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Você já se perguntou se o autismo é genético? Uma das principais dúvidas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é referente a sua causa. Será que o autismo é hereditário? Existe alguma ligação com a genética? Nesse aspecto, muitas pesquisas são realizadas.
A fase do diagnóstico é um momento no qual os cuidadores mergulham em diversas informações sobre o autismo para entender os comportamentos da criança, saber como ajudar e sentir segurança para tomar decisões sobre o futuro.
Recentemente, o estudo “Genomic architecture of autism from comprehensive whole-genome sequence annotation” que fala sobre os genes do autismo, que descobriu que existem 134 genes ligados diretamente ao TEA.
Apesar das causas do autismo ainda estarem sendo estudadas, sabemos que a genética tem um papel fundamental no desenvolvimento do transtorno, assim como fatores ambientes.
Neste artigo, te explicaremos mais sobre esse estudo que aborda os possíveis genes do autismo e sua importância para as descobertas relacionadas a essas causas ligadas ao transtorno. Acompanhe!
O autismo é genético ou hereditário?
Uma das maiores dúvidas de famílias e pessoas cuidadoras relacionadas ao TEA é sobre as causas do transtorno. Será que o autismo é genético? Ou será que ele é hereditário? É possível saber se uma criança estará no espectro apenas pelos seus pais?
Mesmo que as causas do autismo ainda estejam sendo estudadas, já sabemos que a genética tem um papel fundamental no desenvolvimento do transtorno, assim como os fatores ambientais.
Desde os primeiros estudos de autismo feitos com gêmeos em 1977, é possível ver uma correlação entre as taxas de TEA em irmãos gêmeos, com os pesquisadores chegando à conclusão que a genética é uma grande responsável pela causa do autismo.
Nesse ano, a publicação do Journal of Child Psychology and Psychiatry investigou irmãos gêmeos e revelou que, nos monozigóticos (gêmeos idênticos), uma taxa de concordância para o autismo variava entre 36% e 92%.
Em contraste, nossos gêmeos dizigóticos (fraternos), essa taxa era significativamente menor, proporcionando uma forte influência genética na manifestação do transtorno.
Já em 2019, a pesquisa “Association of Genetic and Environmental Factors With Autism in a 5-Country Cohort”, publicado pelo JAMA Psychiatry, anterior a que identificou os 134 genes ligados ao TEA, trouxe as seguintes confirmações:
- De 97% a 99% dos casos de autismo são causados pela genética;
- Destes, 81% eram hereditários e
- De 1% a 3% tinham origem em fatores ambientais.
Ela teve mais de 2 milhões de pessoas, de 5 países diferentes, participando para mensuração dos resultados.
Apesar de não podermos afirmar com 100% de certeza que o autismo é hereditário, trabalhos científicos como esses ajudam a validar possíveis causas do autismo e reforçar o papel da genética.
Qual é a diferença entre genético e hereditário?
Na dúvida se o autismo é genético ou não, muitas pessoas podem acabar confundindo a palavra genética com hereditária, achando que os termos representam o mesmo. Apesar de semelhantes, existem algumas diferenças.
- Genético: refere-se a algo relacionado aos genes, incluindo mutações que podem surgir espontaneamente.
- Já hereditário: implica que a condição foi transmitida dos pais para os filhos. No caso do TEA, há casos tanto de mutações herdadas quanto de novas alterações genéticas não presentes no DNA parental.
Assim, de uma forma resumida, quando falamos sobre condições de saúde, o que é genético pode ser causado por alguma alteração direta no DNA. Já o que é hereditário é causa por alterações passadas entre gerações (de pais para filhos).
Conheça o estudo sobre os “genes do autismo”
Foram identificados 134 genes ligados ao autismo em um novo estudo. A pesquisa foi conduzida por estudiosos do hospital pediátrico canadense Hospital For Sick Children e publicada no periódico científico Cell no dia 10 de novembro de 2022.
Essa é a maior análise genética feita sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) até agora. O estudo contou com 20 mil dados genéticos extraídos do maior conjunto de genoma completo de autismo do mundo, o MSSNG.
A extração dos 20 mil genomas foi feita da seguinte maneira:
- 7 mil de pessoas com Transtorno do Espectro Autista;
- 13 mil irmãos e familiares das pessoas com TEA.
Depois da extração, os pesquisadores usaram a técnica de sequenciamento completo do genoma — sigla WGS). Com isso, conseguiram encontrar 134 genes ligados ao autismo.
Conforme a publicação, a maioria das variações estava ligada ao número de cópias dos genes (CNVs). Segundo o portal Varsomics, esse nome é dado às duplicações de genes, ou seja, ganho ou aumento de conteúdo genômico ou deleções (perda ou diminuição de conteúdo genômico).
Outro ponto importante é que algumas se tratavam de variantes raras, que haviam sido associadas ao autismo em apenas 14% dos participantes do estudo. Além disso, pesquisadores apontaram mudanças importantes na genética do autismo.
Esse segundo ponto foi possível graças à comparação de famílias com apenas um indivíduo autista e famílias com vários membros no espectro—chamadas de “famílias multiplex”.
Pontuação poligênica como parte do estudo de “genes do autismo”
Comparado a estudos anteriores relacionados à genética e autismo, a mudança que mais surpreendeu pesquisadores foi a pontuação poligênica. Essa nomenclatura se refere à estimativa da probabilidade de uma pessoa nascer com autismo, e que é calculada pelo agrupamento dos efeitos de milhares de variantes comuns em todo genoma.
Diferente do que imaginavam, a pontuação poligênica não foi maior em famílias com mais de uma pessoa autista.
Uma interpretação desse dado, é que existe a possibilidade do autismo está ligado a essas variantes raras dentro desses núcleos familiares. Nesse caso, a herdabilidade dos genes do autismo vem de um dos pais.
Quais são as causas do autismo?
As causas do autismo ainda não foram totalmente esclarecidas, mas um grande número de estudos já determinou a genética como principal fator no desenvolvimento do TEA.
Além disso, fatores ambientais também podem se tornar fator de risco para o diagnóstico. Aqui estão incluídos:
- Exposição a ácido valproico: presente em medicamentos para transtorno bipolar e epilépticos;
- Idade paterna: mães jovens e homens mais velhos ou pais com mais de 50 anos.
Existem ainda fatores em estudo, mas que não foram totalmente comprovados. Enquanto isso, devido à importância da genética para o autismo, exames de sequenciamento genético têm sido cada vez mais comuns.
Quem carrega os genes do autismo: pai ou mãe?
O questionamento sobre quem carrega o gene do autismo — o pai ou a mãe da criança — é bem comum em famílias com diagnóstico de autismo.
Nisso, é preciso entender, primeiramente, que existe uma diferença importante entre genética e hereditariedade:
- Genética: os genes estão presentes em todos os organismos vivos, isso vale desde bactérias e vírus até plantas e humanos. Esse campo estuda, principalmente, a transmissão de características biológicas de uma geração para outra, passando pela hereditariedade e variação entre os organismos;
- Hereditariedade: é a transmissão de características de pais para filhos. Aqui, são abrangidas informações genéticas e fenotípicas que, quando transmitidas dos pais aos descendentes, são chamadas de hereditárias.
Assim, é importante esclarecer que o autismo pode ser causado pela genética, mas nem sempre será hereditário. Isso significa que o autismo da criança não se desenvolve todas às vezes devido a genes passados pelo pai ou pela mãe.
Como saber se tenho gene de autismo?
A maneira de identificar se o pai ou a mãe têm os genes do autismo é por meio da realização de exames de sequenciamento genéticos.
Mas é sempre importante lembrar que essas investigações não devem, nunca, acontecer numa tentativa de não ter mais filhos no espectro. Como pontua a geneticista Graciela Pignatari: “Exame genético não deve ser usado para fins de eugenia”.
Além disso, o autismo não é doença e não tem cura.
O que existem são intervenções com objetivo de melhorar a qualidade de vida e dar mais independência para pessoas no espectro.
Conclusão
Em suma, o autismo tem uma forte ligação com a genética, com estudos mostrando a ligação desses 134 genes do autismo, associadas ao transtorno.
Esta descoberta não apenas reforça essa conexão, mas também proporciona novas direções para pesquisas futuras e potencial desenvolvimento de terapias específicas.
Para pais e famílias, entender a hereditariedade do autismo pode ajudar a desmistificar o transtorno e promover uma melhor compreensão e apoio às pessoas com autismo.
A pesquisa continua a evoluir, trazendo esperança de que, no futuro, possamos ter ainda mais clareza sobre as causas e tratamentos do autismo.
A maneira de identificar se o pai ou a mãe têm os genes do autismo é por meio da realização de exames de sequenciamento genéticos. Conheça mais sobre as causas do autismo assistindo esse vídeo: