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A responsabilidade sentida na criação dos filhos é um grande desafio para qualquer mãe, pai ou pessoa cuidadora. Existem as dificuldades atreladas à nova rotina, às noites de sono mal dormidas e o trabalho cansativo que é suprir as necessidades da criança, desde seu nascimento até o desenvolvimento de sua autonomia com o passar dos anos.
Para cuidadores de crianças no espectro do autismo essa dificuldade frequentemente é ainda maior. Isso vem desde o recebimento do diagnóstico, processo por vezes longo e estressante, até o manejo de potenciais comportamentos desafiadores e a desarticulação dos cuidados necessários.
A seguir, veremos algumas práticas parentais indicadas pela ciência como benéficas para o desenvolvimento infantil e como elas podem impactar no decorrer da vida da criança e na saúde da família. Vamos lá?
Criando filhos com desenvolvimento atípico
Como já abordado no blog anteriormente, pessoas cuidadoras de crianças no espectro tendem a ter uma maior sobrecarga de estresse relacionada a parentalidade, refletindo em maiores índices de estresse parental.
Isso ocorre por motivos diversos, como, por exemplo:
- Cuidadores de crianças com desenvolvimento atípico investem mais horas diárias no cuidado de seus filhos, se comparados a cuidadores de crianças com desenvolvimento típico;
- Serviços de saúde desarticulados que fazem com que os pais tenham que passar muito tempo para encontrar profissionais de cada uma das áreas necessárias para o cuidado da criança.
Uma das estratégias levantadas pela ciência como efetiva para lidar com essas dificuldades é o treinamento parental. Esse trabalho é importante tanto para o suporte das famílias, quanto para a educação a respeito do diagnóstico e, especialmente, para a capacitação dos cuidadores, que permite melhor manejo das dificuldades que podem surgir durante o desenvolvimento da criança.
Pesquisadores e profissionais discutem há anos algumas práticas parentais que facilitam o desenvolvimento saudável de qualquer criança e outras que, pelo contrário, podem dificultar esse desenvolvimento. Veremos algumas delas a seguir.
Práticas parentais positivas na criação de filhos
É inegável o efeito que as práticas parentais têm no desenvolvimento de qualquer criança. Muitos autores descrevem que a ausência de um ambiente acolhedor e afetuoso está relacionada ao aumento de comportamentos considerados anti sociais, como baixa autorregulação, em crianças.
Além disso, pesquisadores apontam que a forma com que pais e cuidadores agem com a criança afeta o seu desenvolvimento cerebral, suas habilidades sociais e de autocontrole, sua linguagem e sua capacidade de regulação emocional.
O que são práticas parentais positivas?
Diferentes autores nacionais e internacionais pesquisam e descrevem ações que pais e cuidadores praticam que podem beneficiar o desenvolvimento infantil e práticas que podem atrapalhar esse desenvolvimento saudável.
De acordo com Paula Gomide, pesquisadora brasileira, as práticas parentais positivas incluem:
- monitoria positiva: atenção e distribuição de privilégios;
- comportamento moral: ensino de empatia, justiça e responsabilidade.
Enquanto as práticas consideradas nocivas são:
- negligência;
- ausência de atenção e afeto;
- inconsistência nas regras e punições.
Outras duas autoras brasileiras, Alessandra Bolsoni-Silva e Sônia Loureiro, propõem uma segunda categorização de práticas educacionais positivas:
- comunicação: conversar/perguntar;
- expressão de sentimentos e enfrentamento: expressão de sentimentos negativos e positivos, opiniões, carinho;
- estabelecimento de limites: estabelecer regras, ser consistente, concordância entre os pais/cuidadores primários, comprimir promessas, identificar erros e pedir desculpas
Independente das diferenças entre classificações propostas, é possível identificar fatores comuns apresentados como benéficos, dentre eles ressaltam-se:
- ambiente acolhedor, afetuoso;
- diálogo: conversar, demonstrar interesse;
- expressão de sentimentos negativos e positivos;
- consequências adequadas para os comportamentos habilidosos e não habilidosos;
- consistência nos limites, regras e nas punições.
Essas práticas para a criação de filhos foram descritas a partir de estudos realizados com crianças com desenvolvimento típico com comportamentos considerados desafiadores. Mas o quanto elas beneficiam o desenvolvimento de crianças atípicas? A seguir entraremos neste tópico.
Como essas práticas podem ajudar na criação de filhos atípicos?
Um estudo intitulado Positive Parenting of children with developmental disabilities: A meta-analysis (Parentalidade positiva de crianças com deficiências de desenvolvimento: Uma metanálise) foi realizado visando sistematizar a literatura científica sobre práticas parentais positivas e seus efeitos na criação de crianças com desenvolvimento atípico.
A primeira coisa que os autores levantam é a escassez de estudos direcionados à parentalidade positiva atípica (os poucos que existem focam apenas em mães), enquanto há um grande número de pesquisas que focam nessas práticas com crianças com desenvolvimento típico.
Após fazerem as análises entre os estudos, os pesquisadores perceberam que, aparentemente, não há diferenças significativas entre os efeitos das práticas parentais positivas em crianças com desenvolvimento típico e atípico. Inclusive, foi possível perceber que não há diferença do efeito dessas práticas também entre tipos diferentes de deficiência (TEA x síndrome de down).
Sendo assim, as mesmas práticas que favorecem o desenvolvimento de crianças típicas, tendem a favorecer crianças atípicas e, segundo os autores, podem beneficiar especialmente crianças com TEA, que apresentam prejuízos sociais.
4 práticas parentais positivas para criar crianças com TEA
Com base nas referências apresentadas no texto, foram resumidos quatro âmbitos relevantes quando falamos em práticas parentais positivas para crianças no espectro:
- atenção: demonstrar interesse, conversar, perguntar, acolher, dar carinho, brincar;
- expressão de sentimentos: positivos, negativos e opiniões;
- consequências adequadas: consequências que aumentem a probabilidade de que comportamentos habilidosos voltem a ocorrer;
- consistência: concordância entre pais/cuidadores quanto às regras e combinados; e quais são as consequências dadas ao cumprimento ou não das mesmas.
O treinamento parental é uma boa forma de treinar esses comportamentos em pais e cuidadores, por isso deve fazer parte de intervenções focadas no TEA. Se quiser saber mais sobre isso leia nossos textos do blog sobre: treinamento parental; o impacto do bem-estar nos pais no desenvolvimento da criança no espectro e sobre intervenções efetivas para o autismo.