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A espera de um filho é algo repleto de anseios, expectativas, desafios e sonhos do futuro que está por vir na família. Quando existe a descoberta de alguma neurodivergência, como o autismo, é preciso ajustar essa paternidade com a nova realidade.
Isso não quer dizer que o futuro será ruim, mas sim, diferente do que foi idealizado antes do diagnóstico. Normalmente, quando falamos disso, nos voltamos para as perspectivas das mães, mas é importante entendermos sobre a vivência dos pais atípicos.
Com a chegada do mês de agosto e o
Bruno e Renato são pais de crianças autistas e contam um pouco de suas trajetórias e como a paternidade ajuda no desenvolvimento dos filhos. Acompanhe!
O que é paternidade atípica?
Assim como falamos muito sobre maternidade atípica, também temos a paternidade atípica. Esse termo está ligada à experiência de pais que criam filhos com transtornos de desenvolvimento, como autismo, dislexia, TDAH, entre outras neurodivergências.
A paternidade atípica é uma forma de criar uma comunidade entre pais que estão passando por uma jornada desafiadora, compartilhando experiências, vivências similares, encontrando apoio entre eles.
Esses pais enfrentam desafios únicos que podem incluir desde a busca por diagnósticos precisos até a adaptação de rotinas diárias para atender às necessidades específicas de seus filhos.
Nesse dia dos pais, Bruno conta que a sua jornada na paternidade atípica é algo de constante aprendizado diário diante dos desafios das crianças no espectro autista, bem como também uma jornada exaustiva.
O que é ser pai atípico?
Ser um pai atípico significa estar constantemente aprendendo e se adaptando. Para além do dia dos pais, precisamos garantir visibilidade para que esses pais desenvolvam uma compreensão sobre o diagnóstico de seus filhos e se tornem agentes de transformação em seus desenvolvimentos.
Bruno lembra de quando descobriu o diagnóstico de sua filha e como aquele momento foi um turbilhão de sentimentos.
“Foi um mix de sensações dentro de mim. No momento senti um alívio diante da sobrecarga que estava no longo período de investigação, preocupação com o futuro dela diante de uma sociedade que não é tão inclusiva e solidária, e senti que dali em diante o meu amor por ela cresceu mais ainda”
Ele também fala sobre os desafios de ser um pai atípico, sendo para ele o maior de todos a conscientização de amigos, familiares, pessoas próximas e outras esferas da sociedade.
Renato também se lembra sobre sua descoberta como pai atípico e o que isso causou em sua vida. “Quando recebi o diagnóstico do Henrique eu fiquei sem chão, mas procurei ajuda e descobri que ele era quem me ajudaria muito. Pude ver que acreditar no potencial que meu filho pode desenvolver é o melhor caminho”.
Dia dos pais: o papel do pai no desenvolvimento e criação de um filho
Segundos dados divulgados em 2023 pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), dos 2,5 milhões nascidos no Brasil, 172,2 mil deles foram registrados apenas com o nome da mãe — quantidade 5% maior do que o registrado em 2022, de 162,8 mil.
Infelizmente, esses números ainda apontam sobre a ausência da figura paterna na vida de muitas famílias. Quando levamos isso para famílias atípicas, esse dado é ainda mais intenso.
De acordo com nosso estudo “Retratos do Autismo”, realizado em parceria com a Tismoo.me, a maioria das pessoas cuidadoras são as mães, e existe ainda um estigma muito grande sobre as mulheres no momento do diagnóstico do autismo.
O estudo também detectou que, das mais de 2.000 pessoas entrevistadas, 36% afirmaram que se sentiam culpadas pela condição da criança, e dessas, 89% eram mulheres e 11% homens. Um outro estudo da Genial Care, “Cuidando de quem cuida”, mostra em seus dados que 86% das pessoas cuidadoras de crianças autistas são mães.
Precisamos lembrar da importância da presença dos pais no desenvolvimento de seus filhos, além da construção de laços e vínculos afetivos que podem ser benéficos para toda a vida.
A presença do pai é muito importante para o desenvolvimento e bem-estar de crianças com autismo, e seu papel pode ter um impacto profundo em várias áreas.
Pais envolvidos, e que participam ativamente de diversas atividades de vida diária, ajudam as crianças a desenvolver diversas habilidades. Ao longo do desenvolvimento, a criança precisa de diversos tipos de assistência e de estímulo que podem ser divididos entre o papel materno e paterno.
Por exemplo, logo no início da vida, a mãe é a fonte de nutrição e alimento para a criança. Porém, à medida que a criança se desenvolve e começa a controlar o movimento do corpo, a presença do pai é um grande reforçador para tarefas que envolvem atividades sensório-motores.
Bruno comenta que para ele existe uma diferença e importância entre ser um Pai e não somente criar a figura em um papel secundário. Ele acredita que buscar compreender e amar incondicionalmente podem contribuir para esse desenvolvimento.
“Muitas das vezes esse amor não é correspondido no momento, mas no futuro será”.
Já Renato conta sobre o impacto em sua vida com o filho Henrique. “Ele se sentir seguro e saber que tem alguém torcendo por ele, o impacto na vida é crescer sendo amado e ter um modelo para seguir e fazer melhor. Tudo isso faz parte do desenvolvimento”.
Dicas e estratégias para enfrentar desafios da paternidade atípica
A presença do pai nas atividades diárias do filho, como brincar, estudar e participar de terapias, fortalece o vínculo afetivo e proporciona segurança emocional à criança.
Para filhos atípicos, essa participação ativa pode significar a diferença entre o sucesso e a dificuldade em diversas áreas do desenvolvimento. Já falamos aqui em nosso blog sobre a parentalidade e a aprendizagem infantil, vale a pena ler para aprender.
Para Bruno o melhor conselho é buscar compreender o TEA, entender cada aspecto único do seu filho e saber que desafios são feitos de descobertas. Já Renato acha importante destacar a importância da regulação emocional na rotina dos filhos.
“Ninguém fala sobre o carinho de pai e mãe que a criança precisa quando se desregula, e como as coisas ficam mais leves quando você aprender porque aquilo está acontecendo e como pode ajudar positivamente”.
Outras dicas e estratégias para paternidade atípica nesse dia dos pais são:
Educação e informação: estar bem informado é fundamental. Pais atípicos devem se educar sobre o diagnóstico de seus filhos e as melhores práticas para apoiá-los.A rotina ajuda: criar e manter uma rotina estruturada pode fazer uma grande diferença na vida de uma criança atípica. Isso inclui horários consistentes para atividades diárias, como refeições, sono e terapias.Envolvimento nas terapias: terapias específicas, como a terapia ocupacional, fonoaudiologia e terapia comportamental, são fundamentais para o desenvolvimento de crianças atípicas. Pais devem trabalhar em conjunto com os terapeutas para reforçar as habilidades aprendidas em casa e garantir uma abordagem coesa.Lembre-se da sua saúde mental: a saúde mental dos pais é tão importante quanto a das crianças. O estresse e a exaustão são comuns, e buscar apoio emocional através de terapia, grupos de apoio ou até mesmo atividades de autocuidado é essencial.
Conclusão
Paternidade atípica é um assunto importante e pertinente para a comunidade do autismo. Por isso, não podemos falar sobre isso apenas no dia dos pais.
Ampliar discussões e espaços para que cada vez mais sejam presentes no desenvolvimento de seus filhos, é contribuir para um crescimento com qualidade de vida.
Por meio da paternidade atípica conseguimos promover a inclusão e a independência dos filhos. Além disso, apoiar a independência nas atividades diárias prepara as crianças para uma vida mais autônoma e confiante.
Pais que se dedicam a entender e atender às necessidades únicas de seus filhos atípicos não só fortalecem a relação familiar, mas também pavimentam o caminho para um futuro mais inclusivo e cheio de possibilidades.
Que tal continuar lendo sobre famílias atípicas? Temos uma categoria totalmente dedicada a textos para famílias, acesse agora mesmo: