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Para muitas crianças com autismo, a comunicação pode ser um desafio. Por isso, considerar o uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), para auxiliar a efetividade da comunicação pode ser necessário.
Mas qual é o melhor recurso e a melhor estratégia de ensino em CAA? Ela irá impedir a fala da minha criança? Essas podem ser dúvidas frequentes de famílias e profissionais clínicos na hora de criar planos de intervenção individualizados para crianças no espectro.
Quando falamos sobre este tema, surgem muitas dúvidas. Isso porque, ainda há muitos mitos que envolvem esta temática, por isso, neste artigo vamos abordar informações importantes relacionadas às estratégias de ensino em CAA, além de falarmos sobre o papel de um bom parceiro de comunicação.
Para você entender melhor, fique aqui e confira!
Afinal de contas, o que é Comunicação Aumentativa e Alternativa?
Antes de falarmos sobre estratégias de ensino, precisamos lembrar que Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é parte de um conjunto de práticas baseadas em evidências para a população com TEA, e refere-se às várias formas de se transmitir uma mensagem, ou seja, são formas de expressão diferentes da fala, que tem como objetivo aumentar e/ou compensar dificuldades de pessoas com necessidades complexas de comunicação (NCC).
Além disso, precisamos enfatizar que não há pré-requisitos para o uso de CAA e ela não impedirá a fala, pois além de incentivar a comunicação, ela também visa promover o desenvolvimento da fala e da linguagem, independente da idade do usuário.
Os termos “aumentativa”, “ampliada” ou “suplementar” fazem referência a necessidade de apoio à comunicação de uma pessoa, que pode ter a fala insuficiente ou pouco precisa para atender às suas necessidades de comunicação.
E o termo “alternativa” compreende a ideia de que as ferramentas e estratégias atuam como uma alternativa à fala.
Principais benefícios de um recursos de CAA
- Compensar temporária ou permanentemente dificuldades comunicativas;
- Potencializar o desenvolvimento da fala, da linguagem a comunicação funcional;
- Facilitar a compreensão;
- Reduzir comportamentos desafiadores causados por dificuldades comunicativas;
- Possibilitar a expressão de desejos, conhecimentos e necessidade;
- Possibilitar a comunicação espontânea e diminuir a dependência de um adulto como intérprete;
- Possibilitar a comunicação com qualquer pessoa em qualquer ambiente.
A escolha do melhor recurso de comunicação
Os recursos de CAA podem ser não assistidos, como gestos, sinais, expressões faciais, ou seja, que não necessita de recursos externos ao corpo, ou assistidos, como pranchas, teclados, mouse, dispositivos eletrônicos, ou seja, ferramentas externas ao corpo.
Eles podem ser não robustos (com vocabulário reduzido, normalmente favorecendo a função de pedido e com pouca possibilidade de expansão de vocabulário) ou robustos(com vocabulário flexível e versátil e possibilitando o uso de muitas funções comunicativas).
Além disso, podem ser divididos em:
- Baixa tecnologia (pranchas de papel, chaveiros, livros, materiais impressos);
- Média tecnologia (comunicadores com voz gravada ou sintetizada, combinados com símbolos impressos personalizados para uso);
- Alta tecnologia (tablets, celulares, computadores)
A escolha do melhor recurso é individualizada e baseada nas habilidades e demandas específicas de cada indivíduo.
A avaliação do usuário, levando em conta a idade, nível de desenvolvimento, habilidades comunicativas, motoras, sensoriais, perceptivas e cognitivas, além de condições socioeconômicas, nos auxiliará na escolha do melhor recurso. E a combinação de recursos de alta e baixa tecnologia também pode ser importante.
As decisões clínicas em CAA devem ser tomadas com contribuições de diferentes áreas, e sempre que possível por meio de uma avaliação multidisciplinar, com a pessoa e suas famílias desempenhando um papel fundamental na tomada de decisão.
Estratégias de ensino em CAA
O objetivo de uma intervenção para implementação das estratégias de ensino em CAA é potencializar a comunicação de indivíduos que não conseguem se comunicar por meio da fala.
Assim, essas estratégias de ensino são utilizadas para ensinar ao usuário como usar o seu recurso de comunicação.
Existem diferentes abordagens de ensino para o uso da CAA, como, por exemplo, PECS, PODD e COREWORDS. E uma das estratégias para ensinar e apoiar o uso de CAA (por exemplo, no PODD e Corewords) é a modelagem.
Modelagem ou entrada aumentada, também chamada de “linguagem auxiliada natural”, “estimulação de linguagem auxiliada” ou “modelagem de linguagem auxiliada”.
Ela é uma abordagem de treinamento na qual o parceiro de comunicação emite palavras faladas enquanto aponta/clica em figuras do sistema CAA, figuras que representam palavras-chave correspondentes à fala dele durante as trocas comunicativas com o usuário.
Ao modelar palavras em situações cotidianas, o parceiro de comunicação ajuda o usuário de CAA a aprender o que essas palavras significam, é uma maneira de mostrar a ele onde as palavras estão e como elas podem ser usadas.
Mas atenção: este é o conceito de modelagem em CAA, que difere do conceito de modelagem sob a ótica da Análise do Comportamento.
Conheça as competências ligadas as estratégias de ensino em CAA
E tão importante quanto a modelagem, quando falamos sobre implementação de CAA devemos considerar também o ensino de competências, visto que alguns usuários autistas de CAA podem precisar de apoio e se beneficiarão de instrução em diversas áreas. Dentre elas temos:
- A competência linguística: que está relacionada ao desenvolvimento do domínio com o idioma e o código usado no sistema CAA. Isso inclui habilidades de linguagem receptiva e expressiva, e a forma como a linguagem é organizada nos sistemas.
- A competência social, ou seja, na compreensão das normas e expectativas de comunicação e na capacidade de abordá-las de forma natural e eficaz;
- A competência estratégica refere-se à capacidade de utilizar várias estratégias para se comunicar nas restrições do sistema de CAA. Como, por exemplo, informando o parceiro de comunicação quando uma palavra/mensagem não está disponível (“Tenho algo para lhe contar, mas não está no meu dispositivo.”); combinando diferentes modalidades (por exemplo, gestos, sinais, vocalização) para complementar a mensagem.
- A competência emocional, envolve a capacidade de identificar e gerir o próprio estado emocional e responder aos sentimentos dos outros de forma segura e eficaz. As habilidades nesta área incluem, por exemplo, reconhecer sentimentos e emoções; Nomear ou descrever emoções e discuti-las; responder a situações emocionais em si e nos outros;
- A competência operacional refere-se ao ensino das competências físicas e técnicas necessárias para “operar” o sistema de CAA. Isso inclui habilidades como: Navegar pelas páginas/telas, ligar/desligar um dispositivo e alterar o volume quando falamos de dispositivos eletrônicos.
A importância dos parceiros de comunicação
Até que sejam eficientes no uso do sistema de CAA, as pessoas com necessidades complexas de comunicação necessitam do apoio de um parceiro de comunicação para potencializar o sucesso das suas conversas mediadas pelo recurso, especialmente para aqueles que ainda não são fluentes nas suas ferramentas.
Por isso, sempre que falamos em estratégias de ensino em CAA, precisamos lembrar da importância dos parceiros de comunicação, pois o seu papel é fundamental para promover ambientes adequados para o uso de CAA, criando contextos que proporcionam altos níveis de envolvimento e interações e que ajudam o usuário a se sentir seguro, aceito e motivado a se comunicar.
Todos que participam do diálogo com o usuário de CAA são chamados de parceiros de comunicação!
Bons parceiros de comunicação presumem competência, criam muitas oportunidades comunicativas para o uso do CAA em diferentes ambientes e contextos. Além de saber usar estratégias de apoio, como modelagem, hierarquias de dicas e procedimentos de correção sempre que necessário.
Não é uma prática aceitável limitar o acesso, desligar o som, ou remover o dispositivo/prancha de CAA da criança. Mesmo quando ela não o utiliza da forma “adequada”.
Ou seja, não utiliza da forma esperada pelo seu parceiro de comunicação, pois sob a perspectiva da criança, é uma comunicação, mas pode ser que ainda não faça sentido para seu parceiro comunicativo. E falando em boas práticas, listamos aqui algumas práticas esperadas do parceiro de comunicação de CAA, e dentre elas estão:
- Garanta que o sistema de CAA esteja sempre disponível e no melhor campo de visão da sua criança; deixe a criança à vontade, permita que ela explore o seu sistema de CAA. Sente-se com ela e explore junto!
- Mantenha o ritmo de ensino e aprendizagem compatível com as necessidades do aluno. De tempo ao usuário, lembre-se que a sua criança ainda está aprendendo a se comunicar, ela pode precisar de tempo para pensar como ela quer responder.
- Proporcione múltiplas oportunidades de comunicação: A aprendizagem deve incluir um equilíbrio de turnos entre o usuário do CAA e os parceiros de comunicação. Evite fazer somente perguntas, modele cumprimentos, histórias, comentários, protestos, expresse sentimento, dentre outras funções comunicativas, para manter o aprendizado, o envolvimento e a “conversa”
Conclusão
Vimos que a CAA é uma opção que potencializa a comunicação de pessoas autistas que não conseguem se comunicar por meio da fala.
Com apoio, estes podem tornar-se comunicadores eficazes. Afinal de contas, a comunicação é multimodal, e ocorre de várias formas. E todos nós usamos vários meios para nos expressar, incluindo fala, escrita, gestos, sons, linguagem corporal e expressões faciais.
Por isso, mesmo quando estamos diante de uma criança que está aprendendo a usar um sistema de CAA, devemos aceitar e reconhecer qualquer forma de comunicação emitida por ela.
Os parceiros de comunicação desempenham um papel fundamental na condução da estratégia de ensino escolhida para a implementação da CAA.
Além de promover um ambiente adequado para a comunicação, cria contextos que proporcionam altos níveis de interações, que ajudam o usuário a se sentir seguro, aceito e motivado a se comunicar.
O objetivo de ensinar o uso de CAA é permitir que cada pessoa se expresse sobre qualquer assunto, a qualquer momento e para qualquer parceiro de comunicação.
As decisões clínicas em CAA, assim como a escolha da melhor estratégia de ensino, devem ser tomadas com contribuições de diferentes áreas, e sempre que possível por meio de uma avaliação multidisciplinar, com o indivíduo (sempre que possível) e suas famílias desempenhando um papel fundamental na tomada de decisão.
E se você quiser saber mais sobre a contribuição da equipe nesta decisão, clique aqui e assista o que o nosso time clínico tem a dizer sobre isso.