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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
Dessa forma, o contato visual no autismo tem um lugar significativo na comunicação não verbal, já que a partir dele é possível entender, captar e responder mensagens e pistas sociais que a pessoa no espectro autista pode fornecer.
Além disso, muitas pessoas falam que a falta de contato visual é um sinal comum de autismo, ou até mesmo que pessoas autistas têm dificuldade de olhar diretamente nos olhos de outras pessoas.
Neste artigo, vamos explorar a dificuldade do contato visual no autismo, proporcionando uma compreensão mais profunda dos motivos por trás desse comportamento e entender qual papel do olho nas interações entre pessoas típicas e atípicas.
O contato visual no contexto social
O contato visual desempenha um papel fundamental nas interações sociais humanas. É uma linguagem silenciosa que ultrapassa as barreiras das palavras, transmitindo emoções, intenções e conexões profundas.
Quando examinamos o contato visual no contexto social, é importante reconhecer que essa prática não é universalmente interpretada da mesma forma por todos.
Cada cultura possui suas próprias normas e expectativas em relação ao contato visual. Em algumas sociedades, o contato visual é considerado um sinal de respeito e engajamento, indicando sinceridade e confiança.
No entanto, em outras culturas, o olhar direto nos olhos pode ser interpretado como invasivo ou desrespeitoso. Portanto, a compreensão do contato visual no contexto social deve ser moldada pela sensibilidade cultural e também expressões de emoções e sentimentos.
Isso porque, o contato visual é uma ferramenta essencial para a expressão de emoções e intenções durante interações sociais.
Muitas vezes, olhares prolongados podem indicar interesse, empatia ou até mesmo disposição, enquanto a falta de contato visual pode sugerir desconforto, ansiedade ou, uma maneira de desviar do assunto.
Espectro autista e suas singularidades
Quando falamos sobre o autismo ser um espectro, estamos falando sobre as diferenças e singularidades dentro dele, fazendo com que o TEA de cada pessoa seja único.
Ou seja, enquanto algumas pessoas precisam de suporte para tarefas do dia a dia, outras podem ser mais autônomas nesse sentido
O termo “espectro” foi inserido ao nome do transtorno autista em 2013, para descrever a diversidade de sinais e níveis de suporte que as pessoas autistas apresentam. Isso quer dizer que cada autista tem seu próprio conjunto de manifestação, dificuldades, repertório e individualidade, tornando-o único dentro desse espectro autista.
Assim, com a diversificada de características neurocomportamentais, cada indivíduo apresenta uma experiência única e singular de como vê e interage com o mundo ao seu redor.
Além disso, quando entendemos que o TEA se manifesta diferente em cada pessoa, evitamos também nos apoiar em estereótipos bastantes reforçados na sociedade, como somente meninos terem o diagnóstico ou todo autista ser um gênio.
Isso é importante porque amplia a discussão sobre as singularidades das pessoas no espectro, aumenta a representatividade e ajuda na busca por diagnósticos corretos a partir de uma suspeita.
O contato visual no autismo
Inicialmente, a ausência de contato visual no autismo pode ser interpretada como desinteresse, já que, para pessoas com desenvolvimento típico, evitar esse contato é geralmente visto como um sinal de falta de envolvimento social.
Entretanto, muitas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) relatam que o contato visual provoca desconforto e estresse, gerando até crises e desregulação emocional.
É importante lembrarmos que nem sempre essa falta de contato visual no autismo significa que uma pessoa está no espectro!
De acordo com estudos, essa reação ocorre devido à ativação incomum de uma parte específica do cérebro durante o contato visual, conhecida como o sistema subcortical, em pessoas no espectro autista.
Essa área cerebral é responsável por despertar a atração natural dos bebês por rostos que os reconhecem como familiares e também desempenham um papel na percepção das emoções.
A dificuldade no contato visual no autismo, portanto, é uma resposta à sensação de desconforto, buscando reduzir a intensa e desagradável excitação causada por essa parte específica do cérebro.
Além disso, crianças com autismo podem sentir desconforto diante de uma grande quantidade de estímulos sociais, tornando desafiador para elas concentrar-se simultaneamente na fala e nos olhos das pessoas.
Elas também podem ter dificuldade em compreender as pistas sociais transmitidas pelo contato visual, ou seja, não perceberem que os olhos também fornecem informações significativas durante uma interação entre as pessoas ao redor.
Portanto, para crianças com autismo, o contato visual pode ser uma experiência sensorial bastante difícil, levando-as a se sentirem oprimidas, estressadas e, consequentemente, a evitarem essa forma de interação.
A falta de contato visual da criança pode ser sinal de diagnóstico de autismo?
Uma pesquisa feita na Universidade de Yale e publicada na revista PLOS ONE, mostra que algumas respostas neurais associadas ao contato facial e contato visual no autismo, podem demonstrar um biomarcador para o diagnóstico de TEA, além de também possibilitar medidas eficientes para as intervenções.
Foi feita a análise da atividade cerebral durante breves interações sociais entre adultos e pessoas com TEA, tendo sempre um par de participantes de pessoa típica e atípica.
Ambas pessoas estavam com equipamentos sensoriais que emitiam luz no cérebro, registrando as alterações nos sinais luminosos e proporcionando informações sobre a atividade cerebral durante o contato visual e a observação facial.
Segundo os dados do estudo, pessoas com TEA apresentaram uma redução significativa na atividade de uma região cerebral denominada córtex parietal dorsal em comparação com aqueles sem nenhum diagnóstico.
Além disso, o estudo apontou que quanto maior o nível de necessidade e suporte da pessoa no espectro, menor foi a atividade vista na região cerebral, permitindo assim uma compreensão ampla da neurobiologia do transtorno, além das conexões neurais sociais típicas.
Isso não significa que todas as pessoas que têm dificuldade em realizar contato visual, tem, de fato, um diagnóstico de autismo. Mas sim que existe uma conexão e que os pesquisadores estão estudando para entender melhor isso.
Estratégias de apoio e aceitação para dificuldade de contato visual no autismo
Entendemos que muitas crianças no espectro autista têm dificuldades para transmitir aquilo que sentem por meio do contato visual. Mas é importante lembrar que não podemos forçar os pequenos a olharem nos olhos de alguém, seja para completar uma tarefa ou iniciar uma conversa.
Isso pode gerar ainda mais ansiedade e desconforto, e até fazer com que o contato visual seja cada vez mais evitado. Em vez disso, precisamos entender maneiras corretas de ajudar as crianças a lidarem com o contato visual sem se sentirem desconfortáveis.
Antes de tudo, todos aqueles que convivem com a criança precisam entender as razões por trás desse comportamento, para que assim, seja possível criar estratégias eficientes e de acordo com as necessidades individuais.
É fundamental que todos forneçam sempre apoio e aceitação para a criança, fazendo com que ela entenda que aquilo não é algo ruim e negativo, mas sim que pode ser desenvolvido e potencializado com as estratégias corretas.
Reforços visuais
Reforçar positivamente o contato visual no autismo pode ser uma abordagem eficaz para ajudar uma criança a superar o desconforto associado a essa prática. Nesse ponto, é possível usar reforços visuais específicos como elementos atrativos que capturem a atenção da criança.
Isso pode incluir cartões com imagens coloridas ou objetos que despertem interesse. Ao associar o contato visual com experiências visuais positivas, a criança pode se sentir mais motivada a participar.
Além disso, também é possível estabelecer um sistema de recompensas visuais para incentivar o contato visual. Isso pode envolver um quadro de recompensas no qual a criança recebe adesivos ou marcações visuais sempre que conseguir manter o contato visual por um período desejado.
Por fim, alguns jogos interativos e visuais ajudam a promover o contato, como tabuleiro, aplicativos educativos e atividades visuais, que podem ser incorporados de maneira lúdica, tornando o processo mais divertido e envolvente para toda a família.
Modelagem positiva
Já a modelagem positiva envolve demonstrar o comportamento desejado para incentivar a imitação e generalização de comportamentos. Ou seja, a criança vê algum adulto fazendo aquilo e é incentivada a reproduzir de forma natural e positiva.
Por isso, é sempre importante demonstrar calma e naturalidade, sem pressionar qualquer comportamento. Ao interagir com a criança, faça uso do contato visual e elogios quando ela também o faz. Demonstre que essa prática é uma parte natural e positiva das interações sociais.
Aqui também é possível envolver amigos, irmãos e outras pessoas do convívio social como modelo positivo. Isso porque, crianças frequentemente aprendem observando os comportamentos dos outros, e a interação com pares pode ser uma maneira eficaz de incentivar o contato visual.
Por fim, histórias e desenhos educativos podem enfatizar a importância do contato visual de maneira positiva. Personagens ou narrativas que destacam a conexão emocional e a compreensão mútua podem influenciar a percepção da criança em relação ao contato visual.
Respeite a sensibilidade sensorial da criança
Nunca se esqueça de respeitar a sensibilidade sensorial ao abordar o desconforto da criança com o contato visual no autismo. Por isso é importante reconhecer e compreender as sensibilidades sensoriais específicas da criança.
Lembre-se de fazer o contato visual de maneira gradual e progressiva. Comece com breves períodos e aumente a duração conforme a criança se torna mais confortável. Isso permite que ela se acostume ao estímulo sensorial de maneira menos agressiva.
Também saiba que pode ser benéfico oferecer alternativas suplementares de comunicação, como a CAA — Comunicação Aumentativa e Alternativa. Estratégias não verbais, gestuais e sistemas de comunicação ajudam a respeitar as escolhas individuais e proporcionar formas igualmente válidas de expressão.
Cada criança é única, e suas tolerâncias sensoriais também podem variar. Avalie o que pode causar desconforto e adapte as estratégias de acordo!
Conclusão
A dificuldade do contato visual no autismo é plural e muitas vezes relacionada a sensibilidades sensoriais e desafios na interpretação social. Ao compreender esses aspectos, podemos criar ambientes mais inclusivos e respeitosos, promovendo uma comunicação eficaz e relacionamentos significativos.
Com informações acessíveis, apoio da equipe multidisciplinar e estratégias de suporte para o núcleo familiar, conseguimos criar uma melhor compreensão do autismo e suas singularidades, e apoiar aqueles que estão no espectro.
Não deixe de entender o perfil específico da criança e sempre conversar com os profissionais que acompanham o desenvolvimento do pequeno, isso ajuda a criar um futuro com mais qualidade de vida para todos.
Tratar e oferecer apoio e aceitação para a criança é fundamental para criar um ambiente saudável e seguro, onde o desenvolvimento seja feito com paciência, empatia e carinho.
Aqui em nosso blog, já temos um texto sobre a importância da comunicação alternativa e aumentativa no desenvolvimento da criança com TEA. Vale a pena ler e continuar aprender sobre: