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A dieta sem glúten tem se tornado uma prática comum para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) há algum tempo. Isso porque alguns pesquisadores passaram a estudar se existe relação entre doenças celíacas ou sensibilidade ao glúten e o autismo.
Uma das hipóteses para esse tema surgiu por conta de possíveis sintomas gastrointestinais observados em algumas pessoas com o transtorno. A partir daí, começaram investigações para entender se existe relação entre glúten e autismo e compreender se a aplicação de dietas sem glúten faria sentido para pessoas no espectro.
Neste artigo, trazemos mais detalhes sobre como tudo isso começou e também se existem fundamentos e evidências científicas por trás disso. Confira!
Qual a relação entre dieta sem glúten e autismo?
O glúten é uma proteína presente no trigo e outros grãos. Sua utilização principal é com o objetivo de “dar liga” para alimentos processados, sendo um dos principais ingredientes desta indústria alimentícia.
Entre os alimentos e bebidas mais comuns no dia a dia que contém glúten, estão:
- Pães;
- Bolachas;
- Tortas;
- Massas;
- Cerveja;
- Molhos variados etc.
Vale ressaltar que, apesar de muitas pessoas diminuírem a quantidade de glúten quando estão em processo de emagrecimento, o alimento não é um vilão para a saúde. Ao contrário disso, uma pessoa só vai lidar com malefícios da proteína se ela tiver uma doença celíaca, ou seja, autoimune.
Nesses casos específicos, o consumo de alimentos à base de glúten pode causar irritações na pele, erupções ou coceiras, dores musculares, inchaço, problemas de pele e desconfortos estomacais.
Há algum tempo, a proteína tem sido alvo de pesquisa devido à possibilidade de relação entre ele e questões de saúde.
Dentro disso estão estudos que avaliam se existe uma relação entre glúten e autismo. A principal hipótese avaliada por pesquisadores é de que a eliminação de alimentos à base de glúten na dieta de pessoas com autismo pode trazer melhorias comportamentais e cognitivas.
Apesar disso, é importante dizer que os resultados da maioria destes estudos têm sido mistos e especialistas ainda discutem se a abordagem de uma dieta sem glúten seria eficaz para pessoas no espectro.
O que os estudos dizem sobre glúten e autismo?
A possível relação entre dietas sem glúten e melhoras comportamentais e cognitivas em pessoas autistas vem sendo estudada há mais de uma década.
Uma destas pesquisas, publicada em 2016 no World Journal of Pediatrics, teve como principal objetivo avaliar os efeitos da dieta em sintomas gastrointestinais e comportamentos comuns no TEA.
Conduzido por quatro autores, o estudo “Efeito da dieta sem glúten nos índices gastrointestinais e comportamentais de crianças com transtornos do espectro do autismo: um ensaio clínico randomizado” dividiu 80 crianças com autismo (53,9% das quais já apresentavam alterações gastrointestinais) em dois grupos:
- Grupo 1: Foi exposto a uma dieta sem glúten;
- Grupo 2: Seguiu uma dieta regular, com glúten.
Ambos os grupos foram observados ao longo de seis semanas. Como resultados, os pesquisadores identificaram que a prevalência de sintomas gastrointestinais diminuiu significativamente após a introdução da dieta sem glúten e aumentou insignificantemente no grupo cuja dieta era regular.
Além disso, eles afirmaram que a inclusão da dieta sem glúten resultou em uma diminuição significativa nos distúrbios comportamentais, mas tiveram um aumento insignificante no grupo de dieta regular.
Outros pesquisadores rebatem afirmativa
Um segundo estudo, publicado em 2013 no Elsevier e conduzido na Universidade de Harvard, fez uma revisão de literatura de vários artigos que analisavam uma possível relação entre glúten e autismo.
Entre os resultados apresentados pelo autor, ele afirma que existem muitas barreiras para avaliar os benefícios de uma dieta sem glúten para pessoas autistas.
Segundo o artigo, “No único estudo cruzado, duplo-cego, nenhum benefício de uma dieta sem glúten foi identificado. Vários outros estudos relataram benefícios da dieta sem glúten. Não é possível controlar o viés do observador e o que pode ter representado um progresso não relacionado ao longo do tempo nestes estudos”.
A partir disso tudo, o autor conclui que “uma variedade de sintomas pode estar presente na sensibilidade ao glúten.
Atualmente, não há evidências suficientes para apoiar a instituição de uma dieta sem glúten como tratamento para o autismo. Pode haver um subgrupo de pacientes que possa se beneficiar de uma dieta sem glúten, mas o sintoma ou o perfil de testes desses candidatos permanece obscuro”.
O que levar em consideração se eu quiser introduzir uma dieta sem glúten para meu filho?
A princípio, não existem malefícios identificados em introduzir uma dieta sem glúten para crianças com autismo.
No entanto, é importante que a pessoa cuidadora e os profissionais envolvidos nas intervenções para desenvolvimento da pessoa levem alguns aspectos em consideração:
Mais pesquisa ainda são necessárias
Embora seja facilmente possível encontrar pessoas que afirmam existir muitos benefícios em uma dieta sem glúten, vários estudos já realizados, como o citado acima, demonstram que ainda são necessárias mais pesquisas sobre o tema.
Cada pessoa autista é única
O que funciona para um indivíduo com autismo, pode não funcionar com outro.
Por isso, a abordagem da dieta sem glúten deve ser implementada com cautela e supervisionada por profissionais de saúde qualificados, como nutricionistas e médicos, para garantir que as necessidades nutricionais sejam atendidas adequadamente.
Evidências científicas são fundamentais
Qualquer intervenção indicada para o autismo, incluindo a inclusão de uma dieta sem glúten, devem ter evidências científicas sólidas.
Pesquisas bem projetadas, estudos controlados e revisões sistêmicas são essenciais para determinar se essa abordagem traz, de fato, benefícios substanciais.
Conclusão
Em resumo, a relação entre a dieta sem glúten e o autismo é um tópico complexo e em evolução.
Embora existam relatos de melhorias comportamentais e cognitivas em pessoas autistas após a eliminação do glúten de suas dietas, a pesquisa científica ainda não forneceu evidências conclusivas para sustentar essa abordagem como um tratamento universal para o autismo.
Por este motivo, antes de adotar qualquer mudança na dieta, é aconselhável consultar profissionais de saúde especializados para tomar decisões informadas e personalizadas.
Além disso, muitas crianças com autismo apresentam seletividade alimentar que pode incluir a recusa alimentar, repertório restrito de alimentos e até mesmo a ingestão frequente de um único tipo de alimento. Por isso, é importante conversar com a equipe fonoaudióloga para entender quais estratégias e alimentos podem ajudar nesse processo.
Aqui em nosso blog, já temos um conteúdo bem completo sobre esse tema, vale a pena clicar no botão para continuar a leitura:
Seletividade alimentar no autismo: como o fonoaudiólogo pode ajudar?