da intervenção feita com as crianças.

Como a família pode ajudar?

Apesar das habilidades sociais serem treinadas durante as intervenções com a equipe que cuida do desenvolvimento da criança, elas são apenas um momento da rotina. Outros momentos, como em casa ou na escola, também precisam ser olhados na hora de treinar essas habilidades.

Por isso, a família desempenha um papel central no apoio às habilidades sociais de indivíduos no espectro do autismo. Os pais e pessoas cuidadoras, são os maiores agentes de transformação

Assim, criar um ambiente familiar que incentive a comunicação e a interação é fundamental no desenvolvimento infantil!

Dessa forma, se você cuida ou faz parte da vida de alguém com TEA, é importante que seja treinado para ajudar nesse processo de ensino de novas habilidades, especialmente as sociais, que serão usadas pelo jovem todos os dias.

Comunicação e compreensão

Desenvolver uma compreensão empática das experiências da pessoa autista é o primeiro passo. Isso implica em reconhecer suas necessidades específicas e celebrar suas conquistas, por menores que sejam.

É essencial que não exista uma pressão ou força para que a criança faça e desenvolva tal habilidade, garantindo que ela consiga evoluir em seu tempo e no seu ritmo.

Além disso, estimular a comunicação aberta e clara é vital. Utilizar ferramentas de comunicação visual, quando apropriado, e estabelecer rotinas consistentes contribuem para o desenvolvimento das habilidades sociais.

Orientação parental

O treino parental, é imprescindível que as pessoas que fazem parte do cuidado da criança com TEA, sejam capacitadas por profissionais especializados a como manejar e manter comportamentos adquiridos a partir dos treinos promovidos pelas intervenções pautadas na ciência do comportamento aplicada (ABA).

Assim, essa orientação ajuda os pais a entenderem as necessidades específicas de seus filhos, desde suas preferências de comunicação até suas dificuldades sensoriais e sociais.

Junto da equipe multidisciplinar, os pais e pessoas cuidadores recebem estratégias práticas e apoio emocional para auxiliar a enfrentar os desafios únicos que vêm com a criação de crianças com autismo, e existem muitos benefícios de ter esse apoio contínuo na jornada, como aumento da autoconfiança e envolvimento, adaptação personalizada e maior autonomia da criança.

Estabeleça rotinas previsíveis

Muitas pessoas com o Transtorno do Espectro Autista se apegam a hábitos rotineiros, os quais já estão acostumados a seguir no dia a dia, por isso a rotina acaba sendo um importante instrumento para auxiliar na jornada corriqueira.

Não existe uma explicação única do porquê algumas pessoas autistas se apegam tanto a rotina, mas geralmente é pela previsibilidade que ela oferece, isto é: quando a rotina está totalmente descrita e acordada entre a pessoa com TEA e seu núcleo de familiares e cuidadores, ela não apresenta surpresas ou situações extras das quais o autista não consegue assimilar.

Por isso, garantir uma rotina previsível e que ajude a diminuir surpresas, é eficaz para evitar crises e garantir a regulação emocional tanto da pessoa no espectro, quanto da família.

Conclusão

O desenvolvimento de habilidades sociais no autismo é um processo complexo, mas com abordagens adequadas, é possível alcançar progresso significativo.

A combinação de estratégias personalizadas, intervenção precoce, terapias especializadas e ambientes inclusivos cria um cenário propício para o desenvolvimento das habilidades sociais.

Seja na escola, em casa ou em ambientes terapêuticos, a colaboração entre pais, familiares, profissionais de saúde e educadores é fundamental.

Juntos, podemos criar um mundo mais inclusivo, onde as habilidades sociais de cada indivíduo, independentemente do espectro do autismo, sejam valorizadas e fortalecidas.

Se você quer saber mais sobre como atuar com crianças e jovens com TEA, leia nossos outros textos do blog e continue aprendendo sobre o assunto:

Post sobre crises de agressividade

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