Índice de Conteúdos
Na busca por terapias para intervenção de crianças autistas e maneiras de auxiliar os filhos, os pais ficam com muitas dúvidas sobre o que devem ou não fazer, ainda mais com tantas informações diferentes disponíveis. Uma das questões principais, que muitas famílias encontram, é qual a carga horária de intervenção ideal para as crianças.
Essa, inclusive, é sempre uma questão bastante abordada nas consultas com o profissional que faz o diagnóstico, sobre qual a quantidade recomendada de horas que a criança precisará ter de terapia.
Muitas vezes o médico determina inclusive quantas horas de intervenção ABA e das demais especialidades a criança necessita.
Você já ouviu falar que as crianças autistas precisam de 40h semanais de intervenção? Ou ainda que precisam de uma carga horária de intervenção bem alta no autismo?
Quer saber um pouco mais de onde vem esses conceitos e qual a verdade em relação a quantas horas de intervenção uma criança autista precisa? Acompanhe para aprender mais sobre o assunto!
O que é carga horária de intervenção no autismo?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
A intervenção para auxiliar uma criança autista a atingir o seu máximo potencial, é realizada por clínicos capacitados. Acarga horária de intervenção será o número recomendado de horas, que uma pessoa com TEA, precisa para desenvolver habilidades para um futuro com muito mais qualidade de vida, independência e autonomia.
Como o autismo é um espectro e cada pessoa nele é única, com suas próprias necessidades e singularidades, cada carga horária será recomendável de acordo com essas vivências e repertório.
A carga horária de intervenção representa quantas horas por semana a criança precisa de acompanhamento de uma equipe profissional, com terapias para autismo, como terapias ABA, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, sempre de acordo com o que ela precisa.
É verdade que toda criança precisa fazer 40h de intervenção?
Não existe um certo ou errado, o que acontece é que tudo que tem ligação com a carga horária e intervenção da criança precisa ser individualizado. Por isso, nem toda criança com autismo precisa de 40h de intervenções semanais.
A quantidade de horas de intervenção, os objetivos de desenvolvimento da criança e o acompanhamento da sua evolução, tudo isso envolve o trabalho de uma equipe multidisciplinar após a avaliação inicial dela no atendimento.
Talvez, uma criança que tenha mais dificuldades comunicativas vai precisar de mais tempo de intervenção de fonoaudiologia, do que uma com dificuldade nas habilidades motoras, que nesse caso pode precisar de maior suporte da terapia ocupacional.
Isso porque, o autismo é um espectro, e cada criança pode ter suas dificuldades, seja de fala, motoras ou sociais, em níveis diferentes. Assim, cada profissional da equipe estimula um período de horas semanais, para que as habilidades possam ser desenvolvidas.
“A carga horária necessária para a intervenção de crianças autistas irá depender das características dessa criança, do contexto que ela está inserida e da realidade dos cuidadores, ou seja, o contexto que essa criança está inserida. Ela pode inclusive mudar a depender das mudanças desses elementos”, conta Alice Tufolo, diretora clínica da Genial Care.
É comprovado que a repetição desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das habilidades exigidas das crianças. Ou seja, é essencial que, ao longo da semana, elas tenham oportunidades frequentes de serem ensinadas.
Um estudo de 2017, inclusive, aponta que a repetição é mais determinante do que a duração: fazer um pouco de terapia todos os dias gera resultados mais eficazes do que concentrar a mesma quantidade de horas — ou até mais — em um único dia.
Com isso, a forma como a carga horária de intervenção da criança será distribuída, será extremamente relevante para o desenvolvimento da intervenção dessa criança.
Por que se diz que crianças autistas precisam fazer 40h de intervenção?
Esse número de 40h padronizadas para todas as crianças veio de um estudo feito em 1987 por Ivar Lovaas, que demonstra o início da aplicação da ciência do comportamento para pessoas com TEA.
O estudo focou em dividir dois grupos de crianças, para cada um ter uma carga horária e tipo de terapia diferente, onde um foi mais intensivo com 40h. Pelos resultados, quase metade das crianças nesse grupo intensivo conseguiram desempenho melhor na escola.
Dessa forma, essa quantidade de 40h acabou sendo adotada por profissionais da área como uma carga horária ideal para a evolução e desenvolvimento de crianças atípicas.
Porém, isso foi há mais de 30 anos e tanto a ciência quanto os estudos sobre intervenções para autismo mudaram bastante. Hoje conseguimos ter um conceito maior sobre neurodiversidade e individualidades, e temos diversos adultos autista que falam sobre suas perspectivas com o excesso de horas na terapia.
No artigo, Lovaas falava sobre “tornar indivíduos autistas pós-terapia ABA em 40 horas indistinguíveis de seus pares da mesma idade.” Hoje entendemos que isso é uma fala bastante capacitista e que não respeita a neurodiversidade.
Além disso, é importante lembrar que a pesquisa foi feita no sistema educacional norte-americano, que é bem diferente do brasileiro. Para nós, a educação tem um foco maior na inclusão e não na divisão de “educação especial x educação geral” (termo usado nos EUA).
Esse estudo de Loovas:
- Se baseou em participantes necessariamente com déficits intelectuais, não contemplando o todas as realidades do espectro
- Os participantes ficavam isolados, não convivendo com outras crianças, uma realidade bem diferente de muitas das nossas crianças hoje em dia
- O estudo foi antes da declaração de Salamanca em 1994, no qual define como direito as crianças fazem parte do ambiente escolar e ter suporte adequado e individualizado
Ou seja, foi um estudo que não contou com participantes representando todos os níveis do espectro.
As crianças, à época, tinham poucas oportunidades de aprendizagem fora do contexto terapêutico, havia escassez de estudos voltados à orientação parental, e a intervenção ocorria majoritariamente no período escolar.
Uma realidade bastante distinta daquela em que nos encontramos hoje, quando se fala em intervenção no autismo. Ainda assim, para época, foi um estudo muito relevante quanto a produção de ciência no autismo, assim como garantir que as crianças tivessem intervenções adequadas para elas.
Então, quantas horas de intervenção uma criança autista precisa?
Tudo vai depender das necessidades clínicas e de desenvolvimento de uma pessoa, das habilidades que ela precisa ampliar e do contexto que ela está inserido na vida dela.
Por isso, não existe uma fórmula única para a definição de carga horária, e o que funciona para uma pessoa, pode não funcionar para outra.
Hoje em dia os pais ou pessoas cuidadoras precisam estar mais preocupados em encontrar profissionais humanizados, que respeitem a neurodiversidade das crianças e façam recomendações de horas de intervenção individualizadamente.
Não podemos afirmar que 40h de intervenção vão ser o melhor para todas as pessoas. É preciso considerar todos os aspectos do núcleo familiar, quanto tempo eles podem ceder para as terapias e também quanto tempo fica saudável para a criança.
Recomendar algo que não é possível para a família e não considera as necessidades de todos, não funciona para ninguém, nem para a criança e nem para os terapeutas.
Além disso, é preciso pensar que mudanças vão acontecer ao longo do tempo. Transição na família, mudanças de especialidades, momentos que podem ser necessários maior ou menor carga horária. Tudo isso faz parte das intervenções.
Quando falamos de carga horário de intervenção não existe uma fórmula pronta
Embora não exista uma fórmula única, a intervenção consistente e focada nos objetivos de aprendizado da criança é fundamental para o desenvolvimento dela. A carga horária ideal varia, mas a consistência e a aplicação de estratégias comprovadas são fundamentais.
As intervenções indicadas e o respeito pela preferência pessoal da pessoa autista, são os principais potencializadores para o desenvolvimento e evolução, fazendo toda a diferença, da autonomia e empoderamento dela durante a vida.
Uma criança de 2 anos com nível de suporte 3 tem necessidades diferentes de uma com 5 anos e nível de suporte 2, por exemplo, mesmo que ambos sejam autista e recebam intervenções ABA.
Existem fases diferentes na vida da pessoa no espectro e também de toda a família. Todo esse contexto precisa ser inserido e considerado na hora de criar um plano de intervenção individualizado.
Como é feita a carga horária de intervenção na Genial Care?
Aqui na Genial Care, acreditamos que o caminho para a carga horária de intervenção é o da individualidade. Por isso, fazemos uma recomendação de horas individualizadamente, considerando o desenvolvimento da criança, a idade dela, o contexto familiar e também o do dia a dia.
“Para a gente indicar a carga horária mais precisa para uma criança é considerar tudo que ela precisa e que a família precisa, além de olhar para isso como um tratamento sustentável em todos os aspectos”, aponta Alice.
Aqui na Genial Care, começamos todo processo com o estudo de Anamnese preenchido pela família, aplicando avaliações diretas (protocolos de cada especialidade) e indiretas (Vineland-3). Com todos esses dados, temos uma avaliação inicial bem ampla e completa sobre as necessidades, repertórios e possibilidades da criança.
Assim, nosso time clínico se junta para revisar as hipóteses clínicas e selecionar todas as metas e alvos do PEI — Plano Educacional Individualizado — que serão utilizadas pela equipe durante as intervenções.
Aqui, também usamos uma fórmula de prescrição de horas chamada de Fichi, que gera, a partir de todos esses dados, uma carga horária ideal recomendada.
“Na Genial Care entendemos que a nossa prescrição de horas precisava deixar de ser baseada num olhar individual de cada avaliador e passasse a ser baseada em dados que, independente de quem avaliasse, a premissa seria a mesma. A Fichi visa ter mais confiabilidade, tanto na prescrição inicial quanto no acompanhamento de evolução das criançascomplementa Alice.
A Fichi é um norteador que indica carga horária considerando todas as variáveis que vemos como necessárias e influenciadoras na decisão das horas de intervenção, ainda assim, a partir da Fichi o Orientador Genial irá revisar essas horas e garantir que a criança esteja com a quantidade adequada para o seu desenvolvimento.
Também sempre focamos em entender qual a disponibilidade da família na indicação de horas pós-avaliação, entendendo se existe algum tipo de incompatibilidade na nossa recomendação e na disponibilidade inicial na agenda familiar, adequando para que a criança fique com intervenções seguindo nossas premissas de rigor clínico.
Conclusão
Sabemos que os pais também desempenham um papel fundamental na intervenção para crianças com TEA. Envolvimento ativo, consistência e aplicação de estratégias aprendidas nas sessões terapêuticas contribuem significativamente para o progresso da criança.
Nosso time de especialistas respondeu às principais dúvidas sobre como estamos transformando o cenário de autismo no Brasil, evidenciando o que estamos construindo diariamente em nosso 2º Congresso Extraordinário da Genial Care em parceria com a Revista Autismo.
Você pode assistir esse conteúdo na íntegra pelo nosso canal do Youtube, clicando nesse botão:
2 respostas para “Existe uma carga horária de intervenção ideal para autismo?”
Achei a temática , de extrema importância
Olá, Nadia. Como vai? Esperamos que muito bem.
Nós que agradecemos. Seu comentário é muito importante e mostra que estamos no caminho certo.
Abraço.