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Seu filho ainda não fala e isso te preocupa? O fato de uma criança apresentar atraso na fala pode ser um sinal de que ela não está atingindo os marcos do desenvolvimento esperados para sua idade.
Além disso, apesar de muitas famílias o associarem diretamente ao autismo, o atraso na fala pode ser sinal de outros transtornos relacionados ao desenvolvimento. De qualquer forma, ele indica que pode ser o momento da família buscar ajuda.
É claro que pode ser apenas que essa habilidade esteja se desenvolvendo em um ritmo mais lento se comparado a outras crianças da mesma idade e que não signifique necessariamente um transtorno de desenvolvimento, mas é muito importante avaliar e entender se esse é o caso.
Por isso, é fundamental conhecer quais são os marcos da linguagem infantil e ter acompanhamento médico para conversar sobre como a criança está se saindo e o que pode ser feito.
Para ajudar nesse momento e entender mais sobre o assunto, conversamos com a neuropediatra Dra. Juliana Arita, mestre e doutora em neurologia e neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria e em Neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia. Confira esse conteúdo até o fim!
Atraso na fala: qual a diferença entre desenvolvimento da fala e linguagem funcional?
Quando estamos falando no desenvolvimento e/ou atraso na fala, é importante entendermos que isso é diferente do conceito de linguagem funcional. Isso porque, a comunicação vai muito além apenas do ato de “falar”.
Assim, a principal diferença entre a linguagem funcional e a fala é:
- Fala: também chamada de comunicação oral ou verbal, é quando a pessoa se comunica por meio da voz;
- Linguagem funcional: é qualquer forma de comunicação que seja compreensível aos outros. Ou seja, quando existe uma real intenção de se comunicar. Ela pode ser por meio de gestos, olhares e outros recursos, como a comunicação alternativa.
Assim, o termo funcional está diretamente relacionado a qualquer meio que uma pessoa irá usar para comunicar suas vontades, necessidades e desejos para outros.
Por isso, a comunicação funcional é um conceito essencial quando pensamos no bem-estar e qualidade de vida de uma pessoa no espectro.
Dra. Juliana Arita afirma que nesse sentido, “mais importante do que as primeiras palavras, são os comportamentos comunicativos da criança, que começam com aquele contato visual”.
Pois é nesse contato visual que ela começa a observar o comportamento do outro, criando e desenvolvendo a capacidade de imitação, passando a entender em que contexto é possível imitar um comportamento que ela está vendo um adulto fazer, continua.
“Às vezes a criança ainda não fala, mas começa a fazer gestos comunicativos: apontar, fazer que sim ou que não com a cabeça, ter expressões de acordo com a situação que está vivenciando, reconhecer a emoção nos outros. Se durante uma brincadeira com seu cuidador, que é uma interação, ele começa a olhar no celular e pára de interagir, a criança deve estranhar, olhar para o rosto dessa pessoa para verificar e tentar entender o que aconteceu”.
Marcos de desenvolvimento da fala
Mesmo que cada criança seja única e se desenvolva no seu próprio tempo, existem alguns marcos do desenvolvimento infantil que precisam ser observados com cuidado para entender se essas etapas de aprendizagem estão sendo alcançadas.
De modo geral, o desenvolvimento da fala começa quando a criança completa 6 meses de vida. A partir desta idade, é importante estar atento a:
- Aos 6 meses: compreende algumas palavras familiares (o próprio nome, “mamã”, “papá”). Importante: vira a cabeça em direção ao som quando o chamam.
- Aos 10 meses: surgimento da primeira palavra
- Entre 13 e 15 meses: mesmo que a criança ainda não consiga proferir palavras, ela já brinca de falar. Emite sons como se estivesse querendo comunicar algo
- Entre 12 e 18 meses: este é o período em que a criança vai desenvolver a fala. Algumas crianças podem começar a falar antes
- Aos 2 anos: nesta idade, o vocabulário da criança já tem entre 50 e 100 palavras, e esse repertório aumenta rapidamente à medida que ela aprende mais.
Quando esses marcos do desenvolvimento não são alcançados, é comum que muitas famílias busquem informações e se deparam com artigos sobre autismo, ficando preocupados se aquele atraso na fala é ou não um sinal de TEA e se precisam buscar ajuda.
Atraso na fala é sinal de autismo?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos. Portanto, o atraso na fala pode ser um dos sinais de autismo.
No entanto, ele sozinho não significa necessariamente que aquela criança esteja no espectro do autismo. Por isso, é muito importante entender quais outros sinais a criança apresenta e contar para o profissional que acompanha o desenvolvimento suas observações nesse sentido.
Outros sinais que podem indicar um risco para o TEA são:
- Falta ou ausência de contato visual;
- Dificuldade em entender e compartilhar emoções;
- Prejuízos na interação social;
- Não se virar para olhar quando chamado pelo nome;
- Fixação por objetos que não chamem a atenção das demais pessoas;
- Movimentos repetitivos com o corpo ou fala.
É importante entender que os marcos do desenvolvimento também ocorrem em outras áreas além da fala, como: cognitiva, interação social, motores, etc. Dessa forma, são vários aspectos que podem indicar se uma pessoa está ou não no espectro.
Como fazer o diagnóstico de autismo?
Não existe nenhum tipo de exame para o diagnóstico de autismo, todo o processo é clínico, e deve ser feito por uma equipe multidisciplinar especializados para tal. Esses profissionais atuam na investigação comportamental para entender se aquela pessoa está ou não no espectro do autismo.
Esse diagnóstico é feito de acordo com os níveis de suporte (conhecidos como graus de autismo). São eles:
Autismo nível 1 (pouca necessidade de suporte)
A pessoa tem dificuldade para iniciar interações sociais e apresenta interesse reduzido por interações. Inflexibilidade no comportamento e em trocar de atividades.
Autismo nível 2 (necessidade de suporte substancial)
Apresente déficits graves nas habilidades de comunicação verbal e não verbal, com prejuízos aparentes mesmo ao receber apoio. Limitação em iniciar ou responder a interações. Dificuldade em lidar com mudanças e comportamentos restritos/repetitivos.
Autismo nível 3 (necessidade de suporte muito substancial)
Déficits graves nas habilidades de comunicação verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento. Grande limitação em iniciar e responder a interações. Extrema dificuldade em lidar com mudanças e grande sofrimento para mudar o foco ou ações.
Quando devo procurar ajuda?
Ao notar atraso na fala da criança, muitas famílias optam por esperar para ver se ela vai se desenvolver. Mas esse tempo de espera é muito precioso e os pais perdem oportunidades de desenvolvimento nesse momento.
Nesse ponto, é muito importante contar com as observações da família, já que são essas pessoas que passam maior parte do tempo com a criança e podem apontar alguns sinais de risco.
A neuropediatra conta que nas reações mais naturais os pais podem perceber sinais de atraso no desenvolvimento.
“Mas às vezes, na rotina corrida dividida entre trabalho, afazeres domésticos e cuidados com os filhos, os pais ficam tão envolvidos em conseguir cumprir essas demandas dentro das 24 horas do dia, que entram no modo automático e acabam não percebendo, em pequenas interações do dia a dia, que o bebê demonstra pouca reciprocidade, que não está desenvolvendo bem os comportamentos comunicativos não verbais.”
Para evitar que isso aconteça, é essencial estar atento e observar se a criança está alcançando os marcos do desenvolvimento infantil no tempo esperado.
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Ao notar qualquer sinal de atraso na fala ou em outras áreas do desenvolvimento, comunique o pediatra ou profissional clínico que acompanha o desenvolvimento da criança e, se necessário, inicie a intervenção precoce para ela.
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