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A época do carnaval é conhecida por ser um período de muita diversão entre os brasileiros, mas para as pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), aproveitar esse momento pode ser muito frustrante e um dos motivos é o incômodo causado pelos altos estímulos sensoriais que recebem durante a folia.
Mas isso não significa que não é possível curtir o carnaval com crianças autistas. Tornar essa celebração inclusiva para os pequenos com TEA é algo que pode, e deve ser feito em casa, mas que demanda planejamento e conhecimento de estratégias e dicas.
Nesse texto você encontra informações essenciais como a importância da previsibilidade para o carnaval e também algumas dicas que podem te ajudar a curtir esse período de festa com a criança e a família. Leia para descobrir!
Carnaval e crianças autistas: Por que pode ser difícil?
O principal motivo da dificuldade e desconforto da época do ano é a grande quantidade de estímulos sensoriais.
Isso porque algumas pessoas com autismo possuem hipersensibilidade, devido ao Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), uma condição que afeta o sistema nervoso e provoca um excesso dos estímulos, sejam auditivos, visuais e/ou táteis.
Dessa forma, multidões, barulhos, luzes brilhantes, fantasias e uma grande quantidade de estímulos sensoriais ao mesmo tempo, podem criar sobrecarga sensorial e uma experiência desgastante para pessoas atípicas.
“Isso ocorre porque algumas pessoas com autismo podem apresentar hipersensibilidade, sintoma de um tipo de Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), uma condição que impacta como o sistema nervoso processa os estímulos sensoriais, sejam eles auditivos, táteis, visuais e vestibulares”, explica Mariana Tonetto, Diretora Clínica da Genial Care.
🔎 Mariana Tonetto | Terapeuta Ocupacional | CREFITO 3/ 12535-TO
Quando uma pessoa possui essa condição sensorial, pode experimentar uma percepção exacerbada de estímulos ou necessitar de estímulos adicionais para perceber qualquer forma de sensação”.
Além disso, a mudança na rotina também é algo que pode impactar diretamente a dinâmica familiar durante o carnaval e criando angústias. Dessa forma, a previsibilidade é a chave para comunicar o que está por vir e também criar compreensão da criança sobre a época do ano.
Entenda o que é o Transtorno do Processamento Sensorial no autismo
O Transtorno do Processamento Sensorial é uma condição que pode (ou não) estar presente em pessoas com TEA.
Por ser uma condição ligada ao sistema nervoso, ele é considerado uma comorbidade, pois compromete a qualidade de vida e o desenvolvimento da pessoa que possui o TPS.
Quando a pessoa é caracterizada por essa condição sensorial, ela pode apresentar estímulos demais ou precisa de reforços para sentir qualquer tipo de estimulação. Dessa forma, pode ser classificado como:
- Hipersensibilidade: quando há estímulos em excesso, sendo auditivos (muito barulho), visuais (sensibilidade a luz), ao sentido tátil, onde há incômodos por textura (fio de cabelo, blusa de lã), ao olfato (cheiros de fragrâncias que incomodam e ao paladar (caracterizando também a seletividade alimentar, etc.
- Hipossensibilidade: quando há um esforço para oferecer qualquer tipo de estimulação. Em casos assim, é muito comum que pessoas com esse perfil sensorial estejam sempre em movimento, se balançando, movimentando os dedos e as mãos, ou seja, apresentando movimentos repetitivos com frequência, e até mesmo procurando objetos para tocar e estimular os sentidos.
Além disso, há casos em que a pessoa pode conviver com a hipersensibilidade e a hipossensibilidade, respondendo melhor a um sentido do que outro, isto é, busca contato com diferentes textura (massinha, areia, etc) como estímulo, mas é hipersensível a sons muito altos.
Ainda no transtorno sensorial, existem outras classificações que determinam o quadro sensorial do indivíduo, dividida em:
- Transtorno de modulação sensorial: dificuldade para regular grau, intensidade e natureza das respostas dos estímulos sofridos;
- Transtorno de discriminação sensorial: gasta mais energia para identificar diferenças e semelhanças dos estímulos;
- Transtornos motores com base sensorial: dificuldade para absorver informações do próprio corpo e reagir de forma coerente com o ambiente.
Como curtir o carnaval com minha criança autista?
Antes de qualquer coisa é importante conhecer bem a criança e respeitar seu perfil específico, antes de expor a muitos estímulos que o carnaval traz. Converse com a criança e entenda se aquilo é algo que pode ser adicionado à rotina de forma saudável ou até mesmo se ela deseja participar da comemoração.
Assim, quando for definir as atividades para aproveitar esse carnaval, lembre-se de oferecer previsibilidade para sua criança autista. Justamente pelo carnaval ser uma época sazonal, onde a rotina é afetada.
Se sua criança for passar um longo período em casa, sem ir para a escola, isso vai afetar a rotina diária da família. Além disso, há um período de recesso para os adultos da família, o que muda toda a dinâmica do dia a dia.
É preciso conversar a respeito desse período. Que tal contar aguçar a imaginação da criança e tornar essa experiência mais lúdica durante uma contação de histórias?
Recursos visuais, como fotos, vídeos, brinquedos, também são bem-vindos para apresentar as cores do carnaval para a criança.
5 dicas para famílias que querem curtir o carnaval no bloquinho
Sabemos que nem todas as famílias optam por ficar em casa, então se você quer aproveitar o carnaval com sua criança autista em um bloquinho, temos algumas sugestões:
Opte por bloquinhos mais vazios e/ou com espaços amplos
Assim, você pode curtir com sua família em um canto mais afastado da multidão. Em algumas cidades existem bloquinhos e festas adaptadas para pessoas no espectro, procure saber se isso é uma realidade para a sua família!
Em São Paulo, o bloquinho de carnaval inclusivo “Carnapupa”, é um bloco inclusivo criado pela Deputada Andréa Werner, para reunir famílias atípicas em um espaço de diversão e harmonia sensorial. São músicas em volumes mais baixos, acolhimento, pintura, brincadeiras e fantasias para estimular crianças no espectro.
Invista na imaginação
Usar fantasia pode ser muito divertido, que tal convidar sua criança a vestir aquela fantasia do seu personagem favorito? Ou usar um acessório que remeta a um universo que ela ama? Você pode oferecer esse espaço para ser memorável para ela.
Essa é uma ótima oportunidade de desenvolver as habilidades sociais da criança por meio do lúdico e de algo que ela já gosta, incentivando-a a ficar ainda mais próxima de toda a diversão da época.
Crie uma rotina para sair de casa
Fornecer antecipadamente todas as informações relevantes para a criança do que ela pode esperar e como vai ser, é uma ótima maneira de otimizar a experiência e facilitar a compreensão da criança autista nesse momento.
Alguns passos importantes devem ser considerados na hora de montar essa rotina, como: explicar para onde e como vão, planejar idas e vindas, estabelecer acordos do que é ou não permitido e criar recursos visuais ou lúdicos para tornar a experiência mais envolvente.
“Sempre descreva o que está acontecendo, principalmente se forem coisas novas. Não force coisas que ela não queira fazer para não ficar aversivo”.
Faça um ‘pré-bloquinho’ em casa
Experimente a fantasia com a criança antes de sair para folia, e encene as possíveis brincadeiras que podem ser feitas enquanto estiverem na rua, adicionando confetes e serpentinas, por exemplo.
Mas é importante lembrar que fantasias também podem ser um problema para algumas pessoas com TEA, já que os tecidos podem ser mais duros ou que pinicam, trazendo desconforto.
Assim, não se esqueça de testar isso antes e ter certeza que a criança está confortável com a ação. Caso não seja algo confortável, você pode usar tecidos diferentes ou até mesmo acessórios.
Encontre áreas de descanso tranquilas
Procure lugares que você possa ter espaços de descanso e mais tranquilos para a criança se regular se for necessário. Utilize fones de ouvido com cancelamento de ruído para minimizar estímulos sensoriais excessivos ou até mesmo mordedores nesse momento.
Mas atenção: mesmo que sua criança esteja “pronta” para curtir o bloquinho, é preciso ficar atento aos sinais de que ela está incomodada com a situação. Observe como ela se comporta com os sons, se ela leva as mãos até os ouvidos, ou se procura uma forma de “se esconder”, é melhor voltar para a casa, a fim de evitar uma crise sensorial.
É importante respeitar o tempo da criança e não forçar nada que ela não queira. Encontrando soluções que se adequem ao repertório e vontade dela para o momento ser divertido e proveitoso para todos.
Dicas para quem deseja curtir o carnaval em casa
Para muitas famílias, o curtir o carnaval no bloquinho pode não ser uma realidade, por isso, a melhor opção é curtir em casa, adicionando brincadeiras que contribuem para esse período ser divertido!
E, é claro, lembrando sempre de conversar com a criança sobre esse período de dias que vão curtir em casa, alterando — de forma significativa ou não — a rotina de toda a família.
O baile de carnaval pode acontecer na sala de casa, na garagem, no quintal, e onde a imaginação permitir. Enfeites que remetem à festa do momento podem ser o principal elemento para a folia, e você pode transformar o ambiente com luzes mais baixas e coloridas (como as luzes amarelas, por exemplo).
Convide pessoas do ciclo social da sua criança autista para participar da festinha de carnaval, e estimule-as a usar fantasias para esse momento. Ah, pode ser que máscaras que cobrem o rosto, assustem crianças no espectro, por oferecer um estímulo visual totalmente diferente ao que ela está acostumada, então evite o uso delas.
Estimular a criança a vestir a fantasia favorita enquanto faz algumas brincadeiras em casa, também transforma o momento.
Em nosso blog a Terapeuta Ocupacional da Genial Care, Thalita Sanches, já fez uma lista com brincadeiras para fazer em casa, vamos relembrar?
🔎 Thalita Sanchez de Paschoa | Terapeuta Ocupacional | Crefito3/9058
- Circuito motor: utilize materiais que tem em casa como, por exemplo: almofada, puff, cadeira, balde. E elabore um caminho de obstáculos com alturas diferentes. Proponha o subir, descer, engatinhar, enquanto segura algum objeto com peso durante o trajeto e acertando no balde no final.
- Túnel: faça um caminho de cadeiras com o objetivo que a criança passe por baixo, rastejando ou engatinhando. Deixe no fim do trajeto algo que motive a criança a passar pelas cadeiras, por exemplo, um brinquedo que seja reforçador para ela;
- Caminho de almofadas: construa com a criança um caminho de almofadas. Ela poderá caminhar sobre elas e tentar equilibrar-se sozinha;
- Pulos: use uma cadeira ou sofá para esta atividade. Peça para a criança ficar em pé e, se possível, abrir os braços em cima do local escolhido (Variação de posturas: em pé, de joelhos ou de gato). Contar até 3 e só após o término da contagem ela poderá pular no alvo. Este alvo pode ser uma pilha de almofadas ou colchão.
Lembrando que é importante conversar com a equipe que acompanha o desenvolvimento da sua criança antes de entender a atividade ideal para esse carnaval com sua criança.
Atente-se ao perfil sensorial dela, e como ele pode ser estimulado nesse momento.
Conclusão
Ao implementar estratégias inclusivas durante o carnaval, é possível proporcionar uma experiência positiva e enriquecedora para crianças com autismo.
A preparação antecipada, escolha de fantasias confortáveis, criação de rotinas previsíveis e comunicação eficaz são elementos-chave.
Lembre-se, a celebração do carnaval pode ser verdadeiramente inclusiva quando todos colaboramos para torná-la acessível a cada criança, independentemente de suas necessidades e dificuldades.
Vai viajar com sua família nesse feriado prolongado? Então acesse nosso texto com dicas para viajar com a criança autista e aproveitar esse momento: