Quando o assunto são as causas do autismo, ainda existem muitas dúvidas, como a relação ao parto prematuro com o transtorno. Isso acontece porque essas possíveis causas, ainda vem sendo estudadas, mas já sabemos que a genética tem um papel fundamental no desenvolvimento do TEA, assim como fatores ambientais.
O parto prematuro — aquele que acontece antes de 37 semanas de gestação — pode se relacionar com uma série de complicações para o bebê já que ele fica mais vulnerável a infecções, mau funcionamento dos órgãos e atrasos do desenvolvimento, já que o cérebro, assim como outros órgãos, não se desenvolveram por completo.
Mas é importante frisarmos que, somente o fato do bebê nascer prematuro não simboliza o único fator de incidência de TEA. Nesse sentido, quando falamos em prematuridade e autismo, muitos estudos também vêm sendo feitos para entender a relação das duas coisas e se, de fato, existe uma predominância em bebês prematuros e diagnósticos de autismo.
Neste texto trouxemos alguns dados e informações sobre a relação do parto prematuro com o autismo. Confira!
Parto prematuro e relação com autismo
Sabemos que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
Muitos dos sinais costumam aparecer quando a criança ainda é bebê. E isso é possível observar ao analisar os possíveis sinais de atraso no desenvolvimento infantil e entender se existe algum nível de necessidade e suporte para as atividades do dia a dia.
Com isso, muitas famílias e pessoas cuidadoras se perguntam se algum fator externo teve ligação direta com o autismo de seus filhos, e se questionam sobre fatores pré-natais (durante a gravidez), perinatais (que envolvem o parto) e pós-natais (que acontecem nas primeiras semanas de vida do pequeno).
De acordo com o estudo “Fatores pré-natais, perinatais e pós-natais associados ao transtorno do espectro do autismo” existe uma prevalência maior desses fatores ligados à gestação em crianças com TEA em comparação aos seus irmãos.
O que acontece quando falamos de parto prematuro é que esses nascimentos podem alterar a hipoconectividade em diferentes regiões do cérebro, gerando um risco maior da criança desenvolver problemas de atenção e dificuldades cognitivas.
Além disso, outros estudos confirmam o diagnóstico de TEA ou dificuldades no neurodesenvolvimento e/ou concentração em crianças que se enquadram no grupo de nascimentos acontecidos antes da fase gestacional prevista.
Exames de ressonância magnética coletados na pesquisa de 2015 da King’s College de Londres, Inglaterra, mostraram que os bebês nascidos durante o período de gestação padrão tinham conexões cerebrais bem desenvolvidas, enquanto os prematuros, mostravam menos conexões entre as regiões de atividades cognitivas, influenciando a socialização e comunicação.
Ao todo foram 66 crianças que participaram dessa amostra dos pesquisadores da Inglaterra, sendo que:
- 47 delas nasceram antes da 33ª semana de gestação;
- 19 nascidas no tempo previsto.
Em entrevista para o UOL, o neuropediatra Carlos Gadia, diretor associado do Nicklaus Children’s Hospital em Miami (EUA), explicou que essa hipoconectividade acontece porque o cérebro do bebê prematuro não conseguiu se desenvolver direito e assim, as regiões mais afetadas são aquelas que têm um papel muito importante no desenvolvimento da interação social e linguagem, por exemplo.
Dessa forma, os esses fatores que envolvem um parto prematuro podem provocar sofrimento fetal e causa, em alguns casos, prejuízos neurológicos.
A importância de conversar com profissionais especializados
Como a prematuridade pode ser um marcador que possibilita o desenvolvimento de autismo em bebês, é muito importante que a família tenha contato com profissionais de saúde que estimulem a criança desde cedo, investigando possíveis sinais de TEA.
Dessa forma, a intervenção precoce é um grande aliado para gerar oportunidades e desenvolvimento para essas crianças, independente se elas tem um laudo fechado ou não.
Quando falamos em autismo, a intervenção precoce, por meio das práticas baseadas em evidências, é indicada mesmo se ainda há apenas uma suspeita de que aquela criança possa estar no espectro.
Isso porque, quanto mais cedo for iniciada, maiores as chances de reduzir comportamentos desafiadores e ajudar no desenvolvimento de curto e longo prazo da criança.
Nesse caminho, é importante conversar com uma equipe capacitada e aberta a tirar todas as dúvidas da família. Apenas uma ressalva: intervenção precoce é diferente de diagnóstico precoce, que pode ser algo bem subjetivo de identificar e fechar.
Para ajudar você a entender esse assunto, tivemos uma conversa super enriquecedora com o neuropediatra, especialista em autismo e transtornos do desenvolvimento, Dr. José Salomão Schwartzman.
Clique no botão e assista o vídeo completo desse bate papo: