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Falar sobre férias e autismo é falar sobre um momento desafiador para famílias atípicas, pois a ruptura da rotina pode gerar desconforto. Esses são assuntos que podem gerar muitas dúvidas e dificuldades nas pessoas cuidadoras.
Isso porque, a interrupção da rotina escolar e terapêutica pode ser desafiadora para crianças no espectro autista, que dependem muitas vezes de uma estrutura diária previsível para se sentirem seguras e tranquilas.
Dessa forma, é essencial que a família, junto da equipe profissional que acompanha o desenvolvimento da criança, consiga encontrar estratégias e maneiras de amenizar possíveis crises durante as férias escolares.
Com isso é possível transformar as férias em um momento agradável e enriquecedor para toda a família, mesmo quando se decide passar esse tempo em casa. Este artigo oferece dicas práticas para organizar a rotina e aproveitar as férias em família com crianças autistas. Leia!
Férias e autismo: por que a quebra de rotina pode ser tão desafiadora?
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que muda como as pessoas veem e interagem com o mundo. Por ser um espectro, ele se manifesta de diferentes formas em cada pessoa, fazendo com que nenhum autista seja igual ao outro.
Porém, algo bastante comum para pessoas com TEA é a dificuldade em lidar com quebras de rotinas. Não existe uma única explicação do motivo pelo qual as pessoas autistas se apegam à rotina, mas normalmente é pela previsibilidade que ela oferece.
Ou seja, quando a rotina é claramente descrita e acordada entre a pessoa com TEA e seus familiares e cuidadores, ela elimina surpresas e situações inesperadas que podem ser difíceis para o autista assimilar.
A importância da rotina para pessoas com autismo
O apego à rotina está relacionado a um dos sinais do TEA: comportamentos restritivos e repetitivos. Por meio desses comportamentos, a pessoa autista encontra conforto e aprende a lidar com o mundo ao seu redor e evita sobrecargas sensoriais e crises.
Dessa forma, quando existe uma quebra da rotina, sem que a pessoa no espectro saiba, ela pode não conseguir controlar suas emoções e estímulos.
Por isso, quando falamos de férias e autismo, estamos falando da dificuldade de não saber como será o dia, já que não tem mais a rotina estabelecida da escola, intervenções e outros compromissos conhecidos.
Um artigo publicado no National Library of Medicine
relata sobre estratégias aplicadas em uma viagem como modo de resposta ao TEA. A autora conta que o plano criado pela família foi dividido em quatro partes:
- Familiarizar o filho com um novo ambiente e rotina;
- Fornecer a ele conforto e apoio;
- Responder às necessidades e desafios sensoriais;
- Lidar com mudanças repentinas.
Isso mostra que familiar a criança com um novo ambiente como parte da rotina é essencial para uma abordagem que garanta menos crises e ansiedade e uma viagem mais tranquila quando pensamos em férias e autismo.
Como organizar a rotina da criança autista no período de férias?
Já que a rotina e a previsibilidade são aspectos essenciais para crianças com TEA, na hora de curtir as férias, é fundamental que a família saiba como trabalhar isso para evitar comportamentos desafiadores.
O ideal é que já exista um treino de rotina pronto e que possa ser adaptado para o período. Um calendário com fotos, figuras ou imagens pensadas para cada dia da semana e que ajudem a compreender o que vem pela frente.
Essa organização é fundamental tanto para o começo das férias quanto para a volta às aulas, pois ajuda a planejar as etapas dos próximos dias e as atividades que podem ser feitas, tudo com antecedência.
Lembre-se, mesmo nas férias, manter uma estrutura básica é fundamental, por isso os horários de alimentação, sono e higiene pessoal devem ser mantidos e respeitados. Isso ajuda a criança a entender que aquelas atividades se mantêm iguais.
Os suporte visuais ajudam a ilustrar a rotina diária, mas saiba que a previsibilidade em excesso também pode gerar certa ansiedade na criança, fazendo com que ela fique muito agitada à espera de determinado compromisso.
Por isso, tente pensar como o aviso pode mexer com as emoções da criança e saiba dosar as informações para evitar crises.
Férias e autismo: 6 dicas para curtir as férias em casa com a família
Quando falamos em férias e autismo, sabemos que nem sempre é possível viajar para novos lugares. Muitas vezes, por conta de dificuldades e barreiras na rotina, o período precisa ser aproveitado em casa.
Mas isso não significa que também não possa ser divertido. Para ajudar, separamos 6 dicas que você pode pôr em prática nas férias com a família e curtir em casa de forma super prazerosa.
1. Faça atividades sensoriais agradáveis
Muitas crianças com autismo têm sensibilidades sensoriais. Planeje atividades que sejam sensorialmente agradáveis, como brincar com massas de modelar, pintar com os dedos, ou atividades aquáticas.
Essas atividades podem proporcionar uma forma de expressão e relaxamento.
2. Pense em brincadeiras estruturadas
Organize brincadeiras estruturadas que incentivem a interação social e habilidades de comunicação.
Jogos de tabuleiro simples, construção com blocos, ou sessões de leitura compartilhada podem ser excelentes formas de estimular o desenvolvimento enquanto se diverte.
3. Use de reforçadores positivos
Utilize reforço positivo para incentivar comportamentos desejados. Recompense a criança por seguir a rotina ou completar uma atividade.
Isso pode ser feito com elogios, adesivos, ou pequenos prêmios que a criança valorize. Também é possível utilizar de objetos ligados ao hiperfoco da criança para esse reforçamento.
4. Não se esqueça das pausas regulares
Permita pausas regulares para que a criança possa se acalmar e recarregar. Muitas crianças com autismo precisam de tempo para se acalmar e processar estímulos.
Crie um espaço tranquilo em casa onde a criança possa se retirar quando necessário e também mantenha a comunicação aberta para saber quando a criança deseja parar ou de um tempo apenas para si.
5. Intercale brincadeiras novas com atividades já conhecidas
A gente sabe que mesmo que a criança esteja de férias, muitas vezes os pais não estão. Por isso, o período pode ser usado para novos desafios, intercalando com atividades já conhecidas na rotina.
Você pode planejar atividades que possam ser feitas em família, como cozinhar juntos, assistir a filmes, ou realizar projetos de arte. Mas também pode usar o tempo para fazer atividades que a criança já gosta, mas que não podem ser feitas sempre.
Se ela já tem um jogo preferido, uma brincadeira que ama ou algo que seja reguladora emocional, é possível dar mais tempo para que isso aconteça durante as férias.
6. Comunique as pessoas envolvidas
Além de fornecer previsibilidade para a criança autista, é fundamental comunicar-se com outras pessoas que também podem estar presentes, seja em casa ou em pequenos passeios.
Quando visitarem familiares ou amigos, explique as possíveis dificuldades, assim como adaptações necessárias, estabelecendo acordos e compartilhando informações sobre as rotinas, repertório e preferências únicas da criança com TEA.
O uso do cordão de girassol ou quebra-cabeça, símbolo internacional que identifica pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), facilita a identificação e o acesso a direitos para pessoas com autismo em locais diversos.
Já temos um texto sobre isso em nosso blog, clique aqui para ler na sequência!
A criança autista vai tirar férias da terapia, e agora?
Falando de férias e autismo, pensamos sempre nas férias escolares. Mas as sessões de intervenção também podem ser impactadas com as férias, e isso pode causar dúvidas e inseguranças tanto na família, quanto na criança.
A primeira coisa aqui é saber, com antecedência, os períodos de férias da terapia. Por isso, sempre confirme quanto antes com os profissionais quando serão feitas essas pausas.
Lembre-se de pedir para os terapeutas criarem uma rotina de estímulos que possa ser aplicada em casa de forma lúdica e também garantirem orientações essenciais para dificuldades nesse período.
Aqui a previsibilidade também é algo fundamental! Construa o processo gradualmente e comunique sempre a criança. Isso eliminará prováveis surpresas que poderão impactar o desenvolvimento dela.
Histórias sociais são uma ótima maneira de comunicar a criança sobre as férias da terapia e também garantir a adesão da rotina em outras atividades.
Vocês podem construir, junto dos profissionais, histórias sobre as férias, sobre atividades que serão feitas em casas e outras situações.
Os pais não são terapeutas e por isso, tudo bem não terem todas as respostas. Mas é importante que, sempre que consigam, mantenham a continuidade dos estímulos e aprendizado em casa.
Use as orientações recebidas pelos terapeutas para colocar em prática recursos terapêuticos, brincadeiras focadas no desenvolvimento infantil são ótimas maneiras de garantir a evolução da criança.
Conclusão
Passar as férias em casa com uma criança autista pode ser um desafio, mas com planejamento e estratégias adequadas, é possível criar um ambiente agradável e enriquecedor para toda a família.
Manter uma rotina estruturada, planejar atividades sensorialmente agradáveis, utilizar reforço positivo, e envolver toda a família em atividades pode ajudar a transformar as férias em um período de crescimento e diversão.
Lembre-se de estar atento aos sinais de estresse e ansiedade, e não forçar a criança a fazer algo que ela não esteja confortável. Respeite o repertório dela e saiba quando é o momento de descanso para evitar crises.
Você e sua família vão viajar nas férias? Então aproveite para ler nosso texto com 5 dicas para viajar com crianças autistas e aproveitar muito o período: