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Para crianças no espectro do autismo, o manejo das emoções muitas vezes se torna um desafio complexo, especialmente em momentos de crise ou quando há desregulação emocional.
É importante compreender quais atividades calmantes podem integrar suas rotinas, proporcionando uma maior qualidade de vida e bem-estar ao longo dos dias.
Essas crianças frequentemente enfrentam dificuldades na interpretação, organização e resposta adequada às múltiplas informações sensoriais do ambiente, o que pode levá-las a reagir de forma intensa ou limitada em diversas situações.
No entanto, é possível auxiliá-las por meio de atividades que promovem o reconhecimento saudável das emoções, permitindo uma conexão mais clara com os eventos desencadeadores e um maior entendimento dos gatilhos emocionais.
Se você é um cuidador, faz parte da família ou simplesmente busca estratégias e atividades que acalmem e beneficiem, este texto foi elaborado especialmente para você.
Conversamos com a terapeuta ABA, Júlia Amed, da nossa equipe, e reunimos algumas orientações valiosas sobre atividades calmantes que podem ser de grande auxílio!
Julia Parada Amed | Psicóloga | CRP 06/159606
O que é o processamento sensorial?
Compreender o processamento sensorial é essencial antes de explorarmos as atividades tranquilizadoras para crianças com autismo.
Este processo está intrinsecamente ligado ao modo como nosso sistema nervoso central lida com as informações provenientes dos órgãos sensoriais, como estímulos visuais, táteis, auditivos e olfativos.
No contexto autista, é comum observarmos o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), uma disfunção que afeta como essas informações são recebidas e interpretadas.
O TPS é uma condição neurológica em que o cérebro e o sistema nervoso apresentam dificuldades em processar e interpretar estímulos, tanto os provenientes do ambiente externo como:
- Luzes;
- Cheiros e
- Sons)
Quanto os internos:
- Texturas;
- Tecidos e
- Alimentos
Por ser uma condição relacionada ao sistema nervoso, esse distúrbio é considerado uma comorbidade, impactando significativamente a qualidade de vida e o desenvolvimento daqueles que enfrentam essa disfunção sensorial.
Em um ambiente extremo, a hipersensibilidade ocorre quando a pessoa recebe estímulos sensoriais intensos, podendo resultar em crises sensoriais diante de estímulos como barulhos altos ou texturas desconhecidas.
Por outro lado, a hipossensibilidade, ou hipo resposta, manifesta-se na dificuldade de processar múltiplos estímulos, exigindo uma maior quantidade de estímulos para serem percebidos e processados.
Pessoas com hipossensibilidade frequentemente buscam ativamente por estímulos, podendo parecer agitados ou inquietos, enquanto aqueles com hipersensibilidade podem reagir de forma exagerada a estímulos do ambiente.
Essas sensibilidades sensoriais também podem influenciar a aquisição de habilidades motoras, como a coordenação motora fina, levando a aversões a materiais de estímulo, como lápis, canetas ou giz de cera.
Portanto, observar atentamente as reações diante de novos estímulos é fundamental. Adaptações nas atividades são essenciais para promover uma melhor qualidade de vida durante o processo de desenvolvimento e aprendizagem, levando em consideração as necessidades individuais e as especificidades sensoriais de cada pessoa no espectro do autismo.
@genialcare O que é a “Síndrome Sensorial” que está todo mundo falando? A nossa coordenadora de T.O., Mari Asseituno, explicou tudo nesse vídeo! Compartilhe informações verdadeiras ♥ #TPS #TranstornoBless #SíndromeBless #GioEbwank #hipersensibilidade #terapiaocupacionalautismo ♬ Aesthetic – Tollan Kim
Quais os desafios do processamento sensorial em crianças com autismo?
Crianças no espectro do autismo podem enfrentar uma série de desafios no processamento sensorial. Estes desafios podem variar consideravelmente de uma criança para outra. Veja algumas das dificuldades mais comuns.
Hipersensibilidade sensorial
Alguns indivíduos no espectro autista podem ser hipersensíveis a estímulos sensoriais como luzes intensas, sons altos, texturas específicas de alimentos, ou mesmo sensações táteis leves. Isso pode resultar em reações intensas, ansiedade, desconforto ou até mesmo em crises sensoriais diante desses estímulos.
Hipossensibilidade sensorial
Por outro lado, outras crianças no espectro podem ser hipossensíveis, o que significa que têm uma percepção diminuída dos estímulos sensoriais. Elas podem precisar de estímulos sensoriais mais intensos para processá-los ou para se envolverem em atividades sensoriais.
Desafios na regulação emocional
As dificuldades no processamento sensorial muitas vezes estão intimamente ligadas à regulação emocional. Crianças autistas podem ter dificuldade em regular suas emoções, especialmente quando confrontadas com estímulos sensoriais que as sobrecarregam ou as deixam desconfortáveis.
Dificuldades de aprendizagem e comportamentais
O processamento sensorial pode afetar a capacidade de uma criança em se concentrar, interagir socialmente e participar de atividades acadêmicas. A superestimulação sensorial pode levar a distrações constantes e dificuldade em filtrar informações importantes do ambiente.
Impacto nas atividades diárias
As dificuldades sensoriais podem afetar atividades diárias como alimentação, higiene pessoal e interações sociais. Por exemplo, certas texturas de alimentos podem ser intoleráveis ou a sensibilidade tátil pode dificultar o uso de certas roupas.
Desafios de coordenação e habilidades motoras
Algumas crianças autistas podem ter dificuldades com habilidades motoras finas ou grossas devido a aversões a determinadas texturas, ou materiais.
Impacto na qualidade de vida
Em última análise, as dificuldades no processamento sensorial podem ter um impacto significativo na qualidade de vida, causando estresse, ansiedade e dificuldade em participar plenamente de atividades cotidianas.
Esses desafios sensoriais variam de pessoa para pessoa, e é fundamental adaptar estratégias e ambientes para atender às necessidades individuais de cada criança autista.
Integração sensorial e o autismo
Quando falamos de integração sensorial e autismo, estamos nos referindo a uma das práticas mais conhecidas da Terapia Ocupacional. Seu foco está em auxiliar as pessoas que tenham dificuldades sensoriais, auxiliando no processamento de texturas, cheiros, sons e gostos.
Durante essas atividades, os profissionais de T.O. utilizam o interesse e a motivação da criança, onde desenvolve a intervenção num contexto de brincadeiras que envolve cuidadosamente experiências sensoriais como:
- Toque;
- Movimento;
- Sensações musculares/articulares;
- Equilíbrio;
- Notoriedade de espaço e lugar.
Nesse aspecto, utilizar de atividades calmantes, pode ser um grande aliado para auxiliar as crianças com dificuldades no processamento sensorial, garantindo que tenham um desenvolvimento mais autônomo e saudável.
Atividades calmantes para crianças com autismo
Agora que você já sabe o que é o processamento sensorial e como as atividades calmantes podem ser usadas como técnicas para ajudar crianças em crises a diminuírem a sensação de que algo está incomodando, chegou o momento de conhecer algumas dicas que podem ser usadas no dia a dia.
Vale ressaltar que: toda criança é única e tem seu próprio repertório e necessidades, sendo fundamental entender o perfil específico da pessoa e apenas usar dicas que fazem sentido no contexto dela.
Se tiver alguma dúvida ou precisar de suporte para adicionar atividades calmantes na rotina, lembre-se de conversar com a equipe multidisciplinar que acompanha o desenvolvimento dessa criança e entender o que faz mais sentido na rotina dela.
Júlia separou 5 dicas de atividades calmantes que podem auxiliar a família nesse momento:
Validar as emoções da criança: de uma forma sucinta – sem ficar falando muito e encher a criança de estimulação sonora, dizer que entende que ela está triste/brava/chateada e que está tudo bem, e aquilo vai passar;
Deixar a criança buscar um item ou atividade de conforto dela para se acalmar: o brinquedo favorito, um jogo, bichinho de pelúcia ou qualquer item que possa ajudar ela a se regular emocionalmente;
Criar um ambiente seguro e que não tenha muitos estímulos: ou seja, sem muitos sons, luz forte, cheiros intensos, já que tudo isso pode dificultar a regulação sensorial da criança no momento de crise;
Atividades calmantes são aquelas que ela se interessa: procure deixar disponíveis itens de interesse, algo que não exija que a criança cumpra uma tarefa, ou aprenda algo novo, além de fazer sempre com pessoas que ela gosta, confia e tem o vínculo estabelecido.
Foque na estimulação que a criança gosta: se a criança gosta de estimulação visual, procure por brinquedos coloridos, com luzes, uma daquelas garrafas sensoriais que tem glitter e bolinhas coloridas. Se ela gosta de estimulação auditiva, foque em livros musicais, brinquedos com sons e instrumentos. E se ela gosta de estimulação tátil, uma boa podem ser as massinhas, bacias com bolinhas de gel, geleca, etc.
A psicóloga afirma que “é interessante no momento de crise retirar demandas, ou seja: não é o momento de fazer perguntas (por mais que sejam para te dar um “norte”), mandar a criança fazer algo ou inserir diversas instruções”.
“É legal também mostrar atividades que a criança já tenha masterizado (ou seja, totalmente aprendido) e que não exigem a ajuda de ninguém, criando um ambiente que ela se interessa.”
5 Atividades calmantes ajudam em momentos de crise
Às vezes, em momentos de crise ou desregulação emocional, encontrar maneiras de acalmar e trazer conforto para crianças no espectro autista pode parecer um desafio.
É nesses momentos que atividades simples, mas poderosas, podem fazer toda a diferença, oferecendo uma jornada sensorial e emocional que acalma e traz estabilidade. Por isso, conheça algumas delas.
Brincar com massinha de modelar
A manipulação da massinha de modelar oferece uma experiência sensorial tátil relaxante. A textura macia e maleável pode auxiliar a criança a se concentrar, liberar tensões e direcionar sua energia para uma atividade mais calmante. Moldar e criar com a massinha também pode servir como uma forma de expressão, permitindo que a criança externalize emoções de maneira não verbal.
Musicoterapia
A música tem o poder de acalmar e influenciar positivamente o estado emocional. A musicoterapia oferece uma maneira não verbal de comunicação, permitindo que a criança expresse suas emoções por meio da música.
O ritmo, a melodia e até mesmo os sons naturais podem ajudar a reduzir a ansiedade, promover relaxamento e melhorar a regulação emocional.
Pintura
A pintura é uma forma criativa de expressão que oferece liberdade para a criança explorar cores, formas e texturas. O ato de pintar pode ser terapêutico, permitindo que a criança canalize emoções, alivie o estresse e melhore a concentração.
A arte também proporciona uma maneira não verbal de comunicação e pode ser uma ótima forma de relaxamento durante momentos de crise.
Yoga
O yoga oferece técnicas de respiração, posturas e relaxamento que promovem o equilíbrio emocional e físico. Adaptado para crianças autistas, o yoga pode auxiliar na regulação sensorial, melhorar a consciência corporal e ensinar habilidades de relaxamento e foco.
As práticas de respiração e movimentos suaves podem ser especialmente úteis para acalmar a mente durante períodos de estresse.
Brincar com bolhas de sabão
A atividade de fazer e observar bolhas de sabão pode ser cativante e calmante. Focar na criação e no movimento das bolhas pode auxiliar a criança a desviar a atenção de estímulos sensoriais aversivos.
A atividade também incentiva a respiração consciente e pode ser uma maneira divertida de ensinar técnicas de respiração profunda para acalmar a mente.
Essas atividades calmantes não apenas oferecem momentos de relaxamento durante crises, mas também podem ser incorporadas à rotina diária para promover o bem-estar emocional e sensorial contínuo da criança no espectro autista.
A personalização dessas atividades de acordo com as preferências individuais da criança pode ser fundamental para obter os melhores resultados.
Conclusão
Em meio aos desafios do processamento sensorial e das dificuldades emocionais enfrentadas por crianças com autismo, as atividades calmantes são aliadas valiosas.
Desde a maleabilidade terapêutica da massinha de modelar até a harmonia relaxamento do yoga, cada uma dessas práticas oferece um caminho para a estabilidade emocional e sensorial.
Ao adaptar estratégias e proporcionar momentos de conforto por meio da música, arte e técnicas de relaxamento, não apenas acalmamos as crises, mas também abrimos portas para um mundo onde a serenidade e o bem-estar emocional são acessíveis, promovendo uma conexão mais harmoniosa entre a criança autista e o ambiente ao seu redor.
Quer descobrir mais atividades para fazer com sua criança? Acesse o texto abaixo:
5 dicas de brincadeiras para integração sensorial no autismo