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Infelizmente, ainda existem muitas suposições, estereótipos e mitos sobre o Transtorno do Espectro Autista, como a superdotação, por exemplo, onde muita gente acredita que todo autista tem habilidades excepcionais em áreas específicas, como matemática.
Com certeza você já ouviu a frase “Todo autista é um gênio”. Apesar de muitas pessoas autistas terem maior facilidade com números e conseguirem ter habilidades diferenciadas nesse sentido, não podemos afirmar que todo autista é superdotado.
Esse estereótipo de “genialidade fora do comum” já é antigo, e por isso é comum que algumas pessoas teorizem que cientistas como Albert Einstein e Isaac Newton podem ter sido autistas.
Neste texto, você vai entender sobre essa ligação de superdotação com o TEA e como assumir isso para todas as pessoas, pode ser algo prejudicial. Confira e aprenda!
O que significa superdotação?
A superdotação intelectual é uma característica ligada ao desenvolvimento de uma habilidade de forma superior à média populacional em determinada área de conhecimento.
Uma pessoa superdotada, com alta habilidade ou talento elevado, demonstra um desempenho excepcional ou potencial em áreas específicas, como intelectual, criatividade, artes, liderança ou habilidades acadêmicas, em comparação com seus pares da mesma idade, cultura e ambiente.
Essas habilidades excepcionais geralmente se manifestam em áreas como matemática, linguagem, ciências, artes visuais, música ou outras formas de expressão.
Pessoas com superdotação podem ter uma capacidade única de assimilar, analisar e sintetizar informações complexas, bem como de resolver problemas de maneiras inovadoras.
Dessa forma, eles podem mostrar uma curiosidade intensa, uma capacidade de raciocínio abstrato e uma inclinação para explorar conceitos em profundidade.
É importante ressaltar que a superdotação é algo multidimensional e pode se manifestar de maneiras diferentes em cada pessoa. Além disso, nem todos os superdotados se destacam academicamente; alguns podem exibir talentos em áreas criativas, sociais ou práticas.
Quais os sinais da superdotação?
Uma pesquisa feita pela Associação Mensa, traz dados referentes às pessoas com alta capacidade intelectual pelo mundo. No Brasil, foram identificadas mais de 2,6 mil pessoas com esse perfil, no qual 70% dele é de jovens entre 19 e 36 anos.
Entre os principais sinais ligados à superdotação, a associação aponta 5:
- Raciocínio rápido na resolução de problemas;
- Boa memória a longo prazo, captando informações e as recuperando com facilidade;
- Boa memória operacional, que é a ação de processar e receber diferentes tipos de informação ao mesmo tempo;
- Capacidade de diferenciar sons e visualizar imagens de forma nítida;
- Rápida curva de aprendizado, com habilidades avançadas para idade cronológica.
Além disso, existem alguns testes que podem ser feitos para ter mais clareza da superdotação de uma pessoa. Entre o principal, está o teste de QI, que ajuda a compreender e comparar habilidades, considerando diferentes tipos de inteligência e áreas de pensamento.
Superdotação e hiperfoco, são o mesmo?
Talvez esse seja o ponto de maior dúvida quando pensamos em pessoas autistas ou superdotadas, uma vez que o hiperfoco de alguém no espectro pode ser a matemática ou os números, por exemplo.
Mas é importante ficar claro que, embora a superdotação e o hiperfoco possam estar interconectados em certos contextos, eles não são a mesma coisa e representam características diferentes.
Como falamos, a superdotação refere-se a um conjunto de habilidades excepcionais ou potencial em áreas específicas, como intelectual, criatividade, artes ou habilidades acadêmicas.
Já o hiperfoco, por outro lado, é um conceito relacionado ao funcionamento cognitivo e comportamental, que se refere à capacidade de uma pessoa concentrar-se intensamente em uma tarefa ou atividade específica, muitas vezes ao ponto de perder a noção do tempo e do ambiente ao redor.
Assim, o hiperfoco acontece quando uma pessoa fica em absorção total em determinada atividade ou informação. Em geral, ele é uma atividade que dá prazer e diverte as pessoas, e por isso, é tão poderoso.
Toda pessoa autista tem superdotação?
Como falamos, esse mito está diretamente relacionado ao fato de muitas pessoas autistas apresentarem hiperfoco em determinados assuntos. Mas a resposta para essa pergunta é não!
Pessoas no espectro podem, sim, ter altas habilidades e até mesmo a superdotação como características, mas isso não é uma regra. Alguns apresentam habilidades acima da média em áreas específicas como arte, música, matemática ou memória.
Inclusive, quando falamos de pessoas diagnosticadas com TEA e com superdotação, existe uma relação de desafio de aprendizagem maior em outras áreas. Dessa forma, embora possam ser mais talentosos com algo específico, ainda têm maior dificuldade em se comunicar e socializar, precisando de suporte para essas ações.
Além disso, pessoas superdotadas podem ter dificuldades na adaptação escolar na forma mais tradicional, já que o ensino pode não atender às suas necessidades específicas.
Mas assim como nem toda pessoa autista tem um hiperfoco, muitas delas não são superdotadas (ou geniais), inclusive, muitas podem ter dificuldades na hora de aprender ensinamentos específicos, como matemática, por exemplo.
Qual a relação entre superdotação, autismo e matemática?
Quando falamos dessa relação entre superdotação, hiperfoco e autismo, muitas pessoas tendem a associar pessoas no espectro como extremamente gênios em matemática ou áreas mais complexas.
De fato, existe um estudo feito na Faculdade de Medicina de Stanford, nos Estados Unidos, que viu uma relação com o QI de pessoas autistas e o seu melhor desempenho em resolver problemas matemáticos.
Os pesquisadores acreditam que isso acontece pela forma única em que o cérebro de uma pessoa no espectro é organizado, já que ele apresenta maior atividade em áreas cerebrais que favorecem a habilidade em matemática.
Inclusive no começo de 2024, após os resultados do Enem 2023 serem divulgados, tivemos a maior nota em matemática alcançada por um estudante autista. Alexandre Andrade de Almeida fez 958,6 pontos na prova de Matemática e suas Tecnologias.
Alexandre já é conhecido por acumular várias conquistas em sua jornada acadêmica com mais de 73 medalhas em olimpíadas científicas no Brasil e no exterior. Apenas nas olimpíadas de matemática, o estudante tem 19 medalhas, sendo 6 de ouro, 6 de prata, 4 de bronze e 3 menções honrosas.
Mas isso não significa que todos os alunos autistas têm facilidade em matemática e conseguem dominar os números. Seja através de dificuldades do ensino da matéria ou transtornos relacionados com aprendizagem, como a discalculia, muitas crianças com TEA podem precisar de suporte para esse aprendizado.
Por que as pessoas com TEA têm dificuldades em aprender matemática?
É muito importante desconstruirmos esse mito de que toda pessoa autista é superdotada em matemática ou um gênio de alguma forma. Embora certos estudos apontem uma prevalência maior de habilidades matemáticas em pessoas autistas, essa generalização é simplista e não reflete a realidade diversificada do espectro autista.
Cada pessoa é única e por isso, irá apresentar desafios únicos relacionados com seu repertório e necessidade de suporte.
Muitas pessoas com TEA podem ter dificuldades com habilidades de processamento, incluindo processamento visual e auditivo, que são fundamentais para compreender conceitos matemáticos.
Além disso, o TEA pode impactar diretamente na capacidade de generalização, o que significa que algumas pessoas têm dificuldade em aplicar conceitos aprendidos de uma situação para outra. Isso pode dificultar a transferência de habilidades matemáticas de um contexto para outro.
Outro ponto é que algumas pessoas com TEA podem ter barreiras de comunicação, o que pode dificultar a expressão de dúvidas ou dificuldades em relação a conceitos matemáticos. Isso pode levar a uma falta de apoio adequado e compreensão por parte dos educadores.
O que é discalculia?
A discalculia é um transtorno de aprendizagem que dificulta a habilidade de uma pessoa em compreender e lidar com conceitos matemáticos e números.
É uma condição neurológica que dificulta a realização de cálculos matemáticos básicos e a compreensão de conceitos numéricos, mesmo que a pessoa tenha uma inteligência geral típica (sem deficiência intelectual).
Os sintomas dela podem variar, mas geralmente incluem em:
- Dificuldades em aprender a contar;
- Identificar números;
- Compreender conceitos de quantidade e realizar operações matemáticas básicas.
Esse transtorno pode afetar o raciocínio lógico-matemático e causar frustração significativa nas tarefas escolares e na vida diária.
Como auxiliar pessoas autistas no aprendizado?
Apesar dessas dificuldades no aprendizado da matéria, isso não significa que pessoas no espectro não podem aprender matemática durante a vida. Muito pelo contrário, com as intervenções e apoio correto, todo mundo pode aprender e se desenvolver!
Estratégias pedagógicas adaptativas e individualizadas são essenciais para promover o sucesso acadêmico nesse domínio.
- Abordagens visuais e concretas: muitas crianças autistas são aprendizes visuais e podem se beneficiar de materiais concretos, como blocos de construção, diagramas e gráficos, para compreender conceitos matemáticos abstratos, além de outros suportes visuais como apoio;
- Rotinas e estrutura: a consistência e a previsibilidade são fundamentais para crianças autistas. Estabelecer rotinas claras e estruturadas durante as aulas de matemática pode ajudar a reduzir a ansiedade e promover a concentração e a aprendizagem.
- Flexibilidade e paciência: o ritmo de aprendizado pode variar significativamente entre as crianças com TEA. É fundamental demonstrar flexibilidade e paciência, adaptando o currículo e as atividades conforme necessário para atender às necessidades individuais de cada aluno.
- Incorporação de interesses específicos: muitas crianças autistas têm interesses intensos e específicos. Integrar esses interesses no contexto do ensino de matemática pode aumentar a motivação e o engajamento, tornando a aprendizagem mais significativa.
- Utilização de tecnologia assistiva: recursos tecnológicos, como aplicativos educacionais e softwares interativos, podem ser ferramentas poderosas para apoiar o aprendizado de matemática para crianças com TEA. Essas tecnologias podem oferecer feedback imediato, personalização do conteúdo e uma abordagem multimodal que atenda às diferentes necessidades de aprendizado.
Conclusão
Podemos entender que a superdotação é algo diferente do hiperfoco no autismo e que nem sempre toda pessoa no espectro demonstrará uma habilidade ou talento excepcional em alguma área, e tudo bem.
A diversidade faz parte da nossa condição como seres humanos, e isso não seria diferente para pessoas atípicas. Cada pessoa no espectro é única e possui um repertório diferente, com necessidades de aprendizado e habilidades distintas.
Embora alguns autistas possam exibir talentos excepcionais nessa área, não é correto generalizar ou assumir que todos os autistas são naturalmente superdotados em matemática.
Entender o perfil específico de cada pessoa, criar abordagens individualizadas e centradas no ensino, reconhecendo suas necessidades únicas e valorizando suas habilidades diversas em um ambiente de aprendizado inclusivo e acessível, é o caminho correto a seguir.
A educação tem um papel fundamental na vida de pessoas autistas e precisamos entender como transformar esse espaço em um ambiente cada vez mais inclusivo. Você pode ler nosso conteúdo sobre Educação inclusiva e continuar aprendendo ainda mais: