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Família reunida.

O que é presumir competência no autismo?

Se você não pudesse responder por meio da fala ou com gestos qual sua cor favorita, seria correto assumir que você não entendeu a pergunta ou que não sabe a resposta? Parece óbvio que não. Essa é uma pergunta que o Dr. John P. Hussman faz em seu guia “Princípios bem-sucedidos e baseados em evidências para apoiar e engajar indivíduos com autismo”.

Para muitas pessoas autistas, aquilo que elas conseguem imaginar (ideação) nem sempre se traduz em ação (execução). Assim, o conceito de “presumir competência” enfatiza que devemos assumir que as capacidades internas de uma pessoa não podem ser medidas apenas por suas ações externas.

Presumir competência ou presumir potencial pode ser um grande desafio para pessoas cuidadoras, sendo bastante comum que elas até mesmo diminuam suas expectativas em relação às crianças com TEA.

Isso acontece porque eles são quem mais convive com a criança autista no dia-a-dia, conhecendo a fundo suas dificuldades, barreiras e desafios, podendo muitas vezes ser céticos sobre o potencial de aprendizagem da criança.

Diante disso, é muito importante que famílias e pessoas cuidadoras entendam o que é presumir competência quando falamos do desenvolvimento infantil atípico e possam ajudar a garantir que as crianças, de fato, atinjam seu máximo potencial.

Neste texto, você vai entender o que é presumir competência, como isso ajuda e potencializa o ganho de aprendizagem das crianças com TEA e maneiras de fazer isso na rotina. Continue lendo para aprender!

O que significa presumir competência?

Presumir competência significa assumir e acreditar que uma pessoa tem capacidade de pensar, entender e aprender, o que quer que seja. Isso envolve considerar que, com os sistemas de apoio e recursos adequados, ela pode alcançar seus objetivos. Dessa forma, a ideia central de presumir competência é acreditar no potencial de pessoas que podem ter dificuldades de comunicação, aprendizado ou comportamento.

Sabemos que em muitas vezes pode ser difícil presumir potencial, especialmente em uma sociedade que muitas vezes subestima as capacidades das pessoas autistas. Mas é por isso que é ainda mais importante que os pais tenham esse posicionamento em casa.

Isso vai além de uma abordagem educacional ou terapêutica, é uma forma de comprometimento pessoal de respeitar e valorizar cada pessoa por quem ela é, com suas individualidades.

Assim, presumir a competência em crianças, adolescentes e adultos autista significa reconhecer e acreditar em seu máximo potencial. Isso envolve assumir as habilidades, interesses e capacidades únicas que eles têm, não limitando-os com base em estereótipos ou expectativas criadas anteriormente.

Por que presumir competência é importante no autismo?

Presumir competência pode ser desafiador, especialmente nos momentos difíceis, como no fechamento do diagnóstico da criança.
Mas, assim como é necessário considerarmos as barreiras e desafios para identificar as melhores estratégias para promover o desenvolvimento da criança, é necessário também, identificar as potencialidades de cada uma para criar um ambiente com muitas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.

Portanto, fazer o contrário, mantendo baixas s expectativas em relação ao desenvolvimento da criança, podemos limitá-la a um ambiente com poucas oportunidades de aprendizagem, e pouco ou nenhum incentivo para a sua independência e autonomia.

Vamos pensar em um exemplo mais prático: a criança tem dificuldades em frequentar festas de aniversário, apresentando constantemente comportamentos desafiadores e “dando trabalho” para os pais.

Com isso, a família passa a evitar levá-la para estas ocasiões, o que reduz suas oportunidades de socialização e aprendizado, impactando seu desenvolvimento ao longo do tempo.

Dessa forma, ao presumir competência, o cuidado pode trabalhar, junto a equipe, se necessário, em estratégias que ajudem a criança a participar dessas situações sociais de forma positiva.

Isso envolve criar um ambiente de expectativas adequadas, garantindo que ela tenha o suporte necessário para enfrentar os desafios.
Alguns exemplos seriam, dar previsibilidade para a criança sobre o evento, fornecer suportes visuais e criar rotinas previsíveis, aumentando assim as chances da sua participação e aprendizado. Isso se traduz na confiança de que, com as ferramentas e o suporte adequados, qualquer pessoa é capaz de alcançar seu máximo potencial.

De acordo com um estudo “Presuming Autistic Communication Competence”, ao presumir competência, educadores e terapeutas proporcionam experiências mais ricas e inclusivas, impactando positivamente o desenvolvimento e o bem-estar da pessoa autista.

Além disso, o Hussman Institute for Autism argumenta que presumir competência ajuda a superar rótulos como “alto” ou “baixo funcionamento”, oferecendo oportunidades mais inclusivas para autistas e que crianças cujas capacidades foram inicialmente subestimadas apresentaram progresso substancial quando lhes foi dado o suporte necessário para maximizar seu potencial.

Isso demonstra que a presunção de competência cria um ambiente mais justo e positivo para o desenvolvimento dessas pessoas.

7 maneiras de presumir competência da criança autista

mãe segurando filha sobre os joelhos no chão da sala

  1. Reconhecer que existe uma diferença significativa entre o que as pessoas entendem e o que conseguem demonstrar. Por isso, não limite a informação que você oferece a uma pessoa com autismo;
  2. Converse com pessoas com autismo de maneira adequada para sua idade e repertório. Evite usar um tom infantilizado ou presumir que eles não compreendem a linguagem falada. Encontrar maneiras de apoiar a comunicação através de palavras, símbolos visuais, CAA, dispositivos de geração de fala ou outros métodos. Mesmo que a pessoa tenha habilidade em fazer pedidos, é importante presumir potencial de que ela também tem conjunto de pensamentos, sentimentos, opiniões e ideias que pode não conseguir expressar;
  3. Reconheça a pessoa com autismo como você faria com uma pessoa neurotípica. Evite falar sobre ela na presença dela, como se não estivesse lá. Em vez disso, fale diretamente com ela ou refira-se com o mesmo respeito que você ofereceria a qualquer outra pessoa;
  4. Em situações sociais, inclua a pessoa autista na conversa, evitando deixar ela de lado por achar que ela pode ou não responder, ou identificar algo;
  5. Ofereça às pessoas com autismo acesso a conteúdos que sejam apropriados para a sua idade e que abranjam diversos temas que interessam a todos. Não limite o que elas podem aprender, achando que conhecimento precisa ser prático para ser interessante. Adaptar materiais e a forma como ensinamos é normal, mas evite simplificações excessivas que possam transmitir a ideia de que a pessoa não é capaz. Todos devem ter as mesmas oportunidades de aprendizado e educação;
  6. Reconheça que o comportamento serve geralmente a um propósito. O que pode parecer um comportamento “diferente”, como balançar as mãos, girar ou outras atividades, pode ser uma maneira pela qual uma pessoa com autismo se regula para não se sentir sobrecarregada. Isso significa que, antes de tentarmos extinguir ou controlar um comportamento, precisamos entender o propósito (a função) deste comportamento;
  7. Lembre-se de que comportamentos “desafiadores” são muitas vezes os únicos meios de comunicação que algumas pessoas com autismo podem ter. Comportamentos que aparecem “do nada” estão nos comunicando algo. Tenha o cuidado de observar se algo na rotina foi alterado, algum objeto ou atividade desejada foi negada, ou se algo no ambiente está diferente.

Quais são os benefícios de presumir competência?

Quando falamos sobre presumir competência, é essencial oferecer oportunidades e apoiar a comunicação e qualquer outra habilidade da criança, acreditando sempre no máximo potencial dela.

Dessa forma, ao presumir o potencial, mudamos a forma como nos relacionamos com a pessoa, oferecendo mais oportunidades e respeitando sua individualidade.

Isso se traduz em um ambiente repleto de oportunidades de aprendizagem, respeito, empatia e desenvolvimento para todo o núcleo familiar. Com isso podemos notar benefícios como:

  • Melhora na autoestima e confiança: ao acreditar que ele é capaz, isso pode ajudá-lo a acreditar em si mesmo, algo fundamental para seu crescimento e desenvolvimento ao longo da vida;
  • Redução de comportamentos desafiadores: comumente, comportamentos difíceis podem ser resultado de frustrações causadas pela incapacidade de se comunicar ou de ser compreendido. Presumir competência e dar alternativas de comunicação pode reduzir esses comportamentos;
  • Desenvolvimento de novas habilidades: oportunidades de aprendizado mais amplas permitem que a pessoa desenvolva suas habilidades cognitivas e sociais.
  • Promoção de ambientes mais inclusivos: escolas e famílias que presumem competência são mais propensas a criar ambientes inclusivos e acessíveis, respeitando as necessidades individuais.

Conclusão

É importante entender que presumir competência não se trata em ignorar os desafios e barreiras que uma pessoa enfrenta na sua rotina. Mas sim, acreditar que ela é capaz de garantir suporte para que elas possam aproveitar todas as oportunidades de aprendizagem de acordo com suas características.

Essa é uma abordagem respeitosa que promove igualdade de oportunidades. Ao adotar essa visão, é possível oferecer um suporte muito mais saudável, eficiente e significativo para pessoas autistas, reconhecendo seu potencial durante o desenvolvimento de suas habilidades.
Tudo bem ser difícil às vezes, faz parte do processo de incerteza e descoberta. Mas dê mais chances, presuma competência e veja o que acontece e como isso impacta a rotina de sua família.

Ido Kedar, um autista não-verbal, diz: “O que você tem a perder tentando?”. Temos um texto sobre ele em nosso blog que pode te ajudar nesse processo, que tal ler e continuar sua jornada?

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