Índice de Conteúdos
A ABA naturalista – ou ensino naturalístico – é uma das estratégias de ensino de habilidades baseada em Análise do Comportamento Aplicada em intervenções voltadas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Trata-se de uma forma de priorizar estratégias para aumentar a motivação, a generalização e ser interessante para a criança.
Como já abordamos anteriormente no blog, a ABA é uma das principais intervenções indicadas para pessoas no TEA, uma vez que suas estratégias são consideradas práticas baseadas em evidências e, por esse motivo, têm comprovação científica para sua utilização.
Neste artigo, explicamos mais sobre a ABA naturalista, suas formas de aplicação e também a diferença com a abordagem conhecida como ABA estruturada.
O que é ABA naturalista?
Chamamos de ABA naturalista – ou ensino naturalístico – as intervenções que ocorrem de acordo com a motivação da criança, adolescente ou adulto no espectro. Isso significa que a equipe vai buscar o aprendizado por meio de atividades que são reforçadoras para quem está no espectro.
Trazendo um exemplo simples, vamos imaginar que durante a terapia, a criança comece a brincar com um carrinho. Esta brincadeira está sendo reforçadora para ela no momento, e pode ajudar a ensinar alguma habilidade, com o uso das estratégias corretas.
Além disso, o uso da abordagem naturalística para o ensino de habilidades tem como componentes:
- Relações funcionais;
- Aumento da motivação;
- Facilitadores de generalização.
A equipe também define quais são as habilidades que serão ensinadas na sessão e têm um planejamento prévio para concluir aquele objetivo, mesmo que a motivação da pessoa atendida seja um dos principais norteadores da sessão.
Algumas intervenções baseadas na ABA naturalística são Método Denver, Jasper, PRT, e ensino incidental.
Como funciona o ensino naturalístico
Uma das partes mais importantes da aplicação da ABA naturalista é que ela pode fazer parte da rotina e atividades da vida diária, com os objetivos centrais de melhorar as habilidades e lidar com comportamentos desafiadores. Por isso, os passos do profissional clínico para iniciar a intervenção com as estratégias desta vertente da ABA são:
- Observar: a intervenção começa com a observação do indivíduo em seu próprio contexto. Aqui, a terapeuta ou o terapeuta vai acompanhar a rotina e atividades recorrentes para entender onde existem dificuldades, quais habilidades já foram adquiridas e quais ainda podem ser aprendidas para seu desenvolvimento, além dos comportamentos desafiadores que a terapia pode ajudar;
- Anotar: enquanto observa, a terapeuta ou o terapeuta faz anotações do que identifica como possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento para o indivíduo;
- Planejamento e início da intervenção: depois de entender as habilidades adquiridas e as que precisam ser aprendidas, é o momento do planejamento e início da intervenção. Aqui, o indivíduo começa a aprender novas habilidades no contexto das atividades comuns da vida diária.
- Uso do reforço positivo: assim como em todas as intervenções que usam as estratégias da ABA, o uso do reforço positivo é necessário na ABA naturalista. A diferença é que ele será sempre incluído no contexto da atividade em foco;
- Incluir itens ou atividades favoritas: também é imprescindível que itens ou atividades favoritas do indivíduo façam parte da intervenção.
Esse conjunto de práticas faz parte das estratégias da ABA naturalista para aumentar as habilidades sociais, de linguagem e de comunicação. Além de ajudar a solicitar e praticar a atenção conjunta e manejar comportamentos prejudiciais.
Para isso é preciso conhecer os princípios do ensino naturalístico:
Relações funcionais
Estabelecimento de relações funcionais entre vocalizações, palavras faladas e o acesso a brincadeiras e itens favoritos. Em uma brincadeira com animais, por exemplo, a terapeuta dá instruções que são relacionadas aos animais, pode trabalhar a cor dos animais, nome, identificação etc. Elabora sobre a necessidade da relação funcional entre uma instrução verbal e um reforçador relacionado (que seria a própria brincadeira), em oposição à relação entre uma instrução verbal e um reforçador arbitrário ou não relacionado.
Aumentar a motivação
Na sessão, podem ser usadas estratégias que têm como objetivo aumentar a motivação da pessoa autista. Por exemplo, aqui existe a oportunidade da pessoa escolher, realizar uma avaliação de itens de preferência, uso de materiais personalizados com os gostos dela e buscar ambientes mais associados ao dia a dia dela, como a casa, a escola ou o parquinho.
Aqui, são trabalhados vários reforçadores, oportunidade de escolha, avaliação de preferência frequente, ambientes menos estruturados associados a brincadeiras.
Facilitar a generalização
Estratégias utilizadas para promover que a habilidade ensinada apareça em todos os contextos da criança – aumentar a semelhança entre o ambiente de tratamento e o ambiente natural, ou também utilizar de esquemas de reforço intermitentes durante o tratamento para proporcionar um ambiente de aprendizado que se aproxima mais das contingências em vigor no ambiente natural).
ABA naturalista ou ABA estruturado?
O que difere a ABA naturalista – ou ensino naturalístico – da abordagem conhecida como ABA estruturada é que esta segunda é baseada no ensino por tentativas discretas. As duas, no entanto, são baseadas na Análise do Comportamento Aplicada, têm uma certa estrutura e seguem objetivos.
A diferença pontual entre as duas se dá na forma como o ensino de habilidades é realizado. Para explicar melhor, pense que o objetivo de determinada sessão é ensinar habilidades de nomeação para uma criança:
- Na ABA estruturada (ensino por tentativas discretas): a terapeuta ou o terapeuta prepara três cartões com uma girafa, um cachorro e um pato. E na sessão a criança recebe esses cartões para nomear os animais.
- Na ABA naturalista (ensino naturalístico): a terapeuta ou o terapeuta chega na sessão e espera que a criança se dirija a algum objeto ou brinquedo de interesse, por exemplo, um carro. A partir daí, começa a aplicar as estratégias para que ela nomeie o próprio carro e outros elementos relacionados com o carro, podendo ser as partes, pista, outros meios de transporte etc.
Nas duas situações, o objetivo era o mesmo: ensinar habilidades de nomeação. O que mudou foi a forma como isso aconteceu.
Uma coisa importante a esclarecer também é que ensino por tentativas discretas é conhecido como terapia de mesinha, mas sua aplicação pode ser feita em outros ambientes, inclusive nos mesmos em que o ensino naturalístico pode acontecer.
Quem escolhe qual aplicar a ABA naturalista?
Outra dúvida bem comum da família é sobre quem escolhe qual estratégia utilizar: naturalística ou por tentativas discretas. E a resposta para esta pergunta é: a criança ou a equipe de terapeutas.
Além disso, as duas podem ser usadas juntas na terapia. Inclusive, muitos profissionais organizam a intervenção para mesclar o ensino naturalista com o ensino estruturado. Isso porque assim é possível garantir contextos de aprendizagem variados e maior chance das habilidades aprendidas serem mantidas no futuro.
Isso porque é preciso conhecer a criança e avaliá-la para entender qual tipo de abordagem vai promover melhor o aprendizado. Além disso, a família pode ficar tranquila, porque não existe uma abordagem melhor que a outra, mas sim aquela que vai ajudar melhor no desenvolvimento da criança.
As intervenções ABA são parte das práticas baseadas em evidências indicadas para o TEA. Em 2014, a Associação para a Ciência no Tratamento do Autismo (ASAT, na sigla em inglês), publicou o Evidence Based Medicine (EBM), que analisou 20 anos de intervenções para TEA em diversas áreas relacionadas à Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
Este estudo identificou a existência de 28 práticas baseadas em evidências para o TEA que atingiram todos os critérios propostos pela revisão. Destas, 23 eram baseadas nos princípios da ABA. A clínica da Genial Care oferece intervenção ABA em casa para crianças com autismo de até 5 anos, integrada ao treinamento de pessoas cuidadoras. Conheça nossos serviços.