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Muitas famílias e pessoas cuidadoras ficam com dúvidas sobre deixar a criança brincando sozinha, já que quando falamos de autismo, focamos muito no desenvolvimento da interação social.
Mas é importante saber que o processo de brincar sozinha pode ser, sim, algo benéfico para a vida dos pequenos, desde que seja feita de forma saudável e não represente uma tentativa de se isolar do mundo.
Para ajudar você, que é uma pessoa cuidadora preocupada com o bem-estar e desenvolvimento das crianças, neste texto, vamos entender melhor se deixar a criança brincando sozinha é algo positivo ou não, como estimular esse comportamento dentro de casa e quando os pais devem se preocupar com essa atitude. Acompanhe na leitura!
É ruim deixar a criança brincando sozinha?
Vamos começar com algo muito importante: o ato de brincar, por si só, já é algo muito construtivo, saudável e estimulante. Por isso, mesmo deixando a criança brincando sozinha, esse processo está contribuindo para o desenvolvimento emocional dela.
Isso porque, como todas as experiências de vida, o brincar sozinho ajuda no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, bem como no aprendizado de aspectos importantes para o dia a dia, como:
- Criatividade;
- Autonomia;
- Imaginação;
- Confiança.
Assim como os adultos, as crianças não precisam de interação o tempo todo. É claro, que esse é um processo muito importante para elas, mas, muitas vezes, desfrutar de maneira tranquila da sua própria companhia é positivo para a autoestima e autoconfiança.
É claro que precisamos entender o perfil individual de cada criança e também o quanto tempo ela prefere ficar assim.
Mas de forma geral, o ato de brincar sozinho é um processo de crescimento saudável e bastante construtivo para as habilidades e também maturidade das crianças no espectro.
Nesse momento de brincar sozinho, a criança no espectro pode desfrutar da sua própria companhia, estimulando o faz de conta por meio de fantasias e a partir disso, expressar seus sentimentos.
Como cada criança é única e tem suas singularidades, ela vai encontrar a melhor maneira de lidar com suas brincadeiras e emoções, e não há nada de errado com isso.
Existem benefícios de deixar a criança brincando sozinha?
Sabemos que pode ser difícil para a família dar esse espaço e entender que deixar a criança brincando sozinha é algo benéfico, especialmente quando falamos de famílias atípicas. Mas, é fundamental olhar essa ação como forma de protagonismo infantil ativo no desenvolvimento saudável.
São muitos os benefícios de deixar a criança brincando sozinha, quando essa prática contribui para o seu desenvolvimento saudável e autoconhecimento. Entre eles podem citar:
- Desenvolvimento cognitivo: pesquisas indicam que o brincar independente contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como resolução de problemas, pensamento crítico e habilidades motoras.
- Socialização aprimorada: contrariando o senso comum, brincar sozinho não isola as crianças, já que quando os pequenos têm tempo para brincar solitariamente, eles conseguem desenvolver habilidades sociais mais avançadas e entender o que gostam ou não gostam durante as brincadeiras.
- Resiliência emocional: a habilidade de enfrentar desafios durante o brincar solitário fortalece a resiliência emocional, permitindo que as crianças lidem melhor com situações adversas.
Conheça 6 motivos para deixar a criança brincando sozinha
Acima listamos apenas alguns benefícios do brincar solitário para ajudar seus filhos a desenvolverem características e habilidades fundamentais para um futuro com mais autonomia e independência.
Mas ao deixar a criança brincando sozinha, você como pessoa cuidadora estará ajudando em aspectos muito importantes para ela, que vão desde criatividade até mesmo desenvolvimento da coordenação motora.
1 – Liberdade criativa
Quando a criança consegue brincar sozinha, ela ativa a imaginação e tem total liberdade para criar cenários lúdicos com aquilo que gosta e faz parte da sua rotina.
Com brincadeiras que estimulam a criatividade é possível ampliar a habilidade criativa e dar mais liberdade para os pequenos criarem personagens, histórias e cenários divertidos, ampliando também a curiosidade e inovação nas ações do dia a dia.
Esse processo estimula a imaginação e criatividade, habilidades essenciais para o desenvolvimento cognitivo.
2 – Desenvolvimento de autonomia e autoconfiança
O ato de brincar sozinho ajuda a desenvolver confiança e segurança para que a criança tenha mais independência e autonomia para realizar suas atividades. Assim, ao enfrentarem desafios e resolverem problemas sem a intervenção constante dos adultos, as crianças desenvolvem um senso de autonomia.
Dessa forma, com o desenvolvimento dessas características é possível, ao brincar, construir novas habilidades para o futuro, contribuindo para a formação de indivíduos mais independentes e confiantes.
3 – Independência social
Na hora de brincar sozinho, a criança consegue, gradualmente, desprender qualquer necessidade de interação para ficar bem e entender que sua companhia pode ser prazerosa em diversas situações, crescendo um adulto mais livre.
4 – Inteligência emocional
Quando mais cedo incentivamos a inteligência emocional, melhor será para a criança com TEA entender, lidar e regular suas emoções ao longo da vida.
Por isso, ao brincar sozinha, ela consegue gerenciar esses sentimentos, potencializando essa habilidade, se sentindo cada vez mais seguras para se expressar de forma saudável.
5 – Aprendizado da autorregulação
A capacidade de autorregular suas emoções e comportamentos é fundamental, principalmente quando falamos de crianças atípicas que podem ter maior dificuldade nesse processo.
Brincar sozinha permite que a criança experimente diferentes situações e aprenda a controlar suas reações emocionais de forma tranquila e sem pressão externa.
Além disso, com as brincadeiras solitárias, os pequenos conseguem reproduzir situações cotidianas que desejam compreender melhor o que está acontecendo. Com isso, eles podem aprender a evitar possíveis crises e entender suas emoções em determinados ambientes.
6 – É uma forma de evitar tempo excessivo de telas
Já falamos aqui em nosso blog sobre o mito do autismo virtual, mesmo assim, muitos pais e pessoas cuidadoras podem ficar preocupadas sobre o excesso de tela e como isso impacta na rotina das crianças.
Especialistas alertam que o tempo prolongado diante de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento infantil. O entretenimento passivo oferecido por vídeos em celulares ou tablets limita o envolvimento ativo da criança, desperdiçando oportunidades fundamentais para estimular habilidades essenciais, como a coordenação motora.
Por isso, ao deixar a criança brincando sozinha, longe de telas, é possível criar oportunidades de estimular o ócio criativo e transformar as coisas ao redor usando a imaginação.
Mas vale ressaltar que: a opção de não compartilhar uma brincadeira não deve estar associada a fuga da realidade ou dificuldade de relacionamento com outras pessoas, mas sim o prazer de se entreter de forma autônoma.
Quando se preocupar com a criança brincando sozinha?
Embora seja fundamental permitir que as crianças brinquem sozinhas, é igualmente importante que os pais, família ou pessoas cuidadoras, fiquem atentos a alguns sinais de que essa prática pode estar ligada a dificuldades de relacionamento com outras pessoas ou falta de interesse na troca social:
- Isolamento excessivo: se a criança começar a preferir brincar sozinha o tempo todo, isso pode indicar que ela está se isolando socialmente ou até mesmo está com dificuldades de ter interação com pares da mesma idade. Nesse caso, é essencial incentivar a interação com outras crianças para desenvolver suas habilidades sociais.
- Expressões de solidão: se a criança demonstrar tristeza ou solidão durante o tempo em que brinca sozinha, é fundamental estar presente e oferecer suporte emocional. Às vezes, tudo o que eles precisam é de uma companhia amorosa para se sentirem seguros.
- Falta de variedade nas atividades: se a criança ficar presa em um único tipo de atividade ou brinquedo quando está sozinha, isso pode indicar falta de estímulo. Introduza uma variedade de brinquedos e atividades para enriquecer sua experiência e criar mais oportunidades de aprendizagem durante o dia. Aqui é importante tomar cuidado com possíveis hiperfocos e não gerar crises, por isso, se for o caso de algo que a criança tem o hiperfoco relacionado, o ideal é buscar novas possibilidades de brincar com aquele item ou tema, variando o que já é feito.
Como os pais podem ajudar no brincar sozinho?
Como já falamos, é importante sempre respeitar o perfil específico de cada criança, seu repertório, habilidades e necessidades.
Por isso, se a família achar que o brincar sozinho está se tornando algo solitário, é fundamental conversar com a equipe multidisciplinar que acompanha o desenvolvimento da criança para entender como incentivar as interações sociais.
Para os pais que querem ajudar e incentivar a criança a brincar sozinha, o ideal é nunca interferir ou dizer como as brincadeiras devem ser feitas, para não criar qualquer tipo de dependência com diretrizes.
Além disso, é possível:
- Criar um ambiente prazeroso para brincadeira, incentivando que ela aconteça da forma mais saudável possível;
- Deixar que as brincadeiras fluam de forma livre sem atrapalhar ou se envolver quando a criança não pedir;
- Incentivar sempre a autonomia da criança indicando novas ações que podem ser feitas sozinhas ou até mesmo brinquedos para esse tipo de atividade. Além disso, palavras de afirmação podem ajudar a encorajá-la;
- Evitar atividades que envolvam telas é uma ótima maneira de incentivar a criatividade e estimular a imaginação durante esses momentos.
Lembre-se: brincar tem grande influência e importância no desenvolvimento das crianças com transtorno do espectro autista, já que pode proporcionar habilidades de atenção, memória, imitação e outras.
Por isso, converse com os profissionais da equipe da criança e entenda o que pode ser feito para estimular brincadeiras independentes, funcionais e simbólicas.
Conclusão
Permitir que seu filho brinque sozinho é uma escolha sábia quando se trata de nutrir seu desenvolvimento. É uma oportunidade valiosa para eles explorarem sua criatividade, ganharem independência e desenvolverem habilidades essenciais para a vida.
Não existe forma certa ou errada de brincar, e ao longo dos anos, as crianças vão sempre descobrindo o que funciona melhor para elas e o mundo ao redor. Por isso, é fundamental respeitar o tempo para os diferentes tipos de brincar.
No entanto, é importante entender se deixar a criança brincando sozinha é positivo ao longo do dia e quando esse ato de brincar se torna um possível sinal de risco.
Esteja preparado para oferecer apoio emocional quando necessário e incentive a interação social saudável sempre que possível.
Lembre-se de que a chave está em criar um ambiente onde a criança possa prosperar, seja brincando sozinha ou compartilhando momentos com outras crianças.
Aqui no nosso blog temos um conteúdo bastante rico sobre Como aproveitar momentos de lazer com crianças autistas, que pode ajudar ainda mais nessa jornada, vale a pena ler: