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A educação de crianças com TEA pode ser um desafio para muitas famílias, que ficam na dúvida sobre matricular seus filhos em uma escola de educação especial ou ensino regular, sempre buscando garantir um processo de aprendizagem real e com inclusão escolar.
Isso porque muitas pessoas no espectro apresentam dificuldades na interação e comunicação com outras pessoas, além de comportamentos restritos e repetitivos, o que pode dificultar o aprendizado.
Nesse aspecto, a família acaba procurando diversos locais focando em encontrar aquele que mais se adeque ao que a criança com autismo precisa, desde a estrutura em si, até a capacitação dos profissionais dessa escola. Além disso, essa é uma decisão que pode envolver questões que vão além das preferências pessoais do núcleo familiar.
Conversamos a professora a psicopedagoga Maria Bispo para falar sobre a educação para crianças com TEA e como a família pode escolher a escola certa. Ela também é orientadora educacional, mestranda em Neurociências, capacitada em mediação escolar, TEA e Síndrome de Down e mãe da Maria Clara, que tem Síndrome de Down.
Educação especial ou ensino regular?
Todas as pessoas com autismo têm acesso à educação de qualidade garantido por lei, seja em uma escola de educação especial ou regular, e punível de multas e processos caso a instituição negue a vaga. Isso porque, a escola é um dos principais locais para estimular o desenvolvimento de habilidades sociais, importante para todas as crianças.
Mesmo assim, muitas famílias ficam com dúvidas sobre matricular seus filhos em uma escola de educação especial ou regular. A Educação especial no Brasil é definida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, como uma modalidade de ensino escolar oferecida preferencialmente na rede regular para alunos com deficiência.
Seu foco está em proporcionar igualdade de oportunidades, mediante a diversificação de serviços educacionais, atendendo às diferenças individuais doa alunos. Além disso, ela também apresenta uma proposta de ensino muito mais direcionada para crianças com atraso no desenvolvimento.
Já o ensino regular, na teoria, oferece uma maior possibilidade de inclusão e socialização com crianças típicas e atípicas. O mais importante aqui é conversar com a escola e garantir que a formação atenda às necessidades dos filhos.
O censo escolar feito pelo MEC de 2003 a 2013 mostra que as políticas de educação inclusivas adotas pelo governo federal promoveram o acesso e expansão da rede escolar. “A acessibilidade arquitetônica, que é o preparo do espaço físico das escolas para receber alunos com deficiência, é realidade em 41.602 escolas da educação básica pública”.
Os dados também mostram o aumento da formação de professores em educação especial, que aumentou 17%, contabilizando 93.371 educadores especializados.
Como escolher a escola para a criança com autismo
É na escola que os pequenos encontram oportunidades de participar de diversas atividades e fazer escolhas que contribuem diretamente com o crescimento, vivenciando um ambiente diferente do qual está exposto e também convivendo com parceiros da mesma idade para aprendizado e trocas.
Exatamente por isso, Maria cita três aspectos fundamentais como parte do processo nesse momento que são:
- Procurar indicações de uma escola efetivamente inclusiva;
- Conversar com a equipe pedagógica;
- Estar disposto a ajudá-los com a inclusão, sendo uma família presente e participativa.
É importante entendermos que não existe a escola ideal para a criança, mas sim aquela que se encaixa às necessidades de todo o núcleo familiar, oferecendo um ambiente que se adapte a isso.
Além do repertório, dificuldades e individualidades da pessoa autista, é preciso lembrar que cada criança tem um perfil específico já avaliado pela equipe que acompanha o desenvolvimento dela.
Por isso, é importante respeitar esse alinhamento na hora de escolher a escola, entendendo como ela se encaixa na rotina, repertório e perfil de aprendizado dessa criança e alinhando essas dicas a isso.
1. Posicionamento da escola em relação a receber uma criança com autismo
Mesmo sendo garantido pela legislação o direito de inclusão da pessoa autista no ensino regular, algumas escolas ainda estão despreparadas para receber essas pessoas. Infelizmente, não é raro que a família encontre professores que estão recebendo, pela primeira vez, um aluno diagnosticado com TEA, tendo o processo de inclusão como um esforço conjunto entre o núcleo familiar, educadores e alunos.
Por isso, é importante dialogar com a escola e entender qual o posicionamento dela sobre isso, entendendo como está o processo de inclusão e de aprendizagem. Alguns pontos são essenciais nesse momento, como:
- Respeito sincero pela criança ou adolescente com autismo;
- Desejo genuíno em ajudar no desenvolvimento daquele aluno;
- Flexibilidade para trabalhar adaptações do ambiente;
- Capacidade de articular em conjunto dentro e fora da sala de aula.
“A inclusão é formada por uma tríade: amor, capacitação e empatia. Sem esses três elementos, ela não funcionará. De nada adianta o aluno ficar num cantinho em sala de aula, ele precisa fazer parte da mesma. Precisa que seus direitos sejam respeitados.”
Nesse sentido, a psicopedagoga afirma que a avaliação escolar de cada aluno é essencial, pois a inclusão é um estudo de caso. “É preciso saber quais são as dificuldades, mas sobretudo suas habilidades para se compreender o que é efetivo para o aprendizado do mesmo”, reforça ela.
2. Possibilidade de manter um diálogo constante com a família
Quando a família encontra algumas escolas que se adequem à criança, seja de educação especial ou regular, é fundamental entender se existe motivação para uma comunicação constante, já que ela é fundamental para troca de informações do aluno tanto na escola, quanto em casa e até mesmo no ambiente terapêutico.
Nesse aspecto, os pais podem ficar atentos a alguns pontos específicos, como:
- Existem sensibilidades do aluno no dia a dia?
- Quais são os interesses e motivações dele?
- Os professores conseguem auxiliar diante de uma sobrecarga sensorial?
- Como a escola enxerga a inclusão em todos os ambientes?
Essas foram apenas algumas sugestões de perguntas para ter em mente na hora de dialogar com a escola, mas novamente: é importante lembrar qual o perfil específico da criança, para entender o que pode ser perguntado no dia a dia.
Da mesma forma, como cada criança é única e aprende de uma forma diferente, o fato de educadores ou da escola já terem uma experiência prévia, não garante que exista um sucesso na inclusão.
Maria conta que a maior insegurança que teve em relação à escola da filha foi a falta de capacitação por parte dos profissionais envolvidos com ela e a falta de conhecimento dos alunos e dos responsáveis quanto a sua deficiência.
Por isso, a troca de informações constantes e sinceras é a melhor forma de fortalecer o vínculo de confiança e troca entre os responsáveis e a escola.
3. Se necessário, existe a possibilidade de adaptações físicas na classe?
Não somente o aluno precisa de adaptar a escola, mas o ambiente também precisa ser inclusivo para os alunos. No caso de pessoas com autismo, essas adaptações podem incluir aspectos físicos nos espaços, para ajudar a mobilidade, por exemplo, como aspectos ligados à metodologia de ensino e aprendizagem.
Por isso, é muito importante que a família converse sobre a possibilidade de adaptações na classe de aula, explicando sobre as características da criança e procurando maneiras de minimizar os estímulos sensoriais que podem afetar a permanência na escola.
A antecipação de mudanças é algo que precisa estar claro para todos e também passível de acontecer. Nesse sentido, alguns pontos podem ser considerados:
- Mudanças na posição do aluno na sala;
- Modelos de mesa ou carteira com acessórios, ou não (como almofadas);
- Uso de quadros de rotina e outros suportes visuais;
- Criação de um espaço de descompressão sensorial.
Uma boa dica aqui é compartilhar com a escola as adaptações que já são feitas em casa e podem ser implementadas na classe.
4. Educação especial e disponibilidade de oferecer um plano pedagógico individualizado (PEI)
O PEI – Plano Educacional Individualizado – é um importante instrumento para planejamento de metas e inclusão de pessoas com autismo no ambiente escolar. Também chamado de PDI – Plano de Desenvolvimento Individual – em alguns locais, seu objetivo é garantir o aprendizado do aluno, levando em consideração suas dificuldades e necessidades.
Ele é feito em conjunto pela escola e os profissionais que acompanham o aluno, como professores reagentes e de inclusão escolar. Ele deve orientar quais são as instruções para um aluno com deficiência, considerando as necessidades acadêmicas, comportamentais e sociais.
Além disso, a escola pode procurar outras formas diferentes de garantir a atenção e proporcionar o engajamento do aluno nas tarefas. Dessa forma, os interesses e motivações da pessoa podem ser usados como reforçadores para a participação nas atividades.
A família tem papel fundamental no processo de aprendizagem
Além de escola, seja ela de educação especial ou regular, a família é peça fundamental no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança com autismo. Todo o núcleo familiar funciona como agente de transformação, potencializando as oportunidades de evolução do dia a dia.
Dessa forma, é importante que os pais explorem as possibilidade da rotina, e interpretem o novo como algo positivo para o comportamento dos filhos, tendo uma visão de implementar as alternativas da escola e garantir que os ensinamentos estejam presentes em todas as esferas.
Converse sempre com os profissionais que acompanham a criança autista, entendendo qual o comprometimento deles e quais materiais são propostos para diminuir possíveis barreiras de aprendizado. Além disso, é importante compartilhar o que é estabelecido com a equipe terapeuta.
A colaboração das pessoas cuidadoras, equipe multidisciplinar e profissionais escolares é essencial para a evolução da criança com autismo quando o assunto é desenvolvimento escolar.
Que tal entender melhor sobre o papel da educação inclusiva no autismo? Temos um texto em nosso blog completo sobre o assunto. Clique para ler:
Educação Inclusiva no Autismo