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O Brasil passa pela segunda onda da pandemia provocada pelo novo coronavírus, e as medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para contenção do vírus vêm, desde o início, causando uma mudança significativa na vida de quem convive com crianças no espectro do autismo. Por isso, muitas famílias têm vivido com muito estresse e dificuldade em lidar com os comportamentos desafiadores do autismo causados pelo coronavírus.
Pensando em como ajudar as famílias e também os profissionais que atendem crianças com autismo nesse período, nossa líder clínica Ashley Curcio, em parceria com a doutora Liliana Rocha, escreveu um artigo com dicas e recomendações para regulação emocional e manejo de comportamentos desafiadores, pensando não só nas dificuldades causadas pelo coronavírus para quem está no autismo, mas também para o dia a dia. Veja a seguir:
Autorregulação emocional
Para iniciar o processo de autorregulação emocional, é necessário compreender nossos próprios sentimentos e encontrar uma atividade que nos ajuda a combater o estresse
“No momento em que você se sentir se afogando na onda de desespero, lembre-se de NADAR!” , é assim que a doutora Liliane propõe que comecemos a refletir sobre o momento atual e também consigamos iniciar o processo de autorregulação emocional.
É importante pensar o seguinte: “Como estou me sentindo? O que meu filho está fazendo? O que me fez sentir assim?”
Lembre-se: quando seu corpo libera hormônios do estresse, certas partes do cérebro são prejudicadas (por exemplo: solução de problemas, comunicação, pensamento crítico). É essencial que você faça exercícios para se manter emocionalmente equilibrado, afinal são eles que ajudam a manter seu sistema nervoso o mais regulado possível.
Uma prática recomendada para lidar com momentos de crise e dificuldade de regulação emocional é o ‘jogo do senso’, que consiste uma série de ações usando nossos sentidos para nos trazer de volta à realidade
Lembre-se de Nadar! (Mas o que isso significa?)
Note
Diante de uma dificuldade de regulação emocional, você pode praticar o que chamamos de ‘jogo do senso’, que assim como o próprio nome já diz se trata de uma série de ações que usam seus sentidos e te trazem de volta à realidade. Deixamos um guia abaixo, mas é importante ressaltar que você não precisa segui-la à risca e fazer sempre as 5 etapas. Pode fazer o que ajudar mais ou até misturar a ordem:
- 5: Reconheça 5 coisas que você vê ao seu redor e as nomeie mentalmente
- 4: Reconheça 4 coisas que você pode tocar ao seu redor
- 3: Reconheça 3 coisas que você ouve
- 2: Reconheça 2 coisas que você pode cheirar
- 1: Reconheça 1 coisa que você pode provar (paladar)
O que você também pode fazer de imediato
Além de praticar o jogo do senso e também de se exercitar constantemente, existem algumas coisas que você pode – e deve – fazer para passar por esse período de uma maneira mais tranquila e proporcionar mais bem-estar para toda sua família. Veja abaixo.
Aceitar
“Esta é uma crise global. Não há nada que eu ou alguém possa fazer para corrigir isso imediatamente. Estamos fazendo o melhor que podemos.”
Deixar rolar
Continue se engajando nos exercícios mencionados acima. Continue “notando” e fique conectado com o sistema de suporte que você tem ao seu redor, da forma mais segura possível (por exemplo, telessaúde, zoom, whatsapp, skype).
- Se fizer sentido no seu contexto:
continue usando as ferramentas que o time de suporte do seu filho já tem montado e que ajudou o ajudou até agora. Por exemplo: rotina visual, economia de fichas, suportes visuais para completar tarefas ou brincar, CAA (comunicação alternativa e ampliada).
Aja de acordo com o que importa
Invés de se perguntar “como posso ajudar meu filho?”. Pergunte a você mesma as seguintes questões:
1- O que eu valorizo como (mãe/pai?) – Isso pode ser aplicado a qualquer aspecto da sua vida e com qualquer outra relação afetiva (filho, marido, esposa).
2- Como isso se manifesta no meu dia a dia? Aqui temos alguns exemplos de valores e ações comprometidas* que mostram como você pode mensurar esses valores de uma forma prática e real.
O valor é o que você deseja e o comportamento alvo o que pode ajudar a determiná-lo:
- VALOR: autonomia do meu filho
COMPORTAMENTO-ALVO: número de atividades independentes em que a criança se envolve sem a presença dos pais
- VALOR: estar mais presente com meu filho
COMPORTAMENTO-ALVO: número de minutos gastos em brincadeiras com meu filho (sem meu telefone ou outras distrações)
- VALOR: cuidar de mim
COMPORTAMENTO-ALVO: número de atividades concluídas com a ausência da criança
Quando você identifica termos observáveis e mensuráveis para esses comportamentos, você adquire mais capacidade de:
A: Captar os momentos em que seu filho está exibindo novas habilidades que você nunca viu. Lembre-se de reforçá-las. Ou seja, incentivar seu filho a vivenciar e executar aquelas habilidades novamente, além de elogiar e destacar o comportamento para eles.
B:Emparelhar ação com a palavra (falar o que você está fazendo quando estiver fazendo) ajuda a criança a começar a entender a linguagem e aumentar o vocabulário.
C: Apresentar atividades que exponham seu filho às metas/conceitos nos quais vocês estão trabalhando. Por exemplo, identificar itens, categorizar, imitar, solicitar e comentar, após uma análise visual da tarefa, habilidades da vida diária, atributos, conceitos de matemática e leitura.
D: Aproveite as oportunidades de aprendizado que ocorrem naturalmente. Em outras palavras, incorpore metas (acima – C) em momentos em que estão cozinhando juntos, lavando roupa, tomando banho, escovando os dentes, brincando com os irmãos, esperando as refeições, jogando independentemente e assim por diante.
Ashley e Liliane recomendam que você anote seus valores, comportamentos-alvos e ações que se compromete a fazer. Além disso, é importante que você leia e reveja continuamente a lista. Todos os dias pela manhã com um café funciona para muita gente, ou o máximo de vezes que puder.
Você ficará impressionado com o impacto que um compromisso tão simples pode ter.
Respire
Lembre-se que a ideia aqui é fornecer uma pausa em seus pensamentos
ruminantes e fornecer oxigênio ao cérebro para, fisicamente, “acalmar seus nervos”.
Dicas e conceitos gerais para lembrar:
1- Fornecer previsibilidade (informe o que vai acontecer e quando) e papéis produtivos são essenciais para o sucesso!
2- Ao assistir TV: inserir programas educativos e ficar “presente” com seu filho pode promover oportunidades de aprendizagem, conexão que ajuda com o estresse e regulação emocional (lembrem que seus filhos sentem o que vocês estão sentindo e emitindo).
Sabemos o quanto o coronavírus impactou pessoas que estão no autismo. Por isso, coloque as dicas em prática, estamos empolgadas para saber se elas ajudaram na sua rotina!