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É muito comum na intervenção de integração sensorial ouvirmos que a criança está com o nível de alerta alterado. Saber o que isso significa pode ser um desafio, inclusive para os terapeutas ocupacionais.
Existem alguns conceitos que se confundem quando estamos entendendo melhor sobre estratégias de terapia ocupacional no desenvolvimento da criança, como o nível de alerta e nível de atividade, por exemplo.
Saber com mais clareza o que eles significam e como se relacionam com uma abordagem de integração sensorial pode garantir uma prática de intervenção muito mais direcionada e focada nas intervenções da criança.
Neste texto vamos destrinchar o que o nível de alerta significa e como isso tem relação com a abordagem de integração sensorial. Acompanhe a leitura para aprender!
O que é nível de alerta?
O nível de alerta está diretamente ligado ao nosso estado de vigilância e de prontidão e tem uma relação importante com o nosso desempenho durante as atividades do dia a dia.
Ou seja, a depender de um nível de alerta alto ou baixo, o cérebro pode precisar de mais estímulos ou menos estímulos para gerar uma resposta.
Assim, alguém com um nível de alerta alto pode responder rapidamente com pouco estímulo, e alguém com nível baixo pode precisar de mais estímulos para gerar uma resposta à determinada situação.
Dessa forma, é o nível de alerta que permite que as pessoas alterem seus ritmos diários, como ficar calmo e alerta quando estamos acordados e descansar quando estamos dormindo.
Qual a diferença entre nível de alerta e nível de atividade?
Recebemos relatos de crianças que buscam se movimentar constantemente pelo espaço, associando este comportamento a uma alteração do nível de alerta. Mas, será que é mesmo?
Para distinguir entre nível de alerta e nível de atividade, é importante lembrar que a alteração do alerta está ligada à prontidão para agir. Ou seja, para onde dirigimos nossa atenção e consciência. Enquanto isso, quando pensamos em nível de atividade, estamos nos referindo ao movimento intenso.
Dessa forma, uma criança que se move constantemente pelo ambiente e tem dificuldade em prestar atenção pode ter um nível de alerta baixo, precisando do movimento para se concentrar ou estar consciente do que está acontecendo.
Por outro lado, se uma criança com o mesmo comportamento interage, brinca e participa ativamente do ambiente enquanto se move, dizemos que ela tem um nível de atividade alto.
Nível de alerta alto significa que a criança está tão atenta a tudo ao seu redor que não consegue se concentrar em uma única atividade. Nesse caso, ela pode ser distraída por diversos estímulos como barulhos externos, movimentos ou coceiras, e possivelmente terá dificuldade em manter o foco em conversas ou tarefas específicas.
E qual a relação entre nível de alerta e a integração sensorial?
Para responder essa pergunta, precisamos entender que todos somos seres sensoriais. Afinal, as sensações estão em todos os lugares, certo?
Mas as nossas experiências são únicas. São elas que moldam como nosso cérebro processa e interpreta informações sensoriais. Diante de cada experiência, damos um sentido e significado.
Assim, é a partir dessas experiências que o nosso cérebro constrói um “mapa” do que estas sensações representam e como elas podem ser utilizadas durante o nosso dia a dia nas mais variadas situações e ambientes.
De forma geral, esse “mapa” se torna o padrão de funcionamento do nosso cérebro, dando base para a nossa capacidade de regulação e manutenção do nível de alerta.
1: O cérebro precisa de informações sensoriais para funcionar
A integração de informações sensoriais define nosso nível de alerta que é o que nos permite estar prontos para ação.
Isso interfere em nosso tempo de atenção, nível de engajamento, como nos motivamos e como desempenhamos uma tarefa.
2: Existe uma correlação entre nível de alerta e modulação
Modulação sensorial é um processo neurológico que nos permite a capacidade de regular e organizar o grau, a intensidade e a natureza da informação sensorial.
Quando um estímulo é processado de forma intensa, conhecido como hiperreatividade, o nosso sistema nervoso autônomo apresenta reações de luta e fuga e sinais de desconforto e estresse que chamamos de nível de alerta alto.
Em contrapartida, quando o indivíduo apresenta uma necessidade de alta intensidade de estímulo, chamamos esse padrão de processamento como hiporreativo. Podemos identificar dificuldades de perceber informações do ambiente e do próprio corpo, o que indica um nível de alerta baixo
3: Identificando alterações do nível de alerta
Para identificar alterações do nível de alerta é importante observar a reatividade inicial que a criança apresenta a um determinado estímulo, a capacidade de recuperação frente a ele e ao tempo que a criança consegue se manter em um nível ótimo de alerta (ou seja, engajado, atento, motivado).
O papel da integração sensorial na manutenção do nível de alerta
Segundo Jean Ayres (1972), a integração sensorial é definida como um processo neurológico que regula a sensação do corpo e do ambiente, o que permite a resposta adequada às demandas do ambiente e do próprio corpo.
Ou seja, a integração sensorial é a capacidade do nosso cérebro em reconhecer, diferenciar e integrar informações sensoriais para agir.
Quando uma criança apresenta um nível de alerta alto, podemos entender que certos grupos estímulos podem ser aversivos.
Por exemplo, uma criança que apresenta defensividade tátil, provavelmente vai apresentar dificuldades em lavar os cabelos, escovar os dentes, alimentar-se, tornando as atividades rotineiras difíceis de lidar, o que vai impactar diretamente em seu bem-estar, qualidade de vida e no seu desempenho durante a atividade.
Para podermos auxiliar na regulação do processamento de informações, é necessário estar sensível aos sinais fisiológicos (sono, fome, etc) e emocionais.
Isto porque as sensações que sentimentos ao longo do dia influenciam diretamente no alerta e, consequentemente, em como processam os estímulos sensoriais.
Para exemplificar, pense em como seria a sua reação caso alguém se aproximasse de você em um ponto de ônibus às 23h no centro de São Paulo. Com certeza, a sua reação seria diferente se o mesmo ocorresse às 10h da manhã em uma cidade do interior.
De forma geral, a forma como interpretamos as informações sensoriais dependem de uma boa saúde fisiológica e de um ambiente seguro para que os estímulos sejam processados da forma adequada. Ou seja, para que a integração sensorial ocorra dando base para a manutenção do nível de alerta.
Conclusão
A forma como integramos as informações sensoriais do ambiente e do próprio corpo tem um impacto direto em nosso nível de alerta. É isso o que nos permite entender como agir em situações não habituais ou mesmo rotineiras.
Quando o nível de alerta está alterado, tem impacto direto na forma como desempenhamos nossas atividades diárias. É esse processo que regula nosso estado de sono/vigília, dando suporte para o nosso cérebro perceber, interpretar e responder aos estímulos sensoriais do ambiente e do corpo para agir no mundo.
A integração sensorial dá suporte para que o processamento de informações sensoriais seja adequado de forma a auxiliar na manutenção desse nível de alerta ao longo da rotina das crianças.
Aqui no nosso blog já falamos sobre Integração Sensorial e seu papel na Terapia Ocupacional. Venha conferir!