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O autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento com características, desafios e habilidades singulares. Cada pessoa no espectro autista é única, com suas próprias experiências, necessidades e maneiras de processar emoções.
A empatia, a capacidade de se conectar com as emoções dos outros e entender o que estão passando, é uma habilidade social que muitas vezes se pensa ser limitada em pessoas autistas.
Mas, embora possam enfrentar desafios na comunicação de seus sentimentos e na compreensão das expressões emocionais dos outros, isso não significa que sejam pessoas autistas não tenham sentimentos ou empatia.
Quando falamos do luto, um processo emocional complexo, relacionado à perda de algo ou alguém significativo, sabemos que é uma emoção que comove todas as pessoas, independentemente de estarem ou não no espectro
No entanto, a forma como as pessoas autistas experienciam e lidam com essas fases do luto pode ser profundamente influenciada por suas características individuais no espectro.
Neste texto, vamos falar sobre como as pessoas autistas lidam com suas emoções, incluindo o luto, e como podemos ajudar nesse processo.
O luto e suas complexidades
O luto é uma experiência emocional complexa que todos nós enfrentamos em algum momento de nossas vidas. No entanto, essa jornada não segue um “roteiro” e suas complexidades variam de pessoa para pessoa.
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, em seu trabalho intitulado “Sobre a Morte e o Morrer”, identificou as respostas psicológicas comuns de pacientes em estágio terminal e desenvolveu as cinco etapas que descrevem a perspectiva da morte:
- Negação;
- Raiva;
- Negociação;
- Depressão e
- Aceitação.
No entanto, muitos especialistas concordam que o luto não é uma estrada de mão única, e as pessoas podem vivenciar essas fases de maneira não sequencial ou repetitiva.
A forma como o luto é vivenciado varia significativamente entre culturas e indivíduos. Diferentes sociedades têm rituais e tradições distintas para lidar com a perda, e cada pessoa traz suas próprias crenças, valores e experiências para o processo de luto.
Na psicanálise, de acordo com as perspectivas de Sigmund Freud, o luto pode ser interpretado como uma reação natural, uma resposta esperada à perda de um ente querido.
Portanto, ele não deve ser automaticamente considerado como um processo patológico, mas sim como uma condição que, com o tempo, pode ser superada (“trabalho de luto”).
Algumas pessoas podem enfrentar complicações no processo de luto, como luto prolongado, luto complicado, ou transtorno de estresse pós-traumático relacionado à perda.
Identificar essas complicações é importante para buscar apoio profissional quando necessário.
Amigos, familiares e profissionais de saúde desempenham um papel vital no apoio às pessoas enlutadas. Compreender as complexidades do luto e oferecer apoio sensível e empático é fundamental para auxiliar na jornada de cura.
Autismo e emoções
Embora seja comum pensar que pessoas no espectro autista têm dificuldades em expressar emoções e compreender expressões faciais, essa afirmação não é verdadeira.
Pessoas no Espectro do Transtorno Autista (TEA) são sim capazes de compreender e expressar as emoções, assim como qualquer pessoa típica.
O que acontece é que muitas possuem formas diferentes de se comunicar e se expressar, ou possuem dificuldades em se comunicarem com outras pessoas.
Assim como todas as pessoas típicas, pessoas atípicas também precisam de apoio para compreenderem as próprias emoções e, como consequência, passam a entender emoções e expressões de pessoas com quem interagem.
No caso do luto, pessoas autistas podem enfrentar desafios na comunicação e na expressão de sentimentos. Isso pode tornar difícil para eles compartilhar seu pesar com os outros, o que pode ser interpretado como indiferença ou falta de empatia.
No entanto, é importante lembrar que a dificuldade em comunicar sentimentos não significa que não estão vivenciando o luto. Muitas vezes, eles têm maneiras próprias de expressar tristeza e pesar, como por meio de escrita, arte, música ou outras formas criativas.
Entendendo como a pessoa autista lida com o luto
Cada pessoa autista lida com o luto de forma única, mas devido à sua diversidade de características e modos de processar emoções, podem abordar o pesar de maneira diferente em comparação com indivíduos neurotípicos.
Com frequência, a comunicação e a expressão de sentimentos podem ser um desafio, o que pode levar a mal-entendidos por parte dos outros, que podem interpretar a aparente falta de empatia como indiferença.
No entanto, é fundamental compreender que a dificuldade na expressão de emoções não significa ausência de luto.
Muitas pessoas autistas encontram formas criativas, como a arte, a música ou a escrita, para expressar sua tristeza e pesar de maneira significativa.
A maneira como uma pessoa autista lida com o luto é altamente individual e influenciada por suas características no espectro. Compreender suas necessidades e oferecer apoio adaptado a elas é essencial para ajudá-las a enfrentar o pesar da perda de maneira significativa e saudável.
Compreendendo as necessidades autistas no luto
Muitas pessoas autistas têm apego pela rotina e estrutura, principalmente pela previsibilidade dela. A perda de alguém ou algo significativo pode desestabilizar essa rotina, o que pode ser especialmente desafiador para elas.
É importante reconhecer a importância da previsibilidade e oferecer apoio na reconstrução de uma nova rotina que lhes permita lidar com o pesar.
Dê à pessoa autista a oportunidade de falar sobre seus sentimentos, mas também esteja preparado para respeitar seu espaço quando necessário. Algumas pessoas podem precisar de momentos de solidão para processar suas emoções.
Lembre-se de que o processo de luto é pessoal e pode levar mais tempo para algumas pessoas autistas do que para outras. Respeite seu ritmo e evite pressioná-las para “superar” a perda rapidamente.
Estratégias para apoiar pessoas autistas no luto
Uma estratégia importante é atentar a rotina, já que – como falamos acima – ela é tão importante para oferecer a previsibilidade, por isso, em momentos de mudança por conta da perda de um ente querido, procure auxiliar a pessoa autista a se adaptar a qualquer mudança na rotina.
De olho na sensibilidade sensorial
Muitas pessoas autistas têm sensibilidades sensoriais intensas (Transtorno de Processamento Sensorial – TPS), e durante o processo de luto, essas sensibilidades podem ser exacerbadas, tornando sons altos, luzes brilhantes ou toque físico mais aversivos.
Oferecer um ambiente tranquilo e adaptado às necessidades sensoriais da pessoa pode ser crucial para ajudá-la a enfrentar o luto de maneira mais confortável.
Informe tudo claramente
É importante comunicar a situação de maneira transparente, evitando metáforas ou linguagem ambíguas (ironia). Isso ajuda a reduzir a ansiedade e o estresse associados ao processo de luto.
Demonstre apoio
Embora as pessoas autistas possam ter dificuldades na interação social, o apoio de amigos, familiares e terapeutas desempenha um papel fundamental no processo de luto. A criação de um ambiente de apoio e a compreensão das necessidades específicas da pessoa autista são essenciais para auxiliá-la durante esse período.
Se o processo de luto de uma pessoa autista se tornar especialmente desafiador, considere a consulta a um profissional de saúde mental com experiência em autismo para fornecer apoio adequado.
Conclusão
A maneira como uma pessoa autista lida com o luto é profundamente influenciada por suas características individuais no espectro autista. Embora possam enfrentar desafios na comunicação e expressão de sentimentos, isso não significa que não estão vivenciando o pesar da perda.
É importante compreender que o luto é uma experiência altamente pessoal e que as pessoas autistas podem expressar sua tristeza de maneira única, muitas vezes por meio de formas criativas, como a arte, a música e a escrita.
Compreender e respeitar a individualidade das pessoas autistas no processo de luto é fundamental para ajudá-las a enfrentar essa experiência emocional complexa de maneira significativa e saudável.
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