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Os comportamentos são parte da nossa história e da internação entre as pessoas e os ambientes que estamos inseridos. Eles são em suma, aprendizagens que temos ao longo da vida. Quando pensamos em crianças com TEA, é fundamental entendermos como funciona esse ensino comportamental.
A modelação (modeling) é uma estratégia focada na aquisição de comportamentos por meio da observação e duplicação de comportamentos feitos por outra pessoa (ou organismo no termo mais técnico).
Assim como várias outras estratégias de aprendizagem de habilidades usadas nas intervenções para crianças com autismo, a modelação faz parte das práticas baseadas em evidências (PBEs) e amplamente usada em ambientes clínicos e do dia a dia.
Neste texto, você vai conhecer a modelação comportamental e entender como ela pode funcionar no dia a dia da pessoa no espectro.
As práticas baseadas em evidências
Primeiro, vale lembrarmos o que são as práticas baseadas em evidências e como elas estão ligadas com a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA (do termo em inglês Applied Behavior Analysis).
As PBEs são um conjunto de procedimentos que foram pesquisados e tiveram um nível aceitável de resultados positivos para crianças, jovens e adultos com TEA. Assim, podemos entender esses resultados como ferramentas para atingir a evolução das necessidades de uma pessoa.
Em 2014, a ASAT (Associação para a Ciência no Tratamento do Autismo) publicou o Evidence Based Medicine (EBM), um estudo que analisou 20 anos de intervenção para TEA relacionadas à ABA. Foram identificados 28 práticas baseadas em evidência, sendo 23 baseadas na Análise do Comportamento Aplicada. Ou seja, funciona e é comprovado cientificamente!
O que é Modelação (MD)?
A modelação é uma estratégia usada para o ensino de novos comportamentos por meio da duplicação e observação de comportamentos alheios. Com ela, um indivíduo mostra qual o comportamento alvo (aquele desejado), fazendo com que a pessoa no espectro consiga copiar e emitir uma resposta.
Ela é uma forma prática de aumentar o repertório de uma criança no espectro, utilizando as interações sociais como forma de aprendizagem. Além de ensinar algo novo, também é possível modificar um comportamento através da observação.
Esse é um procedimento muito importante quando pensamos no aprendizado das crianças com autismo, já que esses modelos ajudam na aceleração de novas respostas.
Vamos pensar em uma criança que vai participar de uma aula de natação e precisa aprender um novo estilo de nado. Ainda fora d’água, ela observa o professor e outros alunos executarem aquele movimento e depois os reproduz na piscina.
Para que esse comportamento possa ser reproduzido, a criança precisa de:
- um comportamento modelo para copiar;
- uma resposta durante (prestar atenção e observar) e após o ensino (reproduzir a resposta observada).
Modelação e Modelagem são a mesma coisa?
Na hora de entender mais sobre as PBEs e a modelação, muitas pessoas cuidadoras acabam encontrando a modelagem (shaping) no processo. Isso faz com que surja uma dúvida se ambos os termos são a mesma coisa.
A resposta é não. Apesar de bem-parecidos, a modelação e a modelagem são procedimentos diferentes dentro da Análise do Comportamento Aplicada.
A modelação foca na aprendizagem por meio da observação, já a modelagem cria o ensino por meio de aproximações sucessivas de reforços para o comportamento alvo.
Existem dois aspectos diferentes quando pensamos na modelagem de habilidades:
- o reforçamento de determinadas respostas, chamado de reforço diferencial;
- as modificações graduais dos requisitos para o reforçamento, chamadas de aproximações sucessivas.
O método das aproximações sucessivas é uma série de passos nos quais gradualmente o indivíduo emite uma resposta cada vez mais próxima do comportamento desejado.
Esse conceito foi estruturado pelo psicólogo Albert Bandura, que desenvolveu a teoria de Aprendizagem por Modelagem ou Aprendizagem Social. Ela defende que muitos dos comportamentos que aprendemos são adquiridos de uma forma mais rápida do que seria possível se eles fossem adquiridos por sucessivas aproximações e reforços.
Ele defendia que o ser humano poderia aprender das seguintes formas:
- Observando o comportamento dos outros;
- Imitando as ações de outra pessoa;
- Interagindo socialmente;
- Apenas fazendo parte de uma sociedade.
Para Bandura, a observação e a interpretação pessoal fazia com que a pessoa repetisse esse comportamento, e esse modelo era reproduzido de acordo com as consequências, fossem elas boas ou ruins. Nessa teoria, o ser humano é moldado:
- Por pensamentos;
- Regras sociais;
- Por aquilo que se aprende com os modelos transmitidos pelos outros.
O behaviorismo defende que essa tarefa ajuda no desenvolvimento de novas respostas por meio do processo de aprendizagem gradativo, influenciado pelo reforçamento positivo.
Vamos pensar na mesma criança do exemplo anterior. Por meio da modelação ela reproduziu o movimento com base no que foi fornecido pelo professor e não conseguiu fazer algo igual ao que foi observador. Ela apenas aprendeu o princípio básico daquele movimento.
Quando já está dentro d’água, o professor irá continuar dando passos gradativos como “levante seu braço enquanto abaixa a cabeça” e também reforço positivo como “isso mesmo, você está se saindo muito bem” para que os movimentos do nado sejam bem mais específicos e direcionados.
Essa segunda parte é a representação de modelagem, já que o professor reforçou as respostas da criança enquanto ela praticava e foi fazendo modificações graduais nos requisitos do comportamento.
Muito importante lembrar que apesar de termos distintos, com frequência eles acontecem em conjunto durante as intervenções da criança no espectro.
Quais são as etapas de aprendizado de modelagem na ABA?
Na modelação existem diferentes respostas (comportamentos) que podem ser reforçadas, variando de acordo com o que é esperado durante a intervenção e também plano de ação do terapeuta.
Por isso, para ser possível criar novas respostas ao repertório comportamental, facilitando a aprendizagem, existe um passo a passo a ser seguido:
- Na escolha da resposta terminal;
- Na escolha do reforçador potencial e que pode ser usado ao longo do procedimento terapêutico;
- Na escolha da resposta inicial;
- No reforço de uma resposta inicial condicionada e possa ter frequência regular. Em seguida, existe uma resposta intermediária que se aproxima do comportamento terminal.
Um exemplo prático disso é durante a melhora da comunicação verbal. Imagine uma criança com TEA tentando pedir um copo de água para mãe, mas que consegue emitir apenas o som “aa”. A mãe entende o que a criança quer e dá o que ela pede como reforçador.
Nas próximas vezes que essa situação acontecer, a mãe pode pedir para que a criança melhore a pronúncia aos poucos, mostrando em si como ela pode falar. Com isso, o pequeno vai evoluindo de “aua” para “aga”, modelando seu comportamento para conseguir falar “água”.
Todo esse processo, por mais simples que pareça, foi consequência da demonstração de comportamentos alvos desejados, e da observação da criança ao longo do tempo. Assim, com treinos constantes, ela consegue aprender a dar novas respostas, resultando no desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos no repertório.
Vale lembrar que antes de qualquer intervenção de modelação ser aplicada, é importante que haja uma avaliação inicial da equipe multidisciplinar, entendendo quais são as possibilidades e oportunidades de aprendizagem para as necessidades daquela criança.
A vídeo-modelagem também funciona muito bem para a demonstração de comportamentos alvos como modelos. A única diferença é que essa prática é feita através de vídeos. Já temos um texto sobre isso em nosso blog, clique no botão abaixo para ler sobre:
Modelagem em Vídeo