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Quando falamos do ensino de habilidades comunicativas em crianças com TEA, estamos pensando no ensino de habilidades que garantam que essas crianças consigam se comunicar e consequentemente participar de atividades interativas.
Isso porque, o uso funcional da linguagem está ligada ao uso e a interpretação de qualquer forma de comunicação, seja gestual, vocal ou verbal. Muitas crianças no espectro podem ter dificuldades em usar a linguagem para comunicar desejos e até mesmo interpretar mensagens passadas por outros.
Por isso, considerando que uma comunicação efetiva proporciona autonomia e qualidade de vida, nosso papel enquanto terapeuta de crianças com TEA é realizar uma boa avaliação da comunicação. Para assim, traçar objetivos terapêuticos assertivos que estimulem oportunidades de aprendizagem e uso das habilidades comunicativas das crianças.
Mas como fazer isso?
Neste texto, você vai entender melhor sobre esse ensino de habilidades comunicativas no TEA. Continue lendo para aprender sobre o assunto!
O que é o ensino de habilidades comunicativas?
Quando falamos em habilidades comunicativas estamos nos referindo à capacidade que uma pessoa tem de participar de uma troca interativa mantendo uma comunicação efetiva.
Uma comunicação efetiva pode ocorrer por diferentes meios (contato visual, escrita, gestos, expressões faciais, língua de sinais, CAA, entre muitos outros) e podem ser estimuladas a todo momento, isso porque, todo comportamento nos comunica algo, independente de ser vocal ou não, afinal de contas, a comunicação vai muito além da fala.
Segundo o DSM-5 os primeiros sintomas de TEA, frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem e da comunicação social, em geral, acompanhado por ausência de interesse social ou interações sociais incomuns, caracterizados por:
- Ausência de vocalizações funcionais.
- Dificuldade em manter contato visual;
- Pouco interesse em responder a sorrisos, imitar expressões faciais ou gestos simples; Não responder quando são chamados pelo nome;
- Falta de interesse pelo outro ou por outras crianças;
- Atenção compartilhada prejudicada;
- Ausência do gesto de apontar, entre outros.
E a partir de uma boa avaliação e intervenção especializada, essas habilidades podem ser melhoradas, o que reforça a importância da intervenção precoce em crianças com TEA.
Afinal de contas, o que é a comunicação?
Segundo a Asha, comunicação é qualquer ato pelo qual uma pessoa dá ou recebe de outra pessoa, informações sobre as necessidades, desejos, percepções, conhecimentos ou estados efetivos.
Ela pode ser intencional ou não intencional, pode envolver sinais convencionais ou não convencionais, pode assumir formas linguísticas ou não linguísticas e pode ocorrer através da fala ou através de outros meios.
Portanto, todas as pessoas, de alguma forma, se comunicam. No entanto, a eficácia e a eficiência desta comunicação pode variar de acordo com uma série de fatores individuais e ambientais.
Porque, como e quando utilizamos a comunicação?
Os nossos relacionamentos se concretizam quando os processos envolvidos na comunicação são efetivados.
E a razão pela qual nos comunicamos uns com os outros costumamos chamá-la de “função comunicativa”..
Assim, podemos entender que o motivo de expormos nossas necessidades pode ser resumido em uma determinada função comunicativa.
São muitas as funções comunicativas que utilizamos em uma interação, e a pragmática é a subárea da linguagem primariamente relacionada à habilidade funcional da linguagem e envolve os aspectos relacionados aos atos, meios e funções comunicativas.
Os atos comunicativos constituem no primeiro conhecimento da criança em relação à pragmática, e eles são quaisquer comportamentos que a criança emita com iniciativa, seja para:
- Pedir;
- Reclamar;
- Comentar;
- Nomear;
- Gritar;
- Falar;
- Gesticular.
A razão pela qual nos comunicamos uns com os outros chamamos de função comunicativa.
E elas são divididas em dois grandes grupos: as mais interpessoais, que são utilizadas com a intenção de se comunicar com o outro e as menos interpessoais, quando não são dirigidas a um interlocutor e sim a um objeto.
Quanto maior for o número de funções comunicativas mais interpessoais utilizadas pela criança, maior é a sua capacidade de utilizar sua comunicação de maneira funcional para a socialização.
E a forma pelas quais um ato comunicativo ocorre, chamamos de meios comunicativos. Eles são divididos em verbais (os que envolvem pelo menos 75% de fonemas da língua), vocais (todas as outras emissões) e gestuais (que envolvem movimentos do corpo e expressão facial).
Então, como avaliar o uso de habilidades comunicativas?
As teorias pragmáticas consideram o contexto extremamente importante para a comunicação.
Isso desde o período pré-verbal; ou seja, antes mesmo de emitir as primeiras palavras, a criança é capaz de responder às iniciativas sociais.
Por isso, uma avaliação da comunicação deve ter como objetivo analisar os aspectos funcionais da comunicação, ou seja, analisar o uso da linguagem nos contextos em que ela acontece.
Para isso, aqui na Genial Care, além da observação clínica, nossa equipe de fonoaudiologia faz uso de dois principais instrumentos, para avaliação da comunicação, o Perfil funcional da Comunicação Checklist (PFC-C) e a prova de pragmática do Teste de Linguagem Infantil – ABFW.
De uma forma resumida, o PFC-C ele é um instrumento preenchido pelo principal cuidador da criança.
Com essa avaliação do ensino de habilidades comunicativas, conseguimos avaliar a maneira que uma pessoa se comunica, levando em consideração os meios comunicativos verbal, vocal e gestual, as funções comunicativas utilizadas e qual a frequência em que elas aparecem.
Essas frequências podem ser classificadas em: (sempre – S, muitas vezes – MV, raramente – R ou nunca – N).
De forma geral, o PFC-C é uma forma de avaliar, na percepção dos cuidadores, a funcionalidade comunicativa da criança.
Considerando que cuidadores e familiares são as pessoas mais próximas e que estão engajadas com a criança no dia-a-di, é fundamental colher a percepção deles.
Assim, conseguimos compreender o funcionamento comunicativo das nossas crianças para além do contexto da terapia é fundamental.
E como já foi dito, outro instrumento utilizado aqui na Genial Care para a avaliação da comunicação das nossas crianças, é a prova de pragmática do Teste ABFW.
O objetivo desta prova também é a análise dos aspectos funcionais da comunicação e a análise também envolve os aspectos relacionados aos atos, meios e funções comunicativas.
Entretanto, diferente do questionário PFC-C, nesta prova, o terapeuta filma a sua interação com a criança, em seguida seleciona o melhor trecho para registrar e analisar todos os atos comunicativos emitidos pela criança de forma espontânea. Traçando assim o seu perfil comunicativo.
Em relação à análise dos resultados, os dados obtidos nos testes nos permitem entender o espaço comunicativo ocupado pela criança numa situação interativa e dos recursos/meios comunicativos utilizados por ela.
Nos possibilitando determinar objetivos terapêuticos focados em comunicação, fala e linguagem.
Além disso, os resultados poderão contribuir também para diagnósticos diferenciais, dentre eles quadros como distúrbios específicos de desenvolvimento de linguagem, transtornos motores da fala, TEA e outros distúrbios de comunicação.
Conclusão
Para finalizar, é importante enfatizarmos que a comunicação é multimodal, ou seja, podemos nos comunicar de diferentes maneiras.
Mas é importante frisar também que o seu desenvolvimento é influenciado por diferentes fatores, incluindo fatores genéticos, ambientais e sociais.
Crianças que crescem em ambientes ricos em oportunidades comunicativas, tendem a desenvolver habilidades comunicativas mais rapidamente.
Por isso, o vínculo e as interações com terapeutas, cuidadores e pares desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da comunicação de crianças com TEA, fornecendo oportunidades para desenvolver e praticar habilidades da comunicação social.
Considerando isso, durante o ensino de habilidades comunicativas, uma avaliação da comunicação deve ter como principal objetivo analisar os aspectos funcionais da comunicação.
Ela será a base para traçarmos objetivos terapêuticos e orientarmos a família de forma efetiva e de acordo com a individualidade de cada criança.
Além disso, ao entendermos que todo comportamento (mesmo quando não dirigido a um interlocutor) tem uma função e nos comunica algo, nos torna parceiros de comunicação mais assertivos.
Desta forma validamos os atos comunicativos emitidos por nossas crianças e quando necessário ensinamos formas mais funcionais de comunicação a elas, como, por exemplo, por meio de um recurso de comunicação alternativa e aumentativa (CAA).
Já temos um texto bem completo sobre a Comunicação Alternativa e Aumentativa aqui no nosso blog, e você pode continuar lendo agora mesmo: