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ABA – é uma ciência de aprendizagem indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento de pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente o autismo.
Ao receber o diagnóstico de autismo, é comum que muitas famílias sejam encaminhadas ou orientadas a procurar por uma clínica cuja equipe multidisciplinar atue com a ciência ABA. Neste artigo, explicamos mais sobre esse serviço e quais cuidados os pais devem tomar antes de iniciar as intervenções.
O que é ABA?
A ABA é uma ciência que estuda os comportamentos humanos que são socialmente relevantes. Assim, podemos dizer que o objetivo principal das intervenções baseadas em ABA é observar, analisar e explicar a relação que existe entre comportamento humano, ambiente e aprendizagem.
Por isso, o uso da ABA pode ser indicado para diversas demandas relacionadas a:
- Saúde mental
- Psicologia educacional
- Psicologia hospitalar
- Psicologia das organizações
- Entre outros
Isso significa que, apesar da indicação da OMS, ela não é uma ciência para ser usada somente no tratamento do autismo, mas sim para pessoas consideradas neurotípicas, sem nenhum transtorno ou condição.
O método ABA funciona para autismo?
No caso de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), as intervenções baseadas no método ABA são essenciais para:
- ensino de novas habilidades
- redução de comportamentos considerados desafiadores.
Para que isso funcione, é necessário que a visando a individualidade e as necessidades específicas de cada indivíduo.
Como é feita a terapia ABA para autismo?
Levando isso em consideração, é preciso que a terapia ABA para autismo seja estruturada. Para que a intervenção seja de qualidade, o profissional deve seguir algumas etapas fundamentais, como:
- Avaliação comportamental
- Definição de objetivos
- Planejamento de estratégias e procedimentos
- Implementação da intervenção
- Reavaliação contínua
A seguir, explicamos detalhadamente um pouco de cada etapa.
Avaliação comportamental
Nessa primeira etapa, vamos identificar onde queremos e podemos chegar com a intervenção. Mais do que classificar habilidades, é preciso entender qual a função na vida da pessoa com TEA.
É imprescindível levar em consideração as habilidades que a pessoa já tem, gostos pessoais e particularidades.
Existem dois tipos de avaliação comportamental: direta e indireta.
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- Avaliação direta: a pessoa vai até a clínica ou os profissionais vão até sua casa. Os comportamentos são observados e registrados em tempo real, por meio da aplicação de checklists, escalas e testes.
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- Avaliação indireta: pode ser feita à distância e consiste em entrevistas, questionários e testes. Se a pessoa com TEA for menor de idade, eles são aplicados com adultos responsáveis.
Definição de objetivos
Momento em que o profissional analisa os resultados das avaliações feitas e define quais habilidades serão trabalhadas com a criança (dadas suas dificuldades e potenciais) para que ela se aproxime ao máximo de uma vida autônoma e feliz.
Planejamento de estratégias e procedimentos
Depois de analisar os resultados das avaliações e planejar quais habilidades serão trabalhadas (etapas 1 e 2), a equipe tem que definir quais estratégias e procedimentos serão utilizados nos atendimentos.
Aspectos a considerar:
- Que tipo de estrutura clínica funciona melhor (mais controlado ou mais natural?)
- Quantas horas de terapia serão feitas
- Quais ambientes serão usados
- Quais estratégias serão usadas
- Há barreira de aprendizagem ou não
- Serão necessários outros tipos de atendimento (exemplo: orientação parental, acompanhamento escolar etc)
Implementação da intervenção
É nesta etapa que começa de fato o atendimento. Precisa ser feito de forma consistente e de acordo com o que foi planejado.
Reavaliação contínua
Depois de implementar a intervenção, o terapeuta ABA precisa reavaliar constantemente tanto a pessoa com TEA para acompanhar seus avanços, quanto reavaliar o seu próprio planejamento de intervenção.
Se a evolução não estiver acontecendo como esperado, não significa que a pessoa autista não pode aprender. É preciso mudar a perspectiva e entender qual ou quais partes do plano precisam ser ajustadas.
Como saber se a terapia ABA é ideal para meu filho?
De modo geral, a ciência ABA pode ser aplicada em qualquer pessoa com diagnóstico ou suspeita de autismo. Os resultados destas intervenções baseadas na Análise do Comportamento Aplicada para o TEA já foram comprovados em estudos realizados.
Os primeiros estudos envolvendo ABA no tratamento de crianças com distúrbio do desenvolvimento demonstraram que houve redução de comportamentos considerados desafiadores e aumento do repertório comportamental.
Em 1987, o psicólogo Ivar Lovaas publicou um estudo que apontava resultados positivos das intervenções baseadas em ABA em crianças com autismo. Uma das principais conclusões deste estudo foi sobre a reintegração dos participantes na escola regular:
- 47% das crianças que receberam intervenções ABA foram reintegradas com sucesso
- Apenas 2% das crianças tiveram o mesmo resultado com outras intervenções
Todos os anos, novos estudos publicados reforçam a importância da ABA e sua efetividade para pessoas no espectro autista. Um dos mais relevantes foi realizado em 2014, quando a Associação para Ciência no Tratamento do Autismo (ASAT, na sigla em inglês) publicou o Evidence-based Practices for Autism, que analisou 20 anos de intervenções para TEA.
Nele, foram identificadas 28 práticas baseadas em evidências para TEA que atingiram todos os critérios propostos pela revisão. Destas, 23 eram baseadas nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).
Como escolher terapeuta ABA para as intervenções?
Escolher profissionais ABA e a clínica que vai trabalhar nas intervenções para o autismo não é um momento fácil para as famílias. Por isso, decidimos reunir neste tópico alguns cuidados essenciais para se atentar.
Verifique se o terapeuta é certificado
Nos Estados Unidos, os profissionais que atuam com ABA precisam ser certificados pelo Conselho de Certificação de Analistas Comportamentais (BACB).
A sigla BACB, em inglês, significa Behavior Analyst Certification Board, e esse título é concedido depois de uma revisão periódica de acordo com os padrões internacionais. Todos os requisitos BACB e conteúdo do exame serão estabelecidos por profissionais altamente especializados.
No Brasil ainda não existe uma certificação como a BACB. Por isso, é comum que psicólogos e outros profissionais que atuam com ABA façam especializações.
Ao procurar uma clínica ou profissional, verifique se ele tem uma especialização reconhecida pelo MEC para trabalhar com Análise do Comportamento Aplicada.
Pergunte sobre o cronograma de terapia e avaliações
É importante que você entenda como será o cronograma da terapia (se ela segue as etapas indicadas anteriormente no texto) e também como e quando serão feitas avaliações e reavaliações do progresso da criança.
Outro ponto importante é que a clínica deve apresentar essas avaliações de progresso com regularidade e te entregar o documento.
Entenda se você também vai receber orientações
Toda estratégia aplicada em clínica deve ser replicada nos ambientes e situações da vida diária com a criança. Somente assim podemos dizer que houve um aprendizado efetivo.
Por isso, entenda se a clínica e o profissional vão te oferecer orientações para aplicar as estratégias em casa, na escola ou na rua e como isso será feito (de quanto em quanto tempo/ por quanto tempo você receberá essa orientação etc).
Curso de ABA para autismo ajuda os pais?
É comum que muitas famílias procurem por Cursos ABA para aprender mais sobre essa ciência e conseguir fortalecer os comportamentos aprendidos pela criança na terapia. No entanto, é importante ressaltar que a aplicação da ABA deve ser feita com base na individualização de cada um, e não de forma genérica.
Sendo assim, fazer um curso ABA pode ser importante para aprender de forma mais aprofundada sobre essa ciência e suas aplicações, mas existem algumas opções que podem ser mais viáveis para a prática do dia a dia, como o treinamento parental.
Treinamento parental
De forma resumida, treinamento parental , que traz diversos objetivos para que os pais trabalhem em casa. Ele ensina aos pais habilidades para propiciar e manter o desenvolvimento saudável da criança e do núcleo familiar como um todo.
Normalmente, o treinamento tem como objetivo tratar de uma necessidade particular, como ensinar a criança a completar uma atividade diária (desfralde), por exemplo. Mas ele também pode trabalhar dificuldades da própria pessoa cuidadora.
Durante todo processo, a família é guiada pelo profissional, que analisa a aplicabilidade das estratégias e fornece feedbacks necessários.
RUBI
RUBI tem como objetivo principal trabalhar na redução de comportamentos considerados desafiadores. Ou seja, comportamentos de crises, autoagressão e que possam machucar a criança ou pessoas próximas (como atirar objetos, por exemplo).
Para comprovar a eficácia do RUBI nos Estados Unidos, entre setembro de 2010 e fevereiro de 2014 a criadora do modelo Karen Bearss e parceiros conduziram um estudo com 267 famílias [destas, 180 crianças estavam no espectro], com crianças de idades entre 3 e 7 anos.
Ao fim do estudo, os resultados mostraram que, para crianças com TEA, o programa de treinamento dos pais de 24 semanas foi superior à educação dos pais para reduzir os comportamentos desafiadores.
Para chegar a estas conclusões, foram analisados relatos dos pais. A taxa de resposta positiva avaliada por clínicos independentes (ou seja, que não participaram como terapeutas no estudo e não tiveram contato com as famílias durante a pesquisa) também foi maior para o treinamento dos pais em relação à educação dos pais.
Acredite na intervenção precoce e no seu poder como agente de transformação
Mesmo sem um diagnóstico fechado, a orientação profissional é de que as famílias o quanto antes. Isso acontece porque quanto antes a criança começa a ser estimulada, maiores são as chances de aprendizagem que ela tem, graças à neuroplasticidade.
Além disso, é importante que os pais saibam sua importância para o desenvolvimento da criança, pois eles são os principais professores e agentes de transformação na vida dos filhos. Independente de qualquer terapia, o impacto da presença e aprendizado dos pais é fundamental para qualidade de vida de todo núcleo familiar.