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A integração sensorial é um conceito fundamental na Terapia Ocupacional, especialmente quando trabalhamos com crianças com transtornos de desenvolvimento, como o autismo.
Desenvolvida pela terapeuta ocupacional americana Jean Ayres, a integração sensorial de Ayres foi baseada em mais de 40 anos de estudos de neurociência, biologia, educação, psicologia e é claro, Terapia Ocupacional.
Essa teoria é usada para explicar a relação entre o cérebro, o comportamento e o porquê das pessoas responderem de determinada forma aos estímulos sensoriais que recebem, além de entender como isso afeta o comportamento.
Seu maior foco é ajudar na dificuldade de regular, modular, coordenar e/ou organizar as sensações de forma adequada.
Neste artigo, você vai entender como a integração sensorial de Ayres se conecta com as intervenções terapêuticas e seus benefícios na rotina.
O que é Integração sensorial de Ayres?
A integração sensorial, conforme descrito por Ayres, é o processo pelo qual o cérebro organiza e interpreta informações sensoriais do ambiente e do próprio corpo.
Essas informações são recebidas através dos 8 sentidos do corpo – visão, audição, tato, olfato, paladar, bem como os sentidos vestibular (movimento e equilíbrio), proprioceptivo (sensação de posição e movimento do corpo) e interoceptivo (sinais corporais).
Para muitas crianças, esse processo ocorre automaticamente e sem esforço, mas para outras, como crianças autistas, pode haver uma disfunção que leva a dificuldades em realizar tarefas cotidianas.
Essa especialidade de integração sensorial (IS) foi desenvolvida pela Dra. Anna Jean Ayres em 1989 como um “processo neurobiológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente, criando a capacidade de pessoas processarem, organizarem e interpretarem sensações, respondendo de maneira apropriada ao ambiente”.
Apesar dessa abordagem ter sido originalmente feita para crianças em idade pré-escolar e escolar, os conceitos podem ser usados para pessoas mais jovens ou mais velhas.
Quem foi Jean Ayres?
Anna Jean Ayres foi uma estudiosa muito importante para a Terapia Ocupacional, recebendo seu bacharel 1945, seu mestrado em 1954 e seu PhD em psicologia educacional em 1961. Após toda sua formação acadêmica, ela se tornou docente no Instituto de Pesquisa do Cérebro (UCLA), onde começou seus estudos na Integração Sensorial.
Ela desenvolveu um conjunto de testes padronizados — hoje conhecidos como Testes de Integração Sensorial e Práxis (SIPT) — e uma abordagem clínica para a identificação e tratamento de IS em crianças.
Além disso, também recebeu prêmios da American Occupational Therapy Association (AOTA) por todo seu trabalho na identificação e tratamento da DIS, e também foi mencionada na edição de 1971 do Outstanding Educadores da América.
Qual a ligação entre a Integração Sensorial de Ayres e os sentidos do corpo?
As pessoas recebem informações sensoriais por meio dos sentidos:
- Visão;
- Audição;
- Paladar;
- Olfato;
- Tato;
- Movimento;
- Propriocepção.
Sendo os dois últimos responsáveis pela noção da posição do corpo no ambiente em relação à gravidade.
E o nosso cérebro precisa reconhecer, simultaneamente, essas informações, integrando-as e organizando-as para conseguir devolver ao ambiente as respostas certas.
Ou seja, através dela é possível entender o corpo, ambiente e todos os estímulos exteriores, criando uma reação de aprendizado de acordo com cada um deles. Assim, é possível conectar corpo e mente.
Um exemplo simples é o ato de comer uma laranja. Imagine que ao descascar essa fruta você sente a textura em suas mãos, o cheiro, observa cada detalhe (a cor, o formato, etc) até sentir o gosto na boca. Todas essas informações juntas criam a experiência completa no ato de comer uma laranja.
É exatamente através dessas experiências, e da interação com o mundo, que as crianças conseguem desenvolver a integração sensorial, uma vez que estas sensações dão significado para a atividade que está sendo realizada.
O que é Disfunção de Integração Sensorial?
A Disfunção de Integração Sensorial (DIS) é uma desordem na informação que nosso cérebro recebe, fazendo com que ela não seja integrada ou organizada de forma correta. Ou seja, quando a criança ou adulto apresenta DIS, terá consequentemente dificuldades em integrar as informações do ambiente e do próprio corpo, o que influenciará a organização de seu comportamento.
Quando uma criança apresenta disfunção nesse processamento sensorial é possível ver dificuldades em perceber, interpretar, regular e responder a um input sensorial na execução de atividades da vida diária, como a higiene, alimentação, interação social, aprendizagem e brincadeiras.
Alguns dos comportamentos observados em pessoas com DIS são:
- Agitação e hiperatividade;
- Dificuldades de regulação emocional;
- Apatia ou parece não ter interesse no ambiente;
- Déficit no controle postural;
- Dificuldade de focar a atenção;
- Dificuldade de usar as duas mãos de formas simultâneas em ações como usar brinquedos, recortar, desenhar;
- Dificuldades para dormir;
- Não gosta de ficar de barriga para baixo;
- Pouca exploração de objetos e ambientes.
É importante lembrar que cada criança é única e tem um repertório diferente, por isso, é fundamental passar por uma avaliação de terapia ocupacional especializada para conseguir o diagnóstico correto.
A aplicação da Integração Sensorial de Ayres na Terapia Ocupacional
A abordagem da Terapia Ocupacional na Integração Sensorial de Ayres procura trazer mais conforto às pessoas com dificuldade em processar as informações sensoriais, além de ajudar quem tem excesso ou falta em algum dos sentidos.
Por isso, a integração sensorial é tão importante na vida de pessoas com autismo e outros transtornos do desenvolvimento, melhorando aspectos comportamentais, motores e de aprendizagem.
Os objetivos gerais da terapia ocupacional com a IS são:
- Promover experiências sensoriais;
- Auxiliar a criança na inibição e/ou modulação das informações sensoriais;
- Organizar o processamento de resposta mais adequada aos estímulos;
- Garantir oportunidades para o desenvolvimento de respostas adaptativas cada vez mais complexas.
Quando pensamos em pessoas neurotípicas, o processamento de informações sensoriais é algo automático.
No caso de autistas, é muito comum a apresentação de sensibilidade a certas sensações, como auditiva e tátil. Por isso, profissionais de T.O. vão fornecer inputs de estímulos que podem favorecer a recepção de informações, facilitando o processamento destas e dando oportunidades para que respostas adaptativas emergem durante as sessões individualizadas.
É essencial que o profissional de Terapia Ocupacional faça uma avaliação minuciosa para determinar se existe um problema de processamento sensorial no desenvolvimento da criança, e quais são as estratégias de intervenção correta para ajudar na rotina e no processo de aprendizado.
Essas ações são construídas para fortalecer a base neurológica necessáriaria que irá ajudar no aprendizado, facilitando o desenvolvimento de novas habilidades a partir de um processamento sensorial adequado e bom desempenho motor.
Tudo sempre é feito incorporando os interesses e motivações da criança, e em uma intervenção no contexto de brincadeiras que envolvem experiências sensoriais planejadas individualmente, promovidas a partir da motivação da criança. .
Por isso, é muito importante que o ambiente em que acontece a integração sensorial de Ayres seja um espaço destinado para isso, enriquecido de oportunidades de exploração do corpo e de sensações não rotineiras, e não a casa da família, por exemplo.
Esse local precisa ter objetos corretos e trabalhar adequadamente com as sensações processadas pelo cérebro autista. Como uma sala de integração sensorial, espaço adequado para trabalhar aspectos do desenvolvimento com a terapia ocupacional.
Já falamos aqui no blog sobre como a integração sensorial é importante para pessoas autistas. Você pode clicar aqui para ler esse conteúdo e continuar aprendendo.
Quem pode fazer o curso de Integração Sensorial de Ayres?
A certificação de Integração Sensorial de Ayres é oferecido especificamente para terapeutas ocupacionais. Porém, outros profissionais de saúde que trabalham com crianças com dificuldades de processamento sensorial também podem buscar por cursos que abordam sobre essa temática, por exemplo, quando falamos de curso relacionados a seletividade alimentar.
A certificação e cursos desta temática são projetados para fornecer um entendimento da teoria de Ayres, bem como técnicas práticas de avaliação e intervenção, seguindo sempre rigor clínico e padrões científicos.
Profissionais interessados devem ter uma base sólida em Terapia Ocupacional ou em uma área relacionada e um interesse específico em trabalhar com crianças com necessidades sensoriais.
Além disso, alguns cursos podem exigir experiência prévia ou educação continuada em áreas relacionadas ao desenvolvimento infantil e integração sensorial.
Conclusão
Ficou claro que a integração sensorial de Ayres é uma abordagem valiosa para ajudar crianças com dificuldades de processamento sensorial, além de ser uma das especialidades da Terapia Ocupacional.
Através de uma combinação de avaliação cuidadosa e intervenção personalizada, terapeutas ocupacionais podem ajudar essas crianças a melhorarem suas habilidades motoras, comportamento e capacidade de aprendizagem.
Com o suporte adequado e a colaboração de pais e cuidadores, a terapia de integração sensorial pode fazer uma diferença significativa na vida dessas crianças e suas famílias.
Você sabia que o brincar também faz parte da integração sensorial? Essa é uma ação fundamental quando falamos do desenvolvimento e aprendizagem de crianças, sejam elas típicas ou atípicas.
Por isso, clicando aqui em baixo você consegue descobrir 5 dicas de brincadeiras para integração sensorial no autismo:
5 dicas de brincadeiras para integração sensorial no autismo
2 respostas para “Integração sensorial de Ayres e seu papel na Terapia Ocupacional”
Bom dia.
Meu nome é Thais, só estudante de Terapia Ocupacional. E tenho uma dúvida.
Ha a obrigatoriedade de Ser certificada internacionalmente para trabalhar com a terapia de integração sensorial de Ayres? Tem lei pra isso? Ou seja, o Terapeuta ocupacional sem certificação internacional de Ayres, pode oferecer esse serviço?
Eu procuro uma informação legal, onde se deixa claro quem pode trabalhar com essa abordagem.
Una falam que podem, outros falam que não pode.
Agradeço a atenção.
Olá Thais. Como vai você? Esperamos que muito bem!
Thais, o ideal é que o profissional seja formado na certificação de Integração sensorial de Ayres sim. Porém, atualmente no Brasil e da própria formação impede que isso seja viável. Então hoje, o correto é ter um profissional certificado acompanhando o terapeuta nas sessões de IS, mesmo que esse terapeuta não seja certificado.
Esperamos ter ajudado a solucionar sua dúvida.
Forte abraço!