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Você já ouviu alguma criança falando os memes do “ballerina cappuccina” ou “tralalelo tralala”? Ou quem sabe já viu algum vídeo curto e rápido desses assuntos? Conteúdos como esses, que ficaram em alta nos últimos meses, podem estar causando o apodrecimento do nosso cérebro.
O termo Brain Rot, eleito pelo Dicionário Oxford e Oxford University Press em 2024, como a expressão do ano devido à relevância e repercussão do assunto, se refere, tanto de forma literal quanto em tradução livre, ao “apodrecimento cerebral”.
Sabe aquela sensação de “cérebro cansado e derretido” após horas de consumo de conteúdo rápido e acelerado nas redes sociais? Isso é o Brain Rot.
Esse consumo exagerado de crianças, adolescentes e até adultos, de vídeos curtos e sem sentido, está acabando com a concentração e desenvolvimento cognitivo das pessoas. Isso é mais que tempo de tela e impacta negativamente nossa atividade cerebral.
Mas o que isso significa na prática? E qual o impacto real desse fenômeno no desenvolvimento cognitivo de crianças, especialmente aquelas com diagnóstico de autismo? Leia o texto completo para entender!
O que é Brain Rot?
Embora não seja um termo médico oficial, “brain rot” (em tradução livre para “cérebro podre” ou “apodrecimento cerebral”) se refere à deterioração da saúde mental e intelectual, além do desenvolvimento cognitivo, de uma pessoa, causada pelo excesso de consumo online, especialmente em formatos curtos e banais.
O Newport Institute, especializado em saúde mental, define o Brain Rot como o resultado do consumo ininterrupto de dados sem sentido, imagens retocadas e notícias negativas, que podem nos levar à sensação de inadequação e exaustão emocional.
No artigo “The Psychology of Brain Rot” o autor aponta que o fenômeno está diretamente ligado à dependência de mídias sociais e à forma como conteúdos digitais estimulam excessivamente o sistema dopaminérgico do cérebro.
Isso inclui desde assistir compulsivamente a vídeos, rolar interminavelmente feeds de redes sociais, alternar entre abas do navegador e responder mensagens em sequência, tudo ao mesmo tempo.
Assim, isso deixa de ser uma preocupação e se torna um prejuízo real nas habilidades cognitivas de uma pessoa, criando uma sobrecarga com efeito real, afetando a atenção, memória, sono e humor.
O que é Brainrot meme?
Nas redes sociais, especialmente entre jovens, o termo “brainrot meme” é utilizado de forma irônica para se referir a imagens ou vídeos curtos, geralmente sem sentido, geradas por IA e com histórias meio absurdas.
Os memes “ballerina cappuccina” – que mostra uma bailarina com cabeça de capuccino – , “tralalelo tralala” – que mostra um vídeo de um tubarão branco com tênis – ou “Lirili Larila”, conhecidos como brainrot italiano, ficaram super conhecidos entre os jovens e crianças por sua estética desajeitada, surreal e com personagens híbridos.
Apesar do tom humorístico, o uso do termo reflete uma consciência crescente sobre os efeitos do excesso de estímulo digital, principalmente quando esse estímulo vem em forma de conteúdo de baixa complexidade cognitiva e velocidade alterada.
Embora divertido à primeira vista, esse tipo de consumo pode reforçar padrões de atenção dispersa e superficialidade no processamento de informações, contribuindo para o fenômeno do apodrecimento cerebral.
O que causa o Brain Rot?
As causas do brain rot estão fortemente ligadas a hábitos de consumo digital. Entre os principais fatores estão:
- Excesso de tempo em frente às telas, especialmente com conteúdos passivos;
- Superexposição a redes sociais, com estímulos contínuos de dopamina;
- Falta de atividades cognitivamente desafiadoras;
- Preferência por conteúdos rápidos, repetitivos e de baixa complexidade;
- Pouco tempo dedicado a interações reais, atividades físicas ou hobbies criativos.
Estudos como o “Brain Rot: Overconsumption of Online Content” sugerem que o cérebro sobrecarregado por informações fragmentadas pode perder sua capacidade de foco profundo, reduzir a memória de trabalho e comprometer a tomada de decisões, especialmente entre crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento.
O impacto das telas no desenvolvimento cognitivo infantil
O uso de dispositivos eletrônicos por crianças tem crescido exponencialmente, mas as pesquisas seguem alertando: o tempo excessivo de tela está associado a atrasos em linguagem, habilidades sociais e funções executivas (como controle inibitório e planejamento).
Um estudo publicado na revista científica NeuroImage mostrou que vídeos curtos como os do TikTok ativam as áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensas, gerando forma rápida de prazer e satisfação em nosso organismo.
Entre uma das principais atividades cerebrais produzidas por esse consumo de conteúdos está um o ATV (área tegmental ventral), grande centro de dopamina do corpo. Com isso, quando uma criança ou jovem assiste a um vídeo curto no TikTok, o cérebro recebe uma enxurrada de dopamina, fazendo com que ele se sinta alegre, feliz e satisfeito.
Importante deixar claro que o uso de telas não é por si só uma coisa negativa quando falamos do desenvolvimento infantil. O que acontece é quando o tempo acaba passando de um equilíbrio saudável, além de existir um consumo de conteúdos que não são apropriados ou podem ter efeito prejudicial.
Um estudo da Universidade de Calgary com mais de 2 mil crianças mostrou que aquelas que passavam mais tempo diante das telas apresentaram desempenho inferior em testes de desenvolvimento se comparadas a outras, o que impacta diretamente no desenvolvimento cognitivo, de foco e atenção ao longo do crescimento.
Excesso de estímulo digital afeta o cérebro, o comportamento e o desenvolvimento das crianças
O estímulo contínuo e veloz dos vídeos curtos e jogos eletrônicos pode sobrecarregar o cérebro infantil, dificultando a consolidação da memória, a atenção sustentada e a autorregulação emocional. Em crianças com autismo, essa sobrecarga pode gerar ainda mais agitação, resistência a mudanças e desconexão com o ambiente ao redor.
O Dr. Eduardo Leal Conceição, neuropsicólogo do Hospital São Lucas da PUCRS, explica que a exposição prolongada a conteúdos fragmentados e repetitivos pode levar o cérebro a um estado de letargia.
Isso reduz nossa capacidade de concentração, criatividade e tomada de decisões, além de favorecer sintomas como irritabilidade, ansiedade e fadiga mental.
Brain rot e autismo: tem conexão?
Não existe nenhum estudo científico ou evidência que o brainrot tenha qualquer ligação com autismo. O autismo não pode ser causado pelo tempo excessivo de telas, mas é importante entender como o consumo em excesso de telas e conteúdos de nossas crianças podem impactar seu desenvolvimento cognitivo, motor e até mesmo físico.
Isso porque muitas crianças autistas já têm desafios nas áreas de linguagem, interação social e processamento sensorial.
Exposição prolongada a conteúdo digital de forma passiva irá trazer uma sensação grande de prazer, o que pode levar a uma falta de interesse maior ainda em relação aos demais estímulos do mundo. Além disso, a criança não precisará prestar atenção a mais nada ao redor, o que leva também a um maior isolamento social.
Inclusive, muitas pessoas associam o uso excessivo de telas ao desenvolvimento do autismo, conhecido como autismo virtual, algo que não existe! É preciso esclarecer que essa é uma das informações falsas sobre o TEA e que não tem nenhum tipo de comprovação científica.
Embora seja reconhecido que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos possa ter impactos na saúde mental e no desenvolvimento das crianças, é importante ressaltar que não existe, até o momento, evidência científica sólida que comprove uma ligação direta entre a exposição às telas e o desenvolvimento do autismo.
Um artigo publicado na “Psychology Today” ressalta que, para crianças autistas, o uso excessivo de telas pode interferir na construção de habilidades essenciais de regulação emocional e relacionamento interpessoal.
É possível controlar o brain rot? Como ajudar crianças e adolescentes
Não se trata de eliminar totalmente o uso de telas, mas de usá-las com intencionalidade. Lembre-se de:
- Estabelecer limites de tempo de tela, especialmente para crianças pequenas.
- Priorizar conteúdos educativos e interativos, que incentivem a comunicação e a aprendizagem.
- Acompanhar o uso de telas de perto, comentando e interagindo com o conteúdo junto com a criança.
- Estimular atividades offline que desenvolvam habilidades motoras, sociais e cognitivas.
- Praticar mindfulness ou meditação para ajudar a reduzir o estresse e melhorar a autorregulação.
- Criar uma rotina com momentos de silêncio, tédio produtivo e atividades manuais.
Além disso, existem algumas estratégias e conversas que podem ajudar, incluindo valores, ética digital e equilíbrio entre online e offline, como ferramentas poderosas para combater o brain rot e promover um desenvolvimento mais saudável.
O que funciona para uma família nem sempre funciona para outra, além de precisarmos entender que existe uma maneira que a criança se comporta. É preciso estabelecer limites e entender como criar algo saudável, além de respeitar questões sensoriais e de percepção do corpo e do mundo.
Dessa forma, a mediação do adulto é essencial. Para crianças com autismo, isso se torna ainda mais importante. Famílias, terapeutas e educadores precisam estar atentos não apenas à quantidade, mas à qualidade do tempo de tela.
A construção do desenvolvimento cognitivo acontece no vínculo, no brincar, na interação com o mundo real.
Conclusão
O conceito de Brain Rot pode ser um alerta valioso sobre como estamos consumindo informação e como isso afeta o desenvolvimento das crianças, especialmente daquelas com TEA.
Cabe a nós, adultos, criar ambientes que favoreçam o desenvolvimento pleno e equilibrado, em que a tecnologia seja aliada e não obstáculo no desenvolvimento de uma criança, seja ela típica ou atípica.
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